Não se trata dos melhores filmes produzidos durante a existência do
blog. Como o período de quatro anos é relativamente curto para se dimensionar
uma lista como essa, e o blog publicou em todos os anos os melhores filmes de
cada ano, seria redundante tornar a fazê-lo ainda que de forma englobada. A
proposta aqui é lançar um olhar plural e complexo sobre a atividade
cinematográfica nesses quatro anos. Os filmes que apontaram os caminhos que o
cinema está seguindo, aqueles cujas narrativas reverberam e influenciam o cinema
moderno, o maior sucesso de público da história, o maior sucesso de público do cinema nacional, o cinema
como fórum e faculdade da arte e por aí vai. A ideia desse top 10 é apresentar
os dez filmes mais significativos, não essencialmente melhores, de 2009 para
cá. Um brinde à existência de Claquete, que chamou a atenção e contextualizou
seu público sobre esses filmes e as reminiscências deles, à época de seus
lançamentos.
10 – Avatar (EUA 2009), de James Cameron
É inegável que o épico de aventura de James Cameron,
indicado a nove Oscars, engatilhou o 3D em sua potência máxima no cinema. Seria
essa a grande importância do filme, se Avatar não tivesse quebrado todos os
recordes possíveis e imagináveis de bilheteria com U$ 2, 7 bilhões em faturamento. Não
obstante, a fita de Cameron é uma aventura de encher os olhos. Seja pela
tecnologia de ponta que viabilizou o universo de Pandora, seja pela narrativa
bem amarrada pelo diretor.
9 – Toy story 3 (EUA 2010), de Lee Unkrich
Três das melhores bilheterias de 2013 são animações. Essa
estatística não deve mudar até o fim do ano. Ela ocorre em parte pelo maior
volume de produções, mas principalmente pela qualidade delas. As animações se
segmentaram, mas em essência se ratificaram como um gênero familiar – o que é
raro na Hollywood atual. As receitas avantajadas calcadas em qualidade tem como
símbolo o fecho de uma das melhores trilogias do cinema. Toy Story 3 é
sintomático do sucesso da Pixar enquanto estúdio e seara criativa, com prêmios
da crítica e da indústria e mais de U$ 1 bilhão em bilheteria.
8 – Distrito 9 (EUA/AFS 2009), de Neill Blomkamp
Não é nenhum exagero apontar Distrito 9 como a ficção
científica mais eloquente e politicamente assertiva dos últimos 30 anos. Talvez
desde Blade Runner, o caçador de androides (1982) nossa humanidade não tenha
sido tão bem abordada pelo gênero. A discussão sobre desigualdade social é um
plus desse cativante filme de estreia do sul africano Blomkamp na direção. Com
produção de Peter Jackson, Distrito 9 foi uma surpresa em 2009 e sua
resiliência garante o interesse pela continuidade da carreira do diretor.
Cena de Distrito 9: a ficção científica com instrumento de compreensão de nossas imperfeições e fragilidades
7 – A origem (EUA 2010), de Christopher Nolan
Nesses quatro anos não houve filme tão original ou
provocativo quanto esse tento cinematográfico de Christopher Nolan. Apenas essa
razão já lhe garantiria lugar nessa lista, mas A origem é um marco, também, por
ser uma produção de grande orçamento estritamente original bem sucedida em uma
época de pane criativa em Hollywood em que os grandes orçamentos vão todos para
adaptações e refilmagens nem sempre desejáveis.
6 – Tropa de elite 2 – o inimigo agora é outro (Brasil
2010), de José Padilha
Esse talvez seja o filme mais fraco, irregular e desonesto
intelectualmente da lista. Talvez. Mas é inegável que o maior sucesso de
público da história do cinema brasileiro é, também, um brilhante exercício de
gênero com um desenvolvimento complexo e bem estruturado de personagens e uma
técnica de equivalência hollywoodiana. Por essa grandeza bem desenhada, do tipo
“cinema é a nossa praia”, Tropa de elite 2 não poderia deixar de figurar nessa
lista.
5 – Shame (ING 2011), de Steve McQueen
Desprover a nudez de erotismo é um exercício de estilo que
apenas artistas plásticos de alto gabarito são capazes de configurar. Fazê-lo em
um filme que discute o sexo só comprova o talento do artista plástico e
cineasta Steve McQueen para canalizar no cinema estética e narrativa em
direcionamentos antagônicos, mas complementares. Shame é um filme todo pensado
para causar impacto. Sensorial, emotivo e intelectual. Um tipo de cinema que
não se vê por aí.
Desejo e perdição: Shame é um filme que aliou vigor estético a despudor narrativo como poucos na existência de Claquete
4- César deve morrer (ITA 2012), de Paolo Taviani e Vittorio
Taviani
Os limites e o alcance da arte são encorpados nesse
vitorioso filme italiano que acompanha presidiários ensaiando e encenando uma
peça shakespeariana. As linhas que separam documentário e ficção se perdem em
um neologismo cinematográfico poderoso e cheio de sentido. A gramática do
cinema é relativizada e renovada por realizadores dispostos a pensar fora da
caixa.
3– Cópia fiel (FRA/ITA/BEL 2010), de Abbas Kiarostami
Outro filme que discute os limites entre arte e cópia.
Representação e autenticidade. Kiatostami expande seu comentário do mundo da
arte ao casamento em um filme de linguagem moderna e obstinação ímpar. O próprio
filme se apresenta ao espectador como um produto a mercê de sua interpretação.
Estamos diante de uma obra autêntica ou de uma simulação bem engendrada?
2– Bastardos inglórios (FRA/EUA/ALE 2009), de Quentin
Tarantino
O auge de um autor sempre merece destaque. No cinema
americano, Quentin Tarantino – encontrando par em Terrence Malick –
é o grande polarizador em matéria de cinema autoral. Bastardos inglórios, para
todos os efeitos sua obra-prima, é uma apólice de seguro de Tarantino para a
posteridade. O filme que ousou reescrever um dos capítulos mais tristes da
humanidade com irreverência, catarse, violência e legendas. Muitas legendas
para o público americano.
1-A rede social (EUA 2010), de David Fincher
É o filme da geração Y, dizem muitos por aí. É verdade. Mas
A rede social é muito mais. Um dos roteiros mais brilhantes jamais feitos é um
filme sobre nosso tempo, tanto em sua organização narrativa – de diálogos em
velocidade da luz e cortes multifacetados – como em sua narrativa
épico-existencial sobre jovens erguendo impérios digitais e desvinculando-se de
laços vívidos reais.
Não à toa comparado a Cidadão Kane, A rede social é um
filme que cresce de tamanho a cada revisão.
O maior de seu tempo: A rede social é o filme testamento de uma geração e de uma linguagem cinematográfica moderna
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