Sexo no divã
Sexo, mentiras e videotape (Sex, lies and videotapes, EUA 1989)
Há quem acredite que vivemos hoje em uma sociedade extremamente sexualizada. Não era bem assim no final dos anos 80 quando essa pequena joia do cinema independente americano surgiu e arrebatou plateias – em parte pelo ineditismo de abordar o sexo e suas bifurcações sem meio termos.
Não se trata de dar vez a perversões sexuais, mas de enquadrar fetiches e distopias relacionais em uma ótica totalmente vanguardista. Hoje banalizada pelo acúmulo de reality shows.
Soderbergh se apresenta como um cineasta econômico, de mão firme e com ótimo tino para a direção de atores.
Errando e aprendendo
Obsessão (Underneath, EUA1995)
Novamente trabalhando com Peter Gallagher (trabalhar com os mesmos atores é uma das muitas medidas pragmáticas do cineasta), Soderbergh realiza um filme que começa como um drama e termina como suspense. É um dos pontos baixos do diretor, mas um importante laboratório. Talvez seja aqui que Soderbergh tenha adquirido o know how para atuar com qualidade e distinção em diferentes gêneros cinematográficos.
Aquele alô para o mainstream
Irresistível paixão (Out of sight, EUA 1998)
O começo da parceria com o amigo George Clooney foi essa charmosa fita policial. Foi Irresistível paixão que provou que Soderbergh podia, também, ser pop. Uma mistura de romance com humor, abalizada por uma ação sofisticada em que George Clooney vive um irresistível meliante e Jennifer Lopez uma policial que dá sentido ao termo irresistível.
Viabilidade
Erin Brockovich – uma mulher de talento (Erin Brockovich, EUA 2000)
Um drama sobre uma legítima “mulher coragem” com cores jurídicas que valeu a Julia Roberts o Oscar de melhor atriz. Soderbergh extrai força de um elenco que conta, ainda, com o grande Albert Finney e com um promissor Aaron Eckhart para entregar um filme tão edificante quanto eficiente. Soderbergh se mostra um diretor hábil em tornar um filme simples em material de Oscar, ainda que tenha sido ajudado por um ano dos mais fracos da história hollywoodiana.
Para a posteridade
Traffic: ninguém sai limpo (Traffic,EUA 2000)
Esse talvez seja o filme testamento do diretor. Um tema polêmico, uma narrativa entrecortada, perícia técnica na decupagem da trama, linguagem visual empolgante e atores em ótima forma. Tudo isso de maneira econômica e dinâmica. Não a toa lhe valeu o Oscar de direção.
Entretenimento sofisticado: George Clooney é o leading man de um dos maiores acertos de Soderbergh, Onze homens e um segredo
Sem segredos
Onze homens e um segredo (Ocean´s eleven, EUA 2001)
Soderbergh provou ser um cineasta com sofisticado senso de humor ao reimaginar, ao lado de George Clooney, um dos melhores filmes do rat pack (grupo de artistas capitaneado por Frank Sinatra) nos idos dos anos 60. O novo Onze homens e um segredo não só se mostrou muito superior ao original como deu início a uma lucrativa franquia cinematográfica que funcionava tanto como filme de assalto, tanto como sátira. Um achado cinematográfico e um dos melhores trabalhos de Soderbergh.
Passo maior que as pernas
Solaris (Solaris, EUA 2002)
Adaptação da homônima obra do cinema russo, foi o primeiro grande revés de Soderbergh no cinema. Refilmagem desnecessária que não honrou o legado do original com uma trama confusa e um George Clooney pouco convincente como protagonista. A ficção científica, portanto, se tornou um gênero obtuso para o diretor que retornaria a ele com mais “liberdade criativa” e “condescendência narrativa” em Contágio (2011).
Revolução interrompida
Bubble (Bubble, EUA 2005)
Uma trama de mistério que tem como pano de fundo uma fábrica de bonecos. Um filme simples, monótono até, cujo grande burburinho foi sua estratégia de distribuição. Steven Soderbergh decidiu lançar o filme nos cinemas no mesmo fim de semana em que o disponibilizava em DVD, na TV por assinatura e em streamings online. A ideia era promover um debate para distribuição do cinema independente. Por mais interessante que fosse a ideia – e o debate – o filme não os vitaminou o suficiente.
Homenagem rarefeita
O segredo de Berlim (The good german, EUA 2006)
Querendo se provar um cineasta clássico e com o interesse de fazer o “seu Casablanca”, Soderbergh chamou o chapa George Clooney para essa história que conjuga romance e mistério em preto e branco. A crítica reagiu com indiferença à pompa de Soderbergh e o público não descobriu a fita que é boa, mas sucumbe à própria arrogância.
George Clooney e Steven Soderbergh batem um papo no set de Solaris: um revés doloroso para o cineasta que vinha da conquista do Oscar...
Tour de force!
Che: partes 1 e 2 (Che ESP, EUA, ARG 2008)
A ideia de filmar a vida de Che era algo que Soderbergh alimentava há muito tempo. O projeto era gigante, assim como a metragem do filme; o que obrigou o cineasta a dividir a obra em duas partes para lançá-las comercialmente. O resultado dividiu opiniões. Irregular e faltoso, o Che de Soderbergh só produziu de unanimidade a performance de Benicio Del Toro. De qualquer jeito, pelo tamanho do projeto e pela escassez de recursos, o diretor alcançou algum prestígio crítico.
Cineasta de patentes!
Confissões de uma garota de programa (The girlfriend experience, EUA 2009)
Esse curioso filme protagonizado pela atriz pornô Sasha Grey como uma garota de programa de luxo ratificou de uma vez por todas que, por mais interessante que fosse sua veia independente e experimental, Soderbergh estava destinado a só colher elogios por suas aparições no cinemão. Soderbergh exercita aqui alguns cânones do cinema independente, mas não consegue nem mesmo cativar o espectador familiarizado com esse nicho.
Questão de estilo
O desinformente (The informant, EUA 2009)
Steven Soderbergh já vinha flertando com a comédia há algum tempo, mas ainda não havia feito um filme que se encaixasse na descrição. O desinformante, uma fita puxada para o humor negro e o non sense, é a que chega mais próximo. Com a mesma acuidade visual que marcou seus melhores trabalhos, Soderbergh dedica especial atenção a detalhes como trilha sonora, direção de arte e confia a Matt Damon o melhor do resto.