quinta-feira, 30 de junho de 2011

Filme em destaque: Transformers - o lado oculto da lua

Mais barulho, explosões, Shia LaBeouf gritando "não", som do Linkin Park e efeitos especiais de primeira categoria. Os Transformers estão de volta...


Michael Bay enviou uma carta com recomendações ao mercado exibidor sobre como manipular a fita em 3D de Transformers – o lado oculto da lua. Mas Bay não era esse curador do 3D durante a pré-produção do terceiro Tranformers – o filme que é a aposta da Paramount para fazer frente ao bruxo Harry Potter nessa temporada de verão.
O diretor era contrário à ideia de rodar o filme em 3D. Foram intensas negociações e, finalmente, após um bate papo franco com o produtor Steven Spielberg, Bay cedeu as demandas do estúdio – mas não sem descolar um providencial aumento de U$ 50 milhões no orçamento. O inflado orçamento do terceiro Transformers beijou os U$ 230 milhões sem considerar o gasto com o marketing. É muita segurança de que os decepticons e os autobots irão arrasar nas bilheterias mundiais. O precedente é positivo. O primeiro Transformers (2007) arrecadou U$ 710 milhões nas bilheterias, mas o custo foi consideravelmente inferior: U$ 150 milhões.
A vingança dos derrotados, lançado em 2009, já apresentava um orçamento mais gordo. Os U$ 200 milhões gastos na produção renderam elogios ao apuro dos efeitos especiais e valeram ao filme a liderança nas bilheterias americanas naquele ano com U$ 403 milhões. Internacionalmente, o filme de Bay perdeu a disputa para o sexto exemplar da saga Harry Potter, mas os U$ 836 milhões arrecadados deixaram a Paramount mais do que satisfeita.
E as projeções de bilheteria são otimistas. Analistas apontam que é O lado oculto da lua o filme que pode reverter a tendência de queda na procura pelo 3D nos cinemas americanos. Mas a Paramount não descuidou de outros mercados estratégicos. O Brasil, por exemplo, é um deles. Segundo levantamento do portal Filme B, o país é um dos principais consumidores de 3D no planeta. O dado corrobora pesquisa de mercado das principais distribuidoras (entre elas FOX, Sony e Warner). Enquanto o interesse pelo 3D nos EUA cai, aqui ele se mantém em crescimento moderado.
Semana passada Bay chegou ao Rio de Janeiro acompanhado pelos atores Josh Duhamel e Rosie Huntington-Whiteley para promover o filme. Do Rio seguiram para Moscou, e lá se reuniram a Patrick Dempsey e Shia LaBeouf, para prestigiar a premiere russa do filme. Japão e Inglaterra são outros destinos da entourage.

 Patrick Dempsey, Shia LaBeouf, Rosie Huntington-Witheley, Michael Bay e Tyrese Gibson na premiere da fita em Moscou na última semana


Michael Bay observa Rosie Huntington-Whitley e Josh Duhamel em entrevista coletiva concedida no Rio de Janeiro durante campanha de divulgação do terceiro filme


Sem medo da sombra de Megan


Além do 3D e da pressão por lucro, o terceiro filme enfrentou outro revés muito mais midiático. A saída de Megan Fox. E foi uma saída turbinada por boatos e troca de farpas na imprensa de celebridades. Megan Fox comparou Michael Bay a Hitler – em analogia infeliz a suas exigências em um set de filmagens. Um punhado de profissionais ligados à produção dos filmes soltou nota criticando Megan por seu comentário e chamando-a de “estúpida”. A coisa não melhorou e Megan Fox foi demitida, embora ela não goste de usar essa palavra quando rememora o episódio. Fato é que o posto de “a próxima Megan Fox” foi dos mais disputados em Hollywood e a modelo inglesa Rosie Huntington-Whiteley, uma das angels da Victoria´s Secret, ficou com a vaga. O debute como atriz da namorada de Jason Statham logo se tornou uma das atrações do novo Transformers. Rosie, que na passagem pelo Rio de Janeiro mostrou-se simpática, disse que não teme as comparações e que é grata a Michael Bay pela oportunidade. A atriz, que demonstrou mais polidez do que sua antecessora, revelou que alimenta o desejo de ser Bond girl um dia.
Outras adições no elenco desse terceiro filme são o já citado Patrick Dempsey, John Malkovich e Frances McDormand. Todos pela diversão. Afinal, Transformers é mesmo um gigante do entretenimento. O blog de cinema NextMovie teve o cuidado de destrinchar um pouco desse gigantismo em números. Entre tantas outras fábulas apurou os seguintes dados referentes aos dois primeiros filmes: cada Chevrolet Camaro (um em cada filme) custou U$ 500 mil; foram aproximadamente 200 carros estilhaçados no primeiro filme; Optimus Prime é composto de aproximadamente 10.008 partes nos computadores da Industrial Light Magic (empresa responsável pelos efeitos especiais dos filmes); 38 horas é o tempo de renderização dos efeitos especiais; no primeiro filme foram 420 efeitos especiais, no segundo 580 e no terceiro algo em torno de 800.
Prepare as aspirinas! Os robôs voltaram para fazer ainda mais barulho.

Um dos muitos carros destruidos durante a produção do terceiro Transformers: uma aula de como torrar U$ 230 milhões

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Panorama - O novo mundo


O cinema de Malick permanece regido por interesses antropológicos. Fica mais evidente a disposição do cineasta de entender a relação do homem com o meio. Essa versão de Pocahontas decepcionou pelo viés contemplativo e a ausência de conflitos, mas Malick, em si, não fugiu as características que pontuaram seu cinema desde os primórdios. O interesse no sentimento que insurge entre o inglês John Smith (Colin Farrell) e a nativa Pocahontas (Q´Orinka Kilcher) não é mais importante do que a devassa nos hábitos e costumes das tribos que habitam a América e o choque cultural proposto pela presença dos ingleses naquele lugar. É essa a combustão de O novo mundo, filme que acabou se revelando o mais decepcionante da carreira de Malick pelo simples fato de que o diretor se entregou completamente a seu impulso antropólogo e negligenciou algumas demandas narrativas que poderiam acrescer a seu filme.
O vigor visual de O novo mundo denuncia o apreço de Malick pela natureza. A fotografia é mesmo de pasmar, mas a narrativa é a mais enferrujada dos trabalhos do diretor.

terça-feira, 28 de junho de 2011

Crítica - Namorados para sempre

A desconstrução da relação amorosa!


Namorados para sempre (Blue valentine, EUA 2010) é um filme doído. É duro com aquele que deseja manter-se aquecido na esperança. A fita é fruto de uma desilusão amorosa de Derek Cianfrance, diretor e roteirista, mas não o coração de Namorados para sempre. Quem bombeia as emoções nesse filme são os dois excelentes protagonistas: Ryan Gosling e Michelle Williams.
É nesse período de luto interno que a sensibilidade aflora em níveis de exumação artística – aquele patamar em que só se supera um amor ao devassá-lo de maneira criativa. De certa maneira é isso que Cianfrance faz aqui. Por isso, o ponto de vista adotado em Namorados para sempre é o de Dean (Gosling). O sujeito impulsivo que ama demais e se entrega de peito aberto a seus sentimentos porque entende residir nesse gesto o êxtase de sua existência. Já Cindy (Williams) é a garota fragilizada e cheia de sonhos que se ressente de uma relação paralisada nas lembranças e projetos.
O filme se constrói em duas frentes e produz sentido do choque que provoca na percepção do espectador. Cianfrance contrapõe o momento em que Dean e Cindy estão à beira do colapso dentro da relação amorosa e o momento em que cedem à tentadora paixão. É um retrato agridoce. Além da incrível beleza e poesia, há uma verdade inescapável ali. A vida tem dessas descomposturas com aqueles que a vivem. Em um dado momento Cindy se questiona como confiar em seus sentimentos se eles podem desaparecer. A complexidade da resposta não surge em Namorados para sempre, mas de sua digestão.

Paixão sem futuro: os motivos para o flagelo da relação de Dean e Cindy são muitos e a dor que eles sentem abrange todos eles


Cianfrance realiza uma crônica sobre o ocaso da paixão vitimada pela brutalidade da vida, seus anseios e incorreções. Essa crônica ganha densidade nas atuações crepusculares de Ryan Gosling e Michelle Williams. Ambos se entregam às angústias de seus personagens sem receios e imposições. Um trabalho tão vistoso e sem julgamentos que chega a impressionar. Gosling faz o tipo expansivo e Williams reage a ele com sutileza e minimalismo, em uma metalinguagem com as posturas de seus personagens que enriquece a experiência cinematográfica.
Namorados para sempre é um filme doído porque escancara nossas imperfeições. Os que amam demais o fazem por uma razão, nunca justificável o suficiente, e os que amam de menos também falham em se justificar perante os que amam demais. No final das contas, o que Cianfrance coloca, ainda que involuntariamente, é que o amor chega muito generoso e se despede muito egoísta. É um argumento triste, mas verdadeiro para muitos casais.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Em off

Nesta edição de Em off, as estrelas que andam reluzindo no Rio de Janeiro, o melhor Woody Allen dos últimos cinco anos na opinião do leitor do blog, a psicanálise segundo David Cronenberg, cartazes lindos de doer e Leonardo DiCaprio tentando provocar ciúmes em Martin Scorsese.



O melhor Woody Allen dos últimos tempos
Existe uma verdadeira convulsão cinéfila em torno do mais recente filme de Woody Allen, Meia noite em Paris. A fita, atualmente em cartaz nos cinemas brasileiros, já se tornou a maior bilheteria do cineasta americano nos últimos 25 anos. Uma estatística a ser comemorada. Claquete quis saber do leitor, qual é o melhor Woody Allen dos últimos cinco anos. Meia noite em Paris ainda não conseguiu a liderança, mas assegurou um honroso segundo lugar com 15% dos votos. Tudo pode dar certo (2009) conquistou a 50% dos votos e ficou com a primeira posição. Curiosamente, o filme protagonizado por Larry David é o único que não caiu nas graças da crítica americana e que não foi rodado nos EUA. Vicky Cristina Barcelona (2008), com 10%, ficou com a terceira posição. O sonho de Cassandra (2007) e Você vai conhecer o homem dos seus sonhos (2010) vieram logo atrás.

Woody Allen e Larry David nos sets de Tudo pode dar certo: o melhor do diretor nos últimos cinco anos



A boa crítica de cinema
A coluna Questões cinematográficas desse mês de junho, intitulada “ a homogeneidade da crítica de cinema e esterilização da análise fílmica”, repercutiu bem junto ao leitor de Claquete. Alguns solicitaram mais informações a respeito da revista Teorema, citada na coluna. Editada pela jornalista Ivonete Pinto, Teorema é uma revista gaúcha de circulação restrita. A periodicidade da publicação, que já foi trimestral, é semestral. Cineastas, articulistas, professores universitários, jornalistas e diretores de teatro compõem o corpo de críticos da revista que tem como objetivo uma análise mais aprofundada do cinema. Os principais filmes lançados no período são agrupados e analisados por críticos com vasta bagagem cultural e cinematográfica.
A revista, no entanto, não é fácil de achar. Fora de Porto Alegre, ela pode ser encontrada na rede de livrarias Cultura – em São Paulo, Brasília, Curitiba e, em breve, no Rio de Janeiro. O e-mail da redação é revistateorema@yahoo.com.br


DiCaprio e as boas parcerias
Nem bem terminou sua participação em J. Edgar, drama sobre o criador do FBI que Clint Eastwood prepara para lançamento no final desse ano, e Leonardo DiCaprio já surge como potencial integrante do elenco do novo filme de Clint: o remake de Nasce uma estrela. O filme, anunciado no final de 2010, terá como protagonista a cantora e atriz Beyoncé Knowles. Previsto para 2012, o filme pode confirmar DiCaprio como o principal vértice de um triangulo cinematográfico invejável. De um lado Clint e de outro Scorsese que já o escalou para ser seu Frank Sinatra.


Tira-teima do Oscar
Com a chegada de 127 horas, O discurso do rei e Bravura indômita às locadoras e megastores ficam disponíveis todos os concorrentes ao último Oscar de melhor filme. A oportunidade de rever, ou ter, essas produções é preciosa e válida para - fora do calor do momento- aferir a ótima qualidade dos indicados. Vale, também, para ficar patente como O discurso do rei - que funciona melhor em casa- não era o melhor filme do ano.



O surgimento da psicanálise segundo Cronenberg
Desde que foi anunciado, A dangerous method (que na verdade se chamava inicialmente The talking cure) é aguardado com ansiedade por crítica e cinéfilos. O novo filme de David Cronenberg (e ele já está rodando Cosmópolis com Robert Pattinson) apresenta a gênese da rivalidade entre Freud e Yung. Semana passada, o primeiro trailer foi liberado. Sexo, ego, superego e outras sofisticações terapêuticas são ensejadas no trailer mais misterioso do ano. Entre Viggo Mortensen (Freud) e Michael Fassbender (Yung) está Keira Knightley. Não precisamos de Freud (ou de Yung) para intuir Oscar buzz.





Os posters do Capitão
O filme pode até decepcionar; e a probabilidade de que isso aconteça, já que Joe Johnston é o diretor de Capitão América: o primeiro vingador, é grande. Mas é inegável que os cartazes do filme, com seu charme vintage, são de causar frisson de ansiedade pelo filme.



 
... e contando
Vin Diesel, Paul Walker, Josh Duhamel, Michael Bay, Jesse Eisenberg, Anne Hathaway, Jamie Foxx, Jim Carrey, além é claro, de Barack Obama. Esses são alguns dos astros que desembarcaram no Rio de Janeiro nesse primeiro semestre.
O crescimento econômico é a principal razão para atrair esse pool de astros de primeira grandeza das artes e da política ao país. No campo do cinema, vale registrar que Brasil apresentou o maior crescimento percentual de bilheteria em 2010. Foram 31% ante 25% do México, que por dez anos ocupou o posto de mercado que mais crescia na América Latina. É bem verdade que o México está bem mais evoluído do que o Brasil, seja no mercado exibidor, distribuidor ou produtivo, mas o México não tem o Rio de Janeiro não é mesmo?

domingo, 26 de junho de 2011

Insight

As novas mudanças no Oscar e como elas deixam o jogo mais justo

Há duas semanas, a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood (AMPAS) divulgou novas alterações em seu estatuto e, embora elas sejam simples, confundiu muita gente. A primeira confusão é intrínseca à própria mudança. Quando decidiu por incluir dez filmes na categoria principal, reavivando uma prática abandonada na década de 40, ficou instituído que em três anos (em 2012) a medida seria reavaliada. Contrariando essa posição, nova mudança foi articulada para deixar mais justa a categoria de melhor filme. A partir do próximo Oscar, o número de indicados pode variar de cinco a dez. O objetivo, segundo o diretor executivo da AMPAS, Bruce Davis, é desobrigar o acadêmico a arredondar para dez o número de indicados. A medida também visa evitar a perda de prestígio do prêmio. Uma vez que com dez indicados, o desnível entre os concorrentes se avoluma. Para não perder a qualidade de vista, outro sensor foi instituído. Para ser validado como um candidato ao Oscar de melhor filme, uma fita tem que ser a preferência de 5% dos votos coletados. Ou seja, não basta ser listado como melhor filme do ano. Se uma produção não encabeçar a lista de pelo menos 5% dos votantes, ela não entra na disputa. É uma peneira valiosa que deve restringir a disputa a seis ou sete filmes. A tendência é que naturalmente a categoria volte a ser disputada entre cinco filmes. Anos excepcionalmente positivos podem dilatar a categoria, mas não será uma constante.
A meritocracia será mais difícil de ser burlada por esse sistema.

Cena de Um sonho possível, indicado ao Oscar de melhor filme em 2010: o tipo de fita que a academia quer evitar entre os indicados a melhor produção do ano


A escolha evidencia, conforme Claquete já havia sinalizado em artigos anteriores, o desacerto – do ponto de vista da qualidade da disputa – que foi instituir dez filmes na categoria principal. A nova solução, além de preservar um elemento surpresa saudável (só se saberá o número de concorrentes no momento do anúncio), devolve o prestígio furtado do Oscar em nome da busca pela audiência jovem. Contudo, não há como evitar o gosto de que as novas mudanças obedecem o clima da estação.
Outras modificações atingiram as categorias de documentário, curta-metragem e animação. O número de concorrentes agora varia obrigatoriamente de acordo com o número de candidatos inscritos para obter uma vaga. A variação se dará entre três e cinco concorrentes. O Oscar de efeitos especiais também recebe novo gás. Poderão ser indicados entre três e dez filmes, de uma pré-lista elaborada pelo departamento de efeitos especiais.


Vai mudar de novo?
Provavelmente sim. Ainda que naturalmente a disputa pelo Oscar de melhor filme se aproxime de cinco indicados, a academia deverá oficializar nos próximos anos o realinhamento da disputa com cinco filmes. Contudo, essa regra dos 5% e a não obrigatoriedade de ter dez filmes na disputa tornam o Oscar muito mais justo. Bem sabemos que houve anos em que muitos filmes fizeram por merecer uma sexta vaga. Há muitos exemplos recentes. Em 2008, último ano com cinco concorrentes, produções como Foi apenas um sonho, Gran Torino e Batman – o cavaleiro das trevas ficaram de fora da disputa por melhor filme. Dificilmente ficariam se essa regra já estivesse em vigor. No ano anterior ocorreu o mesmo com filmes badalados como Jogos do poder, Antes que o diabo saiba que você está morto e Na natureza selvagem.
O mais justo que se pode fazer é deixar que a qualidade dos filmes dite o número de concorrentes dentro de um parâmetro como o atualmente estabelecido (de 5 a 10). Ademais, injustiças sempre irão haver. A ideia é diminuir o espaço para que elas aconteçam. De qualquer ângulo que se veja, as novas medidas vêm cumprir essa função.

Tira- teima







O marketing











sábado, 25 de junho de 2011

Cantinho do DVD

Robert De Niro é, mais uma vez, o astro de um filme escolhido para destaque de Cantinho do DVD. Em Estão todos bem, refilmagem do italiano Estamos todos bem, o ator vive o patriarca de uma família que precisa se reconectar. É por meio de seu personagem que esse processo terá início. De ritmo calmo e com boas intenções, o filme é uma ótima pedida para um fim de semana em família.



Crítica

Se há dois subgêneros caros ao cinema mainstream hollywoodiano são o filme família e o feel good movie. Dois exemplares que costumam pipocar nos cinemas em época de festas natalinas e de ação de graças. É o caso de Estão todos bem (Everybody´s fine, EUA 2009). A fita de Kirk Jones é um competente remake de um agradável filme italiano dirigido por Giuseppe Tornatorre em que um envelhecido Marcello Mastroianni cruza a Itália para visitar seus filhos após esses cancelarem a visita que lhe fariam. Estamos todos bem, o filme italiano, talvez seja mais sugestivo do que sua contraparte americana, mas a ideia de trocar Mastroianni por Robert De Niro, por si só, já é suficientemente curiosa.
Estão todos bem se constrói em cima do carisma de De Niro. E o faz sem comedimento. O ator, presente em quase todas as cenas, é o marcapasso das emoções que o filme suscita. Aqueles que são pais, avós, ou mesmo filhos crescidos receberão esse carinhoso filme com mais disposição. Isso justifica a opção pelo lançamento em datas mais festivas e familiares.
A história de Estão todos bem é a mesma do original. Viúvo, Frank (De Niro), precisa reaprender a se relacionar com seus filhos – todos as voltas com os espinhos da vida. Após uma mal sucedida tentativa de reuni-los em sua casa, Frank parte ao encontro dos rebentos na tentativa de descobrir se seus filhos são felizes. O pai, que se relacionava com eles através da mãe, não saberia dizer.
Estão todos bem, nessa lógica emocional, apresenta pelo menos uma cena espetacular. Quando converge o momento da redenção de todos os personagens e na qual De Niro brilha intensamente. O espectador saberá de qual cena se trata tão logo avistá-la.
A fita de Kirk Jones não é nada de fora de série, mas é aquele tipo de entretenimento impossível de desgostar. Bem feito, com atores de bom trânsito e um tema que facilita a identificação com a platéia.

Crítica - Meia noite em Paris

Paris sob chuva!


Meia noite em Paris (Midnight in Paris, FRA/ING 2011) é daqueles filmes que tocam o íntimo do espectador. E o faz por ser agradável, inteligente e, mais do que qualquer coisa, pertinente. Com a história de Gil (Owen Wilson), um roteirista de Hollywood enamorado de Paris e do ideário que cerca a cidade, Allen atenta para a importância da fantasia e, de maneira concomitante, adverte que é preciso estar com os dois pés no presente. Saber saborear a vida no que ela nos provê. É preciso apontar que o grande trunfo de Meia noite em Paris, esse filme tão apaixonante e climático, é abraçar essas duas causas sem fazer com que uma anule a outra.
Toda a mise-en-scène remete a um típico filme de Woody Allen e aqui ele dialoga com sua própria obra. A referência mais óbvia é A rosa púrpura do Cairo, ótimo filme de 1985 em que os personagens de um filme ganhavam vida e interagiam com Mia Farrow, mas outras produções surgem na memória do cinéfilo. A declaração de amor que Gil faz à Paris com Adriana (Marion Cottilard) como confidente parece tirada de Manhattan (1979). Woody Allen foi a Paris para se inspirar. Se Carla Bruni surge discreta como musa, Allen se permite reimaginar angústias e picardias de alguns dos seus musos inspiradores (a sugestão que Gil dá a Luis Buñuel para um filme é daqueles momentos que fazem o cinema se tornar algo maior).
Meia noite em Paris vai se construindo sobre cenas memoráveis (como quando Gil corrige o pedante Paul sobre a inspiração de Pablo Picasso para um quadro) e sobre fragmentos de nostalgia de seu diretor. Para embarcar nessa experiência proposta por Allen é preciso estar disposto a se deixar maravilhar pela digressão que se avoluma quando os sinos tocam meia noite em Paris.
Em seu 48º filme, Allen se apresenta mais sentimental, menos irônico, mas não menos cínico. A esnobe noiva de Gil (vivida com gosto por Rachel McAdams) e sua família, e mesmo o intragável Paul de Michael Sheen, não deixam de ser representações de uma sociedade divorciada do romantismo que extravasa em Gil – o sujeito que se regozija com a possibilidade de chuva em Paris.
Meia noite em Paris quer ser esse passeio em Paris sob chuva. Melhor publicidade para a cidade e terapia para o nostálgico não há. Resta saber se o leitor se importa de se molhar?

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Claquete documenta - Quebrando o tabu

Antes de se posicionar contra ou favor da descriminalização do uso da maconha, ou mesmo de sua legalização, é preciso louvar um documentário que se propõe a debater a ética de uma guerra contra as drogas e avaliar, ainda que sob uma perspectiva bastante parcial, seus efeitos. Quebrando o tabu representa um marco evolutivo na carreira do cineasta Fernando Grostein Andrade, que às vésperas de completar 30 anos, promove uma sacudida daquelas no gênero documentário no cinema nacional. Não que Quebrando o tabu e Coração vagabundo, filme de 2009 que acompanhava Caetano Veloso em turnê, sejam obras que rompam esteticamente com cânones do cinema ou que se insurjam contra paradigmas narrativos. Os filmes se encaixam dentro de um esquematismo didático disponível em qualquer manual de roteiro. Mas em compensação, transbordam coragem, poesia e efervescência.



Grostein inicia Quebrando o tabu apresentando seu principal personagem: Fernando Henrique Cardoso. O ex-presidente e sociólogo colaborou com Grostein na confecção do argumento do longa. FHC surge como um questionador que já tem uma certeza. A guerra contra as drogas faliu. É preciso, segundo suas ilações, rever medidas e posturas. O filme acompanha a jornada de FHC em busca de embasamento para uma tese que o filme já defende de pronto - e a bem sacada animação que dá início à fita não faz questão de esconder esse fato. Essa aparente arrogância (os macacos bêbados ao som da potente trilha sonora de 2001: uma odisséia no espaço dão vez ao letreiro do filme) cede espaço a uma construção ideológica bem arquitetada por meio de depoimentos precisos de valiosos cabos eleitorais como os ex-presidentes americanos Bill Clinton e Jimmy Carter, o médico Drauzio Varela e autoridades sanitárias e políticas da Suíça e Holanda.
Quebrando o tabu, no entanto, não se desvia de argumentos antigos dos defensores da legalização da maconha. Contudo, ao sublinhar a hipocrisia e leniência dos governos em relação ao álcool e ao tabaco, o filme atinge seu melhor momento. A ideia de mudar a política de combate às drogas é pontual e itinerante. Mas cercá-la de demandas pouco substanciais – como dar voz a usuários que admitem preferir se arriscar no trato com o traficante do que respeitar a lei – enfraquecem a discussão em seu traçado mais humanitário, reforçando seu viés ideológico.
Quebrando o tabu arranha questões interessantes. Ao abordar as bem sucedidas intervenções dos governos de Portugal, Suíça e Holanda na questão das drogas, o filme dá um passo à frente a seus opositores. Sugere que a famigerada guerra contra as drogas perde de vista a questão da saúde pública e o impacto positivo passível de efeito mediante uma mudança de abordagem. Mas o filme ignora que a simples legalização da maconha não representa o fim do tráfico de drogas como conceito. Não só pelo fato de que outras drogas proibidas continuarão em oferta (e muito provavelmente mais ampla e barata), como que outras vias de acesso à maconha se viabilizarão.

Na parte superior, o diretor Fernando Grostein e o ex-presidente FHC promovem Quebrando o tabu; na parte inferior o ex-presidente americano Bill Clinton sugere, em entrevista que compõe o filme, que a comunidade internacional precisa rever sua política de combate às drogas


Os prós e os contras não tiram o mérito de Quebrando o tabu; pelo contrário, os reafirma. Incidir sobre uma questão tão polêmica e revestida de ideologias tão proativas é um serviço à sociedade. Em um mundo em que Michael Moore subverte verdades a seus caprichos, não dá para dizer que Grostein erra ao defender tão veementemente a legalização da maconha. É uma postura corajosa que precisa ser respeitada e discutida dentro do jogo democrático que o cinema conclama. Quebrando o tabu pode até soar ingênuo de enxergar um país melhor do que o Brasil demonstra ter vocação. Os exemplos buscados na Europa não convenceram um importante interlocutor do filme; um coordenador de um programa social desenvolvido pelo AfroReggae disse em determinado momento à FHC que não vê o país suficientemente maduro para legalizar a maconha. Quebrando o tabu faz parte desse processo de amadurecimento. Justamente por isso, com seus erros e seus acertos, além de bem vindo, é muito importante.

terça-feira, 21 de junho de 2011

Questões cinematográficas - A homogeneidade da crítica de cinema e esterilização da análise fílmica

Recentemente, o exercício da crítica de cinema vem sendo bastante questionado. Tanto internamente quanto externamente. O primeiro impacto na credibilidade da crítica surgiu com o advento da internet, agora - na era das redes sociais - a crítica de maneira geral, e a de cinema em particular, padronizam-se perigosamente.
Foi com a eclosão do movimento de cinema chamado Nouvelle vague na França – que consagrava o cinema de autor – que a crítica ganhou status e relevância histórica. Antes dessa virada, era uma atividade que interessava apenas a intelectuais e não reverberava a contento. Depois, apesar de predominar entre intelectuais, desbravou fronteiras sociais e culturais a reboque do cinema hollywoodiano.
A atividade crítica é regida pelo interesse em problematizar a obra. Em apontar suas virtudes, seus equívocos, mas antes disso, direcionar o olhar do espectador. Prover contexto histórico, cultural e cinematográfico ao interlocutor. Sim, pois há uma troca. O leitor busca a crítica à procura de contexto, complementação e, invariavelmente, aprovação. Muito em virtude disso, há leitores que subjulgam sua ida ao cinema ao olhar de determinado crítico. Essa é a razão pela qual muitos críticos melhoram a experiência de se ver determinado filme, por induzir o leitor a refleti-lo fora do espectro delimitado pelo cineasta. É uma atividade rica e de caráter complexo.
Essa complexidade foi se soltando conforme o dinamismo da internet foi se estabelecendo. Essa é uma linha temporal válida para o fim que se propõe esse artigo: radiografar a atividade da crítica em sua contemporaneidade.

 Capa da edição de julho da revista de cinema mais prestigiada do mundo, a britânica Empire: muito cinema e muita informação, zero em crítica


Ser crítico pressupõe vasta bagagem cinematográfica, mas também exige formação cultural sólida e rigor na formulação de seu trabalho. É uma equação engenhosa. Críticos de profundo respaldo midiático não se detém a preceitos básicos da função. Deixam-se levar por gostos pessoais, orientações editoriais ou preconceitos que envolvam suas percepções do mundo ou do cinema. Reside aí um ponto de questionamento atual. Não gostar de um filme não o torna necessariamente ruim. É preciso separar as expectativas pessoais daquelas induzidas pela fita em questão. É preciso analisar uma obra cinematografia por sua proposta. Esquivar-se do lugar comum é recomendável, embora desconfortável. Principalmente quando existe uma estafa na atividade, evidenciada no dinamismo da internet. O público em geral, excetua-se desse montante o cinéfilo, acostumou-se muito rapidamente com resenhas que vão pouco além da sinopse do filme. Análises mais embasadas inquietam esse leitor mais voraz e menos atento. Esse ponto de convergência altera o status quo da crítica de cinema. Muitos críticos cedem às demandas de leitores que não se sentem à vontade com análises pormenorizadas, outros resolvem mastigar o filme em explicações técnicas destacando movimentos de câmeras e frequência de cortes na esperança de comunicar-se com a geração Youtube.

Capa da última edição da revista gaúcha Teorema, uma das poucas a privilegiar a boa crítica de cinema


Existe ainda a inexorável tentação de classificar o filme. Pregar-lhe um rótulo. Não que o crítico deva se abster de classificar um filme como bom ou ruim, mas deve evitar fazê-lo unicamente por meio de adjetivos. É importante embasar sua opinião, atentando para as expectativas do público, do cineasta, da produção cinematográfica (quando for o caso) e discorrer a respeito com a ideia primária de promover o debate. Expandir a experiência cinematográfica. Não se vê muito disso hoje em dia. O maior problema, no entanto, é que não se sente muita falta. Pesquisa encomendada pela rede de tv CNN, em 1995, (quando a internet ainda não era uma realidade tão bem desenhada) revelou que 80% do público americano frequentador de cinema lia resenhas antes ou depois de ir ao cinema. A mesma pesquisa revelou que 60% entendiam que a crítica era importante para que um filme fosse completamente digerido. 50% dos entrevistados asseguraram que liam periodicamente determinados críticos. A CNN encomendou recentemente uma nova pesquisa nos mesmos termos. Datada de 2008, a pesquisa revela mudanças de comportamento no público frequentador de cinema. 50% admitem ler regularmente críticas, mas desse montante, 80 % só o fazem depois de assistir o filme. Esse fato revela que o espectador atual busca a crítica como complemento, preferencialmente se gostou muito do filme ou não o entendeu. Essa imagem de apêndice caracteriza uma regressão cultural. A mesma pesquisa mostrou que 70 % dos americanos que vão regularmente ao cinema não se orientam pelo posicionamento da crítica em relação a determinado filme. Isso ajuda a explicar porque um filme tão difamado quanto Se beber não case-parte II se tornou o hit que é e produções tão elogiadas como Guerra ao terror (o vencedor do Oscar de menor bilheteria da história) são pouco vistas.

Cena de Se beber não case - parte II: filme com péssimas críticas e ótima bilheteria


É lógico que há estratégias de marketing, pontos de distribuição e outros fatores que contribuem para esses números tão dispares, mas a instrumentação da crítica não deixa de ser um fator. A mesma pesquisa revelou que a internet é a principal plataforma para acesso à crítica de cinema. Bem sabe o leitor que há muito gato se passando por lebre no mundo do www. Essa condição empobrece a atividade crítica e provoca desinteresse. Não à toa, as redes sociais já despertam mais o interesse dos principais estúdios e executivos de cinema do que famosos críticos como Roger Ebert e A. O Scott nos EUA e Rubens Ewald Filho e Inácio Araújo no Brasil.
A crítica de cinema é uma atividade, em causa e efeito, em decadência no Brasil e no mundo. Há, no Brasil, poucos críticos que se esmeram nos preceitos básicos da atividade e resistam a consternação provocada pela necessidade de audiência. Cássio Starling Carlos e Luiz Zanin Oricchio são dois deles.
A linha editorial de Claquete obedece à mesma diretriz. O blog acredita que a crítica de cinema é vital para o cinema e para o público. Agrega valor cultural à experiência cinematográfica e amadurece o olhar do espectador. O blog veste-se como arauto no combate à esterilização da análise fílmica que se vislumbra no presente. A padronização imposta pela mudança de comportamento do público, pela escassez de qualificação, pela estafa digital e por equívocos estruturais enraizados em uma demanda equivocada deve ser refutada por quem tem no cinema sua base orgânica.

domingo, 19 de junho de 2011

Insight

 A doutrina de Lars Von Trier

Muito já foi dito sobre o dinamarquês Lars Von Trier. Recentemente, a carga foi retomada em virtude da virulenta ação de marketing perpetrada pelo cineasta no último Festival de Cannes. Na ocasião, Von Trier disse que entendia Hitler e que pensava ser judeu para então se descobrir nazista. Uma brincadeira insólita que varreu o mundo com uma indignação que ora se inclinava para o teor da brincadeira, ora para a falta de escrúpulos do cineasta em abster-se dos limites aceitáveis em nome da promoção pessoal.
Coerência, no entanto, é algo que não se pode cobrar do dinamarquês. Ele é um dos fundadores do dogma 95, movimento estético que objetiva romper com as diretrizes do cinema praticado em Hollywood. Von Trier rompeu com o próprio manifesto logo em seu primeiro filme pós-movimento, Ondas do destino (1996). Os idiotas (1998) e Dogville (2003) são as produções do dinamarquês que mais se aproximam do manifesto que ajudou a formular.
Mas fosse coerência o grande problema de Von Trier e as coisas estariam bem. Com forte apreço à publicidade, seus filmes sempre se esmeraram em construções visuais arrebatadoras, Von Trier ficou refém da própria imposição. Superar-se sempre. O próprio admitiu profunda depressão, da qual concebeu – como via terapêutica – o não menos polêmico Anticristo (2009). A crise autoral de Von Trier, como bem sabe o próprio, não é infundada. Seu cinema, como atestam críticos de prestigiadas publicações como The Guardian, Los Angeles Times, Hollywood Reporter, Le Monde e a bíblia do cinema Cahiers du cinema, está mergulhado em profunda regressão. O ponto inicial dessa crise talvez date justamente de 2003, com o lançamento de Dogville; um filme arrojado, instigante, mas que atendia às demandas erradas: mal dizer a América. Von Trier, à época, garantia que iria rodar uma trilogia sobre a América. Uma nação escravagista, competitiva, atroz e dominadora – nas palavras do cineasta. Manderlay (2005) era, em proposta e discurso, uma repetição de mal gosto do original. O fato de nunca ter pisado nos EUA parecia cada vez mais evidente no processo de desconstrução prepotente proposto pelo cineasta. A terceira parte da trilogia, Washington, prometida para 2007, não chegou a ver a luz do dia. Foi aí, segundo o próprio Von Trier, que a depressão o visitou. A crise criativa resultou em AntiCristo, que talvez por reunir seus demônios e imperfeições, seja seu melhor filme. Mas com AntiCristo veio mais um ataque de prepotência. Von Trier se declarou o melhor cineasta do mundo e recusou-se a explicar seu filme – uma experiência sensorial de fazer inveja a Godard.

O diretor entremeado pelos protagonistas de Anticristo, no festival de Cannes de 2009: de queridinho à persona non grata


AntiCristo, e mais do que o filme a polêmica que provoca, valeram um sobre-fôlego ao cineasta dinamarquês. Não dá para cravar que foi esse fator que o levou a exagerar, mais uma vez, nas declarações polêmicas; mas é possível assumir isso como provável. Von Trier sabe se promover. A estética de seu cinema encontra em sua personalidade arrogante e – para alguns – imbecilizada, um componente de transgressão que é facilmente tomado como autoral. Não que não seja, mas o contexto da produção comercial favorece esse deslocamento. Von Trier percebe isso muito facilmente. Hoje ele abastece seu cinema da figura transgressora que representa como cineasta. Fosse um autor na mais correta acepção da palavra e o movimento seria contrário. Essa doutrina um tanto quanto peculiar (que não deixa de ser genial sob o ponto de vista publicitário) lhe valeu admiradores e detratores igualmente apaixonados em seus posicionamentos.
Melacholia, seja bom ou ruim, será um filme menor do que seu diretor. Muito bom para Von Trier, muito ruim para seu filme.

sábado, 18 de junho de 2011

Cantinho do DVD

Jesse Eisenberg está em alta. Indicado ao Oscar de melhor ator por A rede social, escalado para o novo filme de Woody Allen e a principal voz da principal animação do ano até o momento, Rio. Em 2011, Eisenberg ainda poderá ser visto em 30 minutos ou menos. A comédia de ação o reúne ao diretor Ruben Fleischer que o dirigiu em Zumbilândia, destaque de Cantinho do DVD desta semana. Foi nessa fita de 2009 que Eisenberg obteve seu primeiro protagonismo. Com ótimos papéis de coadjuvantes em filmes como A caçada (2007), A lula e a baleia (2005) e A vila (2004), o ator estava esperando uma oportunidade de mostrar seu talento como leading man. Como 2011 está provando, ele a agarrou com unhas e dentes.


Crítica

Muitos são os filmes que abordam o apocalipse como ponto de partida. Orientando-se por essa máxima e subvertendo as prioridades de uma fita de zumbis, Ruben Fleischer rodou uma perola do humor americano que alia clichês de filmes de terror, clichês de filmes de High school e Woody Harrelson. Essa salada se chama Zumbilândia (Zombieland, EUA 2009). O filme aposta na química entre os atores e em um roteiro esmerado no politicamente incorreto.
Os Estados Unidos foram devastados por uma epidemia em que todos se transformaram em zumbis. Columbus (Jesse Eisenberg) mantém –se vivo por seguir rigidamente um conjunto de regras, tão esdrúxulas quanto sérias, que cunhou quando a epidemia se pronunciou. Na estrada, porque cruzar o país é a única coisa que se pode fazer, encontra o amalucado Tallahassee (Woody Harrelson), um tipo que se diverte arregaçando zumbis. Unidos no propósito de não fazer nada juntos, encontram duas irmãs (interpretadas por Emma Stone e Abigail Breslin) que demonstram muito mais cérebro do que eles na hora de elaborar tocaias.
Zumbilândia logo se resolve como esse road movie familiar em que os protagonistas, vez ou outra, precisam atirar em um zumbi ou picá-lo com uma foice. O grande mérito da fita está em não se levar a sério, enumerando piadas que, se não suficientemente fortes, são melhoradas pelos itens da lista de Columbus que surgem na tela para ilustrar o que está acontecendo.
O grande trunfo de Zumbilândia, à parte a graça de ter Woody Harrelson destilando mais um personagem a sua imagem e semelhança iconográfica, é Jesse Eisenberg. O ator se apodera da lógica do humor com timing insuspeito. De porte físico miúdo, Eisenberg sabe trabalhar sua falta de pujança em favor do humor físico, mas se sai melhor ainda quando o fino reside nos diálogos.
Zumbilândia ainda oferece um momento pop de extremo efeito na participação especial de Bill Murray, que interpreta a si próprio: “Seis pessoas sobreviveram e uma delas é Bill Murray”, exclama um entusiasmado Tallahassee. Esse é o espírito de Zumbilândia, um filme que faz do tosco, uma forma de arte.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Panorama - Além da linha vermelha


Depois de um hiato de 20 anos, fazia sentido que Terrence Malick se dedicasse ao acontecimento que redefiniu a história e o rumo da humanidade: a segunda guerra mundial. Muita gente boa quis fazer parte da leitura que Malick faria do evento. Sean Penn, George Clooney, Nick Nolte, Jim Caviezel e Woody Harrelson são alguns deles. Além da linha vermelha (The thin red line, EUA 1998) é o mais próximo de belo e poético que um filme de guerra pode ser. Essa sensação se agiganta por uma curiosidade astrológica. Nesse mesmo ano, Steven Spielberg, um cineasta bem menos contemplativo do que Malick, rodou o seu filme sobre a segunda guerra. O resgate do soldado Ryan – que até melhor do que esse filme – podia ser mais urgente, sentimental e movimentado, mas Além da linha vermelha sobeja nas minúcias. Nos ínterins da guerra. Das amizades forjadas em meio a paradoxos monumentais. Da morte à espreita como convidada indesejada. É um filme de belas imagens, mesmo que essas imagens seja hediondas. Talvez isso as tornasse mais belas. Malick busca na insensatez da guerra, as bifurcações humanas mais improváveis e, justamente por isso, mais ricas para escrutínio no cinema. Não é um filme perfeito. Mas seu impacto provoca reações que não ocultam esse adjetivo da mente do espectador.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Filme em destaque: Meia noite em Paris

Em busca de uma nova obra-prima

Na foto, Woody Allen instrui Carla Bruni, seu primeiro casting para o filme. Com Meia noite em Paris, o diretor americano oxigena sua obra com poesia e nostalgia e Claquete ajuda a entender o por quê 


“Trata-se de um Woody Allen mais sentimental”, avaliou o New York Times em sua resenha para Meia noite em Paris, 48º filme do cineasta americano e o 6º rodado na Europa. O filme, que abriu o festival de Cannes, é – no rótulo mais óbvio – uma declaração de amor de Allen à cidade luz dos apaixonados, Paris. “Só tinha o título do filme. Não sabia o que fazer com ele. Estava apavorado”, admitiu o diretor em entrevista coletiva no último festival de Cannes.
Mas Meia noite em Paris também pode ser descrito como uma ode a nostalgia de um diretor a vontade com seus vícios e suas manias. “A Paris do filme é a Paris que vi nos filmes”, pontuou em entrevista ao Hollywood Reporter. O filme também é uma homenagem a arte. Com menções a Pablo Picasso, Luis Buñuel, Salvador Dalí, F.Scott Fitzgerald e Ernest Hemingway, Allen clama pela cumplicidade da platéia e, mais que isso, por sofisticação e cultura.
“Nunca me considerei um artista”, exclamou para espanto de todos na abertura do festival francês. Na ocasião, o diretor disse que frequentemente somos pegos na armadilha de fantasiar de que viver em outra época seria melhor. Segundo Allen, esse romantismo é inerente ao ser humano. “Todos querem escapar da vida que vivem agora. Mas, se você pensa em tempos passados, você pensa nas coisas maravilhosas. Só que não tinha novocaína, não tinha ar-condicionado, nada das coisas que tornam a vida de hoje tolerável. Parece sedutor, mas é uma armadilha”, afirmou para gargalhadas do público.

Owen Wilson é o alter ego da vez de Woody Allen e, para variar, está em crise... mas está em Paris

Meia noite em Paris tenta capturar essa dicotomia a qual se refere o diretor. É um filme que mergulha na nostalgia para tirar o positivo do presente. Para isso, Woody Allen contou com um elenco dos mais ecléticos e chamativos. Owen Wilson faz Gil, o protagonista. Um roteirista de Hollywood com dificuldades para escrever um romance. Ele viaja com sua namorada (vivida por Rachel McAdams) e a família dela para Paris, esperançoso de que a inspiração lhe encontre. E ela encontra. Não na figura do ex engomadinho de sua namorada (vivido por Michael Sheen), mas em encontros luminosos com esses grandes artistas do passado. Obviamente, também há um luminoso encontro com o amor. Não é com a namorada que pouco parece compreendê-lo, tão pouco com a primeira dama francesa Carla Bruni que, presença ilustre, faz uma ponta como uma guia de museu. O amor resplandece na figura de Adriana (Marion Cottilard).
Allen, no final das contas, parece ter capturado a poesia do título. Em sua fase européia, o cineasta alterna amargura (Você vai conhecer o homem dos seus sonhos), pessimismo (O sonho de Cassandra), paixão (Vick Cristina Barcelona), humor (Scoop – o grande furo) e poesia (Meia noite em Paris), com a desenvoltura de quem busca uma nova obra-prima (a última foi Match point – que marcou o início da temporada na Europa). A cada filme ele parece mais perto.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Em off

Nesta edição de Em off, o Oscar busca surpreender a audiência, um ex-diretor de 007 que anda falando mal da série; a preparação de Brad Pitt para enfrentar zumbis; o conselho que Oliver Stone deu para o protagonista de Transformers; a maior mostra já organizada em homenagem ao mestre do suspense; a Nouvelle Vague invadindo São Paulo e os piores atores de todos os tempos.




Ficou para depois...

A árvore da vida de Terrence Malick será plantada nos cinemas brasileiros apenas em agosto. A Imagem filmes, que detém os direitos da fita aqui no Brasil, remarcou a estréia do filme para o dia 12 de agosto. Não houve justificativa oficial para o adiamento do vencedor da Palma de ouro – que estrearia no dia 24 de junho nas salas brasileiras.
 Em virtude do súbito adiamento, a mostra Panorama do blog – que analisaria a obra sob a perspectiva da filmografia de Malick – ficará desfalcada. Ainda essa semana será publicado o artigo sobre Além da linha vermelha e na semana que vem sobre O novo mundo. A última semana de junho, que destacaria A árvore da vida, não terá o destaque da mostra. Em agosto, ainda que o contemplado por Panorama seja outro cineasta, o filme será elencado na mostra.



Em busca do elemento surpresa

A Academia de Arte e Ciências Cinematográficas de Hollywood (AMPAS) , como de costume, anunciou o saldo da reunião do comitê diretivo da instituição. Todo ano, esse conselho deliberativo promove algumas mudanças. Em 2011, a mudança foi mais profunda e objetiva recuperar um pouco do legado da Academia, manchado com a inclusão de obras discutíveis entre os dez indicados a melhor filme em 2010 e 2011.
Ficou resolvido que em 2012 a categoria principal (a de melhor filme) poderá ter entre 5 e dez indicados. E que só será sabido o número exato dos concorrentes no momento do anúncio dos indicados. "Uma indicação para melhor filme deve ser prova de um mérito extraordinário. Se só houver oito filmes que realmente mereçam esta honra em um determinado ano, não devemos nos sentir na obrigação de arredondar o número", explicou Bruce Davis, diretor-executivo da Academia, em comunicado de imprensa.
O presidente da instituição, Tom Sherak, explicou que para garantir o direito de se indicado a melhor filme, uma fita terá que ostentar a preferência em pelo menos 5% dos votos dos acadêmicos. Sherak admitiu que a medida também tem o objetivo de incrementar o impacto do anúncio dos indicados, acrescentando um elemento surpresa.

O presidente da Academia, Tom Sherak: surpresa e mérito são as ordens do dia...


Outras mudanças
A academia anunciou que os indicados a melhores efeitos especiais também podem aumentar. Poderão ser de 3 a 10, dependendo das notas atribuídas aos efeitos nas fases prévias de análise. As categorias de documentário, curta-metragem e animação também tiveram flexibilização determinada em virtude do número de candidatos inscritos.


Saldo positivo
A ideia de meritocracia é louvável e deve mesmo nortear as decisões da Academia. A tendência é de que em anos extraordinários, o número de indicados ao Oscar de melhor filme se aproxime de dez, no entanto, em linhas gerais, deve girar em torno de sete. A seção Insight do dia 26 de junho irá repercutir essas novas diretrizes do Oscar.



Bafo de mulher traída!
Martin Campbell é um dos poucos diretores que já dirigiu mais de um filme de James Bond na contemporaneidade. Foi chamado para dirigir a estréia de Pierce Brosnan na série (007 contra goldeneye, de 1995) e para o reboot em 2006 com Daniel Graig como Bond. Após conseguir as melhores críticas e a melhor bilheteria da série com Cassino Royale, Campbell dirigiu O fim da escuridão (ótimo thriller policial com Mel Gibson) e Lanterna verde, adaptação de HQ que pinta nos cinemas americanos nesse final de semana. Foi durante a premiere deste último filme que Campbell resolveu defenestrar Quantum of Solace – o filme que deu sequência às aventuras de 007. “Foi uma porcaria. A história não era muito interessante e a ação não fazia jus aos personagens”, opinou. Campbell, que teve que lidar com uma série de intervenções do estúdio em seu Lanterna verde e que amealha críticas negativas, se disse esperançoso com o trabalho de Sam Mendes – o diretor escalado para a vigésima terceira aparição de James bond no cinema.



Os melhores piores...
A cultura pop pode ser cruel. Prova disso foi a análise feita pelo site Slate, com base no banco de dados do site Rotten tomatoes (que agrega críticas e cotações sobre filmes). A ideia era aferir o pior ator e a pior atriz da história do cinema. Chuck Norris e Jennifer Love Hewitt obtiveram a distinção. O leitor, para incrementar o componente de crueldade da cultura pop, pode argumentar de que era desnecessário proceder tal pesquisa para obter tal resultado. Pura maldade!


 A beleza de Jennifer Love Hewitt não põe mesa segundo apurou o site Slate 



Os mandamentos de Oliver Stone
Ao que parece, Shia LaBeouf ouviu bem Oliver Stone. Durante a campanha de divulgação de Wall street – o dinheiro nunca dorme, filme em que Stone dirigiu Shia, o diretor afirmou que estava na hora de Shia parar de brincar de robô (em referência a série de filmes Transformers) e começar a se engajar em projetos mais sérios (em alusão ao próprio Wall street). Todos riram e anuíram com a ótima frase de efeito. Shia, como é de conhecimento público, já estava envolvido com o terceiro Transformers – que estréia no dia 1º de julho.
Agora, às vésperas do lançamento, o ator afirmou em entrevista a MTV americana que “Transformers – o lado oculto da lua” marca sua última participação na série. “Aposto que o estúdio, com o sucesso que vem tendo, irá continuar. Mas meu ciclo acaba com este filme”, afirmou na ocasião.



Brad Pitt contra zumbis

A produção de World War of Z deve começar dentro de alguns meses na Escócia. A fita, uma produção da Plan B (produtora de Brad Pitt), foi orçada em U$ 130 milhões. O filme acompanha a saga de um emissário da ONU que viaja coletando depoimentos de humanos que sobreviveram a um holocausto zumbi. O projeto já esteve associado a Paramount e atualmente não há nenhum acordo de distribuição fixado. Mas com Brad Pittt a frente do elenco, com direção do franco suíço Marc Foster e roteiro do cultuado J. Michael Straczynski isso não deve ser um problema. Recentemente, foi divulgado que Ed Harris e Matthew Fox iniciaram negociações para integrarem o elenco. O filme é baseado na obra homônima de Max Brooks (Word War of Z: na oral history of zombie war). Começou como um projeto maldito e vai ganhando forma hypada...



Hitch em São Paulo
Os cinéfilos paulistanos poderão se deleitar nas próximas semanas. Entre os dias 15 e 24 de junho será realizada a mais completa Mostra sobre Alfred Hitchcock no país. Serão exibidos 54 longa-metragens em película e mais DVDs de filmes rodados nos anos 20 e 127 episódios da série Alfred Hitchcock presents. Também estão programados exibições de curta-metragens, debates e cursos.
A Mostra acontece no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), cujo endereço é rua Álvares Penteado,112 (próximo às estações Sé e São Bento do metrô).
O CineSesc já exibe uma palhinha do que começa a ferver a partir de hoje em São Paulo. Amanhã, às 19h30min, o crítico de cinema Inácio Araújo e o cineasta José Mojica Marins estarão no CCBB para responder a seguinte pergunta: Era Hitch, um cineasta moderno?
A programação completa, com dias e horários das sessões, pode ser conferida no site do evento (www.mostrahitchcock.com.br).



Sempre um charme
E já que o assunto é cinema em seu mais alto nível, outra opção para os cinéfilos paulistanos é a mostra que o Sesc Interlagos promove sobre o cinema francês entre os dias 17 e 24 de junho. O tema é 1959: o ano mágico do cinema francês. A seleção recupera filmes do período de efervescência da cinematografia daquele país que foi batizado de Nouvelle Vague. A mostra destacará os filmes Hiroshima, meu amor, de Alan Resnais (17/4, às 15h); Acossado, de Jean-Luc Godard (18/4, às 15h); Os incompreendidos, de François Truffaut (19/6, às 15h); Quem matou Leda?, de Claude Chabrol (23/6, às 15h); Pickpocket, de Robert Bresson (24/6, às 15h).
O preço dos ingressos é de R$ 3. O endereço do Sesc Interlagos é avenida Manoel Alves Soares, 1.100, Parque Colonial.

terça-feira, 14 de junho de 2011

Momento Claquete # 16

Mel Gibson, em foto recente e com sorriso desconcertado, é o dono da melhor atuação do ano até o momento por Um novo despetar. A seção Insight que desmonta uma conspiração velada contra o ex-astro de Hollywood é o post mais lido do blog nesse mês de junho. Não deixe de ler A paixão de Cristo e o cerco a Mel Gibson 


Jennifer Aniston, que apesar dos boatos segue solteira, estrela campanha publicitária de uma marca de água mineral nos EUA 

Angelina Jolie posa para campanha da Luis Vuitton no Camboja. Embora não tenha sido divulgado o valor do cachê, foi divulgado que ele foi doado para instituições de caridade


Enquanto isso, papai Brad leva os pimpolhos para a escola... 


Foi liberado nessa semana um poster teaser do aguardadíssimo Os vingadores. Não precisa falar mais nada...


O elenco original se reune para American pie - a reunião, nova sequência (a quarta oficial) da série iniciada em 1999. A previsão de estréia do filme é para abril de 2012 


Um dos posters da quarta temporada da elogiada True Blood da HBO. A série retorna em 26 de junho nos EUA. No Brasil, o novo ano da série criada por Alan Ball deve chegar no mês seguinte 


Hugh Jackman e Neil Patrick Harris fazem um número musical na entrega dos prêmios Tony, realizada no último domingo (12). Ambos já apresentaram a cerimônia e já foram premiados (Harris apresentou pela segunda vez em 2011). A brincadeira era sobre a rivalidade entre ambos... 


"War Horse" foi a peça vencedora do grande prêmio da noite, mas Daniel Radcliffe - que não foi indicado por seu papel em "How to succeed in business without really trying" - dominou as atenções. O numero musical do espetáculo, que concorria ao Tony, foi o mais ovacionado e comentado da noite