segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

OSCAR WATCH 2011 - Crítica dos vencedores do Oscar


Aplausos para que te quero: na primeira fila do teatro Kodak figuraram os indicados Helena Bonhan Carter, Javier Bardem, Colin Firth e Michelle Williams



Aconteceu o que muitos esperavam. O discurso do rei foi coroado o melhor filme de 2010 e a cerimônia do Oscar, o programa de TV, depois dos anos de ascensão em termos qualitativos, foi frustrante.
James Franco e Anne Hathaway não conseguiram segurar as pontas. Se ela deixou transparecer que se esforçava, James Franco se preocupou em transparecer que pouco se esforçava. De qualquer jeito, as piadas não funcionaram e o show foi dos mais modorrentos dos últimos anos. Nem o tom mais sóbrio e o ritmo mais apurado favoreceram a cerimônia. A performance apagada dos hosts fez a audiência se efervescer com a rápida aparição de Billy Crystal. Depois de duas acertadas escalações (Hugh Jackman em 2009 e a dupla Steve Martin e Alec Baldwin no ano passado), o Oscar 2011 pode ser lido como um retrocesso nesse departamento.
Mas não foi apenas esse o retrocesso que marcou a noite. A vitória de O discurso do rei, embora não tenha sido tão exagerada quanto se anunciava, afirmou o que se pressentia. A academia se ressentiu da influência exercida pela crítica no ano passado (que culminou na vitória de Guerra ao terror). Somam-se a esse fator o peso de Harvey Weinstein em uma campanha de Oscar e todos aqueles fatos já bastante debatidos durante a Oscar season: enquanto A rede social primava pela análise, esquivando-se da emoção, O discurso do rei a abraçava despudoradamente. É muito mais fácil gostar de um filme assim. E o Oscar, importante sempre pontuar isso, é um prêmio sincero. Foi premiado o filme que caiu nas graças da academia. No entanto, esse dado não afugenta certas críticas. A guinada conservadora, enunciada nas indicações, pode ser tolerada desde que justificada em si mesma. Não é o caso. Fosse isso, a vitória de O discurso do rei se daria da forma maiúscula como de outro equívoco recente da academia, Quem quer ser um milionário? (ainda que dentro de um escopo diferente). O que se viu foi o triunfo de um marketing bem engendrado. Ficou provado, também, que campanha difamatória não vinga quando feita abertamente. A crítica resmungou e vociferou contra O discurso do rei, mas não obteve reverberação.

Os filmes do ano


Os eleitos do ano: após um mal fadado número musical, os
vencedores do Oscar 2011 se reúnem no centro do palco
 Claquete já havia sinalizado para um Oscar pulverizado. E, mais que isso, para uma divisão entre o moderno e o tradicional. Não poderia haver indicativo mais claro disso do que a distribuição final das estatuetas. A origem (Efeitos especiais, som, edição de som e fotografia) e O discurso do rei (filme, direção, ator e roteiro original) dividem o topo com quatro prêmios. O filme inglês, obviamente, se avantaja nos critérios de desempate. Mas logo em seu encalço vem A rede social, com três merecidíssimos prêmios (montagem, trilha sonora e roteiro adaptado). O vencedor, Toy story 3 e Alice no país das maravilhas chegam logo atrás com dois Oscars cada.
O conservadorismo da academia em 2011 foi ombreado com a vontade de pensar o novo. A rede social tinha defensores vorazes, como mostrou a espirituosa fala de Steven Spielberg antes de anunciar o melhor filme do ano. A origem ganhou mais prêmios do que muitos davam por certo e as trapalhadas dos favoritos na categoria de coadjuvantes não exerceram o pendor negativo que costumam, tratando-se de rigor acadêmico.
O Oscar 2011, infelizmente, será lembrado como um ano de injustiças. Ainda que elas tenham sido poucas e subjetivas. Contudo, como A rede social é um filme destinado a grandeza, esse julgamento será inevitável. Uma pena que a academia hesite em reinventar-se por completo. Há fragmentos de uma reinvenção em curso. A vitória do obscuro Os infiltrados (2007), do pessimista Onde os fracos não tem vez (2008) e o ecletismo e equilíbrio da seleção de 2011 denotam isso.
Contudo, na hora H, o Oscar ainda prefere o porto seguro dos cânones cinematográficos. Não deixa de ser uma opção legítima. Mas também é uma opção engessada no tempo. Em descompasso com as transformações sociais, culturais e – em um controvertido reflexo – cinematográficas.

OSCAR WATCH 2011 - Cenas de Cinema: 83ª cerimônia do Oscar

A era de Harvey Weinstein
O momento em que Colin Firth lhe faz uma deferência e Harvey Weinstein lhe sorri com pose de poderoso chefão é antológico. Mais do que qualquer coisa, Harvey Weinstein sabe como vender um filme. O homem que dominou o Oscar nos anos 90 (e fez com que uma comédia triunfasse sobre um filme de guerra) novamente emplacou um filme fraco como o melhor do ano. O discurso do rei prevaleceu com 4 Oscars (filme, direção, ator e roteiro original) em uma noite que o único que parecia saltitar de satisfação era o poderoso chefão.


A era de Harvey Weinstein II
Interessante imaginar como será o Oscar quando Harvey Weinstein não mais estiver por aí. É pacífico que as campanhas continuarão e, provavelmente, serão ainda mais refinadas e agressivas. Contudo, dificilmente um produtor conseguirá reproduzir os ganhos de Weinstein. O homem que consegue elevar filmes medianos a Oscar winners.


A era de Harvey Weinstein III
Para se ter uma dimensão da influência, prestígio e escárnio de Harvey Weinstein, basta se ater ao clipe dos indicados a melhor filme. Com o off do discurso do rei George de Colin Firth, os coadjuvantes da noite eram apresentados em vultos que se inferiorizavam ante o grande momento do filme bancado por Weinstein. Muitos acharam uma bandeira da academia antecipando o vencedor da categoria. Não era o caso. Era Weinstein marcando o território. Tripudiando mesmo!


Juntando-se a Cidadão Kane


Coube a Steven Spielberg o tapa com luva de pelica. Escalado para entregar o Oscar de melhor filme, o diretor lembrou que um dos concorrentes se juntaria a filmes como Como era verde meu vale e Franco atirador, enquanto que os outros nove se juntariam a obras como Touro indomável, Rede de intrigas e Cidadão Kane. A inclusão desse filme em particular diz muito sobre o juízo que Spielberg faz dessa edição do Oscar. E não só ele.


Sobre uma má escolha

E demorou para chegar a este comentário. Isso por que, conforme as expectativas, James Franco e Anne Hathaway decepcionaram como apresentadores da 83ª cerimônia do Oscar. Desconectados da audiência, fora do tom, com piadas ruins e, no caso de Franco, aparentando desinteresse extremo, ambos foram vencidos pelo nervosismo. Nem a puxação de saco de Hathaway – a mais esforçada – para algumas celebridades (“grata de respirar o mesmo ar que ela”, ao apresentar Oprah Winfrey e “este é um grande momento para mim”, ao chamar Sandra Bullock para o palco) valeu de alguma coisa.


Porém...
A culpa não pode ser debitada apenas na conta deles. Apesar de em um minuto Billy Crystal arrancar mais risadas da platéia do que Franco e Hathaway em toda cerimônia, eles contaram com um péssimo texto. As piadas fracas (principalmente se comparadas a acidez de Ricky Gervais no Globo de ouro) empalideceram os atores que não conseguiram segurar o rojão de apresentar um espetáculo como a noite do Oscar.

Não deu certo: James Franco e Anne Hathaway não convenceram e receberam duras críticas pela performance apagada


A sanha dos estúdios

E Harvey Weinstein está com tudo mesmo. Das treze indicações que emplacou no Oscar (doze delas com O discurso do rei), converteu quatro vitórias. E nas categorias principais. A Warner teve bom desempenho. Com os quatro prêmios de A origem conseguiu um terço das doze indicações obtidas. Já a Paramount foi a grande derrotada da noite. O estúdio por trás dos badalados O vencedor e Bravura indômita só conquistou duas das dezoito indicações que ostentava. Uma derrota amargurada que só encontrou par no pífio desempenho das produções da Fox Searchlight. Com Cisne negro e 127 horas em disputa, o estúdio só conquistou um Oscar dos onze a que concorria. Quem teve ótimo aproveitamento, dadas as circunstâncias, foi a Universal. O poderoso e antigo estúdio só concorria na categoria de maquiagem com o filme O lobisomem. E levou.


You know...

Aos 94 anos e com profunda dificuldade para falar, Kirk Douglas foi o grande destaque da cerimônia do Oscar. O ator foi responsável pelo momento mais genuíno da noite em que na hora de anunciar a melhor atriz coadjuvante do ano segurou a tensão de todo o teatro ao engatar uma divagação com a interjeição “Vocês sabem de uma coisa...”.
Justin Timberlake, mostrando que se sairia melhor no ofício de host do que James Franco e Anne Hathaway, fez graça com a gag e a imortalizou como um dos grandes momentos dessa apagada 83ª cerimônia do Oscar.

O dono do pedaço: Kirk Douglas faz graça no palco e torna-se responsável pelo melhor momento de uma cerimônia sem sal



Sobre ironias
Não deixa de ter um componente de ironia a premiação do esquemático e tradicional O discurso do rei no Oscar em que imperaram as redes sociais. Do smartphone usado pelo apresentador Justin Timberlake (que estava no filme do Facebook) para iluminar a tela com a homenagem a Shrek às tweetadas do host James Franco e das mães dos indicados, passando por hits do Youtube com filmes tão díspares como A rede social e Eclipse. O Oscar 2011 se esforçou para atingir um público diversificado de maneira tão diversificada quanto. Mas furtou-se a responsabilidade de realmente parecer evoluído e conectado com os novos tempos.



A antisurpresa
Se podemos apontar uma surpresa no Oscar 2011 foi o fato de não ter acontecido uma. Existia a vã esperança de que a ala mais moderna da academia prevalecesse premiando A rede social ou mesmo as zebras Cisne negro e A origem, mas a expectativa real era de que David Fincher fosse sagrado o melhor diretor do ano em uma política de compensação bem característica da academia. Mas isso não ocorreu. A obviedade marcou presença e com sotaque inglês.

 
Listen to your mother!

E já que o melhor diretor do ano pelo Oscar foi Tom Hooper, não poderia haver um discurso mais formal e moralista em uma escolha mais conservadora. Hooper encerrou seu discurso lembrando que sua mãe em 2007 vira a leitura de uma peça em Londres de O discurso do rei. A matriarca disse para o filho que havia achado o material de seu próximo filme. Hooper dedicou o prêmio a mãe e fechou com a seguinte moral: “Escutem sua mãe!”



Mas antes...
Hooper fez questão de mencionar, tal qual fizera no Bafta, o triangulo amoroso que, em sua leitura, é a força motora de O discurso do rei. “Só estou aqui por causa de vocês (em referência a Geoffrey Rush e Colin Firth)... espero que essa deferência não a deixe com ciúmes (dirigindo o olhar para Helena Bonhan Carter)!”



Eternamente jovem
Tom Hooper juntou-se a Sam Mendes como o diretor mais jovem e inexperiente a ganhar o Oscar na categoria. Sam Mendes tinha 35 anos quando ganhou o Oscar por Beleza americana, então seu primeiro longa-metragem. Hooper, três anos mais velho em 2011, recolheu sua estatueta por seu quarto filme.



Nenhum deles está preso!
A bravata de Charles Ferguson, vencedor na categoria documentário por Trabalho interno, não reverberou. Ferguson aproximou-se do microfone já pedindo desculpas e emendou: “Já fazem três anos dessa crise financeira e nenhum de seus responsáveis está preso e isso é errado”, argumentou. Como uma carabina de Rooster Cogburn (personagem de Jeff Bridges em Bravura indômita) apressou-se em amolecer o discurso: “Mas isso aqui é sobre cinema”!


A Frase é...

"Quem quer explodir na indústria da música? É como um banco que já foi roubado!”,
O ganhador do Oscar Randy Newman no backstage quando indagado sobre um conselho para quem pretende explodir na indústria da música


Fucking yeah!
Melissa Leo viveu fortes emoções nessa temporada do Oscar. Depois de toda a controvérsia envolvendo sua campanha pelo Oscar, a atriz soltou um palavrão que acabou censurado pela TV americana (a transmissão do Oscar ocorre com um delay de um minuto). Forçando na emoção, Leo disse que quando viu Kate Winslet há dois anos tudo parecia mais fácil. Só que ela externou essa impressão usando a F...bomb, como ficou rapidamente conhecido o episódio


 
Playing for the audience!

Quem vê Christian Bale em seus discursos de agradecimento pelos prêmios conquistados por O vencedor nessa temporada não reconhece Christian Bale. Exibindo impensável humildade, o ator se permite algum senso de humor.”Meu deus! No meio de tanta gente inspiradora me pego pensando o que estou fazendo aqui”, declarou logo de cara ao empunhar o esperado Oscar. “Não se preocupem! Não vou soltar a F... bomb como Melissa!”, emendou para assegurar que se tratava de um Bale diferente o que ganhava o Oscar.

Senhoras e senhores, eu sou um novo homem...




Nem tão conservadora assim!
A vitória de O discurso do rei, ainda que não de forma maiúscula, deixa transparecer o ranço conservador da academia. Em contrapartida, as vitórias de Melissa Leo e Christian Bale nas categorias de coadjuvante, denotam que já há uma mudança de postura. Há quem atribua a derrota de Mickey Rourke na disputa pelo Oscar de ator ano retrasado, sua postura arrogante nos primórdios da carreira. Bale tem postura semelhante e isso não impediu sua consagração na noite de domingo (27). Eddie Murphy, por muito menos do que as trapalhadas de Melissa Leo, perdeu o Oscar de coadjuvante por Dreamgirls há cinco anos. São avanços, ainda que tímidos, notáveis.


A frase é...

"Apenas se divirta e ache o bar mais próximo!"
Kevin Spacey, duas vezes vencedor do Oscar, instruindo Jeremy Renner sobre como este deveria se comportar na noite do Oscar


De uma infância gaga ao palco do Kodak Theatre

A frase é de Tom Hooper, mas reverencia a trajetória do roteirista David Seidler. Premiado pelo roteiro original de O discurso do rei, Seidler conjeturou que deve ser o mais velho a triunfar na categoria e expressou o desejo de que essa marca não permaneça por muito tempo. Finalizou o discurso agradecendo a academia por ter dado voz aos gagos.



“Vou cozinhar bastante!”
Essa é a ideia do vencedor do Oscar de melhor ator, Colin Firth. Premiado por seu papel em O discurso do rei, o ator – antes dar essa curiosa declaração – agradeceu no palco do Kodak ao amigo Tom Ford (que o dirigira em Direito de amar) e ao mega produtor Harvey Weinstein brincando: “Divido isso (o Oscar) com você que me apadrinhou quando eu ainda era um garoto charmoso”.
 
 
Quem diria...

...Que o Globo de ouro sairia fortalecido ao final da Oscar season?! Tanto pelo reconhecimento justo e devido a A rede social quanto pelo fluxo da cerimônia em si.



A pergunta é...
O que Ricky Gervais achou da cerimônia do Oscar?

domingo, 27 de fevereiro de 2011

Insight

As lições de 2010 para a indústria do cinema

No dia da celebração do que de melhor o cinema produziu no ano passado, convém atentar para as grandes lições que 2010 oferece para a indústria do cinema americano. Muito provavelmente desde 1999, os estúdios não entregavam uma safra tão boa de filmes. A rede social, O vencedor, Bravura indômita, A origem e Toy story 3 têm em comum um grande estúdio por trás (respectivamente Sony, Warner, Paramount e Disney).
Nos últimos anos, tem predominado no Oscar o perfil de produção independente. Isso ocorreu, logicamente, pela orientação da academia de reconhecer uma produção mais adequada aos padrões artísticos, mas também porque desde que Beleza americana, Matrix, Quero ser John Malkovich, O sexto sentido, Magnólia, O informante e A espera de um milagre brilharam, os estúdios não alinhavam em um mesmo ano tantas produções voltadas para um público adulto em que sobejam qualidade e técnica. Em comum, também, o fato de que esses estúdios foram buscar cineastas autorais no seio do cinema independente para aferir sustância a seus filmes (David O.Russell, Christopher Nolan e Darren Aronofsky para citar alguns) Aronofsky, por exemplo, está à frente do novo filme do Wolverine. Em uma demonstração eloquente de que os estúdios de cinema estão convencidos de que um cineasta visionário é mais indicado do que um subordinado a desmandos de produtores em tempos como esses.
A boa bilheteria de um filme como A origem demonstra que é válido apostar em projetos originais. O reconhecimento a engenhosidade narrativa de A rede social atesta que há uma demanda reprimida por entretenimento adulto e inteligente nos multiplexes. David Fincher já foi escalado pela mesma Sony que produziu e distribuiu A rede social para tocar dois projetos com ambição de blockbusters: o remake americano de The girl with the dragon tattoo e a adaptação do clássico "20 mil léguas submarinas". 2011 será um ano ainda marcado por muitos remakes, continuações e adaptações de HQs, mas o público foi responsável por uma pequena revolução nos cinemas. Ao prestigiar produções renovadas, sagazes, inteligentes e, ainda assim, que pedem pipoca, contribuíram para que a produção de meados de 2012 para frente seja de fazer salivar o cinéfilo e atiçar ainda mais as caixas registradoras dos estúdios de cinema. Contrariando as profecias de James Cameron, o cinema vai bem sem o 3D. Muito bem, diga-se.

Momento Claquete # 8

Há onze anos atrás ele estava disputando os Oscars de filme, direção e roteiro original por O sexto sentido. Ontem , o indiano M.Night Shyamalan foi agraciado com os framboesas de ouro (temido prêmio para os piores do ano) de pior filme e diretor por O último mestre do ar 


Mais um para a coleção: Natalie Portman foi o principal destaque da grande noite de Cisne negro no Independent Spirit Awards 2011. A produção, escolhida a melhor do ano, valeu a Portman mais um troféu de melhor atriz na temporada 


Ewan McGregor brinca ao chegar para o Independent Spirit Awards, realizado neste sábado, 26 de fevereiro: Darren Aronofsky, James Franco e John Hawkes foram alguns dos premiados no evento realizado na praia de Santa Monica, na Califórnia 


Oscar day: Na semana do Oscar, a capa do semanário Hollywood Reporter destacou o diretor de A rede social, David Fincher. Para a publicação ele é o melhor do ano

sábado, 26 de fevereiro de 2011

OSCAR WATCH 2011 - A peleja dos filmes

1- Inverno da alma, 2- 127 horas, 3- Cisne negro, 4 - O discurso do rei, 5 - Bravura indômita, 6 - Minhas mães e meu pai, 7 - A rede social, 8 - O vencedor, 9 - A origem e 10 - Toy story 3



Ode à vida

É inegável que 127 horas tem vocação cult. Não só porque não fez muito dinheiro, mas também porque Danny Boyle utiliza uma linguagem moderna que vai ao encontro de cinéfilos feitos no universo videoclipeiro. O filme tem também James Franco em grande atuação. Daquelas que dão sentido a um filme e a uma vida.

Porque deveria ganhar...
É um filme dinâmico, envolvente e que esbanja boa técnica. Traz uma atuação espetacular e faz um brinde a vontade de viver.

Porque não deveria ganhar...
Danny Boyle ainda tropeça em alguns preceitos básicos de direção e, não fosse por James Franco, seu filme poderia virar uma pirotecnia egóica.


As indicações: filme, roteiro adaptado, ator, montagem, trilha sonora e canção


Família Dó-ré-mi


Entra ano e sai ano e famílias disfuncionais continuam a fascinar os acadêmicos. E com toda a razão. Em O vencedor, acompanhamos a saga de uma família cheia de amor, mas que precisa aprender a lapidá-lo de uma maneira que não façam mal uns aos outros. Um filme escorado na força de seu elenco que arranca emoções genuínas da platéia.


Porque deveria ganhar...
É o melhor trabalho de elenco do ano. Um testamento referencial de como um grupo de atores em fina sintonia garante a perenidade de um filme.


Porque não deveria ganhar...
É um filme remontado em clichês e, a bem da verdade, essa história já rendeu Oscar em outros anos.


As indicações: Filme, direção, roteiro original, ator coadjuvante, 2 indicações para atriz coadjuvante e montagem


Família cromossomo X


E tem coisa melhor do que posar de liberal com roupas conservadoras? É mais ou menos isso o que ocorre com Minhas mães e meu pai, um dos filmes mais festejados da temporada. A fita que mostra a vida de uma família chefiada por um casal de lésbicas é a única comédia entre os selecionados. No fundo, o recado está nessa condição. Não é para ser levada a sério.


Porque deveria ganhar...
A última comédia a ganhar o Oscar foi Shakespeare apaixonado há quase 15 anos. Minhas mães e meu pai, pelo menos, é superior aquele filme.


Porque não deveria ganhar...
O filme não reúne predicados que lhe afirmem como um legítimo filme de Oscar. Há competência na misê-èn-scene, mas ela nunca excede o previsível.


As indicações: filme, roteiro original, atriz e ator coadjuvante



Vida longa aos ingleses


Não tem jeito. Uma vez colônia, sempre colônia. É a melhor forma de explicar o favoritismo de O discurso do rei e suas imponderáveis doze indicações ao Oscar. Filme bem feito, mas longe do rigor acadêmico de outras produções de época que tinham contra elas o fato de não serem da terra da rainha.


Porque deveria ganhar...
É um filme que demonstra como a braveza de espírito é imprescindível para a superação de desafios. Traz o tipo de argumento que a academia gosta de referendar.


Porque não deveria ganhar...
Em um ano com produções inovadoras e relevantes, premiar um filme quadrado e pouco inventivo seria, no mínimo, desestimulante em níveis cinematográficos.


As indicações: Filme, direção, roteiro original, ator, atriz coadjuvante, ator coadjuvante, fotografia, trilha sonora, direção de arte, figurino, montagem e mixagem de som


O brilho do independente


São cinco fitas independentes entre os concorrentes a melhor filme. Mas cabe a Inverno da alma, a prerrogativa de chamar-se como tal. Filmado nos confins americanos e ambientado em tais confins, Inverno da alma é aquele tipo de filme que exige paciência e cumplicidade de seu espectador. De ritmo lento e dialética difícil, é uma história violenta sobre uma parte da humanidade paralisada no tempo. E em um mundo de seis bilhões de pessoas, essa realidade é maior do que muitos imaginam.


Porque deveria ganhar...
É um filme que triunfa em todos os seus elementos. Roteiro, atuação, direção, montagem, fotografia e música.


Porque não deveria ganhar...
É demasiadamente complexo em sua simplicidade. Afugenta espectadores à espera de emoções mais consumíveis.


As indicações: Filme, roteiro adaptado, atriz e ator coadjuvante



O sonho real


A origem foi o primeiro candidato ao Oscar a assegurar-se na lista em meados de julho, quando estreou nos cinemas americanos sob festa da crítica. Faltava precisar o tamanho da candidatura. Não foi das maiores, mas foi maior do que seria há alguns anos. O filme de Nolan ainda será responsável por pequenas revoluções no cinema americano e no Oscar. É esse o sonho que ele plantou com seu filme.


Porque deveria ganhar...
É o filme mais inventivo do ano. Nenhum outro filme causou tamanho espanto e admiração em 2010. Nenhum outro filme se assumiu como arte em um produto comercial.


Porque não deveria ganhar...
É um filme que, de alguma maneira, marca mais pela forma do que pelo conteúdo. Esse é o calcanhar de Aquiles de qualquer filme que objetive o Oscar.


As indicações: Filme, roteiro original, fotografia, direção de arte, trilha sonora, mixagem de som, edição de som e efeitos visuais


O tempo e a razão


Em um mundo justo o melhor filme do ano ganharia o Oscar de filme do ano, certo? A academia pode ajudar a fazer do mundo um lugar mais justo em 2011 se premiar A rede social. A fita que, em uma só tacada, desfila arrojo técnico, reverberação social, reflexão filosófica e brilhantismo acadêmico é também um filme que afaga a inteligência como nenhum outro candidato no ano.


Porque deveria ganhar...
É tão bom quanto os outros candidatos no que eles têm de melhor. E é ótimo no que eles falham. Isso o isola como melhor, certo?


Porque não deveria ganhar...
É frio, analítico e impessoal. O Oscar, no limiar, ainda é sobre emoção


As indicações: Filme, direção, roteiro adaptado, ator, montagem, fotografia, trilha sonora e mixagem de som


Sobre ciclos


O Oscar já premiou uma trilogia em seu derradeiro capítulo (O senhor dos anéis: o retorno do rei). Para muitos, Toy story 3 é a melhor trilogia do cinema. Mas não só. É também a afirmação definitiva de que a Pixar está aí para disputar com gente como Almodóvar e Tarantino a alcunha de detentor do melhor cinema autoral em voga atualmente.


Porque deveria ganhar...
É o filme mais poético e emocionante dos indicados. E a vida anda precisando de poesia.


Porque não deveria ganhar...
Se a beleza não põe mesa, o mesmo serve para poesia.


As indicações: Filme, animação, roteiro adaptado, canção original e edição de som


Questão de honra


Dá gosto ver os Coen se contendo em favor de uma obra atemporal como Bravura indômita. Ao fazer isso, eles contribuíram para o novo fôlego do western nas bilheterias. Um filme que consegue aliar beleza à obscuridade e ainda empolga. No final das contas, os fins justificaram os meios.


Porque deveria ganhar...
É um filme belamente realizado com o viço dos grandes clássicos e humor contemporâneo.


Porque não deveria ganhar...
É melhor do que o filme original, mas não é o melhor filme do ano.


As indicações: Filme, direção, roteiro adaptado, ator, atriz coadjuvante, fotografia, figurino, direção de arte, edição de som e mixagem de som


Perfeição


Chegar lá é exaustivo. Mas Cisne negro é prova viva de que é possível. Filme que se envaidece de sua perfeição técnica sem qualquer comedimento, chega ao Oscar menor do que se supunha. Contudo, a perfeição irretocável de Cisne negro abriu portas para aqueles que lhe deram corpo.


Porque deveria ganhar...
Nenhum filme provocou e fascinou tanto o público no ano. Nenhum outro final tirou o fôlego do espectador na sala escura.Há muito tempo, um filme não provocava essas reações.


Porque não deveria ganhar...
É um filme que não teria o mesmo impacto, não fosse por intervenções bem detectáveis da direção


As indicações: Filme, direção, atriz, montagem e fotografia

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

OSCAR WATCH 2011 - A peleja dos diretores

Da esquerda para a direita: Darren Aronofsky (Cisne negro), David Fincher (A rede social), Tom Hooper (O discurso do rei), David O. Russell (O vencedor) e Ethan e Joel Coen (Bravura indômita)



O bem aventurado


David Fincher só tem oito filmes no currículo. Mas a qualidade com que exerce seu ofício sugere pelos menos cinco vezes esse número. O diretor de A rede social merece reconhecimento da indústria do cinema faz tempo. Pode obtê-lo por seu trabalho mais contido, mas não menos genial.


Prós:
+ Ganhou a maioria dos prêmios da temporada
+ Ganhou dois dos principais prêmios da Oscar season (Globo de ouro e critic´s choice awards)
+ É um trabalho artesanal de direção. Dos filmes dirigidos por Fincher é o que ele menos interfere como autor
+ Está a frente do filme mais premiado da temporada
+ Pode se beneficiar do consenso de que é preciso premiar um dos diretores mais autorais e capacitados do cinema americano atual
+Pode se beneficiar de uma divisão de prêmios entre O discurso do rei e A rede social. Configurando-se em uma escolha mais viável por ser um diretor mais tarimbado



Contras:
- É antipático
- Perdeu o prêmio do sindicato para o rival Tom Hooper
- Diferentemente dos outros candidatos não se engajou no prêt-à-porter da campanha pelo Oscar e preferiu tocar as filmagens de The girl with the dragon tattoo
- Não é seu melhor trabalho de direção e esse referencial pode pesar
- Perdeu há dois anos com um trabalho superior e com uma concorrência inferior


Segunda indicação
Indicação anterior: Melhor diretor por O curioso caso de Benjamin Button (2009)


A opção conservadora


Tom Hooper vem da TV e dos telefilmes de época. Quem acusa O discurso do rei de parecer uma produção da BBC cita as credenciais de Hooper para dar suporte a acusação. Apesar da intriga, Hooper mostra competência em urdir um filme de época, sobre a família real britânica, e revesti-lo de componentes tão cômicos quanto dramáticos. É um registro cuidadoso que, se não salta aos olhos, também não macula a lista dos candidatos do ano.


Prós:
+ É inglês e depois dos americanos, eles são os grandes vencedores nessa categoria
+ Ganhou o aval do sindicato dos diretores. De todos os sindicatos é o que detém maior percentual de acertos no Oscar
+ Apresenta o tipo de trabalho acadêmico que agrada a maioria dos votantes
+ É uma direção calcada na ausência de rompantes estilísticos. É o único dos trabalhos indicados nesses termos
+ Está a frente do filme que lidera a disputa pelo Oscar


Contras:
- É relativamente inexperiente em cinema. O discurso do rei é apenas seu terceiro filme. A academia pode julgar precipitado honrá-lo
- É uma direção calcada na ausência de rompantes estilísticos. É o único dos trabalhos indicados nesses termos
- Concorre com figuras mais famosas e admiradas pela indústria
- Perdeu o Bafta que sempre entorna para os ingleses, o que pode ser encarado como um balde de água fria


Primeira indicação


O ilusionista

Darren Aronofsky é, da lista, o maior interventor. Cisne negro foi concebido a sua imagem e semelhança, artisticamente falando. Há quem aprecie isso e há quem deteste. Aronofsky alimenta a dualidade com gosto. Uma direção vistosa, pouco sutil e polarizante, mas incrivelmente vibrante e simbólica. Pode não ser o mais sofisticado trabalho de direção do ano, mas é seguramente o mais inesquecível.


Prós:
+ É o diretor que mais intervenções estéticas fez em seu filme, dentre os indicados
+ Se apresenta com o trabalho mais autoral entre os concorrentes
+Seu filme reúne muitos admiradores entre os membros votantes


Contras:
- É um trabalho de direção pouco sutil. É raro o Oscar agraciar esse perfil de direção
- Está a frente de um filme sombrio e cheio de referências cinematográficas que, apesar de admiradas, não renderam prêmios
- Como os holofotes estão todos em Natalie Portman (estrela do filme), um reconhecimento a Aronofsky seria improvável


Primeira indicação


American legends


Nada melhor do que afagar o irascível e pensativo cinema dos irmãos Coen, esse patrimônio do cinema americano, quando eles prestam uma bela homenagem ao gênero mor da cinematografia ianque, o western. Bravura indômita não é só superior ao filme original de 1969, é um filme com alma. E os Coen souberam iluminá-la perfeitamente.


Prós:
+ Dos indicados são os que reúnem uma base mais sólida de fãs entre os votantes
+ Já receberam um Oscar e, é sabido, que para a dimensão de sua obra, um Oscar é pouco
+ Representam a aposta mais segura e, menos contraditória (vide Tom Hooper), para eleitores conservadores
+ A boa bilheteria do filme pode render um poder de sedução inevitável para os fãs dos Coen


Contras:
- Não é o melhor trabalho da dupla e até eles sabem disso
- Ganharam o Oscar há três anos atrás e não é comum reincidência tão breve na academia nos tempos modernos
- Não ganharam nenhum prêmio na temporada



Décima quarta indicação (também concorrem como roteiristas e produtores) e terceira nomeação na categoria
Indicações anteriores: melhor edição, direção e roteiro original por Fargo (1997), melhor roteiro original por E aí meu irmão cadê você? (2001), melhor edição, direção, roteiro adaptado e produção por Onde os fracos não têm vez (2008), melhor roteiro original e produção por Um homem sério (2010)
Vitórias anteriores: melhor roteiro original por Fargo (1997), melhor direção, roteiro adaptado e produção por Onde os fracos não têm vez (2008)



O desafiante


David O.Russell não é um grande diretor. Apesar de sempre ter se mostrado eficiente em seus trabalhos, ao lado de Tom Hooper é o patinho feio da lista. Em O vencedor, por seu trabalho mais convencional, Russell recebeu uma, até pouco tempo, improvável indicação ao Oscar. Nada mal para quem só tem 4 filmes no currículo. A presença no Oscar pode redirecionar os rumos da carreira de Russell e colocá-lo no caminho da grandeza. Potencial ele tem.


Prós:
+ Sua direção é econômica e eficiente. Em um ano que a academia acena para o tradicional, Russell rezou a missa direitinho
+ Realiza ótima direção de atores sem perder de vista o senso estético, uma qualidade que salta aos olhos em O vencedor


Contras:
- É um sujeito beeem antipático
- É uma direção muito convencional
- A força do elenco se impõe, com todos os méritos, ao trabalho de Russell
- a pecha de que a indicação já é suficiente

Primeira indicação

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

OSCAR WATCH 2011 - Crítica dos indicados ao Oscar

Acontecerá no próximo domingo, 27 de fevereiro, a 83ª cerimônia de entrega dos prêmios da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood. O Oscar 2011 destaca-se por agregar uma lista tão eclética quanto equilibrada. No segundo ano com dez concorrentes na categoria principal, a academia teve a sorte – e competência – de contar com dez filmes de alta qualidade esquivando-se de alguns equívocos cometidos no ano anterior. É perceptível o afinamento. Repare que dos dez indicados a melhor filme, nove concorrem a melhor roteiro e, excetuando-se A origem e Toy story 3 (que estão contemplados em categorias igualmente nobres) todos os filmes apresentam performances indicadas. Avançando nesse exercício, é possível analisar que diferentemente do ano passado as categorias de atuação refletem a superioridade dos filmes escolhidos. Um compasso de qualidade que faz muito bem ao Oscar.
Por falar nos dez filmes que compõem a lista dos melhores do ano segundo a academia, cabe o reconhecimento de que o Oscar se preocupou em reconhecer a pluralidade do cinema contemporâneo. A intervenção estética como força narrativa (127 horas), a força de um bom elenco para levantar um filme (Minhas mães e meu pai, O vencedor e O discurso do rei), a animação como obra de arte (Toy story 3), o recôncavo cinematográfico que continua a respirar (Inverno da alma), a originalidade do registro autoral em um produto comercial (A origem), o cinema de força bruta e cativante (Cisne negro) e o filme que traduz seu tempo em conteúdo e dialética (A rede social). É uma lista de respeito que poderia continuar a ser adjetivada de trás para frente.

Cena de A rede social: o filme mais importante dessa edição do Oscar 2011 pode não levar o prêmio principal


A disputa principal se entrincheirou em A rede social e O discurso do rei. É, a grosso modo, uma disputa injusta. Seria mais justo se o filme de Fincher- claramente superior a seu principal adversário – concorresse nas cabeças contra Cisne negro ou A origem, por exemplo. Filmes que aliam, na medida certa, doses de experimentalismo, força narrativa, propriedade visual e reverberaram mais do que satisfatoriamente nas bilheterias. Mas O discurso do rei é a resposta dos conservadores ao avanço da influência da crítica nas hordas da academia. É bom salientar que ano passado esse grupo se viu órfão. Avatar e Bastardos inglórios eram libertinos demais e Guerra ao terror se apresentava com certo conservadorismo em sua liberalidade vocacional. Alinhar-se a crítica evitou consagrar um filme que atacava alguns males tipicamente americanos (o também premiado pela crítica Amor sem escalas).

Colin Firth, favorito na corrida pelo Oscar de ator, em cena do igualmente favorito O discurso do rei: desforra conservadora


Este ano, esse grupo teve sua desforra na inclusão de três filmes: O vencedor (7 indicações), O discurso do rei (12 indicações) e Bravura indômita (10 indicações). Essa guinada a direita pode, até mesmo, não se materializar. A mudança de comportamento da academia, que advém da mudança de perfil do membro votante, pode culminar em uma nova pulverização dos prêmios (como ocorrido em 2006 quando os principais Oscars se dividiram entre O segredo de Brokeback Mountain e Crash- no limite). Fato é que O discurso do rei ganhará mais prêmios do que merece. Inclusive podendo sorver o prêmio de melhor filme; o que entreposto a qualidade dos demais indicados seria lamentável.
Contudo, um indicador de que a briga ainda não está definida foi o resultado do Bafta. Por trás da esperada consagração de O discurso do rei na premiação britânica, estão os três sólidos prêmios conquistados por A rede social (direção, roteiro adaptado e montagem). A rede social também ganhou o prêmio do sindicato dos montadores e como em 90% das vezes, o melhor filme também ganha o prêmio de edição (o que aconteceu nos últimos oito anos é bom que se diga), a chama da esperança para o filme de Fincher ainda está acesa. Correm por fora nessa disputa, o novo e idolatrado filme dos Coen (Bravura indômita) e O vencedor. Contra o filme dos Coen, pesa o fato deles terem sido premiados muito recentemente. O que não quer dizer que o filme não seja forte em algumas categorias (som, fotografia e atriz coadjuvante são as melhores apostas). O filme pode, ainda, se beneficiar da acirrada disputa entre A rede social e O discurso do rei e se firmar como uma louvável terceira via. O vencedor tem o apoio inconteste dos atores, mas a derrota na categoria de elenco no SAG sugou um pouco de suas forças.

Cena de Bravura indômita, dos prestigiados irmãos Coen: honrosa terceira via


Legados

A disputa por direção parece restrita a três candidatos. Tom Hooper, mais por defender o filme líder de indicações, David Fincher, diretor que já merece o Oscar desde os anos 90, e Darren Aronosfky, o que apresenta o melhor trabalho de direção da temporada. Os Coen (que já venceram na categoria) e David O. Russell atingiram nas indicações o reconhecimento máximo a seus trabalhos. Hooper não merece ganhar. Talvez ganhe. Se o apoio do sindicato dos diretores trabalha em seu favor, a opção do Bafta por Fincher lhe desperta atenção. O trabalho de Fincher em A rede social é muito mais atraente, desafiador e gradual do que o de Hooper em O discurso do rei. A opção por Fincher deve ganhar força entre adeptos da divisão de prêmios entre A rede social e O discurso do rei. O melhor trabalho de direção nesse sentido (o de Darren Aronosfky em Cisne negro), só teria chance se os adeptos dessa divisão não fossem todos na dobradinha O discurso do rei/David Fincher e também prestigiassem a lógica A rede social/ Tom Hooper. Essa nova divisão poderia dar a vitória para Aronosfky. Mas é um cenário improvável. David Fincher deve prevalecer.

David Fincher sorri: 2011 deve ser o ano dele no Oscar 


A categoria de roteiro adaptado é a mais óbvia da noite. Mesmo que A rede social não fature nenhum outro prêmio, esse Oscar é certeza. Seria regredir moralmente se a academia negasse (ainda que por vias compensatórias a outros candidatos) esse Oscar ao filme.
Já a disputa na ala original é mais traiçoeira. Competem bons roteiros, é verdade, mas é igualmente inegável a superioridade do texto de A origem. Contudo, em favor do septuagenário roteirista de O discurso do rei (David Seidler), a academia pode preterir Nolan uma vez mais (cá entre nós, não é difícil preterir de novo, quando a maré está a favor). Por outro lado, há quem enxergue a necessidade de fazer justiça a um dos melhores filmes do ano e a um dos melhores artistas em atividade no cinema americano atualmente. Essa seria a categoria para fazer isso.


As atuações

O páreo já parece decidido nesse departamento. O favoritismo inconteste de Colin Firth, que vem desde antes do início da temporada de premiações, continua a ser ameaçado por Jesse Eisenberg (com mais chances) e por James Franco (com chances bem remotas). Contudo, Firth deve prevalecer por seu trabalho correto-embora longe de grandes ovações – em O discurso do rei.
Se Natalie Portman não vencer a disputa entre as atrizes é caso de Procon. O merecimento é inquestionável e a certeza só não é mais cristalina porque há sempre o fantasma das injustiças passadas, dessa vez materializado na figura de Annette Bening (que apresenta o trabalho menos notório do elenco de Minhas mães e meu pai e das indicadas nessa categoria).
Entre os coadjuvantes, Christian Bale segura a tocha de favorito por O vencedor e deve prevalecer mesmo. Tudo indica que o fato de ser antipático não irá influir. O que é positivo, embora Bale não apresente a melhor atuação do ano. Entre as coadjuvantes o cenário é mais nebuloso. A favorita ainda é Melissa Leo (O vencedor), mas a estreante Hailee Steinfield (Bravura indômita) que já era uma desafiante forte (ganhou o maior número de prêmios na temporada), além de ter mais tempo em tela, conta com a escorregada de Melissa Leo que andou cometendo gafes na campanha pelo Oscar. Amy Adams (O vencedor), a melhor da categoria, também é uma forte sombra.

Amy Adams e Christian Bale em cena de O vencedor: eles podem ser oscarizados no próximo domingo


O melhor do resto

A candidatura do mexicano Biutiful a melhor produção estrangeira foi impulsionada pela indicação de Javier Bardem ao Oscar de ator. Se o filme vinha escorregando nas premiações periféricas, recupera aqui o protagonismo. Mas como ser favorito não é bom negócio nessa categoria, o Oscar deve ficar mesmo ou com o canadense Incêndios ou com o dinamarquês Em um mundo melhor. Entre os documentários, Trabalho interno – apesar da estética jornalística - deve prevalecer. Exit Through the gift shop, sobre um famoso –ainda que anônimo - pichador francês, parece uma opção mais viável do que o anglo-brasileiro Lixo extraordinário.
O discurso do rei deve beliscar algumas categorias técnicas de A origem, assim como Alice no país das maravilhas. O veterano Roger Deakins pode engrossar a lista de não premiações a A origem se prevalecer por seu belo trabalho em Bravura indômita. Em sua nona indicação, já está na hora de um dos melhores fotógrafos em atividade no cinema atual ser reconhecido. Para variar, azar da turma de Nolan.

Momento Claquete # 7

 A atriz alemã Diane Kruger, atualmente em cartaz nos cinemas com o thriller Desconhecido, estrela o ensaio de capa da revista GQ americana do mês de março


O site inglês Shiznit elaborou cartazes paródicos dos indicados ao Oscar, Claquete selecionou alguns dos melhores:



 O discurso do rei


Bravura indômita 


A origem



Os três mosqueteiros: a trinca de A rede social (David Fincher, Aaron Sorkin e Jesse Einsenberg) posa para Annie Leibovitz, no especial de hollywood da revista Vanity Fair 


Natalie Portman, antes da barriguinha, também posou para a fotógrafa número um das celebridades

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

OSCAR WATCH 2011 - Contexto

Por que esses dez filmes?

É o segundo ano consecutivo que a academia seleciona dez indicados para concorrer ao Oscar de melhor filme. Já é pacífico que a medida visa uma maior popularização da cerimônia de TV, um impacto maior nas bilheterias e na reverberação midiática da marca Oscar. Mas quais são os predicados dos dez filmes escolhidos para concorrer ao prêmio máximo do cinema em 2011?
Um primeiro olhar sugere um ecletismo que, pautado pelo equilíbrio, reforça a escolha da academia. Estamos diante de uma seleção de invejável fôlego. Há cinco filmes independentes em disputa (Cisne negro, 127 horas, Minhas mães e meu pai, Inverno da alma e O discurso do rei), três legítimos blockbusters de estúdio (A rede social, A origem e Toy story 3) e dois filmes “baratos” de estúdio (O vencedor e Bravura indômita). Todos de inegável qualidade. Essa equação não foi bem resolvida ano passado, quando os blockbusters eram qualitativamente pálidos (Um sonho possível e Avatar) e o desnível entre outras produções concorrentes era muito grande. É difícil conseguir alguma equidade qualitativa até mesmo com cinco indicados, obter isso com dez é um feito e tanto. Esse dado leva a conclusão de que foi um bom ano. A academia reconheceu a originalidade de projetos modernos e modernosos (A origem e A rede social), prestigiou os independentes que se esmeram no elenco e na história (Inverno da alma e Minhas mães e meu pai que dividem quatro indicações idênticas) e saudou o tradicional nas figuras do western (Bravura indômita), da fita inglesa de época (O discurso do rei) e do filme que traz o boxe como parábola (O vencedor). Chamou a atenção o destaque que esses três filmes receberam da academia. Maior do que muitos supunham ser justificável. Isso ocorreu porque depois de alinhar-se a crítica na edição de 2010, a academia se encontra na necessidade de marcar território novamente. Por isso, filmes tão tradicionais lideram a disputa.

Cartaz conceitual de Bravura indômita, um dos principais concorrentes ao Oscar 2011: filme tradicional com a chancela dos irmãos Coen


Mas a academia está dividida. Entre a engenhosidade narrativa de filmes como A rede social e A origem e a segurança secular de obras como O discurso do rei e O vencedor. De qualquer jeito a lista do Oscar 2011 sinaliza bons tempos. A superação do ser humano continua a ser um dos pilares do Oscar. Ela está presente de variadas formas em 127 horas, O discurso do rei, Bravura indômita e O vencedor. Começa a ruir a barreira que separava a boa ficção científica do Oscar. Pelo terceiro ano seguido um filme de ficção se enfileira entre os melhores. Batman – o cavaleiro das trevas em 2009 (que ao não ter emplacado a candidatura a melhor filme, tornou-se a grande razão de ser dessa mudança para dez indicados), Distrito 9 em 2010 e A origem esse ano. Ainda levará mais algum tempo para que a barreira seja totalmente transposta. A qualidade desses filmes, é bom que se diga, precisará continuar em alta. Ao reconhecer a leveza de um filme que aborda uma família chefiada por um casal de lésbicas, cuja rotina é tão problemática quanto outra qualquer, a academia atesta a preocupação social de não parecer pró-ativa demais. Nem de menos. A violência e as deturpações do mundo nos últimos tempos também têm garantido vez no Oscar. Inverno da alma não tem a apoteose de Os infiltrados, nem o pessimismo de Onde os fracos não têm vez, mas se sustenta na comparação. E, aquele que Claquete já pontuou como o filme do Oscar, A rede social é o filme que transborda conteúdo, relevância e reflexão. Tudo embalado em ótimo entretenimento. Pode não ser escolhido o melhor filme do ano, mas sua presença na lista fará com que os outros imediatamente – na revisão histórica – se tornem um pouco melhores.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Crítica - 127 horas

Conjugando emoção e técnica!


O novo filme do inglês Danny Boyle é um tour de force de seu protagonista, James Franco e 127 horas (127 hours, EUA/INGL 2010) é, também, uma ostentação de perícia e técnica de seu diretor enquanto narrador. A dramatização dos eventos que se sucederam no período de tempo que dá nome ao filme e que marcaram definitivamente a vida do engenheiro com paixão pelo alpinismo Aron Ralston (James Franco), é um exemplo de como o cinema moderno aceita intervenções estéticas e ainda se esmera em preceitos básicos – como uma sólida e centrada atuação.
Franco´s way: presente em 99% das cenas, James Franco
dá um show em 127 horas
A trajetória de Aron que tem seu braço esmagado por uma rocha em uma fenda montanhosa em um Cânion nos confins de Utah é dolorida e suficientemente angustiante para calejar o espectador incauto. Se este já tiver ciência do que o espera, a experiência não será menos impactante. Contribui para isso, o esmero visual de Boyle e suas constantes intervenções estéticas. 127 horas começa a mil. Acompanhando o estado ansioso de seu protagonista, o filme dimensiona toda essa ansiedade, com música frenética, tela dividida, múltiplas cores, granulação do registro (entre a câmera amadora de Aron e a câmera de Boyle) se alternando, entre outros recursos que acentuam 127 horas e muito o aproxima de um vídeo publicitário. No entanto, conforme a história de Aron vai ganhando contornos dramáticos, o filme vai encontrando novo ritmo. 127 horas vai ficando mais lento. Persuasivo. Boyle encontra na contemplação um bom refúgio. Embora resista a confiar plenamente em Franco como catalisador das emoções, os recursos que lança mão funcionam maravilhosamente bem. Sejam nos flashbacks ou nos longos takes do isolamento de Aron, a montagem e a fotografia se enfileiram como grandes trunfos do filme.
Embora Boyle transpareça essa hesitação de confiar a seu ator o status quo do filme, Franco é o grande fiador das emoções que 127 horas provoca em seu público. Dono de uma energia não menos que cativante, o ator se apodera de todos os pormenores de um papel de imenso potencial dramático e alinha outras nuanças a ele. Existe uma cena em que Franco de tão bom chega a assustar. É aquela em que Aron, já imerso em sua própria resignação e flagelo, simula ser convidado de um talk show. O ator expõe, visceralmente, tristeza, senso de humor, delicadeza, arrependimento, dor, amor, solidão e inteligência. Em 2010, nenhum outro ator conseguiu ser tão tangencial em um espaço tão delimitado física e emocionalmente falando.
Mesmo que Danny Boyle não perceba, James Franco ajudou 127 horas a distinguir-se do equivoco manipulativo que foi Quem quer ser um milionário?. A técnica, salienta James Franco com sua atuação colossal, não é capaz de fomentar emoção tão genuína quanto a própria emoção.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

OSCAR WATCH 2011 - A peleja das atrizes

Da esquerda para a direita: Jennifer Lawrence (Inverno da alma), Natalie Portman (Cisne negro), Nicole Kidman (Reencontrando a felicidade), Annette Bening (Minhas mães e meu pai) e Michelle Williams (Namorados para sempre)



A negligenciada


Annette Bening é pura classe. Atriz de grande trânsito em Hollywood, casada com uma das maiores lendas da cidade, Bening – estranhamente – ainda não conquistou um Oscar. O que para muitos é um despautério, para atriz – pelo menos em público – é uma pequena curva em uma biografia vistosa. Em Minhas mães e meu pai, Annette Bening brilha- como de hábito- e, como é hábito, no Oscar enfrenta a concorrência pesada de uma atriz mais jovem e mais festejada.


Prós:
+ É a presidente da comissão dos atores na academia
+ É dona de um papel mais simpático do que o da principal concorrente, Natalie Portman
+ Pode-se beneficiar da política de compensação que reina na academia
+ Tem mais amigos e admiradores em Hollywood do que Natalie Portman
+Interpreta um papel homossexual e a academia tem reconhecido atores que dão vida a esse perfil de personagem. Exemplos recentes foram Nicole Kidman (As horas), Phillip Seymour Hoffman (Capote) e Sean Penn (Milk)
+ Foi quem ganhou mais prêmios na temporada depois da favorita Natalie Portman


Contras:
- Já concorreu ao Oscar por trabalhos melhores
- Está em uma comédia e raramente atrizes são premiadas nessa categoria por comédias
- É o desempenho mais fraco entre as concorrentes e todo mundo sabe disso
- O clima e o universo conspiram a favor da intérprete de Cisne negro que está grávida e com um sucesso de bilheteria nos cinemas enquanto as cédulas de votação estão nas mãos dos votantes
- A academia costuma premiar pela carreira mais nas categorias de atuação masculina


Quarta indicação
Indicações anteriores: Melhor atriz coadjuvante por Os imorais (1991), melhor atriz por Beleza americana (2000) e melhor atriz por Adorável Júlia (2005)


A discreta


Michelle Williams deu um salto tão grande na carreira desde que surgiu como uma das adolescentes da ciranda que reunia Joey, Dawson e Pacey na série teen que marcou os anos 90, Dawson´s Creek. Lá ela era Jen. Em Namorados para sempre, Michelle é uma mulher as voltas com as agruras do amor. Dawson´Creek é apenas uma lembrança para a atriz que chega ao Oscar pela segunda vez em seis anos. Agora, concorrendo na categoria principal, a ex-mulher de Heath Ledger prima pela discrição. Mas na tela é tão poderosa que tudo o mais se magnetiza.


Prós:
+ Um nome que ganhou força nos últimos momentos da corrida pelas indicações. Pode se beneficiar desse fato


Contras:
- É muito discreta para o tipo de atriz que a academia costuma celebrar
- A pecha de que a indicação já é suficiente
- Concorre por um filme independente e não é comum vitória desse perfil de produção nessa categoria
- Não ganhou nenhum prêmio na temporada



Segunda indicação
Indicação anterior: Melhor atriz coadjuvante por O segredo de Brokeback Mountain (2006)



A unanimidade


Natalie Portman é tão boa atriz que você nem nota. O fato de em Cisne negro você notar o espetáculo de atriz que ela é, mais tem a ver com traquejos de direção de Darren Aronofsky do que qualquer outra coisa. Melhor assim. Aos 29 anos o Oscar de atriz parece contingência. A carreira ainda trará muitos frutos, mas a imagem da bailarina que se perde de si mesma ecoará no imaginário cinéfilo.


Prós:
+ É a favorita inconteste ao Oscar desde setembro, quando Cisne negro teve premiere internacional em Veneza
+Ganhou os principais prêmios da temporada (Globo de ouro, Critic´s Choice Awards e SAG)
+Ganhou o maior número de prêmios da temporada
+ Está grávida e isso amolece o coração de muita gente. Além do fato de ser extremamente simpática
+Está em um sucesso de bilheteria nos cinemas (Sexo sem compromisso) e a América anda precisando de uma namoradinha
+É o melhor desempenho do ano e todo mundo sabe disso
+É a melhor alternativa de reconhecer o filme de Aronofsky com um Oscar
+ O filme é independente, mas a arrecadação na bilheteria é de blockbuster em muito devido aos comentários sobre sua atuação


Contras:
- Se a política de compensação na academia imperar e preferirem reconhecer tardiamente Annette Bening
- O favoritismo longo pode começar a se desgastar no momento crucial


Segunda indicação
Indicação anterior: Melhor atriz coadjuvante por Closer – perto demais (2005)



A vigorosa


Jennifer Lawrence tem apenas 20 anos. Inverno da alma é, apenas, seu quarto trabalho para cinema. O primeiro protagonismo. Contudo, uma vez que a câmera foca nela, o arrebatamento é instantâneo. Atriz de profunda confiança, gracejo e força nas medidas certas, Jennifer se prepara para o estrelato. Talento, diferentemente de umas e outras, ela já trouxe com ela.


Prós:
+ É uma atuação forte e impressionante em um filme muito querido pelos atores
+ É a principal força motora do filme e todo mundo sabe disso
+ Fora Annette Bening e Natalie Portman, é a única das indicadas que já ganhou algum prêmio na temporada


Contras:
- A pecha de que a indicação já é suficiente
- Assim como Michelle Williams, está em um filme independente e não é comum vitória desse perfil de produção nessa categoria
- É muito inexperiente para ser premiada em uma categoria tão venerada

Primeira indicação


The comeback of the year


Ela conseguiu. Produziu o filme que lhe valeu um ticket de volta a nata de Hollywood. Nicole Kidman, que havia engatado marcha ré após o Oscar de melhor atriz em 2003, retorna a cerimônia com um papel sob medida para obter láureas: o da mãe enlutada de Reencontrando a felicidade. Não contava, no entanto, que seria coadjuvante de uma disputa entre a elegante Annette e a grávida Natalie.


Prós:
+ É a única das indicadas que já tem uma estatueta. Podem optar por privilegiar o clube dos oscarizados
+ É a estrela mais pomposa das indicadas


Contras:
- É a única das indicadas que já tem uma estatueta
- Não ganhou nenhum prêmio na temporada
- A pecha de que a indicação já é suficiente
- A academia deixou de premiar Sissy Spacek (Entre quatro paredes) há dez anos por um papel muito parecido
- Tem a carreira mais inconstante das indicadas, excetuando-se Jennifer Lawrence que ainda está começando


Terceira indicação
Indicações anteriores: Melhor atriz por Moulin Rouge – amor em vermelho (2002) e melhor atriz por As horas (2003)
Vitória anterior: melhor atriz por As horas (2003)