Claquete se despede de 2013, e deseja aos leitores um feliz ano novo de muitas realizações, conquistas e cinema, com a lista das listas: os dez melhores filmes lançados comercialmente em 2013 no Brasil. Foi um ano com algumas surpresas, outras tantas decepções e algumas certezas. Como reflexo disso, a presente lista não apresenta nenhum blockbuster, ainda que preserve maioria de títulos americanos. Há, sim, cineastas da mais fina estirpe. Paul Thomas Anderson, Woody Allen, François Ozon e William Friedkin marcam presença na lista. Diretores irregulares como Abdellatif Kechiche, Thomas Vinterberg e Ron Howard também.
O cinema argentino perde sua cota informal na lista, mas o cinema latino-americano não. O mexicano Depois de Lúcia se impõe na lista com autoridade ímpar. Ímpar também é o cinema francês que viveu um ano próspero em nossas telas de cinema e como reflexo disso registra duas inclusões na lista de Claquete dos dez melhores filmes do ano. O pungente A caça, da Dinamarca, é outro europeu a figurar no ranking.
Um aspecto que revela que 2013 não foi a maravilha em matéria de cinema que todos cremos é que apenas quatro filmes produzidos no ano conseguiram entrar na lista. Há cinco de 2012 e um de 2011. O que poderia ser preocupante, na verdade não é, como demonstra a lista dos dez filmes que quase entraram no TOP 10 do ano e que consta da postagem anterior. Lá há maioria de produções de 2013. De qualquer jeito, é um detalhe que não poderia passar despercebido. Assim como a ausência brasileira da lista. No ano passado, O palhaço representou o país no ranking do blog.
Sem mais delongas, um feliz 2014, de muito cinema e que Claquete continue sendo o repouso cinéfilo de sua preferência.
10 - Azul é a cor mais quente (La vie d´Adèle, 1 & 2,
França 2013), de Abdellatif Kechiche
O premiado e comentado filme francês é daquelas experiências
que o cinema vez ou outra oferta. Um filme que é um elaborado estudo de
personagem, delicada história de amor e, ainda, narrativa cinematográfica
absoluta em sua inteireza estética e compromisso narrativo. Não é um filme à
prova de erros, mas é do tipo que oxigena o típico cinema de arte sem a
opulência dos tiques autorais, mas privilegiando a simplicidade do relato.
Kechiche filma com convicção até mesmo a insegurança de Adèle, a protagonista
mais deslumbrante de 2013, diante do mundo. Azul é a cor mais quente é
significativo, ainda, por perseguir uma verdade desconhecida, ainda que cercada
por conjecturas a todo o momento. Quem somos nós, o que nos define, no final do
dia?
9 – Capitão
Phillips (Captain Phillips, EUA 2013), de Paul Greengrass
Paul Greengrass assume nesse filme de tensão ininterrupta
algo que já sabemos, mas que sempre nos impressionamos quando essa verdade é
esfregada em nossa cara. A realidade sempre supera a ficção; e Capitão Phillips
é um esforço bem azeitado da ficção de equiparar-se com a realidade. A
recriação do sequestro do Capitão Phillips e de sua embarquação por piratas
somalis em 2009 é um ás da realização. Do ponto de vista do roteiro, de Billy
Ray, da atuação, de Tom Hanks e dos outros atores menos famosos, mas igualmente
certeiros, e de direção, do assumido Paul Greengrass.
8 – Rush – no limite da emoção (Rush, EUA 2013), de Ron
Howard
O melhor filme de esporte já feito. Ok, a afirmação pode ser
precipitada, mas Rush – no limite da emoção captura como poucos o que move a paixão em
torno dos mais variados e diversificados esportes: a rivalidade. O sentimento
de competição que brota no coração dos homens e se perpetua no jogo midiático e
na ganância irrefreável que surge com a boa vida. O feito de Ron Howard é
supremo porque o filme é completo em tudo que precisa ser completo, da
narrativa muito bem aparada às atuações irreparáveis. As cenas de corrida,
muito bem editadas e fotografadas, são um deleite à parte. Até mesmo para quem
não gosta de Fórmula 1.
7- Depois de Lúcia (Después de Lucía, MEX/FRA 2012), de
Michel Franco
Nenhum filme desta lista fará você se sentir pior como ser
humano, ou mesmo mais confuso, do que este belo drama mexicano premiado no festival
de Cannes em 2012.
Depois de Lúcia une dois temas delicados e bastante
explorados pelo cinema, o bullying e o luto, e os funde com aspereza,
sensibilidade e total falta de parcimônia no retrato agonizante que faz de uma
menina e seu pai tentando readaptarem-se à vida após a morte da mãe e esposa.
Um soco no estômago. Com soco inglês.
6- A caça (The Hunt, DIN 2012), de Thomas Vinterberg
O bullying volta, de certa forma, a se manifestar no filme
que ocupa distintamente a sexta posição da lista. A mentira, a imaginação
fértil de uma criança, o balé das circunstâncias e a intolerância são medidas
nesta nauseante crônica fílmica de Thomas Vinterberg. A caça é, inegavelmente,
o melhor filme de sua carreira e é daqueles que nos deixa de queixo caído. Da
perplexidade à reflexão, são poucos os filmes que nos instigam esse maremoto
interno.
5 – Blue Jasmine (EUA
2013), de Woody Allen
Woody Allen nos presenteia com um filme dolorosamente
engraçado, desavergonhadamente dramático e profundamente triste na radiografia
certeira que faz do choque entre duas visões de mundo encampadas em uma mesma
personagem. A tragédia de Jasmine, grega, mas também americana, é um comentário
sagaz e sofisticado do cineasta de grife mais regular que o cinema dispõe hoje
sobre os EUA, mas também sobre um tipo muito particular da grã-finagem.
4- Killer Joe – matador de aluguel (Killer Joe, EUA 2011),
de William Friedkin
Quando a insanidade encontra o banal, Killer Joe tem seu
ápice climático e o espectador, a certeza de que está diante de um filme único,
ousado e chocante como nem Tarantino consegue ser.
Nessa história de violência orquestrada com maestria por
William Friedkin, uma família se organiza, desorganizadamente, para matar a mãe
e Matthew McConaughey, surpreendente a cada take, é o homem escolhido para
fazê-lo. Killer Joe é uma epopeia de loucura delirantemente engraçada,
avidamente dramática e irremediavelmente boa de ver.
3- O lado bom da vida (Silver linings playbook, EUA 2012),
de David O. Russell
Se a capacidade de um filme de fazer você se sentir bem
consigo mesmo fosse o principal critério para a eleição do melhor filme do ano,
O lado bom da vida teria liquidado a disputa lá em fevereiro. Afinidade
conta, mas não pode reinar sozinha. O que coloca O lado bom da vida no pódio
dos melhores filmes lançados no Brasil em 2013 é sua incrível capacidade de
emocionar, divertir e sensibilizar falando muito sério. Além da perfeição com
que é dirigido, pela acuidade do texto e, principalmente, pela entrega absoluta
dos atores em cena. Um
filme cativante, solar e muito inteligente; tanto internamente, como na
comunicação com o público.
2- Dentro da casa (Dans La mansion, FRA 2012), de François
Ozon
Um brinde ao poder de uma história bem contada. Esse drama
sofisticado, inventivo e sempre tão surpreendente quanto cativante de François
Ozon faz reverência à arte de narrar dando espaço a sentimentos humanos tão
díspares como carência, inveja, desejo, manipulação, raiva, rejeição. A trama
que coloca um professor intrigado pela narrativa sofisticada de um aluno
insuspeito e fazendo descobertas sempre desestabilizadoras é uma realização
soberana do cinema francês de 2012 que abrilhantou o 2013 dos cinéfilos
brasileiros.
1-O mestre (The master, EUA 2012), de Paul Thomas Anderson
Um estudo sobre a condição humana em toda a sua
complexidade, prevaricação, fascínio e senso de oportunidade. Paul Thomas
Anderson não economiza na ambição ou nos sofismas que circulam a arrebatadora
história sobre como o homem modifica o meio e por ele se deixa modificar. Política,
religião, amor e família são construções arquetípicas falimentares no olhar
apurado, clínico, mas nem um pouco taxativo de Anderson.