segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Crítica - A vida secreta de Walter Mitty

Ode ao brilho do cinema...

A vida secreta de Walter Mitty (The secret life of Walter Mitty), EUA 2013) é daqueles filmes que recuperam a fé no cinema. Não que ela estivesse perdida, mas de tempos em tempos parece deslocada em virtude de um rol de prioridades que são transferidas para o cinema diretamente de orçamentos executivos. Ben Stiller, em mais uma bem sucedida incursão na direção, acrescenta mais um filme ao panteão ao qual fazem parte produções como A felicidade não se compra (1946), Casablanca (1943), Os brutos também amam (1953) e Blade Runner – o caçador de androides (1982). Cada filme no seu gênero e na sua época restabeleceram a fé no cinema como arte capaz de mimetizar não só o fantástico, como o espírito humano em toda a sua grandeza e particularidade.
É esse o desejo de Ben Stiller com esse projeto de inegável ambição que consumiu cerca de U$ 90 milhões em sua confecção.
Em A vida secreta de Walter Mitty, Stiller faz o personagem que dá nome ao filme e a vida secreta em questão é que, imerso em sua introspecção, Mitty viaja e pensa mais de si mesmo do que a realidade lhe oferta. Dono de um espírito aventureiro preso em uma mente insegura, Mitty trabalhou 16 anos como gerente do setor de negativos da revista Life, que agora passa por uma fase de transição para o online em que muitos profissionais serão demitidos. Nesse clima de apreensão, Mitty é instigado por Cherly (Kristen Wiig), por quem nem tão secretamente nutre uma paixão, a seguir um punhado de pistas aleatórias na busca pelo negativo que será a capa da última edição da Life, aparentemente extraviado.
Para essa busca, que necessariamente passa pela localização do aventureiro fotógrafo Sean Walker (Sean Penn), Mitty precisará dar vida a sua imaginação como jamais deu.
O maior trunfo de A vida secreta de Walter Mitty não é seu tom fabular, mas seu coração. Filme sincero, singelo e que não se furta a brincar com referências (a piada com O curioso caso de Benjamin Button é um achado), vive seu ápice ao articular poeticamente o significado da quintessência da vida.

Emoção genuína pode ser uma arte perdida no cinema e filmes como A vida secreta de Walter Mitty, com toda sua pujança fantasiosa, representam um valioso mapa para o cinema contemporâneo. Não se trata do melhor filme do ano e não passa nem perto disso, mas é um dos poucos que o fará se sentir tão bem consigo mesmo nesta temporada. 

2 comentários:

  1. Bom ponto de vista, ainda que me incomode o exagero da fantasia, quando esta se torna realidade, se é que me entende. rs. Não é mesmo um dos melhores do ano, mas também está longe de ser dos piores, e pensar que o Framboesa de Ouro deu algumas indicações a ele, o povo adora pegar no pé do pobre do Ben Stiller.

    bjs

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  2. Ben Stiller fez a fama, agora deita na cama. Mas sua filmografia como diretor é mais consistente e interessante do que como ator. De qualquer maneira, acho que A vida secreta de Walter Mitty é um bom filme. É melhor do que eu esperava também.
    Bjs

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