segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

OSCAR WATCH 2011 - Crítica dos vencedores do Oscar


Aplausos para que te quero: na primeira fila do teatro Kodak figuraram os indicados Helena Bonhan Carter, Javier Bardem, Colin Firth e Michelle Williams



Aconteceu o que muitos esperavam. O discurso do rei foi coroado o melhor filme de 2010 e a cerimônia do Oscar, o programa de TV, depois dos anos de ascensão em termos qualitativos, foi frustrante.
James Franco e Anne Hathaway não conseguiram segurar as pontas. Se ela deixou transparecer que se esforçava, James Franco se preocupou em transparecer que pouco se esforçava. De qualquer jeito, as piadas não funcionaram e o show foi dos mais modorrentos dos últimos anos. Nem o tom mais sóbrio e o ritmo mais apurado favoreceram a cerimônia. A performance apagada dos hosts fez a audiência se efervescer com a rápida aparição de Billy Crystal. Depois de duas acertadas escalações (Hugh Jackman em 2009 e a dupla Steve Martin e Alec Baldwin no ano passado), o Oscar 2011 pode ser lido como um retrocesso nesse departamento.
Mas não foi apenas esse o retrocesso que marcou a noite. A vitória de O discurso do rei, embora não tenha sido tão exagerada quanto se anunciava, afirmou o que se pressentia. A academia se ressentiu da influência exercida pela crítica no ano passado (que culminou na vitória de Guerra ao terror). Somam-se a esse fator o peso de Harvey Weinstein em uma campanha de Oscar e todos aqueles fatos já bastante debatidos durante a Oscar season: enquanto A rede social primava pela análise, esquivando-se da emoção, O discurso do rei a abraçava despudoradamente. É muito mais fácil gostar de um filme assim. E o Oscar, importante sempre pontuar isso, é um prêmio sincero. Foi premiado o filme que caiu nas graças da academia. No entanto, esse dado não afugenta certas críticas. A guinada conservadora, enunciada nas indicações, pode ser tolerada desde que justificada em si mesma. Não é o caso. Fosse isso, a vitória de O discurso do rei se daria da forma maiúscula como de outro equívoco recente da academia, Quem quer ser um milionário? (ainda que dentro de um escopo diferente). O que se viu foi o triunfo de um marketing bem engendrado. Ficou provado, também, que campanha difamatória não vinga quando feita abertamente. A crítica resmungou e vociferou contra O discurso do rei, mas não obteve reverberação.

Os filmes do ano


Os eleitos do ano: após um mal fadado número musical, os
vencedores do Oscar 2011 se reúnem no centro do palco
 Claquete já havia sinalizado para um Oscar pulverizado. E, mais que isso, para uma divisão entre o moderno e o tradicional. Não poderia haver indicativo mais claro disso do que a distribuição final das estatuetas. A origem (Efeitos especiais, som, edição de som e fotografia) e O discurso do rei (filme, direção, ator e roteiro original) dividem o topo com quatro prêmios. O filme inglês, obviamente, se avantaja nos critérios de desempate. Mas logo em seu encalço vem A rede social, com três merecidíssimos prêmios (montagem, trilha sonora e roteiro adaptado). O vencedor, Toy story 3 e Alice no país das maravilhas chegam logo atrás com dois Oscars cada.
O conservadorismo da academia em 2011 foi ombreado com a vontade de pensar o novo. A rede social tinha defensores vorazes, como mostrou a espirituosa fala de Steven Spielberg antes de anunciar o melhor filme do ano. A origem ganhou mais prêmios do que muitos davam por certo e as trapalhadas dos favoritos na categoria de coadjuvantes não exerceram o pendor negativo que costumam, tratando-se de rigor acadêmico.
O Oscar 2011, infelizmente, será lembrado como um ano de injustiças. Ainda que elas tenham sido poucas e subjetivas. Contudo, como A rede social é um filme destinado a grandeza, esse julgamento será inevitável. Uma pena que a academia hesite em reinventar-se por completo. Há fragmentos de uma reinvenção em curso. A vitória do obscuro Os infiltrados (2007), do pessimista Onde os fracos não tem vez (2008) e o ecletismo e equilíbrio da seleção de 2011 denotam isso.
Contudo, na hora H, o Oscar ainda prefere o porto seguro dos cânones cinematográficos. Não deixa de ser uma opção legítima. Mas também é uma opção engessada no tempo. Em descompasso com as transformações sociais, culturais e – em um controvertido reflexo – cinematográficas.

6 comentários:

  1. Olá Reinaldo. Tenho três considerações a fazer sobre o Oscar além do que você já comentou:
    A primeira na verdade você até falou algo semelhante no post anterior: o Globo de Ouro acabou sendo superior ao Oscar em 2011, tanto nas premiações quanto na cerimônia.
    A seguir, tenho que comentar sobre meu filme preferido. A Origem perdeu uma categoria injustamente (Roteiro Original) e venceu outra injustamente (Fotografia). Além destas, penso que deveria ter vencido trilha sonora também. A trilha de A Rede Social é excelente e foi justa sua vitória, mas acredito que daqui a alguns anos ela mal será lembrada, ao contrário da trilha de Hans Zimmer que me parece ser daquelas que vêm pra ficar. Bom, essa categoria nem sempre valoriza aquelas trilhas que entram pra eternidade mesmo né. Ennio Morricone que o diga.
    Por último, uma pequena curiosidade que reparei: quantitativamente, a grande estrela da cerimônia foi Helena Bonham Carter, que além da sua indicação a Melhor Atriz Coadjuvante, estava em quatro filmes indicados: O Discurso do Rei, Alice no País das Maravilhas, Harry Potter e as Relíquias da Morte Parte 1 e no curta de animação The Gruffalo.
    É isso aí. O Oscar 2011 como você bem colocou em um item da enquete, foi previsível e enfadonho. David Fincher, Darren Aronofski e Christopher Nolan seguem na fila.
    Abraço.

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  2. Por mim, Hugh Jackman apresentava de novo. Adorei ele em 2009. Quanto as premiações foi isso mesmo, a volta no tempo. Infelizmente.

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  3. Pois é, foi por isso mesmo. James decepcionou, mas gostei da Anne, que mostrou que tentou salvar a festa com sua graça. "O Discurso do Rei" é tudo o que a AMPAS gosta, mas sem tirar os méritos que o filme tem.

    Mas estou satisfeita em ver "A Origem", "Toy Story 3" e "Cisne Negro" (esse merecia mais) com seus prêmios, apesar que mereciam muito mais reconhecimento, seria uma ousadia bem-vinda ver filmes como esses premiados nas categorias principais.

    Beijos! ;)

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  4. Eu queria ver Steve Martin de volta. Ou que a AMPAS chamasse Robin Williams para apresentar. No mais, acho que o Oscar foi legal. Gostei dos cenários, do uso da orquestra. Mas, queria ver de volta os tributos aos atores e atrizes indicadas... Isso é tão lindo! :)

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  5. faço parte do pequeno grupo que adorou ver 'o discurso do rei' ganhando. adoro 'a rede social', mas acho o filme extremamente superestimado... meu voto seria em 'toy story 3'

    http://filme-do-dia.blogspot.com/

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  6. Vitor: Tb acho a trilha de A origem mais perene, cativante. Mas acho que a de A rede social trabalha mais em favor da narrativa. De qualquer jeito, o prêmio seria justo para qualquer um dos dois. Concordo que A origem tinha o melhor roteiro original do ano e concordo que o trabalho de fotografia era inferior, por exemplo, ao realizado em Bravura indômita e Cisne negro. Boa atenção aos detalhes Vitor! De fato Helena Bonhan Carter foi uma forte presença no ano. Aliás, acho que teria mais chances como coadjuvante se concorresse por Alice. Abs

    Mayara: Pois é Ma. O único que merecia menos prêmio é O discurso do rei... rsrs Bjs

    Kamila: Tb gostei do Oscar Ka. Cinéfilo que é cinéfilo não desgosta né? Não sei se Robin Williams seria o nome ideal, mas um revival de Steve Martin não é má ideia... bjs

    Kahlil: O grupo não é pequeno não Kahlil, como vc vai poder verificar no post de hj...
    abs
    Amanda: Pois é, mas ele não quer voltar tão cedo. E acho que, estrategicamente falando, ele está certo. ainda mais depois do fracasso de 2011. A pressão será enorme. Bjs

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