domingo, 23 de outubro de 2011

Insight

A custódia de Shame


Uma das maiores preocupações da Fox Searchlight, braço independente do estúdio Fox que nos últimos anos tem se especializado em adquirir filmes elogiados em festivais ao redor do mundo, é como vender Shame – fita que adquiriu após a consagração crítica da mesma nos festivais de Toronto e Veneza – para o público e para os prêmios.
A Fox searchlight tem em seu catálogo nessa temporada de premiações outros dois filmes com ambições a prêmios (The descendants, do cult Alexander Payne e Martha  Marcy May Marlene, de Sean Durkin).  Dos três, apenas a fita de Alexander Payne foi produzida pelo estúdio. O filme de Durkin foi adquirido após o frisson que causou no último festival de Sundance.
Mas é Shame, de Steve McQueen, que polariza as atenções do estúdio em termos de estratégia de marketing. Primeiro porque o filme de McQueen agradou mais a crítica do que os outros dois filmes; segundo porque sua temática é das mais singulares e capciosas para um filme que pretende agregar simpatia dos prêmios, em linhas gerais tão conservadores, e gerar lucro ao mesmo tempo.
O tema de Shame é sexo. Mais precisamente a solidão da compulsão sexual. Do vício. Michael Fassbender vive um executivo nova-iorquino (o filme, embora seja uma produção britânica é ambientado em Nova Iorque) incapaz de se conectar com outro ser humano. À noite, se aventura na caça à presas sexuais. Seu universo recebe novas e imprevisíveis energias quando a irmã vivida por Carey Mulligan, também ela com suas marcas de revertério sexual, muda-se para a casa (e rotina) do irmão.

Michael Fassbender e Carey Mulligan em cena do filme: uma relação incestuosa é uma das sugestões do texto...


O filme traz insinuações de incesto, nudez explícita, cenas de sexo heterossexual explícitas, cenas de sexo homossexual, ménage a trois, cenas de sexo em grupo, entre outras figurações que não se vê todo dia por aí em um filme no circuito. “Mas o sexo não é gratuito e é desenhado para mostrar a desintegração do personagem”, argumentou a presidente executiva Nancy Utley ao Hollywood Reporter. Utley se mostrou entusiasmada com as possibilidades que Shame traz para o cinema. “Pode mudar a perspectiva com que a indústria e o público lidam com filmes com classificação para maiores de 18 anos”, sugeriu a executiva que vê o filme de McQueen como “distinto” e “original”. Mas admite que “não é um filme que todos receberão facilmente”.
Shame, que valeu a Michael Fassbender o leão de ouro no último festival de Veneza,  “é um filme que merece ser visto” disse o CEO da Focus, James Schamus ao semanário americano de entretenimento. “Um bom filme deveria ter o direito de ter essas imagens.”
É esse o tipo de discussão que a Fox Searchlight tenta incutir na agenda cultural para promover Shame e despertar uma espécie de curiosidade narrativa do espectador. Seja ele cinéfilo ou não.
“Eu acho que Shame irá aguçar a curiosidade das pessoas”, argumenta Steve Gilula – responsável pela aquisição da fita para distribuição pelo selo Fox Searchlight. “Estou otimista de que será um filme significativo e mudará a atitude das pessoas em relação ao uso do sexo no cinema”.   
Muitos críticos que assistiram ao filme em Veneza e Toronto reagiram de maneira apreensiva após a divulgação do primeiro trailer de Shame. Eles argumentam que o trailer cheio de pudores sugere um filme diferente do que o espectador encontrará nos cinemas. Vale o registro de que o trailer, que o leitor pode conferir aqui, não apresenta uma cena de nudez sequer. Nancy Utley não entende dessa forma. A presidente executiva do estúdio vê na internet uma ferramenta catalisadora de interesses em favor do filme. “Vai ser bem fácil para a gente criar barulho acerca de Shame liberando material online”.
De qualquer jeito, a despeito das pretensões e preocupações da Fox Searchlight, Shame parece ser um filme com combustível suficiente para inflamar debates sobre cinema e, não obstante, tal como Freud nos induz, sobre sexo. 

5 comentários:

  1. O trailer de "Shame" é sensacional e já mostra pra gente o quanto que esse filme será picante. Espero que essas preocupações da Fox Searchlight sejam infundadas e que o público receba esse filme com maturidade, sem hipocrisia ou tabus...

    Excelente texto, parabéns!

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  2. O filme tem que ser acima de tudo, bom e independente do sexo e cenas de nudez que pra mim pouco importa...ou melhor vai importar e muito em ver Michael Fassbender, rs! Gosto da Carey Mulligan e acho que vou gostar da fita.

    Curioso e salivando.

    Abraços bro!

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  3. Kamila: Obrigado Ka.
    Bjs

    Rodrigo: E haja saliva! rsrs
    Abs

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  4. Estréia dia 17 de fevereiro no Brasil

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  5. Sim, essa informação já foi divulgada. Mas é possível que a estreia seja adiada para março

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