O gênero thriller financeiro surgiu nos últimos anos quase
que como um dos muitos reflexos da crise que assolou o mundo em 2008. Um dos
melhores exemplares desse grupo do qual pertencem os excelentes Margin call – o
dia antes do fim (2011) e A negociação (2012) é Grande demais para quebrar (Too
big to fail, EUA 2011), produção original da HBO baseada no livro homônimo de
Andrew Ross Sorkin.
Filme e livro tratam da eclosão da crise financeira sob a
perspectiva da equipe econômica do governo Bush e os esforços do secretário do
tesouro (equivalente ao ministro da fazenda aqui) Henry Paulson (William Hurt)
para impedir que o sistema financeiro americano entre em colapso.
Dirigido com agilidade e sobriedade por Curtis Hanson,
Grande demais para quebrar não dá tempo para o espectador respirar. A
velocidade dos desdobramentos que ameaçam a saúde dos principais bancos
americanos permite um relevo pedagógico da realização, mas Hanson não se obriga
a pajear aqueles que não embarcarem no ritmo atroz dos acontecimentos.
A adrenalina dos homens mais poderosos do mundo flagrados à
beira do precipício é algo capaz de render ainda muitos outros bons filmes, mas
Grande demais para quebrar parece se interessar majoritariamente por dois
aspectos: o primeiro é o componente de criança malcriada que os altos
executivos de Wall Street ostentam e isso é algo que o filme é implacável em pavimentar. O
famigerado egocentrismo desses homens poderosos e arrogantes ganha nova
conotação ao mostrá-los desamparados correndo para baixo das saias do governo.
O segundo aspecto, ainda mais esmerado em um comentário político do que o
primeiro, diz respeito à volatilidade de um mercado carente de uma
regulamentação mais efetiva. Muito já mudou desde 2008, mas muito continua
exatamente igual. O olhar inquieto e cheio de incertezas de William Hurt,
magnífico como Paulson, na última cena do filme é dessas certezas demolidoras
de que o mundo como conhecemos ainda corre perigo.
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