quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Oscar Watch 2014 - A categoria dos sonhos (e pesadelos) no Oscar

Os excluídos: em nenhuma outra categoria, seja de atuação, técnica ou mesmo melhor filme, ficaram de fora candidatos tão bem conceituados como na corrida por melhor ator

Joaquin Phoenix (Ela), Oscar Isaac (Inside Llewyn Davis – balada de um homem comum), Robert Redford (Até o fim), Tom Hanks (Capitão Phillips), Idris Elba (Mandela: long walk to freedom) e Forest Whitaker (O mordomo da Casa Branca). Estes são apenas alguns dos bons atores, com ótimos e bem conceituados desempenhos, que ficaram de fora da categoria de ator no Oscar 2014. Não é a primeira vez que a categoria suprime trabalhos de atuação superiores inclusive a performances lembradas em outras categorias de interpretação.
A disputa pelo Oscar de melhor ator roubou a coroa da disputa na categoria principal, de melhor filme do ano. Já há algum tempo a disputa concentra a mais agitada, imprevisível, emocionante e, por que não, contestada corrida pelo Oscar.
Nomes prestigiados como Tom Hanks e Robert Redford se viram de fora da corrida em 2014 em uma providencial mudança de paradigma no Oscar que se verifica primeiramente, como não poderia deixar de ser, na categoria mais acirrada da premiação. Banca e prestígio não garantem mais indicação ao Oscar. Meryl Streep, pode-se dizer, prevaleceu sobre nomes como Emma Thompson (Walt nos bastidores de Mary Poppins), Brie Larsom (Short term 12) e Julia Louis-Dreyfus (À procura do amor) na envergadura de seu nome, mas isso revela a sintomática fraqueza da categoria que apenas pontualmente se encontra forte. Não é o caso de 2014, que tinha a corrida razoavelmente definida desde os primórdios da temporada de premiações.
A razão da concorrência entre os atores ser tão forte deriva de duas polarizações do cinema contemporâneo. A primeira delas é o fato de a grande maioria dos filmes ser centrada em personagens masculinos. O segundo aspecto, menos incisivo, mas com efeitos ainda mais alarmantes, é o fato de que o cinema, americano em especial, produz melhores atores do que atrizes. Não à toa, o Oscar viu-se na contingência de premiar estrelas de cinema nos últimos 20 anos. Julia Roberts, Sandra Bullock, Reese Whiterspoon, Gwyneth Paltorw e Nicole Kidman foram oscarizadas por trabalhos discutíveis. Fora Jennifer Lawrence e Marion Cottilard que venceram merecidamente, mas também se encaixam nesse perfil de estrela a se exportar e consolidar. Em contrapartida, astros da estirpe de Tom Cruise, Brad Pitt, Richard Gere, Leonardo DiCaprio, Johnny Depp e Ryan Gosling jamais venceram o Oscar. Atrizes costumam estabelecer repetições de indicações com mais frequência do que os atores. Cate Blanchett, Amy Adams, Kate Winslet e a já citada Meryl Streep são exemplos vívidos dessa realidade.
A necessidade de promover estrelas e a opção por não fazer o mesmo com seus astros, revela o caráter político e consciencioso da Academia na distribuição de seu principal prêmio.
É bastante factível, mesmo para quem acompanha o Oscar a certa distância, que a categoria de melhor ator costuma ser aquela com mais esnobados e cujo vitorioso ao fim da corrida mais suscita contestações. Se por um lado essa característica enobrece a disputa na categoria, por outro a torna invariavelmente falível por adensar termômetros nem sempre confiáveis como campanhas de marketing e hypes passageiros. Chagas que, ao longo do tempo, vêm tirando o brilho da disputa por melhor filme. Paradoxos dessa natureza costumam transformar sonhos dourados em pesadelos. Ainda que o dourado não saia de cena. 

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Crítica - Pelos olhos de Maisie

Um novo olhar

Filmes que abordam o impacto de um ambiente familiar desestruturado em uma criança existem em quantidade considerável, mas o olhar que Pelos olhos de Maisie (What Maisie knew, EUA 2012) propõe foi muito pouco experimentado pelo cinema. Adaptado do romance de Henry James, o filme de Scott McGehee e David Siegel empresta de sua matriz literária a sutileza na arquitetura do registro e a calma na condução da narrativa.
Susanna (Julianne Moore) é uma mulher que parece entorpecida pela existência. Sem muita segurança emocional afasta-se da filha Maisie à medida que a liberdade propiciada pelo divórcio do pai da menina, Beale (Steve Coogan), lhe dá essa abertura. Tampouco o pai parece comprometido com a ideia de fazer da filha uma prioridade. Mas essa conclusão, o espectador terá que peneirar porque um dos acertos desse belo filme independente americano é montar sua história toda na perspectiva de Maisie (a impressionante Onata Aprile), a dócil, esperta e cativante filha que padece da indisponibilidade emocional de seus pais. Aos poucos ela vai se ambientando com a presença e o carinho de Margo (Joanna Vanderham), sua babá que passa a ser sua madrasta, e Lincoln (Alexander Skarsgard), um bartender camarada com quem sua mãe se casa na expectativa de reaver judicialmente a guarda da menina.
A dramaturgia de Pelos olhos de Maisie se ergue toda na órbita da observação da menina do mundo ao seu redor. Do receio de Margo e Lincoln até a total entrega a esses dois estranhos que se apresentam mais interessados nela do que seus próprios pais.
O filme, contudo, evita maiores julgamentos. Em momento algum, Susanna, outro belo trabalho de Moore, e Beale são apresentados como figuras desviadas ou defenestráveis. O julgamento é todo do espectador. O filme se limita a divagar a respeito de nossas indisponibilidades. De como nos distanciamos daquilo que desejamos e de quem imaginamos ser. A docilidade de Maisie contrasta com a negligência que a vitima quando da separação litigiosa de seus pais e ela encontra abrigo emocional onde menos se espera. Essa capacidade do ser humano de renunciar à paternidade, e às responsabilidades, encontra analogia inversamente proporcional na capacidade do ser humano de abraçar a paternidade, e as responsabilidades, em face da necessidade litigante.
É esse o grande achado de Pelos olhos de Maisie. Filtrar o amor da dor. A esperança do desamparo em uma pequena crônica familiar sensível ao que o ser humano tem de mais egoísta, mas também ao que tem de mais encantador. Pelos olhos de Maisie é, enfim, um filme suscetível a emoção. Do público e de seus personagens.


terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Oscar Watch 2014 - As musas da temporada de premiações


Margot Robbie, a sensação de O lobo de Wall Street 

Cate Blanchett, a jasmine dos prêmios
Amy Adams, a explosão de sensualidade e talento do ano
 Anna Gunn, breaking good
 Sally Hawkins, beleza sutil rima com talento febril
 Lupita Nyong´o, do Quênia para o mundo 
 Amy Poehler, favorite hostess
Jennifer Lawrence, porque todos querem bis

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Crítica - Ajuste de contas

O valor da memória afetiva

Se os filmes esportivos flertam com a emoção em sua concepção mais genuína e idiossincrática, há dois exemplares que culminaram para esse lugar-comum. São eles Rocky, um lutador (1976) e Touro indomável (1980). Essa consciência, ampla e universal, é a razão de existir do nostálgico e bem humorado Ajuste de contas (Grudge match, EUA 2013) e é, também, a razão para que gostemos tanto do filme, a despeito de sua descompromissada ode ao clichê. 
Robert De Niro, premiado com o Oscar pelo papel do irascível Jake La Motta em Touro indomável, vive Billy “the Kid” McDonnen, um pugilista aposentado com todas as características de Jake, ainda que sob o prisma sempre tenro do humor. Já Sylvester Stallone vive Henry “Razor” Sharp, um declaque de Rocky, como o são, de certa forma, todos os personagens de Stallone (ou pelo menos os que não são decalcados de Rambo). Ambos se aposentaram sem travar uma terceira luta entre eles. Nas duas primeiras, uma vitória para cada lado. Acontece que Razor venceu seu embate, o segundo entre os pugilistas, com The Kid flagrantemente mal preparado. Como não obstante, The kid dormiu com a namorada de Razor (Kim Basinger) anos atrás. Estranhamente, é justamente Razor quem mais hesita em realizar uma negra quando a oportunidade se apresenta com os dois para lá dos 60 anos.
O humor, e o diretor Peter Segal, de filmes como Agente 86 (2008) e Tratamento de choque (2003), é carinhoso tanto no registro como com os personagens, dá um tempero mais forte e charmoso ao filme que não esconde um momento sequer o desejo de brincar com a iconografia de dois dos personagens mais reluzentes da história do cinema.

Stallone e De Niro em cena: o ridículo da situação não incomoda um minuto sequer...


Nesse contexto, o que Ajuste de contas propõe é uma construção muito rica e pouco azeitada pelo cinema contemporâneo em que pipocam remakes e reboots. O valor da memória afetiva tão desprezada por produtores que atentam contra o desejo de fãs (e o próximo Robocop dará uma boa medida desse caldo) é o principal pilar desse filme em que não há nada novo, Stallone e De Niro operam no piloto automático e que os clichês imperam e, mesmo assim, a experiência é bastante satisfatória. Reinventou-se a roda? Não, ela apenas foi lubrificada adequadamente.

domingo, 26 de janeiro de 2014

Especial O lobo de Wall Street - Por que Leonardo DiCaprio é um ator mais fascinante a cada novo filme?



Que há atores que melhoram com o tempo e fazem valer aquela batida analogia com o vinho, todos nós sabemos. Mas Leonardo DiCaprio é um caso à parte. Em 2013 ele repetiu uma tendência voraz em sua filmografia de uns anos para cá. Estrelar dois filmes de alto gabarito em um mesmo ano, profundamente distantes e inteiramente dependentes de seu talento, e colaborar com cineastas que estão escrevendo a história do cinema contemporâneo.  Em 2006 foi Os infiltrados, de Martin Scorsese, e Diamante de sangue, de Edward Zwick, ambos filmes indicados ao Oscar. Em 2008, Rede de mentiras, de Ridley Scott e Foi apenas um sonho, de Sam Mendes. Em 2010, estrelou Ilha do medo, de Martin Scorsese, e A origem, de Christopher Nolan. Em 2013, novamente capitaliza com O grande Gatsby, de Baz Luhrmann, e O lobo de Wall Street, mais uma vez sob as ordens de Scorsese. No meio tempo, ainda rodou J. Edgar (2011) com Clint Eastwood e Django livre (2012) com Quentin Tarantino.
É bem verdade que DiCaprio indicava que seria um ator de respeito desde os primórdios de sua carreira, ainda na infância, em filmes como O despertar de um homem (1993), Gilbert Grape: aprendiz de sonhador (1993), pelo qual recebeu sua primeira e hoje sintomática indicação ao Oscar, e Diário de um adolescente (1995). Mas o sucesso obtido com Titanic (1997) diversionou o caminho de DiCaprio no cinema.
O status de astro, no entanto, o pôs no caminho de Martin Scorsese que já havia sido alertado pelo amigo De Niro de que DiCaprio seria alguém com quem valeria colaborar no futuro. De Niro foi um dos primeiros colegas de cena de DiCaprio em O despertar de um homem. Gangues de Nova Iorque (2002) só conseguiu ser produzido porque DiCaprio aterrissou no projeto. No mesmo ano, lançou Prenda-me se for capaz, de Steven Spielberg e ali, há pouco mais de dez anos, tal como fazia seu personagem no filme mais subestimado do criador de E.T (1982), começou a reinvenção de DiCaprio como ator.
Ele já havia trabalhado com cineastas como James Cameron, Sam Raimi, Woody Allen e Danny Boyle, mas nenhum desses projetos foi peneirado ou escolhido por DiCaprio. Era o momento de mais do que fazer escolhas maduras, fazer escolhas que projetassem a carreira que ele gostaria de consolidar em Hollywood. O aviador se encaixava nesse perfil. Foi o primeiro filme produzido por DiCaprio e o que fez com que a parceria com Scorsese vingasse como tal. A afinidade artística entre os dois serviu como bússola para que DiCaprio se tornasse um ator melhor.
Scorsese ajudou a lapidar o ator que DiCaprio queria ser
A partir do sucesso amealhado com O aviador, que valeu a segunda indicação ao Oscar para DiCaprio – a primeira como adulto - o ator passou a escolher com muito cálculo e ponderação seus projetos. À medida que a parceria com Scorsese evoluía, DiCaprio se voltava para papéis mais complexos e cineastas mais badalados nos projetos paralelos aos filmes feitos com Scorsese.
Nessa última leva de filmes, DiCaprio provou mais uma vez a seus teimosos críticos que, às vésperas de completar 40 anos não é só o melhor ator de sua geração, como é um dos melhores atores à disposição do cinema atual. Com a vantagem de ser, também, um dos poucos que sabe como promover-se em um papel desafiador, complexo e obscuro.
DiCaprio é um ator mais fascinante a cada trabalho porque se recusa a estabelecer-se em uma zona de conforto e trabalha tanto para ser o melhor como por amor ao que faz. 

sábado, 25 de janeiro de 2014

Oscar Watch 2014 - #oscarfacts

Onde eu assino no Guinness?
 A figurinista Catherine Martin acaba de registrar um pequeno recorde com as indicações de 2014. Depois de ser nomeada em 2002 pelo figurino e direção de arte de Moulin Rouge – amor em vermelho, e ganhar os dois Oscars, ela repete o mesmo feito (as indicações, ao menos) em 2014 por O grande Gatsby. Ambos os filmes dirigidos por Baz Luhrmann. Houve outras indicações no ínterim, mas o recorde em questão é que ninguém, além dela, conseguiu ser indicada por figurino e direção de arte ao Oscar no mesmo ano, pelo mesmo filme, duas vezes.

A figurinista disse que sempre trabalhará com Baz Luhrmann e é compreensível, já que a parceria tem dado certo. Martin também foi indicada ao Oscar pelo figurino do contestado Austrália (2008)

Woody Allen e o roteiro
Woody Allen já tem quatro Oscars e continua com fome. Sua coleção de indicações, especialmente como roteirista, continua crescendo e ele não dá pistas de que esse cenário vá mudar. Por Blue Jasmine, ele conseguiu sua 16ª indicação na categoria. A segunda em três anos, desempenho que não conseguia repetir desde o alvorecer dos anos 90.

A nova poderosa chefona

Em 2011, Scott Rudin conseguiu um feito raro. Foi indicado duplamente ao Oscar de melhor filme, por A rede social e Bravura indômita. Ali, como produtora executiva do filme dos Coen, estava Megan Ellison. Filha de um bilionário do setor de tecnologia, ela se anuncia uma figura prodigiosa no universo dos produtores independentes. Depois de emplacar A hora mais escura na disputa em 2013, ela chega em 2014 com dois filmes selecionados na categoria principal. Ela e o badalado Trapaça. Analistas da indústria já a colocam como pedra no sapato do todo poderoso Harvey Weinstein. Não obstante, ela foi capaz de atrair David O. Russell, que rodara O lado bom da vida sob a guarda de Weinstein, para fazer Trapaça no selo independente da Sony. Atuando como produtora há apenas três anos, ela conseguiu algo que apenas Weinstein, Rudin e Francis Ford Coppola, titãs da indústria, conseguiram em 85 anos de Oscar.

A descoberta de Abi

Todo ano o Oscar promove uma estrela. Ou melhor, eleva ao panteão das maiores estrelas do mundo aquelas figuras que não exatamente pertencem a este universo. Há sempre algum debutante na atuação em cena ou alguém de fora do mainstream. Em 2014 essas características se concentram todas em Barkhad Abi. Não só ele não era ator antes de chocar o mundo, e eclipsar ninguém menos que Tom Hanks em Capitão Phillips, como era motorista. Além de ser somali, o que invariavelmente diminui seu apelo em termos de premiações.
Mas aí está o Oscar revelando para o mundo, com toda a justiça, um ator intuitivo de incrível energia e muito futuro.

Os maiores hiatos
Alguns artistas voltam ao Oscar depois de longos anos. Claquete destaca os dois casos mais emblemáticos nas categorias de atuação.
Bruce Dern foi indicado a melhor ator coadjuvante em 1979 por Amargo regresso e volta a disputar a estatueta em 2014 como ator por Nebraska. São 35 anos entre uma indicação e outra. Julia Roberts recebeu seu Oscar em 2001 por Erin Brockovic – uma mulher de talento. Justamente quando foi indicada pela última vez, 13 anos atrás.

When Judi meets Cate

Cate Blanchett já tem um Oscar e em 2014 conquistou sua sexta indicação ao prêmio. Judi Dench já tem um Oscar e em 2014 conquistou sua sétima indicação ao prêmio. No ano em que Cate Blanchett conquistava sua primeira indicação, em 1999, como atriz por Elizabeth, Judi Dench, então em sua segunda indicação, conquistava seu primeiro Oscar, como coadjuvante por Shakespeare apaixonado. Em 2007 elas foram indicadas ao Oscar pelo mesmo filme, Notas sobre um escândalo. Cate como coadjuvante e Judi como protagonista. Agora, em 2014, elas se enfrentam pela primeira vez no Oscar na categoria de atriz. O favoritismo é de Cate, mas muita gente aposta que Judi pode surpreender.

When Amy meets Meryl

Outra sinergia esquisita ocorre entre Meryl Streep e Amy Adams. Elas já estrelaram dois filmes juntas. Por ambos os filmes, Meryl Streep foi indicada ao Oscar. Pelo primeiro deles, Amy também foi. Os filmes em questão foram Dúvida (2008) e Julie & Julia (2009). Meryl Streep foi indicada ao Oscar seis vezes nos últimos dez anos. O melhor desempenho entre intérpretes, tanto em categorias masculina como feminina. O segundo melhor desempenho? Amy Adams que chega à quinta indicação em nove anos. Em 2014 será a primeira vez que elas se enfrentam no Oscar.

A primeira vez a gente nunca esquece
Michael Fassbender falou, em setembro último, que não faria campanha por uma indicação ao Oscar como coadjuvante por 12 anos de escravidão. Fassbender, que fez muita campanha em 2012 por uma indicação por Shame, acabou indicado pelo trabalho e, tal como Joaquin Phoenix no ano passado, às custas única e exclusivamente de seu trabalho em 12 anos de escravidão. Ator de muitos recursos e muito versátil, Fassbender que já merecia uma indicação ao Oscar desde Shame, deve voltar muito à festa da Academia. Mas o sabor da primeira vez fica.

A primeira esnobada a gente nunca esquece
Outro que goza de sua primeira indicação, e já na posição de favorito ao prêmio, é Matthew McConaughey. Só que McConaughey teve que amaciar a carne. Depois de uma consolidada carreira como galã de comédias românticas, o ator deu um giro de 180º em sua carreira que muitos pagavam para ver até onde iria. E pode ir ao Oscar e além, como sugerem seus créditos para os dois próximos anos. Nesta dourada jornada, McConaughey foi solenemente ignorado por performances arrasadoras em filmes como Killer Joe, Magic Mike e Amor bandido.

Agora vai?
Roger Deakins é um dos maiores perdedores da história do Oscar. Em todas as categorias, mas entre os diretores de fotografia a coisa fica mais chata. Todo ano ele recebe menção aqui no #oscarfacts de Claquete sob a expectativa de que o ano em questão pode ser, finalmente, o da redenção. Não deve ser em 2014, no entanto, que Deakins sairá da fila. Indicado pela arrebatadora fotografia de Os suspeitos, configurando sua quarta indicação em seis anos, suas chances são menores do que em outros anos. A indicação de Deakins é a única de Os suspeitos e há toda a celebração em cima da fotografia de Gravidade, de Emmanuel Lubezki, outro que nunca ganhou o Oscar, mas pode conquistá-lo em sua sexta indicação.

O fator Hanks                                                                 
Tom Hanks, que era dado como certeza na categoria de melhor ator por Capitão Phillips, acabou de fora e levou analistas da indústria a se depararem com a seguinte pergunta: a Academia superou Tom Hanks? Sim, porque desde 2001, o ator não é indicado ao Oscar, mesmo tendo apresentado meia dúzia de atuações mais do que dignas de nomeações. A hipótese permanece sem uma elaboração aceitável, mas parece que grande parte da Academia considera que os dois Oscars cedidos de maneira consecutiva no início dos anos 90 já qualificam distinção suficiente a Hanks na história e que não seria preciso elevá-lo a uma “Meryl Streep entre os homens”.


Quem foi mais esnobado? 
Leonardo DiCaprio tem dez indicações ao Globo de Ouro e em 2014 conquistou sua quarta nomeação ao Oscar. Tom Hanks, por seu turno, ostenta oito nomeações ao Globo de Ouro e apenas uma a mais que DiCaprio no Oscar, apesar das duas consagradoras vitórias. Claquete faz a análise das análises, quem desses dois grandes atores americanos foi mais esnobado pela Academia?


Leonardo DiCaprio está mesmo com tudo ou por fora, dependendo da perspectiva. DiCaprio, no crivo de Claquete, apresenta mais performances dignas de indicação ao Osca ( e que não foram nomeadas) do que o venerável Tom Hanks. Foram oito os trabalhos de DiCaprio solenemente ignorados pela Academia e seis os desempenhos de Hanks que foram excluídos do Oscar. Atenção para um detalhe: os trabalhos esnobados estão com o ano de seu lançamento e os trabalhos nomeados com o ano da nomeação.


Scorsesiano

Ao que parece, Martin Scorsese caiu de vez nas graças da Academia. Embora esta ainda lhe deva uns três Oscars, para fazer jus à grandeza do cineasta americano, a academia tem destacado Scorsese mais do que qualquer outro cineasta do cinema atual contemporâneo. Dos anos 2000 para cá, Scorsese realizou seis longa-metragens ficcionais. Ele foi indicado ao Oscar de direção por cinco deles. Só ficou de fora por Ilha do medo (2010), que é um de seus melhores trabalhos de direção em todos os tempos, mas o filme é, também, uma homenagem aos filmes de terror B; o que minou suas chances na academia.
De qualquer maneira, Scorsese é o cineasta mais indicado ao Oscar de direção nos últimos 15 anos. Uma distinção justa para um dos maiores diretores de todos os tempos. Ao todo, Scorsese tem 11 indicações ao Oscar. Oito delas como diretor.


Rancor ou verdade? 
Robert Redford disse que acabou de fora da corrida pelo Oscar por que o estúdio responsável por Até o fim, a Lionsgate, não acreditou no filme e não fez campanha. A fala de Redford, que disse que seria ótimo ser indicado, mas que não fica triste por não ter conquistado essa que seria sua primeira indicação ao prêmio como ator, escancara uma das principais características de toda a corrida pelo Oscar. A força das campanhas. Por trás da indicação de Leonardo DiCaprio, está o fato de que o ator se engajou na campanha por O lobo de Wall Street, do qual também é produtor. DiCaprio, vale lembrar, não costumava se engajar nas campanhas pelo Oscar.
A declaração de Redford, no entanto, vale para ele também. Redford tem o tipo de estatura na indústria que não precisa da sombra do estúdio.

Ator e produtor
Leonardo DiCaprio e Brad Pitt concorrem ao Oscar como produtores de O lobo de Wall Street e 12 anos de escravidão respectivamente. Ano passado, George Clooney e Ben Affleck ganharam o Oscar como produtores de Argo. Pitt concorreu no ano anterior como produtor dos filmes A árvore da vida e O homem que mudou o jogo. Não se fazem mais atores como antigamente em Hollywood e neste caso, isso é uma boa notícia. 

American darlings

Alexander Payne e David O. Russell travam uma batalha particular no Oscar 2014. A briga é pelo posto de quem é o maior darling da composição atual do colegiado da Academia. Ambos costumam colecionar indicações como roteirista e diretor, Payne ainda assombra como produtor. Mas isso é o de menos. Ambos foram indicados ao Oscar pelos seus últimos três trabalhos. Payne tem ligeira vantagem. Além de ter mais indicações (7 contra 5), venceu duas vezes – pelos roteiros de Sideways (2004) e Os descendentes (2011). Russell, no entanto, conseguiu o feito de ter seus atores principais indicados nas quatro categorias principais por dois anos seguidos. Demolidores de estatísticas nas hostes do Oscar, os dois se enfrentam pela primeira vez na categoria de direção. 

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Especial O lobo de Wall Street - Crítica


Teu ódio será minha herança!


É raro quando as luzes do cinema se ascendem e você se dá conta de que acabou de testemunhar um daqueles momentos únicos do cinema: o nascimento de uma obra-prima. No caso de O lobo de Wall Street (The Wolf of Wall Street, EUA 2013) o sentimento é imediato. A imagem dos cordeiros olhando fixamente o lobo que os hipnotiza com charme, beleza e altivez encerra um filme apoteótico, sarcástico (como poucas vezes Scorsese se permitiu ser), vibrante, nervoso e profundamente reflexivo não só daquele microcosmo de loucura, devassidão e ganância que tem em Jordan Belfort (Leonardo DiCaprio) sua principal bússola, mas também do público que reage ao que se vê na tela de maneira diversa. Jaz nessa receptividade conflituosa e tergiversada o grande ás desse filme pensativo e provocador. Ao convidar o espectador para vislumbrar o desbunde de uma vida sem regras, sem limites e por vezes chocante, mas sempre entorpecente, Scorsese ativa a bússola moral do espectador e o desafia a fazer um julgamento que o próprio Scorsese posterga, para finalmente completá-lo de maneira sutil, silenciosa e deliciosamente debochada.
Em O lobo de Wall Street, baseado nas memórias do próprio Belfort, testemunhamos a ascensão de um homem que como tantos outros chegou a Wall Street com tesão por ganhar dinheiro, fácil, de preferência. E a ascensão de Belfort foi meteórica. Dono da própria empresa e faturando cerca de U$ 50 milhões no ano de seu 26º aniversário, o mundo parecia seu quintal e Belfort e seus amigos agiam de acordo com essa impressão.
Estamos no terreno dos personagens que sempre querem mais. “Você precisa botar a necessidade na mesa”, diz o mentor de Belfot, vivido com energia absurda por um assombroso Matthew McConaughey. A necessidade, no entanto, elabora Scorsese, é uma moeda de duas faces e manobras ilegais logo se tornam um elemento básico do negócio.  

O pulmão do filme: a cena em que o personagem de McConaughey explica Wall Street para o personagem de DiCaprio dá o tom do filme e se caracteriza como um dos grandes momentos do cinema neste ano

Não é um conto moral o que tece o cineasta de Os bons companheiros e essa é a principal divergência entre este filme e produções como Wall Street (1987) e Margin Call – o dia antes do fim (2011). Aliás, esse filme guarda similaridades entusiasmantes com Os bons companheiros. A perversidade, a total falta de escrúpulos e a percepção de se estar acima do bem e do mal alinham os personagens de ambos os filmes. Scorsese sabe disso e, tal como em Os bons companheiros, observa esses personagens interagirem em seu habitat com o cinismo que merecem.
Se não é um conto moral, o que move O lobo de Wall Street? A psicopatia. Scorsese sabe como poucos, analisar o ser humano em seu estado mais corrompido, mais falimentar. Não há interesse em justificar o comportamento de Jordan e seus comparsas, apenas observá-los confinados a essa amoral e perigosa torre de babel.
Do roteiro de Terrence Winter à fotografia de Rodrigo Prieto, passando pela montagem, pela trilha sonora, pela direção de arte e finalmente culminado nas esplendidas atuações, O lobo de Wall Street é cinema de verve. Cascudo, inteligente, irrepreensível.
Leonardo DiCaprio na pele do voraz e cativante Belfort atinge o pico de uma carreira já estabelecida nas mais altas notas. A insanidade de Belfort, seja nos seus discursos megalomaníacos ou depois de tomar pílulas e cheirar carreiras de cocaína, é adensada por um Leonardo DiCaprio inimaginável, fogoso, raivoso e absoluto. Jonah Hill, como seu fiel escudeiro, não fica atrás. Dos olhos gulosos aos dentões brancos expostos, passando pela homossexualidade sugerida, sua atuação é adrenalina pura.
Martin Scorsese faz um retrato fiel de Wall Street? Se você faz essa pergunta é porque não entendeu o filme. O retrato fiel em questão é do colapso do espírito humano. Daquele tipo de gente que se perde em si mesmo e não necessariamente faz qualquer esforço para se achar. É aquele universo dos tipos que se julgam os donos do mundo. É esse o retrato fiel, sem concessões e eufemismos, pintado por um cineasta no auge de sua forma. 

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Especial O lobo de Wall Street: Fuck! Fuck! Fuck! - o delirante microcosmo de Wall Street



É o filme com mais palavrões da história do cinema americano. O lobo de Wall Street está à altura desse mito tão pouco lisonjeiro quanto arrebatador no prisma que oferece dos propósitos do novo petardo de Martin Scorsese, dos diretores mais completos, rebuscados e inventivos à disposição do cinema americano moderno.
Não se trata do primeiro filme a mostrar Wall Street como uma selva hostil e cheia de tentáculos, mas na visão horizontal, plena e cínica de Scorsese, esse ultrajante mundo de delírios, cobiça e ganância ganha uma reflexão pós-moderna entremeada por uma jornada alucinante ao colapso do espírito humano e por uma crítica esperta, silenciosa e para lá de debochada que emerge de todo o carnaval, e há de bacanais a jogo de anões ao alvo, que se vê na tela.
Scorsese reconhece que Oliver Stone foi o primeiro a atentar para o mundo oculto, cheio de interesses e poder de atração que se escondia nos arranha-céus de Wall Street e discretamente insere essa referência em seu filme. Referências transbordam em O lobo de Wall Street, que se abriga na alegoria, e nem todas gozam de plena aceitação. Há quem conteste a virulência com que o universo de Jordan Belfort (Leonardo DiCaprio) é exposta. Sexo no escritório, doses homéricas de drogas diárias e um total desprezo pelo próximo. Há um divórcio no filme de Scorsese do politicamente correto. Não há a assepsia da última visita de Stone a Wall Street, tampouco o interesse de entender a engendragem do sistema como no espetacular e não menos atordoante Margin call – o dia antes do fim. O objetivo de Scorsese aqui é enfiar a mão nas entranhas de um sistema corruptor e entender a ganância pelo avesso. É ir à epiderme dessas figuras que se reinventam como melhores, mas muito piores, versões de seus sonhos mais loucos e intangíveis e escravizam um sistema financeiro e todos os que a ele estão vinculados.  
Entender esse microcosmo de ganância e malandragem, em que a sobrevivência do mais forte é uma regra que não permite hesitação, move Scorsese.

Os solavancos da crise financeira detonada em 2008 naturalmente são uma sombra tanto para a realização como para o olhar que se pretende lançar sobre O lobo de Wall Street. Scorsese não só não ignora essa realidade como a utiliza para amplificar os efeitos de seu filme. O lobo de Wall Street mostra que a perversidade prescinde de instrumentos costumeiramente atribuídos a ela e, nesse sentido, escancara a face mais nefasta e chocante do ser humano.

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Especial O lobo de Wall Street - O melhor ator americano em que você não está prestando atenção

O mundo tomou um choque quando Jonah Hill, até então conhecido como “o gordinho de Superbad”, foi indicado ao Oscar de melhor ator coadjuvante em 2012 por seu desempenho em O homem que mudou o jogo. Para este feito, Hill teve de driblar, apenas com a força de seu desempenho, o preconceito tanto do público como dos insiders da indústria que não viam naquele moleque com jeito para a comédia, potencial para abrilhantar um drama com pegada mais racional como o filme estrelado por Brad Pitt.
Mas Jonah Hill é um baita ator e sua participação em O homem que mudou o jogo acionou o radar de alguns dos cineastas mais tarimbados do cinema americano atual. Foi na cerimônia do Oscar de 2012, em que concorria pela direção de A invenção de Hugo Cabret, que Martin Scorsese convidou o ator para fazer O lobo de Wall Street, seu próximo projeto com Leonardo DiCaprio. Sem se dar conta, Hill se veria no eixo central de uma disputa informal por seu passe entre Scorsese e Quentin Tarantino, que já o havia convidado para Django livre (2012). Acontece que a participação de Hill neste segundo filme teve que ser reduzida em virtude dos constantes atrasos no cronograma de filmagens.
“Eu gostaria de agradecer principalmente a Jonah, que é um gênio da interpretação”, disse Leonardo DiCaprio na sala de imprensa do Bevely Hilton Hotel pouco depois de ter ganho o Globo de Ouro de melhor ator em comédia e musical por O lobo de Wall Street.
Hill ainda ganha pontos por saber rir de si mesmo como poucos atores em franca ascensão sabem. É o fim espanta a sisudez com humor negro e cinismo que ganham relevo se comparados a sua insana, histriônica e totalmente devoradora atuação em O lobo de Wall Street. Hill consegue a proeza de eclipsar DiCaprio em seu auge em alguns momentos. E ele não é bonito e nem tem um personagem tão cativante como o do colega de cena.
Entre os próximos projetos do ator estão algumas animações, um drama e a continuação de Anjos da lei. Seu talento, no entanto, principalmente depois deste filme, jamais submergirá novamente. Há um novo lobo na meca do cinema e, ao que tudo indica, ele está faminto.

Jonah Hill, voraz em cena de O lobo de Wall Street: com apetite de ator graúdo...

Update: Jonah Hill chocou o mundo novamente na última quinta-feira ao ser indicado novamente ao Oscar, dessa vez por sua atuação em O lobo de Wall Street. Houve quem se indignasse na internet. Um tuíte cravou: "Jonah Hill tem mais indicações ao Oscar do que Gary Oldman. Viva com isso". Tuiteiros precisam prestar mais atenção em Hill.

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Top 10 - Dez filmes imperdíveis de 2014

Em janeiro é comum pipocarem previews dos principais lançamentos do ano. Claquete se reserva o direito de evitar esse lugar-comum e pula direto, como já fizera em 2013, para dez filmes imperdíveis do ano que se inicia. Há outros filmes imperdíveis? Sim, graças a Deus. Mas se você só for ao cinema dez vezes em 2014, essa seleção é capaz de mimetizar bem o que de melhor o ano que chega terá a oferecer.

10 – Sin City: a dame to kill for, de Frank Miller e Robert Rodriguez

Previsão de estreia: 2º semestre
Hype: O universo doentio e pitoresco da graphic novel de Frank Miller revisitado com novas adições ao elenco (Joseph Gordon-Levitt, Josh Brolin e Juno Temple são alguns) e a volta dos personagens imortalizados por Mickey Rourke, Bruce Willis e Jessica alba.

9 – Interstellar, de Christopher Nolan

Previsão de estreia: Fim do ano
Hype: Christopher Nolan se inspira em Kubrick para uma ficção científica casca grossa e cheia de ambição. Viagens interestelares combinam com profundidade filosófica? Estamos falando do homem que fez dos filmes do Batman épicos de alta voltagem emocional. De quebra, Matthew McConaughey, no auge da forma criativa, retorna à ficção científica pela primeira vez desde Contato (1997).

8- Ela, de Spike Jonze

Previsão de estreia: 14 de fevereiro
Hype: Spike Jonze se permite ser romântico, estranho e filosófico em um filme que aborda solidão, tecnologia e relações humanas com Joaquin Phoenix se apaixonando pela voz de um sistema operacional.

7 – Os mercenários 3, de Patrick Hughes

Previsão de estreia: agosto
Hype: Mel Gibson como vilão, Harrison Ford dando as caras, Antonio Banderas e Wesley Snipes fazendo pontas e um elenco ainda mais inchado e incrível para esse ponto final (será?) na trilogia mais improvável do cinema de ação.

6- Planeta dos Macacos: o confronto, de Matt Reeves

Previsão de estreia: Agosto
Hype: O primeiro filme foi uma surpresa potente e tudo indica que esta sequência, com Gary Oldman a frente do elenco humano e novamente com Andy Serkis barbarizando como o imponente e cativante Ceasar, vá pelo mesmo caminho. O confronto do subtítulo nacional não deixa dúvidas. O bicho (sim, a macacada) vai pegar!

5- X-men: dias de um futuro esquecido, de Bryan Singer

Previsão de estreia: 23 de maio
Hype: O maior e mais estrelado elenco já reunindo em um filme de super-heróis (se corroa de inveja Batman) e a promessa da trama mais intrincada, complexa e arrepiante do universo mutante no cinema. Como superar a complexidade política e a pegada pop de Primeira classe? Bryan Singer promete que tem a resposta!


4 – Exodus, de Ridley Scott

Previsão de estreia: Fim do ano
Hype: Os filmes bíblicos serão uma das manias de 2014. Noé, de Darren Aronofsky é o primeiro a chegar, mas este exemplar de Ridley Scott – o homem que revitalizou os épicos com Gladiador (2000) – com Christian Bale como o Moisés ungido para resgatar os judeus promete ser o auge dessa nova incursão hollywoodiana pelo livro sagrado.

3 – The Green inferno, de Eli Roth

Previsão de estreia: Segundo semestre
Hype: O representante da safra do terror nesta lista sela o retorno de Eli Roth à direção. Roth não é um George Romero, mas deu uma agitada no gênero com produções como Cabine do inferno (2003) e O albergue (2006). O plot do filme, grupo de jovens americanos sequestrados por canibais na Amazônia, promete o revival do gore regado a humor negro que 2013 ficou devendo.

2– Gone girl, de David Fincher

Previsão de estreia: Outubro
Hype: David Fincher adapta um best-seller do suspense. Você já viu este filme antes? Com David Fincher não há repetição. Ben Affleck periga ter um de seus grandes momentos como ator na pela do marido suspeito do assassinato de sua esposa no aniversário de 5 anos do casamento deles.

1-Vício inerente, de Paul Thomas Anderson

Previsão de estreia: Fim do ano
Hype: Humor negro, drama e ritmo de thriller prometem movimentar o novo filme de Paul Thomas Anderson, que consagrará a segunda parceria do cineasta com Joaquin Phoenix. Um elenco heterodoxo com nomes como Owen Wilson, Reese Witherspoon, Josh Brolin e Maya Rudolph completam o elenco. Na trama, Phoenix faz um detetive viciado em drogas que investiga o sumiço de uma ex-namorada. Vem coisa (muito) boa por aí!

sábado, 18 de janeiro de 2014

Crítica - Ninfomaníaca: volume I

Arquidiocese do desejo

O desprezo de Lars Von Trier pelo público ganha novos contornos com o lançamento de Ninfomaníaca –volume 1 (Nymphomaniac: volume I, FRA/DIN/ALE 2013) que suscita recepção mista por ser um filme frustrante naquilo que promete: sexo. O interesse de Von Trier, a despeito de suas primeiras e ambíguas manifestações a respeito do projeto, não era fazer um filme pensativo a respeito do cinema pornô, de suas fronteiras com a arte e a representação do prazer. Esses são apenas interesses circunstanciais a gravitar uma pauta muito mais absoluta, complexa e indelével. Nossa relação com o sexo. A moral dela. As bifurcações entre desejo e culpa.  A mitigação da identidade entre como nos percebemos e como os outros nos percebem. Como afetamos aqueles que passam por nossas vidas e como o sexo pode rapidamente se transformar em elemento de afirmação ou negação.
Esse interesse psicanalítico sempre pautou o cinema de Von Trier e é com algum espanto que deve se receber, pelo menos por parte da crítica especializada, a reação negativa ao filme. Do público leigo, instado pelo marketing agressivo que antecedeu o lançamento do filme, reação adversa ao filme lento, introspectivo e cheio de pequenas sodomias por parte da realização era esperada.
Se há um traço negativo neste primeiro volume de Ninfomaníaca é a opção de Von Trier em concentrar-se menos em Joe, essa personagem com nojo e raiva de si mesma, e mais nas construções arquetípicas que articula para dar vazão ao seu raciocínio. O que induz o entendimento de que o cineasta deve inverter esse prisma no segundo volume. Joe (uma pouco essencial Charlotte Gainsbourg) aqui funciona mais como um mcguffin, para cunhar o termo hitchcockiano que remete ao elemento detonador de uma trama e não necessariamente ao fio condutor dessa mesma trama, do que como uma personagem. As analogias entre cultura erudita, seja a música ou a literatura, e simplicidades como o jeito de cortar as unhas ou a pescaria, e o sexo contribuem para a ineficácia do erotismo pretendida pelo dinamarquês. O diretor não quer excitar, quer que reflitamos sobre a banalidade oculta na complexidade do tema que apresenta.

O perto e branco iconoclástico de "Delírios", o quarto capítulo de Ninfomaníaca: vertente freudiana a serviço de uma narrativa que sabe precisamente onde vai chegar 

A criatividade insuspeita de Von Trier na emulação de uma teoria cativante, mas que se provaria falha mais adiante, no quinto e derradeiro capítulo denominado "A pequena escola de órgão"

O terceiro capítulo, denominado "Sra. H", é uma representação tensa e monocromática do rompimento no seio familiar em virtude do sexo fora do casamento. A situação ganha em absurdo porque o marido da Sra. H parece cego à total falta de interesse de Joe nele. Assim como Joe parece evitar o pensamento de que age com crueldade nefasta ao brincar com os sentimentos alheios e é aí, justamente, que o público se depara com a abismal diferença entre a Joe machucada e com pena de si mesma, que narra sua história a Seligman (Stellan Skarsgard) e a Joe (Stacy Martin) que como um animal em agonia vai sangrando seu sexo a rodo. Essa diferença é responsável pelo sentimento de incompletude que toma o filme em seu ato final, que na verdade não corresponde ao fim de maneira alguma. Na última cena, algo que apenas havia ficado sugerido no segundo capítulo ("Jerôme"), ganha contornos de descoberta arrasadora. O gosto pela humilhação é uma das poucas respostas sexuais de Joe, no que um exercício de especulação possa remeter a sua primeira experiência sexual com Jerôme. Essa divagação, no entanto, fica para o segundo volume.

Ninfomaníaca é uma ode a manipulação desde seu primeiro momento. Von Trier abafa o som e mantém a tela escura brincando com a ansiedade elevada de sua audiência. Os pingos da chuva no telhado, em latas e finalmente no chão são pequenas demonstrações de que é ele, o cineasta, quem dita o ritmo dessa história de compulsão sexual gráfica, irrigada de analogismos e urdida à pscinálise. Ao público, resta frustrar-se; como geralmente o sexo é, provoca Von Trier.

Oscar Watch 2014 - Primeiras impressões sob as indicações para a 86ª edição do Oscar


Não houve o espanto geral da edição de 2013, quando Ben Affleck ficou de fora da lista dos diretores, uma garota de nove anos foi indicada ao Oscar de melhor atriz e o pesado, triste e estrangeiro Amor foi celebrado entre os melhores filmes do ano.  Prevaleceu a sobriedade nas escolhas da Academia. Sobriedade esta, que não desponta sozinha. Há um franco processo, já destacado em outros anos, de rejuvenescimento do colegiado que compõem a instituição. Em 2014, com hits indies como Clube de Compras Dallas, que angariou inimagináveis seis indicações, e Ela, outro com cinco nomeações, e a exclusão de fitas mais tradicionais e engessadas como Walt nos bastidores de Mary Poppins, essa tendência ganha cristalização maior. Os indicados a melhor canção e trilha sonora original, com representantes indies como o grupo canadense Arcade Fire, também são um termômetro dessa mudança gradual no corpo da Academia.
Outro aspecto que salta aos olhos é a diminuição da influência dos sindicatos. Especialmente dos atores, outrora tão festejado por seu alto índice de preconização dos indicados ao Oscar. Isso acontece não porque a composição majoritária da academia deixou de ser dos atores, mas em virtude do aperto no calendário pré-indicações ao Oscar imposto pela academia no ano passado.  Das 20 atuações indicadas, cinco são distintas das lembradas pelo SAG. É a maior discrepância em anos. O que mostra, por consequência, que a mudança no calendário que fez com que todos os outros prêmios fossem trombando e se reajustando, do ponto de vista da Academia, foi ótimo negócio.
Trapaça, inegavelmente, assume a dianteira na corrida pelo Oscar. A ideia já estava solta no ar há algumas semanas, mas as indicações consolidaram esse status. Gravidade, que divide com o filme de David O. Russell, o recorde de indicações no ano (ambos com 10) é ficção científica, gênero que tradicionalmente encontra resistência nos porões da Academia e a referida mudança aventada acima ainda não chegou tão longe. Trapaça é um filme feito por um diretor que acumula prestígio ano após ano, filme após filme e com elenco estelar. O tema, política, show business, cafajestagem e camaradagem com os anos 70 como pano de fundo rendeu a Argo o Oscar no ano passado. A questão que se coloca é se a Academia premiará um filme que aborda, de maneira dura e crua, um período vergonhoso da história americana (12 anos de escravidão) ou se premiará o filme mais confortável apresentado por um grupo de artistas queridos e em alta? Amistaad (1997) e Lincoln (2012), para ficarmos em exemplos Spielbergianos eram filmes muito menos insidiosos da desumanidade da escravidão e foram ladeados.  Gravidade, por seu turno, como já abordado aqui em Claquete, é demasiadamente pipoca e pouco contundente em matéria de reflexão. O Oscar gosta de premiar causas nobres. Não há nada em Gravidade que favoreça essa percepção.
Outro aspecto curioso foi a ausência de dois dos documentários mais elogiados, comentados e premiados do ano Blackfish e Stories we tell que ficaram de fora. Em comum, ambos são dirigidos por mulheres. Não que haja uma conspiração do clube do bolinha aí, mas que é estranho e propício à controvérsias, é inegável.
Curiosamente, ainda que a lista pareça mais internacionalizada – há até um somali indicado entre os coadjuvantes, houve uma diminuição da presença de estrangeiros entre os concorrentes ao Oscar. Descontando-se os ingleses e galeses (Christian Bale, Chiwetel Ejiofor e Judi Dench) há uma australiana (Cate Blanchett, outra que poderia ser descontada), uma queniana (Lupita Nyong´o), um alemão (Michael Fassbender) e um somali (Barkhad Abi).
A questão racial, sempre introduzida no debate, volta ao eixo central nesta edição do Oscar. Há atores negros indicados em todas as categorias, com exceção de atriz, e o terceiro diretor negro nomeado ao Oscar de direção. Steve McQueen, no entanto, é o primeiro negro estrangeiro indicado; ele é inglês. Não obstante, 12 anos de escravidão que despontou como virtual vencedor do Oscar lá atrás em setembro, quando foi exibido no festival de Toronto, foi perdendo fôlego e hoje representa uma opção à esquerda do favorito consolidado Trapaça. O ímpeto revoltoso de alguns pode atribuir a esse descenso um valor racial que, a primazia, é apenas intriga. 

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Oscar Watch 2014 - Cenas de Cinema (as indicações ao Oscar 2014)

No caminho certo
É contumaz falar das omissões e das injustiças do Oscar, mas a cada ano a academia vem se esforçando para menorar essa impressão que – por sua alta carga subjetiva – jamais poderá ser afastada de todo. Em 2014, ao se deparar com a lista dos indicados ao Oscar, a primeira sensação é de que ela é a mais completa, honesta e justa possível. Leonardo DiCaprio, ator contestado nas hostes da academia, recebeu merecidamente sua quarta indicação ao Oscar. Ainda que para tanto, Robert Redford tenha perdido a chance de conquistar sua primeira como ator.
Os filmes que mais chamaram a atenção nesta agitada, e cheia de qualidade, temporada de premiações foram lembrados. Bom senso, bom timing e, acima de tudo, bom julgamento parecem nortear a academia nesta fase da corrida pelo Oscar.



A prova dos nove
Desde que foi implementada essa janela de cinco a dez filmes na categoria de melhor filme em 2010, a categoria foi apresentada com nove filmes. De lá para cá, com quatro edições do Oscar como amostragem, dá para dizer que este é o ano em que há maior número de filmes de melhor nível na disputa. Mesmo assim, o número final de indicados é o mesmo. Esse gosto pelo nove pode ser reflexo direto do método para se aferir os indicados a melhor filme. Para ser indicado, um filme precisa reunir 5% da preferência dos votantes. O gosto da Academia, como se vê, é bem plural, mas não chega à casa dos dígitos.

Pelo segundo ano consecutivo, David O. Russell (à direita) emplacou o darling da corrida pelo Oscar. Trapaça divide a liderança da corrida com Gravidade, ambos com 10 indicações

Sem corridas das oscarizadas
Logo no início do especial Oscar Watch 2014, Claquete atentou para um fato incomum. Esta temporada do Oscar se anunciava como uma corrida de oscarizadas na categoria de melhor atriz. Ainda que tenha ficado com essa cara até os 45 do segundo tempo, não se resolveu dessa maneira e Amy Adams, por Trapaça, infiltrou-se e já começa a fungar no cangote da favorita inconteste Cate Blanchett (Blue Jasmine).

Amy Adams, sob as ordens de Russell, trazendo sexy back para a corrida das atrizes pelo Oscar...

Actors reloaded
Claquete acertou onde 99% de quem se dedica a analisar e antecipar os rumos da corrida pelo Oscar errou. Christian Bale e Leonardo DiCaprio, atores que encontram certa resistência entre muitos membros da academia e que defendem personagens de moral contestável, conseguiram indicações pelos filmes Trapaça e O lobo de Wall Street respectivamente. Mas a categoria deste ano não é redenção apenas para eles. Bruce Dern (Nebraska), Chiwetel Ejiofor (12 anos de escravidão) e Matthew McConaughey (Clube de Compras Dallas), todos em momentos distintos da carreira, são figuras historicamente descompatibilizadas da premiação.
Dern, aos 77 anos, volta a ser indicado ao prêmio. Concorreu uma única vez como coadjuvante em 1979. Bale é único a já ter vencido. Foi em 2011 como coadjuvante por O vencedor.

Outside
Os irmãos Coen, costumeiramente lembrados pela Academia que rapidamente os acolheu como favoritos da casa, acabaram de fora da disputa de 2014. Inside Lyewyn Davis – balada de um homem comum já vinha perdendo força na corrida, mas o fator Coen e o prêmio em Cannes mantinham acesas as esperanças de melhor sorte no Oscar. A tendência de queda se confirmou com apenas duas nomeações, para fotografia e som. Em um ano de fato concorridíssimo, não havia espaço para favoritos da casa.

O cara
O nome é Russell. David O. Russell. Quem é John Ford perto dessa cara? Parece heresia, mas não é. O que David O.Russell vem conquistando na história recente do Oscar não tem precedentes. Pelo segundo ano consecutivo ele emplaca indicações nas quatro categorias de atuação para quatro atores. Antes do ano passado, quando ele conseguiu isso por O lado bom da vida, foram mais de 30 anos sem que isso acontecesse. Não obstante, Russell conseguiu sua terceira indicação ao Oscar em quatro anos. Coisa que só Ford conseguiu e em uma época em o western, gênero em que Ford reinava, imperava no gosto dos acadêmicos. David O. Russell rapidamente se agiganta para se tornar um dos grandes do cinema e do Oscar.

O cara que zoa o outro cara
49 indicações ao Oscar. John Williams ri na cara de David O. Russell assim como ri na cara de qualquer um. O prêmio chama-se Oscar, mas qualquer dia vai ter gente chamando de John Williams. Ah, a indicação foi pela trilha sonora de A menina que roubava livros.

Até onde vai Meryl Streep?
Tinha quem duvidasse, mas Meryl Streep é maior do que Oprah e as indicações ao Oscar desta quinta-feira demonstraram isso. Streep, que muitos duvidavam que conseguisse nomeação em virtude do crescimento de Amy Adams, entrou e Oprah Winfrey, dada como certa entre as coadjuvantes, ficou de fora. É a 18ª indicação de Meryl Streep, recorde absoluto entre intérpretes e adornado ainda por outra marca suprema: indicações em cinco décadas diferentes.

Julia Roberts e Meryl Streep em cena de Álbum de família: ambas indicadas ao Oscar. Julia persegue modestamente a marca de Streep e angaria sua quarta indicação à estatueta e na terceira década distinta.

Até onde vai Jennifer Lawrence?
Talvez ainda seja cedo para chamá-la de próxima Meryl Streep, mas fato é que nem mesmo a original ostenta o recorde que J.Law acaba de constituir. Ninguém jamais foi indicado a três Oscars, e muito menos tendo ganhado um, com 23 anos de idade. Mais: Jennifer Lawrence conseguiu essas três indicações em quatro anos. Quem segura o ímpeto dessa mulher?

Recordar é viver
Tom Hanks foi indicado ao Oscar por um papel de naufrago em 2001 no filme Naufrago. Robert Redford ficou de fora da disputa deste ano defendendo o papel de um naufrago em Até o fim. Já Matthew McConaughey conseguiu sua primeira indicação ao prêmio pelo papel de um aidético que luta contra o sistema em Clube de compras Dallas, papel semelhante ao que deu o primeiro Oscar a Hanks em 1994 por Filadélfia. Hanks que ficou de fora da disputa deste ano por Capitão Phillips, filme no qual faz um capitão que teve seu navio sequestrado. Papel semelhante ao que deu a primeira indicação ao Oscar a Johnny Depp em Piratas do caribe: a maldição do Perola negra...

Tom Hanks em cena de Capitão Phillips: e quem paga o pato sou eu?

Mais Oscar nos próximos dias em Claquete

Quem gosta de acompanhar a temporada de premiações pelo blog não terá do que reclamar nos próximos dias. Além de uma análise preliminar sobre as indicações, serão publicados #oscarfacts – sobre curiosidades da premiação e dos indicados deste ano e outras regalias para o leitor cinéfilo que bate cartão por aqui.