domingo, 6 de fevereiro de 2011

Oscar watch 2011 - Insight

O discurso do rei está ganhando força?


Muita gente está se surpreendendo ou apreciando o avanço de O discurso do rei nas premiações dos sindicatos, mas esse “repentino” afronte a A rede social não representa nem uma surpresa, muito menos um favoritismo de última hora.
Essa exacerbação é demográfica. Não significa que A rede social tenha perdido um favoritismo que, a bem da verdade, nunca gozou dentro da indústria que sempre sinalizou para os filmes O vencedor e O discurso do rei, produções mais tradicionais.
Ocorre que os prêmios dos sindicatos são os últimos de grande expressão a serem entregues antes do Oscar. Por grande parte dos membros desses sindicatos constarem do colegiado que compõem a academia é natural supor que O discurso do rei seja mais querido do que A rede social. Isso diz muito sobre a disputa. Geralmente ganham o Oscar os filmes mais queridos. Nem sempre os melhores. Aconteceu isso de forma muito clara e contestada há dois anos com a consagração de Quem quer ser um milionário?.


Ode ao tradicional: O discurso do rei reúne todos os predicados para fazer dele um academy favorite



Então a pergunta que deve orientar cinéfilos e observadores é: por que a indústria parece gostar mais de O discurso do rei do que de A rede social? Não é pelo faturamento. Se assim o fosse, A origem seria imbatível. No mais, os dois filmes têm penetração internacional semelhante e internamente A rede social faturou mais. O que faz atores, diretores, roteiristas, cenógrafos, produtores, maquiadores, fotógrafos e todo o repertório de profissionais que compõem a academia apreciarem mais o filme inglês dirigido por Tom Hooper é o aspecto familiar. O discurso do rei é um filme tradicional. Acadêmico. Focado nos atores, competente na técnica, reverente à história, e traz em seu âmago um  case de superação pessoal e, em certo nível, de uma nação. É o que se chama por aí de filme de Oscar. Já A rede social é tão moderno, embora também seja um filme de época, quanto o tema que aborda. Um filme que não traz personagens simpáticos e que não instiga o público a torcer por eles. Por esses termos, A rede social não é um filme de Oscar. Frio, analítico, falado, divorciado da emoção e polêmico, o filme de David Fincher não carrega a aura de fita premiável pela academia. Repare nos últimos dez filmes premiados com o Oscar e tente encontrar algum que se assemelhe técnica e tematicamente ao filme de Fincher: Gladiador (2000), Uma mente brilhante (2001), Chicago (2002), O senhor dos anéis: o retorno do rei (2003), Menina de ouro (2004), Crash – no limite (2005), Os infiltrados (2006), Onde os fracos não têm vez (2007), Quem quer ser um milionário? (2008) e Guerra ao terror (2009).
Não há. Onde os fracos não têm vez, em termos de inadequação, é o que mais se aproxima de A rede social, mas no filme dos Coen o público torce para Josh Brolin, reverbera junto com o personagem de Tommy Lee Jones e, mais importante, apesar da análise e da frieza do registro, o filme não é polêmico.
Se proposto esse mesmo exercício com O discurso do rei, o resultado obtido seria diferente. Praticamente todos os filmes guardam alguma semelhança em termos técnicos ou temáticos com o filme de Tom Hooper.
Pesa contra A rede social, também, o fato da unanimidade crítica. Isso evidencia outro fator preponderante da atual edição do Oscar. Uma guinada à direita, digamos assim. Depois de filmes libertários como Guerra ao terror, Amor sem escalas e Bastardos inglórios em 2010, os recordistas de indicação em 2011 são um drama inglês de época e um western. Os dois filmes de maior prestígio junto à crítica (e por que não ao público?) se abraçaram nas oito indicações. Foram diminuídos, talvez em virtude de uma necessidade da academia se afirmar um ano depois de votar com a relatoria (a crítica).



A pergunta que se coloca é se os preferidos de público e crítica, A origem (foto) e A rede social, terão vez na festa da indústria  

Quer dizer que O discurso do rei então já é o vencedor? Não. Pegue por exemplo o sindicato dos diretores (DGA), o grupo que melhor aproveitamento tem em antecipar os vencedores do Oscar. São mais de cinco mil diretores filiados. No entanto, apenas 390 deles compõem o grupo de diretores da academia. Esse dado ajuda a entender o porquê de Nolan ter ficado de fora da disputa pelo Oscar e o porquê dos irmãos Coen ameaçarem veementemente o esquálido (cinematograficamente falando) Tom Hooper.
Isso tudo para patentear que O discurso do rei não está ganhando força. Ele está com a força que sempre esteve. A questão que se coloca é até que ponto vai a influência da crítica em um ano que a academia não parece disposta a ouvi-la. O vencedor e Bravura indômita, por serem filmes tão tradicionais quanto O discurso do rei, é que podem ter crescido de tamanho e ninguém, até a noite de 27 de fevereiro, vai ter se dado conta disso.

6 comentários:

  1. OI Reinaldo.

    Eu acredito que O Discurso Do Rei seja tão bom quanto A Rede Social, vou conferir o filme na íntegra- recebi material de impressa para cabines (no fim ei nem fui assistir) e via alguns trechos do filme.

    Eu ainda creio que A Rede Social irá ganhar os principais prêmios no Oscar - não por ser favoritismo pessoal.

    Foi um ano ótimo e há muitos filmes merecidos no grande páreo!

    Abs.
    Rodrigo

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  2. Você tocou no ponto certo quando falou que "O Discurso do Rei" é um filme tradicional e acadêmico. Nele, podemos encontrar vários elementos que agradam muito os votantes da AMPAS. Eu acho que o momento atual é mais favorável a uma vitória de "O Discurso do Rei", no Oscar de Melhor Filme, mas não descartaria "A Rede Social" assim tão facilmente... Tudo pode acontecer e, como você bem disse, a resposta só virá mesmo no dia 27 de fevereiro.

    Beijos!

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  3. Concordo! E "O Discurso do Rei" tem todos os elementos que a Academia ama. Só estou esperando o BAFTA, que muito provável vai vencer para tirar uma conclusão imediata dessa briga. Mas, tudo pode acontecer. rsrs.

    Beijos! ;)

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  4. Rodrigo: Tomara que A rede social ganhe mesmo os principais prêmios Rodrigo. É o melhor, na minha avaliação, e merece. Mas não estou tão certo quanto vc... abs

    Kamila: Não descartei A rede social. Apenas frisei que quem pode ter crescido nesse meio tempo foram os filmes Bravura indômita e O vencedor. Na minha percepção o discurso do rei está com o tamanho que sempre esteve. A bem da verdade, apenas o prêmio do DGA para Tom Hooper me surpreendeu. Bjs

    Mayara: É, no Bafta não tem dúvidas... rsrsrs. Lá a vitória é de O discurso do rei. Bjs

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  5. É verdade que O Discurso sempre teve força, só que os olhos de todo mundo estavam em A Rede Social e por isso alguns estão surpresos com essa reação dos sindicatos!!

    Que o discurso do rei era forte eu sabia, mas a tua frase final me abriu os olhos!! Ainda não tinha reparado na força de O Vencedor e Bravura Indômita!!! E em como A Origem (meu favorito) foi ignorado!!!

    Com toda certeza esse é um ano em que a gente vai ficar com aquele frio na barriga de quem não sabe o que vai acontecer até dia 27!!!

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  6. Eri Jr.: Continuo achando que O discurso do rei não deve prevalecer no Oscar, mas já sabi que era o favorito aos prêmios dos produtores e atores. Me surpreendi, como já disse para a Kamila, com o resultado do sindicato dos diretores. Ali foi um indício forte de que o filme não pode ser descartado. Vamos acompanhar de perto o desenrolar dessa história.
    Aquele abraço!

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