Minhas mães e meu pai é badalado desde o festival de Sundance de 2010. Passou pelos festivais de Berlim e Los Angeles, angariou mais de U$ 30 milhões nas bilheterias americanas e segue fazendo uma bela carreira internacional. 127 horas foi um projeto logo abraçado pela Fox Searchlight após o regozijo que Danny Boyle (o diretor do filme) proporcionou ao estúdio com a consagração de Quem quer ser um milionário? no Oscar dois anos atrás. Cisne negro comeu o pão que o diabo amassou para ver a luz do dia. Mas escorado no burburinho em torno de sua estrela (Natalie Portman) voou alto nas bilheterias e já beija a sonhada marca dos U$ 100 milhões nos EUA. O discurso do rei foi apadrinhado pelo poderoso Harvey Weinstein e, bem, se configura como um independente de posses. Esse panorama permite aferir que o filme independente, com pedigree de independente, em 2010 é mesmo Inverno da alma. A fita de Debra Granik, assim como o filme estrelado por Annette Bening e Julianne Moore, debutou no festival de Sundance de 2010 – de onde saiu laureado com o prêmio especial do júri de melhor drama e com o troféu de melhor roteiro.
Na raça: o custo do filme foi de U$ 2 milhões e a produção arrecadou pouco mais de U$ 10 milhões nas bilheterias americanas. As indicações ao Oscar devem dar novo fôlego a carreira internacional da fita
História minimalista
Inverno da alma é ambientado no condado de Ozark Back, um lugar tão inóspito quanto sugerido pelas lentes da diretora. Em Inverno da alma temos acesso a uma parte da América que parece involuída. Estagnada em uma espécie de faroeste cru, seco e impiedoso. A forma como Granik se aproxima dessa realidade impressiona. “As pessoas estão acostumadas em ver a classe média no cinema. Às vezes choca constatar que há uma América menos cinematográfica”, disse em entrevista recente ao jornal New York Times. Não se faz eco a filmes como Preciosa – uma história de esperança, por exemplo, um dos destaques da edição do Oscar 2010. A América desbravada em Inverno da alma é outra. É mais antiga e mais primal, ainda que tão contemporânea quanto a que se vê no filme de Lee Daniels que ganhou dois Oscars.
Ao focar na via crucis de sua protagonista, Inverno da alma ganha fôlego dramático. Ree Dolly (vivida por Jennifer Lawrence), aos 17 anos, cuida da mãe com problemas mentais e dos dois irmãos pequenos. Ela mantém essa responsabilidade junto com os demais afazeres domésticos. Um belo dia, Ree toma ciência de que a propriedade da família foi dada como garantia na fiança de seu pai (um produtor de metanfetamina) e que se este não se apresentar à justiça na data da audiência, a propriedade será confiscada. Ree, então, parte em busca do pai e para conseguir seu intento cruzará o caminho de muita gente rude e com raízes violentas.
Ritmo calculado
Tudo foi filmado com a ideia de produzir um filme lento. “Mas o ritmo do filme só foi definido na sala de edição”, garante o montador Affonso Gonçalves. O brasileiro, que mora a 20 anos nos EUA, disse na entrevista que deu ao UOL cinema, que Debra Granik e ele tinham o interesse em trabalhar juntos. “Desde que nos conhecemos fomos trocando ideias sobre a oportunidade”. O filme que recebeu quatro indicações ao Oscar (filme, roteiro adaptado, atriz e ator coadjuvante) se mostrou o projeto certo e é o mais comentado e elogiado trabalho da dupla em suas respectivas carreiras. Affonso, que já editou filmes como Nova Iorque, eu te-amo, deve receber novas propostas de trabalho. Todo o ritmo de Inverno da alma, da produção e do filme, como se vê, foi muito bem calculado. Ter chegado ao Oscar nada mais é do que, além de justiça, consequência do bom trabalho realizado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário