segunda-feira, 18 de março de 2013

Espaço Claquete - Bastidores de um casamento

A estreia na direção de Sam Levinson é algo arrebatadora. Bastidores de um casamento (EUA 2011), péssimo nome nacional para o sutil e eloquente Another happy Day, é daqueles filmes pesadões com forte inclinação à depressão e que não farão o espectador se sentir uma pessoa melhor ao final. Mas é também um filme de honestidade cortante. Levinson, que também é o roteirista, desalinhava conflitos de maior tensão e conflitos latentes com crueza, mas sem prescindir do equilíbrio narrativo necessário para um filme que tem tantas arestas a aparar.

As arestas existem porque Bastidores de um casamento acompanha o fim de semana do casamento do filho mais velho de Lynn (Ellen Barkin em atuação assombrosa). Filho com o qual ela não teve uma convivência próxima em virtude da turbulenta separação de Paul (Thomas Haden Church), o pai de Dylan (Michael Nardeli) e Alice (Kate Bosworth). Alice ficou com a mãe e desenvolveu o hábito de se auto-mutilar durante o período em que não mais viu seu pai. Lynn casou de novo e teve outros filhos com Lee (Jeffrey DeMunn). Mas Elliot (Ezra Miller) e Ben (Daniel Yelsky) também padecem de alguns distúrbios psicológicos. Como se toda essa bagagem não fosse suficiente, durante o fim de semana do casamento de Dylan, Lynn terá que lidar ainda com a virulência de sua família que não a acolhe da maneira que Lynn gostaria e com a presença de Paul e Patty (Demi Moore), sua nova esposa.
Levinson tem um olhar apurado para os conflitos familiares e intrafamiliares que emergem em circunstâncias de convívio geralmente forçado como o que move Bastidores de um casamento.
O filme abre com um inusitado diálogo entre Ben e Elliot, por o primeiro querer saber se o segundo acha a mãe sexy. “Você sabe, tem quem goste de McDonald´s e tem quem não goste”, explica Elliot que, aos 17 anos, acaba de sair de uma clínica de reabilitação para dependentes químicos. Mais adiante, em face dos eventos que tornam o fim de semana do casamento de seu irmão um verdadeiro filme de horror, Elliot espanta sua avó como uma elaboração filosófica: “não deixa de ser irônico que a morte reúna as pessoas de forma mais efetiva do que o amor”. Acusado por sua irmã Alice de ser imaturo e indagado quando iria crescer, ele responde: “em algum momento próximo do fim”. É no comportamento autodestrutivo de Elliot que Levinson expõe a mordaz visão que enuncia com seu filme. Em um mundo em que o amor não se impõe à morte, Levinson faz muito sentido ao reunir uma galeria de personagens que evocam a autopiedade e sublinhar o fato de que Elliot, com toda a sua fúria, é o único a não fazê-lo. O fim, afinal, em crises familiares, é um conceito distante.

9 comentários:

  1. Nem imaginava que fosse um bom filme! Vou correndo vê-lo, com certeza!

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  2. Ainda não tinha ouvido falar desse filme, mas olha teu texto me deixou curiosíssima. Espero poder conferir este filme.

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  3. Esses dramas de famílias são sempre bem interessantes, só não sei se eu estou preparada para eles agora, rsrsrs
    Engraçado que no começo de sua resenha achei que você fosse falar daquele filme novo com o Pierce Brosnan... Pelo menos as críticas que li até agora foram bem legais - fico então esperando pelo seu veredicto sobre ele.

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  4. É, o título me afastou dele, mas seu texto me deixou curiosa, vou procurar também.

    bjs

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  5. Alan: Tb me surpreendi com a força do filme.
    Abs

    Kamila: Vale a pena, mas é um filme emocionalmente exigente. Ainda mais para quem já vivei crises familiares relacionáveis com as do filme...
    Bjs

    Aline: rsrs. I know what you mean! Ainda estou para ver "amor é tudo o que você precisa", o novo estrelado por Pierce Brosnan...Obrigado, mais uma vez, pelo prestígio!
    Bjs

    Amanda: Obrigado pelo prestígio Amanda.
    Bjs

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  6. Uau! Que belo texto e elogioso! Lembro que o filme foi exibido em Sundance, Tribeca, sei lá, algum festival de cinema independente e rendeu críticas positivas, mas não sei te dizer o quê, mas não dei muita bola para o filme e segui adiante.
    Vi alguns blogueiros comentando os méritos dele e agora com seu texto matador, estou me obrigando a assistir.

    Valeu a dica, meu velho!
    Abs!

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  7. Elton: Obrigado pelos elogios meu caro. Espero que goste do filme!
    Abs

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  8. Eu assisti ontem e, particularmente, gostei, mas com alguns temperamentos.
    Os conflitos vivenciados pelos personagens são intensamente dramáticos. E alguns não são tão abordados. Como é o caso do conflito entre Paul e Alice.
    Tudo é levado às últimas consequências: há uma briga de tapa entre as esposas de Paul,o pai de Lynn morre em um acidente no dia do casamento do neto, Elliot capricha na travessura, também no dia do casamento...
    Enfim, um pouco mais de leveza contribuiria para a fluidez do filme.
    A sua resenha ressalta pontos altos, o que contribui para que as pessoas assistam o filme.

    Liana Alencar

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  9. Obrigado pelo ótimo comentário Liana. Concordo com vc. Acho, inclusive, que a opção por "pesar" foi da realização e com tantos personagens é natural que haja um desequilíbrio na abordagem deles. Agora estamos de acordo que um pouco mais de leveza faria bem a fluidez do filme.

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