Onde eu assino no Guinness?
A figurinista Catherine Martin acaba de registrar um
pequeno recorde com as indicações de 2014. Depois de ser nomeada em 2002 pelo
figurino e direção de arte de Moulin Rouge – amor em vermelho, e ganhar os dois
Oscars, ela repete o mesmo feito (as indicações, ao menos) em 2014 por O grande
Gatsby. Ambos os filmes dirigidos por Baz Luhrmann. Houve outras indicações no
ínterim, mas o recorde em questão é que ninguém, além dela, conseguiu ser
indicada por figurino e direção de arte ao Oscar no mesmo ano, pelo mesmo
filme, duas vezes.
A figurinista disse que sempre trabalhará com Baz Luhrmann e é compreensível, já que a parceria tem dado certo. Martin também foi indicada ao Oscar pelo figurino do contestado Austrália (2008)
Woody Allen e o roteiro
Woody Allen já tem quatro Oscars e continua com fome. Sua
coleção de indicações, especialmente como roteirista, continua crescendo e ele
não dá pistas de que esse cenário vá mudar. Por Blue Jasmine, ele conseguiu sua
16ª indicação na categoria. A segunda em três anos, desempenho que não
conseguia repetir desde o alvorecer dos anos 90.
A nova poderosa chefona
Em 2011, Scott Rudin conseguiu um feito raro. Foi indicado
duplamente ao Oscar de melhor filme, por A rede social e Bravura indômita. Ali,
como produtora executiva do filme dos Coen, estava Megan Ellison. Filha de um
bilionário do setor de tecnologia, ela se anuncia uma figura prodigiosa no
universo dos produtores independentes. Depois de emplacar A hora mais escura na
disputa em 2013, ela chega em 2014 com dois filmes selecionados na categoria
principal. Ela e o badalado Trapaça. Analistas da indústria já a colocam como
pedra no sapato do todo poderoso Harvey Weinstein. Não obstante, ela foi capaz
de atrair David O. Russell, que rodara O lado bom da vida sob a guarda de
Weinstein, para fazer Trapaça no selo independente da Sony. Atuando como
produtora há apenas três anos, ela conseguiu algo que apenas Weinstein, Rudin e
Francis Ford Coppola, titãs da indústria, conseguiram em 85 anos de Oscar.
A descoberta de Abi
Todo ano o Oscar promove uma estrela. Ou melhor, eleva ao
panteão das maiores estrelas do mundo aquelas figuras que não exatamente
pertencem a este universo. Há sempre algum debutante na atuação em cena ou
alguém de fora do mainstream. Em 2014 essas características se concentram todas
em Barkhad Abi. Não
só ele não era ator antes de chocar o mundo, e eclipsar ninguém menos que Tom
Hanks em Capitão
Phillips, como era motorista. Além de ser somali, o que
invariavelmente diminui seu apelo em termos de premiações.
Mas aí está o Oscar revelando para o mundo, com toda a
justiça, um ator intuitivo de incrível energia e muito futuro.
Os maiores hiatos
Alguns artistas voltam ao Oscar depois de longos anos.
Claquete destaca os dois casos mais emblemáticos nas categorias de atuação.
Bruce Dern foi indicado a melhor ator coadjuvante em 1979
por Amargo regresso e volta a disputar a estatueta em 2014 como ator por
Nebraska. São 35 anos entre uma indicação e outra. Julia Roberts recebeu seu
Oscar em 2001 por Erin Brockovic – uma mulher de talento. Justamente quando foi
indicada pela última vez, 13 anos atrás.
Cate Blanchett já tem um Oscar e em 2014 conquistou sua sexta
indicação ao prêmio. Judi Dench já tem um Oscar e em 2014 conquistou sua sétima
indicação ao prêmio. No ano
em que Cate Blanchett conquistava sua primeira
indicação, em 1999, como atriz por
Elizabeth, Judi Dench, então em sua segunda
indicação, conquistava seu primeiro Oscar, como coadjuvante por
Shakespeare
apaixonado. Em 2007 elas foram indicadas ao Oscar pelo mesmo filme,
Notas sobre
um escândalo. Cate como coadjuvante e Judi como protagonista. Agora, em 2014,
elas se enfrentam pela primeira vez no Oscar na categoria de atriz. O
favoritismo é de Cate, mas muita gente aposta que Judi pode surpreender.
Outra sinergia esquisita ocorre entre Meryl Streep e Amy
Adams. Elas já estrelaram dois filmes juntas. Por ambos os filmes, Meryl Streep
foi indicada ao Oscar. Pelo primeiro deles, Amy também foi. Os filmes em
questão foram Dúvida (2008) e Julie & Julia (2009). Meryl Streep foi
indicada ao Oscar seis vezes nos últimos dez anos. O melhor desempenho entre
intérpretes, tanto em categorias masculina como feminina. O segundo melhor
desempenho? Amy Adams que chega à quinta indicação em nove anos. Em 2014 será a
primeira vez que elas se enfrentam no Oscar.
A primeira vez a gente nunca esquece
Michael Fassbender falou, em setembro último, que não faria
campanha por uma indicação ao Oscar como coadjuvante por 12 anos de escravidão.
Fassbender, que fez muita campanha em 2012 por uma indicação por Shame, acabou
indicado pelo trabalho e, tal como Joaquin Phoenix no ano passado, às custas
única e exclusivamente de seu trabalho em 12 anos de escravidão. Ator de muitos
recursos e muito versátil, Fassbender que já merecia uma indicação ao Oscar
desde Shame, deve voltar muito à festa da Academia. Mas o sabor da primeira vez fica.
A primeira esnobada a gente nunca esquece
Outro que goza de sua primeira indicação, e já na posição de
favorito ao prêmio, é Matthew McConaughey. Só que McConaughey teve que amaciar
a carne. Depois de uma consolidada carreira como galã de comédias românticas, o
ator deu um giro de 180º em sua carreira que muitos pagavam para ver até onde
iria. E pode ir ao Oscar e além, como sugerem seus créditos para os dois
próximos anos. Nesta dourada jornada, McConaughey foi solenemente ignorado por
performances arrasadoras em filmes como Killer Joe, Magic Mike e Amor bandido.
Agora vai?
Roger Deakins é um dos maiores perdedores da história do
Oscar. Em todas as categorias, mas entre os diretores de fotografia a coisa
fica mais chata. Todo ano ele recebe menção aqui no #oscarfacts de Claquete sob
a expectativa de que o ano em questão pode ser, finalmente, o da redenção. Não
deve ser em 2014, no entanto, que Deakins sairá da fila. Indicado pela
arrebatadora fotografia de Os suspeitos, configurando sua quarta indicação em
seis anos, suas chances são menores do que em outros anos. A indicação de
Deakins é a única de Os suspeitos e há toda a celebração em cima da fotografia
de Gravidade, de Emmanuel Lubezki, outro que nunca ganhou o Oscar, mas pode
conquistá-lo em sua sexta indicação.
O fator Hanks
Tom Hanks, que era dado como
certeza na categoria de melhor ator por Capitão Phillips, acabou de fora e
levou analistas da indústria a se depararem com a seguinte pergunta: a Academia
superou Tom Hanks? Sim, porque desde 2001, o ator não é indicado ao Oscar,
mesmo tendo apresentado meia dúzia de atuações mais do que dignas de nomeações.
A hipótese permanece sem uma elaboração aceitável, mas parece que grande parte
da Academia considera que os dois Oscars cedidos de maneira consecutiva no início
dos anos 90 já qualificam distinção suficiente a Hanks na história e que não
seria preciso elevá-lo a uma “Meryl Streep entre os homens”.
Quem foi mais esnobado?
Leonardo DiCaprio tem dez indicações ao Globo de Ouro e em
2014 conquistou sua quarta nomeação ao Oscar. Tom Hanks, por seu turno, ostenta
oito nomeações ao Globo de Ouro e apenas uma a mais que DiCaprio no Oscar,
apesar das duas consagradoras vitórias. Claquete faz a análise das análises,
quem desses dois grandes atores americanos foi mais esnobado pela Academia?
Leonardo DiCaprio está mesmo com tudo ou por fora, dependendo da perspectiva. DiCaprio, no crivo de Claquete, apresenta mais performances dignas de indicação ao Osca ( e que não foram nomeadas) do que o venerável Tom Hanks. Foram oito os trabalhos de DiCaprio solenemente ignorados pela Academia e seis os desempenhos de Hanks que foram excluídos do Oscar. Atenção para um detalhe: os trabalhos esnobados estão com o ano de seu lançamento e os trabalhos nomeados com o ano da nomeação.
Scorsesiano
Ao que parece, Martin Scorsese caiu de vez nas graças da
Academia. Embora esta ainda lhe deva uns três Oscars, para fazer jus à grandeza
do cineasta americano, a academia tem destacado Scorsese mais do que qualquer
outro cineasta do cinema atual contemporâneo. Dos anos 2000 para cá, Scorsese
realizou seis longa-metragens ficcionais. Ele foi indicado ao Oscar de direção
por cinco deles. Só ficou de fora por Ilha do medo (2010), que é um de seus
melhores trabalhos de direção em todos os tempos, mas o filme é, também, uma
homenagem aos filmes de terror B; o que minou suas chances na academia.
De qualquer maneira, Scorsese é o cineasta mais indicado ao
Oscar de direção nos últimos 15 anos. Uma distinção justa para um dos maiores
diretores de todos os tempos. Ao todo, Scorsese tem 11 indicações ao Oscar.
Oito delas como diretor.
Rancor ou verdade?
Robert Redford disse que acabou de fora da corrida pelo
Oscar por que o estúdio responsável por Até o fim, a Lionsgate, não acreditou no filme e não
fez campanha. A fala de Redford, que disse que seria ótimo ser indicado, mas
que não fica triste por não ter conquistado essa que seria sua primeira indicação
ao prêmio como ator, escancara uma das principais características de toda a
corrida pelo Oscar. A força das campanhas. Por trás da indicação de Leonardo
DiCaprio, está o fato de que o ator se engajou na campanha por O lobo de Wall
Street, do qual também é produtor. DiCaprio, vale lembrar, não costumava se
engajar nas campanhas pelo Oscar.
A declaração de Redford, no entanto, vale para ele também. Redford
tem o tipo de estatura na indústria que não precisa da sombra do estúdio.
Ator e produtor
Leonardo DiCaprio e Brad Pitt concorrem ao Oscar como produtores de O lobo de Wall Street e 12 anos de escravidão respectivamente. Ano passado, George Clooney e Ben Affleck ganharam o Oscar como produtores de Argo. Pitt concorreu no ano anterior como produtor dos filmes A árvore da vida e O homem que mudou o jogo. Não se fazem mais atores como antigamente em Hollywood e neste caso, isso é uma boa notícia.
American darlings
Alexander Payne e David O. Russell travam uma batalha
particular no Oscar 2014. A
briga é pelo posto de quem é o maior darling da composição atual do colegiado
da Academia. Ambos costumam colecionar indicações como roteirista e diretor,
Payne ainda assombra como produtor. Mas isso é o de menos. Ambos foram
indicados ao Oscar pelos seus últimos três trabalhos. Payne tem ligeira
vantagem. Além de ter mais indicações (7 contra 5), venceu duas vezes – pelos roteiros
de Sideways (2004) e Os descendentes (2011). Russell, no entanto, conseguiu o
feito de ter seus atores principais indicados nas quatro categorias principais
por dois anos seguidos. Demolidores de estatísticas nas hostes do Oscar, os
dois se enfrentam pela primeira vez na categoria de direção.