quinta-feira, 16 de junho de 2011

Filme em destaque: Meia noite em Paris

Em busca de uma nova obra-prima

Na foto, Woody Allen instrui Carla Bruni, seu primeiro casting para o filme. Com Meia noite em Paris, o diretor americano oxigena sua obra com poesia e nostalgia e Claquete ajuda a entender o por quê 


“Trata-se de um Woody Allen mais sentimental”, avaliou o New York Times em sua resenha para Meia noite em Paris, 48º filme do cineasta americano e o 6º rodado na Europa. O filme, que abriu o festival de Cannes, é – no rótulo mais óbvio – uma declaração de amor de Allen à cidade luz dos apaixonados, Paris. “Só tinha o título do filme. Não sabia o que fazer com ele. Estava apavorado”, admitiu o diretor em entrevista coletiva no último festival de Cannes.
Mas Meia noite em Paris também pode ser descrito como uma ode a nostalgia de um diretor a vontade com seus vícios e suas manias. “A Paris do filme é a Paris que vi nos filmes”, pontuou em entrevista ao Hollywood Reporter. O filme também é uma homenagem a arte. Com menções a Pablo Picasso, Luis Buñuel, Salvador Dalí, F.Scott Fitzgerald e Ernest Hemingway, Allen clama pela cumplicidade da platéia e, mais que isso, por sofisticação e cultura.
“Nunca me considerei um artista”, exclamou para espanto de todos na abertura do festival francês. Na ocasião, o diretor disse que frequentemente somos pegos na armadilha de fantasiar de que viver em outra época seria melhor. Segundo Allen, esse romantismo é inerente ao ser humano. “Todos querem escapar da vida que vivem agora. Mas, se você pensa em tempos passados, você pensa nas coisas maravilhosas. Só que não tinha novocaína, não tinha ar-condicionado, nada das coisas que tornam a vida de hoje tolerável. Parece sedutor, mas é uma armadilha”, afirmou para gargalhadas do público.

Owen Wilson é o alter ego da vez de Woody Allen e, para variar, está em crise... mas está em Paris

Meia noite em Paris tenta capturar essa dicotomia a qual se refere o diretor. É um filme que mergulha na nostalgia para tirar o positivo do presente. Para isso, Woody Allen contou com um elenco dos mais ecléticos e chamativos. Owen Wilson faz Gil, o protagonista. Um roteirista de Hollywood com dificuldades para escrever um romance. Ele viaja com sua namorada (vivida por Rachel McAdams) e a família dela para Paris, esperançoso de que a inspiração lhe encontre. E ela encontra. Não na figura do ex engomadinho de sua namorada (vivido por Michael Sheen), mas em encontros luminosos com esses grandes artistas do passado. Obviamente, também há um luminoso encontro com o amor. Não é com a namorada que pouco parece compreendê-lo, tão pouco com a primeira dama francesa Carla Bruni que, presença ilustre, faz uma ponta como uma guia de museu. O amor resplandece na figura de Adriana (Marion Cottilard).
Allen, no final das contas, parece ter capturado a poesia do título. Em sua fase européia, o cineasta alterna amargura (Você vai conhecer o homem dos seus sonhos), pessimismo (O sonho de Cassandra), paixão (Vick Cristina Barcelona), humor (Scoop – o grande furo) e poesia (Meia noite em Paris), com a desenvoltura de quem busca uma nova obra-prima (a última foi Match point – que marcou o início da temporada na Europa). A cada filme ele parece mais perto.

10 comentários:

  1. Olha, eu me surpreendi com Match point, mas desde A Rosa Púrpura do Cairo não me divertia tanto com um roteiro inteligente de Allen. Adorei. E nem sou das mais entusiasta com a cidade luz, mas nesse filme ela nos parece mesmo encantadora.

    Belo destaque, Reinaldo.

    bjs

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  2. Pelo visto é um bom filme de Allen. Estou na expectativa!

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  3. Parece ser interessante!

    http://filme-do-dia.blogspot.com/

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  4. Dizem que este filme é o melhor de Allen em muito tempo.
    Emocionante, inteligente e de bem com a vida.
    Valeu a dica.

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  5. Pontual crítica Reinaldo, apesar de não gostar (mas nem um pouco) do Owen Wilson, o filme tem toda essa nostalgia do autor, arte, amor, humor etc. Allen é igual a vinho mesmo!

    Match Point foi a amargura, se Meia Noite em Paris é a poesia. Mesmo assim, a Europa parece um personagem das terras da América de Allen. Mas a Paris tem a sua personalidade. Tenho que rever mais uma vez!

    Abs.
    Rodrigo

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  6. Adorei a amarração do texto, citando as últimas obras do diretor. Fato é que ninguém segura Allen em seus momentos de criatividade. O cara é um mestre. Confesso que estava um pouco descrente de "Meia-noite em Paris" até pelo elenco um pouquinho apagado, mas acho lindo a rasgação de seda em coro para uma nova obra do cara. Eu, que não estava em Cannes, ri lendo seu texto de que muitas pessoas fantasiam em viver em outros tempos rs. Sou um deles.

    Ótimo artigo, Reinaldo.

    e essa foto da Marion dando um trago já está roubada. Essa é uma daquelas fotos que vão se tornar raras e 40 anos depois, vão aparecer nesses portfólios perdidos rsrs.


    abração!

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  7. Faz tempo que Woody Allen não me surpreende e, sinceramente, já estou cansado de todo ano ver mais um filme normal dele. Minha única curiosidade em relação a esse "Meia-Noite em Paris" é Marion Cotillard, uma atriz que ADORO!

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  8. Amanda: Obrigado Amanda. E quem não gosta de fantasiar com Paris né? rsrs. Bjs

    Alan: Vc vai gostar! Abs

    Kahlil Affonso: E é!Abs

    Jacques: O pessoal diz isso a todo novo filme... ainda fico com Matcho point, mas esse é ótimo.
    Abs

    Rodrigo Mendes: Valeu Rodrigo. Paris tem sua personalidade e Allen soube dosar bem isso. A crítica do filme eu publico ainda essa semana.
    Abs

    Elton: Ah Marion...rsrs. Valeu Elton! Grato em ser útil no caso da foto...
    Abs

    Matheus Pannebecker: "Filme normal dele". Tenho dificuldade de entender esse conceito. Concordo que a expectativa é sempre de um trabalho arrebatador, mas o próprio Allen faz questão de desmontar essa expectativa, sem falsa modéstia, em cada entrevista...
    Abs

    PS: e quem que gosta de cinema não adora Marion Cotillard?

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  9. Então, esse foi o único filme do Allen depois de "Hanna e suas irmãs" que eu fiquei com vontade de comprar. O filme é divertido, bem sacado e tem um Hemingway que me faria reler toda a obra do famoso escritor numa tarde, rsrsrs Acho que vc tem razão: ele está cada vez mais perto de fazer mais uma obra-prima.
    Nem preciso dizer que amei seu texto, né?

    Beijos

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  10. Aline: Obrigado Aline. Pois é, esse filme é tão vigoroso e agradável que é compreensível esse nosso entusiasmo...
    Bjs

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