terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Retrospectiva 2013 - Dez sensações cinematográficas do ano

O cinema mobiliza emoções das mais diversas estirpes. E o ano de 2013 foi bastante ilustrativo disso em matéria de sensações proporcionadas pelo cinema. Dos instintos mais primitivos, como o medo, à nostalgia cinematográfica, passando por desorientação, raiva, desejo e outras tantas insurgências que só o cinema é capaz de fomentar com tamanha desenvoltura.


10 - O alívio do perdão
A ambição de Derek Cianfrance de fazer um épico familiar que atravessa duas gerações de duas famílias ligadas por uma tragédia encontra seu final uma insuspeita e anticlimática reviravolta. A crônica da América se completa com a perspectiva de perdão. Só assim a espiral de violência pode ser rompida, advoga Cianfrance com o tocante desfecho de se O lugar onde tudo termina.

9- A derradeira demonstração de amor de Georges por Anne
Michael Heneke fez um filme de amor duro, cruel, lento, doído e incrivelmente sensível e amoroso. Como é possível? A polêmica e derradeira demonstração de amor de Georges por Anne em Amor é daquelas coisas que só um coração altruísta e legitimamente enamorado é capaz de fazer. Um gesto incompreendido que torna os efeitos do filme de Haneke muito mais incisivos.

8 - O fim sem perdão
Foi um ano em que as músicas deram o tom do cinema nacional, mas Faroeste caboclo foi um caso à parte. Adaptado da famosa música da Legião Urbana, o filme de René Sampaio se viabiliza como um western à brasileira com inimaginável fôlego narrativo e vida própria. O desfecho trágico de João de Santo Cristo ganha contornos ainda mais memoráveis no cinema. O perdão é um luxo que o coração machucado por uma vida desgraçada não pode usufruir. Faroeste caboclo vive e transgride no cinema.

7- Frio na barriga com Pitt

Nenhum blockbuster foi tão divertido de se ver no cinema, especialmente em IMAX, em 2013 como Guerra mundial Z. Tensão, efeitos especiais arrebatadores, um formigueiro de zumbis impressionante e medão em um laboratório, em um avião ou em qualquer outro ponto de um dos longas mais bem sucedidos do ano.

6- Houston, nós não temos um problema
A pecha de melhor filme já feito sobre o espaço cai bem sobre Gravidade, um dos maiores sucessos comerciais e de crítica do ano. O filme de Alfonso Cuarón estreita as possibilidades narrativas do cinema e representa mais um avanço notável em matéria de tecnologia a serviço da sétima arte. Isso, claro, além de nos transportar para a imensidão do espaço.

5- WE  Scorsese
Martin Scorsese é uma instituição do cinema. Luc Besson sabe disso e neste seu singelo retorno à direção, cravou uma homenagem cheia de nostalgia e reverência ao cineasta ítalo-americano em A família. Além do filme ser, em si, um decalque do gênero cinematográfico que Scorsese ajudou a lapidar, tem uma cena – em que De Niro discorre sobre Os bons companheiros em um cineclube, que merece passaporte para os anais do cinema.

4- Bullying da alma e das convicções
Depois de Lúcia é o filme mais forte do ano. No sentido de provocar no espectador repulsa, desamparo, desesperança e, também, uma compreensão visceral da frivolidade da humanidade, mas também de suas complexidades. Não houve experiência tão contraditória impulsionada por opções estéticas tão acertadas quanto embrutecidas no cinema como em Depois de Lúcia. De cenas gráficas e demoradas de bullying ao devastador final em que a vingança (um tema central nesta lista) se prova a tragédia humana definitiva.

3- Tá todo mundo louco
Respirar. É isso o que você lembra de fazer depois de assistir a intensa, insana, surreal e incrivelmente perturbadora derradeira cena do mais novo petardo do diretor de O exorcista. Em Killer Joe – o matador de aluguel, toda a loucura do mundo parece concentrada em um punhado de personagens que se confrontam à espreita de um único desfecho possível. A violência vive seu ápice no filme mais bizzaramente engraçado e trágico do ano, em que uma coxinha de galinha é usada como genitália masculina na mais bizarra cena de sexo oral de todo o sempre.

2- Cú para dá e vender
É uma das cenas antológicas do ano e um dos melhores discursos sobre liberdade individual e verdadeiro valor da democracia a ter ganhado o cinema em todo o sempre. Em um dado momento de Tatuagem, o diretor da trupe teatral vivido por Irandhir Santos alinha no palco um novo número. "Ode ao cú", em que defende que o cú é a expressão máxima da democracia. O traço político do comentário se regenera no tom farsesco e no humor sem vergonha do número. Impagável!

1-O tesão é azul
De certa maneira, Azul é a cor mais quente foi o filme mais comentado do ano. Tudo por causa de uma cena de sexo lésbico, que é sim bastante explícita, ainda que não em sua totalidade. A grande sensação do filme de Kechiche, no entanto, é tornar quase palpável o desejo, o tesão, o amor que une Adèle a Emma. Isso não é mérito apenas da bem realizada, e francamente erótica, cena de sexo entre as duas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário