Precedido por uma campanha de marketing intensa e
avassaladora, sem precedentes na esfera de lançamentos de arte, o primeiro
volume de Ninfomaníaca, a nova travessura do dinamarquês Lars Von Trier,
estreia nesta sexta-feira na ressaca de críticas divididas e do silêncio
desafiador do realizador que, de maneira inédita, consentiu que os produtores
montassem uma versão censurada, e a dividisse em duas partes, para lançamento
comercial.
A versão de Von Trier, sem cortes e, segundo dizem, mais
apimentada, esteve para ser lançada em Cannes, mas para que o momentum não
passasse, será exibida em evento de gala no festival de Berlim no próximo mês.
Como vivemos uma era capitalista, depois do lançamento do
segundo volume, algumas distribuidoras do filme, inclusive a Califórnia no
Brasil, aventam a possibilidade de lançar a versão de Von Trier, que totaliza
quase seis horas, nos cinemas.
“Digressionismo”, limitou-se a dizer Von Trier quando
questionado por uma revista cultural alemã sobre a qual gênero pertenceria
Ninfomaníaca. À época, o filme não estava pronto e o diretor acrescentou que
não falaria mais sobre a fita, já que havia se comprometido a “deixar seus
filmes falarem por ele”. Stellan Skarsgaard, um dos atores mais frequentes na
filmografia do diretor, fala e diz que “assistir Ninfomaníaca é tão excitante
quanto comer uma tigela de cereal”. O ator faz menção ao erotismo frustrado, a
mecanicidade da compulsão sexual da ninfomaníaca vivida por Stacy Martin e Charlote Gainsbourg em momentos distintos da vida da personagem principal, Joe,
a ninfomaníaca em questão.
Mas por que digressionismo? Porque Ninfomaníaca basicamente
é um filme falado. Uma depressiva egocêntrica que encontra ouvidos curiosos e
os explora em busca de condenação ou absolvição e que, pelo menos no que
concerne este primeiro volume, não encontra.
Como de hábito em se tratando de Von Trier, Ninfomaníaca é
dividido em tomos. São
oito no total e cinco neste primeiro volume. O filme, em si, é o desfecho da trilogia
da depressão filmada por Von Trier a partir de AntiCristo (2009) e continuada
em Melancolia (2011). Trata-se da quarta trilogia informal da carreira do
cineasta, resta incompleta a trilogia sobre a América, iniciada com Dogville
(2003), acrescida por Manderlay (2005), mas a terceira parte, Washington,
permanece não filmada. A primeira trilogia, intitulada Europa, é constituída
pelos filmes Elemento de um crime (1984), Epidemia (1987) e Europa (1991). A
segunda trilogia, denominada “coração de ouro”, é formada pelos títulos Ondas
do destino (1996), Os idiotas (1998) e Dançando no escuro (2000).
A estética do choque parece servir os propósitos de Von Trier que aqui acolhe
o público para digredir com ele a respeito do ponto G das angústias humanas: o
sexo.
Oi Rei
ResponderExcluirÉ interessante Lars ter comentado sobre o digressionismo que, a meu ver, só ressalta que , ainda que Joe fale suas aventuras sexuais, ela é tão depressiva e mecânica com relação ao sexo que continua distante. Gostei do filme também pela forma seca de falar sobre sexo. Tanto que, não há erotismo e, quando há um pouco mais, só naquela transa mais gostosa entre Shia e Stacy,afinal tem que ter o amoroso e secreto ingrediente.
bjs
Cris Madam