Foram divulgadas ao longo da semana as programações dos
festivais de Toronto, que acontece entre 5 e 15 de setembro, e Veneza, cuja 70ª
edição vai de 26 de agosto a 7 de setembro. Quem acompanha Claquete sabe que
são dois festivais estratégicos do calendário cinematográfico e que balizam a
temporada de premiações do cinema americano. Toronto é a mais concorrida
plataforma de lançamento de filmes que almejam fazer bonito no outono do
hemisfério norte e Veneza, com o charme e a imponência de ser o festival mais
antigo do mundo, é um oásis por si só.
Se Toronto com seus mais de 70 filmes e sem mostra
competitiva (há apenas um prêmio do público concedido no fim do evento) volta a
impressionar com uma gama de lançamentos do mais alto calibre, Veneza
decepciona. Principalmente por se tratar da simbólica marca da 70ª edição do
festival, que terá o júri presidido pelo cineasta italiano Bernardo Bertolucci.
Não há grandes nomes em Veneza. Apenas dois
vencedores prévios do Leão de Ouro voltam ao lido e um deles fora de
competição. Não obstante, a seleção americana – que como dita o recente hábito
vem forte com seis títulos – não apresenta candidatos de alto pedigree. O
americano mais ansiado é o filme de abertura, Gravity, também fora de
competição.
Stephen Frears, cuja última participação em Veneza foi com A rainha em 2006, está de volta com Philomena em ano com boa presença britânica no lido
O que vale é a festa
Veneza prepara uma série de comemorações por seu 70º
aniversário e na ausência de uma mostra competitiva de incontestável categoria,
promoveu à inédita marca de dois documentários integrarem a seleção oficial. O
americano The unknown known: the life and times of Donald Rumsfeld, do
premiado Errol Morris de Sob a névoa da Guerra (2003) e Procedimento
operacional padrão (2008), e o italiano Sacro Gra, de Gianfranco
Rosi. O filme de Morris é muito aguardado por se propor a investigar o
ex-secretário da defesa dos EUA, Donald Rumsfeld que ocupava o cargo durante o
início da guerra no Iraque em 2003.
A mostra competitiva promove ainda o primeiro filme de
Xavier Dolan a não debutar em Cannes. Trata-se de Tom at the farm, primeiro
roteiro não original de Dolan, sobre um homem que vai visitar a família de seu
namorado que faleceu e entra em choque com figuras menos liberais do que ele
imaginava. O último italiano a vencer o Leão de ouro volta a disputa com
L´intrepido. Gianni Amelio venceu nos anos 90 e junto com Rossi compõe a
esquadra italiana no festival.
O vencedor do ano passado, o sul-coreano Kin-ki Duk, volta fora de
competição com Moebius, filme que aborda o incesto. Mas talvez seja James
Franco o grande destaque de Veneza nesse momento de análise dos nomes e títulos
que integram o festival. Depois de aparecer com filmes dirigidos e estrelados
por ele em Sundance, Berlim e Cannes, Franco leva à disputa pelo Leão de Ouro
Child of God, em que além de dirigir, roteirizar e produzir, atua ao lado de Tim
Blake Nelson. Não obstante, Franco está em Palo Alto , de Gia
Coppola, filme adaptado de um conto de sua própria autoria. O filme, que ainda
conta com Emma Roberts e Val Kilmer, será exibido na mostra horizontes.
Philippe Garrel, um favorito de longa data em Veneza, volta
em 2013 com La jalousie, novamente estrelado por seu filho Louis Garrel e com
foco no amor. Dessa vez, Garrel vive um homem que vive com uma mulher e com o
filho que teve com outra mulher que ele abandonou.
Amos Gitai, com Ana Arabia, Terry Gilliam, com The zero
theorem, e Stephen Frears, com Philomena, são outros diretores festejados no
lido que retornam à competição. Seus filmes, no entanto, estão longe de figurar
entre os maiores interesses que um festival como Veneza costuma suscitar.
Um filme que suscita alguma curiosidade é Kaze tachinu, do
japonês Hayao Miyazaki, adaptação de um mangá.
Expectativa: cartaz do novo filme de Xavier Dolan, o primeiro lançado em um festival que não Cannes
Franco, na foto ao lado de Gia Coppola, recorde absoluto de presença nos festivais de cinema do ano...
Foram anunciados apenas 19 filmes. Justamente por isso, é
possível crer que outro título seja anunciado nos próximos dias para fechar a
conta em 20, como é tradição. Selecionar um candidato da América Latina, que
passa em branco nos festivais desse ano, seria uma boa notícia.
Pode ser que a seleção de Veneza surpreenda, mas a primeira
impressão – principalmente pela proximidade com que a lista de Toronto foi
revelada – deixa no ar um sabor amargo de que poderia ser melhor. Depois de
dois anos causando impacto mais positivo do que Cannes na ocasião do anúncio de
sua seleção oficial, Veneza volta a coadjuvar neste tópico.
Lista completa dos filmes na mostra competitiva
Es-Stouh, de Merzak Allouache (Argélia/FRA)
L'intrepido, de Gianni Amelio (ITA)
Miss Violence, de Alexandros Avranas (GRE)
Tracks, de John Curran (ING/AUS)
Via Castellana Bandiera, de Emma Dante (ITA/SUI/FRA)
Tom at the Farm, de Xavier Dolan (CAN/FRA)
Child of God, de James Franco (EUA)
Philomena, de Stephen Frears (ING)
The Zero Theorem, de Terry Gilliam (ING/EUA)
Ana Arabia, de Amos Gitai (ISR/FRA)
Under the Skin, de Jonathan Glazer (ING/EUA)
Joe, de David Gordon Green (EUA)
Die Frau des Polizisten, de Philip Groning (ALE)
Kaze tachinu, de Hayao Miyazaki (JAP)
The Unknown Known: the Life and Times of Donald Rumsfeld, de Errol Morris (EUA)
Night Moves, de Kelly Reichardt (EUA)
Sacro GRA, de Gianfranco Rosi (ITA)
Jiaoyou, Tsai Ming-liang (TAI/FRA)
Maior e melhor
Toronto é tão diversificado e dotado de lançamentos
interessantes que esse Insight não daria conta de medir a temperatura do
festival. Justamente por isso, as próximas seções Em off (a primeira já nesta segunda-feira) falarão de alguns
destaques do festival que devem se firmar como pautas pelos próximos meses em
Claquete, uma vez que vão a Toronto para se credenciar à disputa pelo Oscar
2014.
As sessões de gala, por exemplo, destacam alguns dos filmes-chave
da temporada do Oscar como The fifth state, de Bill Condon, 12 years a slave,
de Steven McQueen, Rush, de Ron Howard, Labor day, de Jason Reitman, Kill your
darlings, de John Krokidas, Mandela: long walk to freedom, de Justin Chadwick,
Dallas buyers club, de Jean-Marc Vallée e Life of crime, de Daniel Schechter.
Filmes já consagrados em outros festivais como Don Jon
(Sundance) e Le passé e La vie d´Adèle (Cannes) também estão na programação,
assim como outros lançamentos de alto gabarito como August: osage county,
Cannibal, Devil´s knot, The disappearance of Eleanor Rigby: him and her,
Gloria, Prisoners, além de muitos filmes que estarão em Veneza como Night
Moves, Gravity, Joe, L'intrepido, Tracks e Philomena.
Cena de Joe, que marca o retorno de Nicolas Cage à Veneza três anos depois de Vício frenético, filme que é um dos que integram também a programação de Toronto
Bela análise, Reinaldo. Esses Festivais sempre me deixam com uma vontade de estar lá para conferir e poder opinar melhor sobre os filmes, hehe.
ResponderExcluirbjs
Ótimo texto! Eu esperava mais filmes conhecidos em Veneza. Vários diretores figurinhas foram preteridos para dar lugar a outros com pouca voz no cinema, e isso é excelente! Já Toronto é aquela: quem quer ir ao Oscar, tem que candidatar o filme para o festival canadense, e esse ano indica que o awards season será fortíssimo! =)
ResponderExcluir