Há três anos, Claquete promoveu um especial sobre o filme
Alice no país das maravilhas. O filme não foi dos highlights da carreira de Tim
Burton, mas se firmou como seu maior sucesso de bilheteria e, de quebra, serviu
ao propósito do diretor de fazer as pazes com o estúdio Disney, de onde saiu
desprestigiado no fim dos anos 80. Alice no país das maravilhas, com sua
bilheteria superior a U$ 1 bilhão, no entanto, incutiu em Hollywood uma nova
tendência: o ressurgimento dos contos de fadas no cinema.
Na esteira do lançamento de Oz: mágico e poderoso – que
lidera pelo segundo final de semana consecutivo as bilheterias americanas – é
seguro dizer que os contos de fadas representam para Hollywood hoje o que há
uma década eram as HQs.
Já foram duas versões distintas para Branca de Neve, uma
reimaginação do conto de João e Maria, uma versão sombria do conto dos irmãos
Grimm para Chapeuzinho vermelho e o retorno a Oz para mostrar como tudo
começou. No fim de março estreia ainda a visão de Bryan Singer para “João e o
pé de feijão”, rebatizada de Jack: o caçador de gigantes. Hollywood já prepara
outras versões sombrias de alguns clássicos contos de fadas. Em Pan, Peter Pan
é um serial killer que mata apenas crianças e o capitão gancho (papel que será
de Aaron Eckhart) é o detetive responsável do caso. A pequena sereia tem
ninguém menos do que Joe Wright (Anna Karenina) a frente da produção. Ainda não
há muitos detalhes sobre a produção. Diferentemente de Malévola, que terá
Angelina Jolie no papel principal e estreia no próximo ano com o foco na rainha
má de Bela adormecida. Ali baba, novas versões para Cinderela, ampliação do
universo de Oz e outras apropriações já estão igualmente engatilhadas. É
natural que os contos de fadas não sejam o manancial que as HQs representam
para Hollywood, mas são providenciais em um momento de esgotamento dos comics
no cinema.
Cena de Oz: mágico e poderoso, primeiro grande sucesso de bilheteria de 2013: uma das poucas versões modernas não sombria dos contos de fadas
De qualquer maneira, tanto as HQs como os contos de fadas
foram viabilizados enquanto negócio pelas mãos de Tim Burton. Foi o excêntrico
diretor que venceu a desconfiança de crítica e indústria e fez de Batman um
campeão de bilheteria em 1989. Com um filme sombrio e estrelado por um
contestado Michael Keaton, Burton provou que as HQs eram sim viáveis como fonte
para o cinema e rentáveis enquanto negócio. Foi Burton quem ensejou a nova onda
de reimaginações de contos de fadas e o aspecto sombrio que domina grande parte
delas também se deve a influência do diretor.
Burton, notadamente negligenciado pela crítica, é um
improvável campeão de bilheteria com filmes como A lenda do cavaleiro sem
cabeça, Edward mãos de tesoura e Frankenweenie. Tendo estado à frente de dois
movimentos capitais para a musculatura hollywoodiana nos últimos 30 anos, alinha
abaixo do radar de muita gente outra “nota esquecida” para sua biografia.
Admiro o cinema de Tim Burton por uma simples razão: suas obras têm uma marca registrada que reconhecemos facilmente e que representam o chamado cinema de autor, aquele toque que somente Burton saberia dar. Fico sempre muito curiosa em relação aos filmes dele, pois representam um universo único, que só poderia mesmo ter saído de sua mente, com personagens que vivem às margens da sociedade. É quase como se Burton colocasse seus próprios conflitos em tela.
ResponderExcluirGostei da matéria Reinaldo e muito bom, justo, você linkar Tim Burton com os dois gêneros.
ResponderExcluirCara, eu tenho medo deste Peter Pan aí... rs rs o que é isso? Confesso que não assisti "João e Maria" que matam bruxas e reinvenção exagerada de conto de fada, na minha opinião (apesar de render nas bilheterias) resulta ridículo e cafona demais. Nem sei o que esperar do Bryan Singer com este releitura de João e o Pé de feijão!
Ok, Batman de 89 foi importante, mas antes dele, não podemos esquecer da coragem de Richard Donner em tocar um projeto ambicioso (Superman, né?), apesar de ter tido muita gente de peso (Brando, Puzo, Hackman, Mankiewicz)querendo um crédito. Depois deste Superman que Batman foi possível, mas é de fato Burton o artista que moldou e engessou um estilo que incrementou tudo!
Abs.
Esses dias eu vi o Batman de Burton e fiquei apaixonado! O primeiro nem tanto, mas tem o seu valor... Agora o segundo filme é um primor! Massa o seu texto, já que é realmente o Burton o "primeirinho" (mesmo se levarmos em consideração o seu Alice!).
ResponderExcluirFiquei com muuuuuita vontade de ver este "Em Pan" =]
Kamila: Pois é Ka; Burton, por essas e outras, é um cineasta para lá de admirável...
ResponderExcluirBjs
Rodrigo: Burton está diretamente ligado à confirmação das hqs como fontes rentáveis para o cinema e foi ele, indubitavelmente, quem viabilizou essas reimaginações dos contos de fadas. E digo isso não tendo gostado de sua versão para "Alice no país das maravilhas".
O Superman de Donner, vc mesmo indica as circunstâncias diferenciadas. Foi quase que um filme de arte, independente em um esquema de estúdio. O próprio Donner gosta de contar essa história. Foi Batman que fez um dinheiro absurdo e contou com um esquema de divulgação, àquela época, inovador.
Abs
Alan:Os dois, na minha opinião, são ótimos. Mas gosto mais do primeiro Batman. Tb estou curioso por esse "Pan". Vamos ver que coelho sai dessa cartola...
Abs
Nossa, verdade: nunca tinha reparado nesse papel do Burton como lançador de tendências, rsrsrs Ou talvez ele seja o homem para testar a viabilidade de novas ideias, alguém competente e sem medo de se jogar no que houver de mais fantasioso. Mas concordo contigo, Batman é algo bem mais louvável no currículo dele do que Alice :P
ResponderExcluirAline: Alice é a bola mirada na trave que entrou no gol. rsrs. Como negócio é ótimo, já como filme... Burton exerce mais influência do que muitos se dão conta. Caberá à História reparar essa omissão.
ResponderExcluirBjs