domingo, 5 de junho de 2011

Insight

A paixão de Cristo e o cerco a Mel Gibson


Mel Gibson está em crise. E bem sabe o leitor que não é de hoje. Afastado das telas desde 2003 – por vontade própria, diga-se – o ator ensaiou um retorno no ano passado com o policial O fim da escuridão. Apesar de ser um ótimo filme, O fim da escuridão teve desempenho apenas mediano nas bilheterias. Entre Sinais (último filme em que foi protagonista) e a fita dirigida por Martin Campbell passaram-se 8 anos. Nesse período, Gibson descasou-se da mulher com quem tem sete filhos, Roby Moore, e engatou uma relação séria com a russa Oksana Grigorieva- uma aspirante à cantora. Ter se divorciado foi um baque para o católico fervoroso Gibson – para não dizer que foi uma contradição menor.
Alguns anos antes ele foi preso por dirigir embriagado e proferiu um sem número de ofensas – muitas de teor anti-semita – aos oficiais que efetuaram a prisão. Foi um escândalo à época. Ano passado, a vida conjugal do ator foi posta no microscópio. Vazaram fitas dele ameaçando fisicamente Grigorieva. Ela prestou queixa de agressão física e a separação virou pauta dos tribunais de Los Angeles e das revistas de fofoca. Recentemente um acordo foi fixado, no qual Gibson se declarou culpado das acusações, e foi fixada uma indenização para o ator pagar a Grigorieva. Esse acordo visa o fim desse polêmico caso que tanto desgastou a imagem do outrora galã hollywoodiano. As fitas foram modificadas (como comprovou perícias independentes contratadas pelo departamento de polícia de Los Angeles), Grigorieva passa longe de ser uma donzela inocente e Gibson, como qualquer outra pessoa, tem seus momentos de insanidade em uma relação amorosa.
Contudo, o linchamento moral e midiático ao qual está sendo submetido, embora esteja intrinsecamente relacionado a essas questões, não se deve exclusivamente a elas.

Logo após o fim do casamento de mais de 15 anos, Gibson mergulhou em uma espiral de álcool e contradições, como mostra esse flagrante da revista semana In Touch


Sucesso e repúdio
Para entender por que Gibson é persona non grata atualmente é preciso voltar a 2004 – aquela época em que saiu a esculhambar judeus quando embriagado. Em 2003, após participar do filme Loucuras de um detetive, o ator externou o desejo de se dedicar à direção. Foram dois projetos megalomaníacos. A paixão de Cristo (2004) e Apocalypto (2006). Foi o primeiro que representou o início da saga faustiana de Gibson em Hollywood.
Como bem se sabe, a Meca do cinema é controlada pelos judeus e foi a eles que Gibson afrontou com seu filme. Nenhum estúdio quis bancar um filme que, ainda que não explicitamente, colocava os judeus como os vilões do maior crime da história da humanidade: a morte e o flagelo de Cristo. Mel Gibson – que rodou seu filme a partir de uma interpretação literal da Bíblia católica – resolveu peitar o establishment e bancar o filme sozinho. Foram quase U$ 30 milhões de dólares de seu próprio bolso (nenhum sacrifício para quem ganhava U$ 20 milhões por filme desde Maquina mortífera 4, de 1998). Abastecido pela polêmica e por desautorizações e congratulações (o Vaticano chegou a emitir um comunicado dizendo que o filme era a mais fiel representação do que ocorreu com Cristo fora da Bíblia, para depois publicar – visivelmente por pressão política – outra nota retratando-se), A paixão de Cristo faturou mais de U$ 800 milhões no mundo inteiro. Dividiu a crítica e, pelo sucesso (ainda hoje a maior arrecadação de um filme independente) sacramentou o destino de exilado de Gibson. Ele não seria mais bem vindo em Hollywood.
Mel Gibson e seu Cristo nos sets de A paixão de Cristo: Jim Caviezel, que também encontrou muitas portas fechadas depois de participar do filme, demonstrou arrependimento de ter participado da fita em entrevistas recentes. "Mel é um cara com muitos demônios", afirmou para deleite de revistas sensacionalistas



Ego e conduta
E o ator, que já é dono de uma personalidade difícil, parece não ter assimilado muito bem seu novo status. Seu filme seguinte, Apocalypto não obteve a mesma repercussão. No entanto, o ego de Gibson não parece ter digerido bem os sinais. O alcoolismo voltou a fazer sombra e a mídia alinhada aos magnatas da indústria cercava Gibson com malícia, à espreita de sua próxima incorreção.
Não deixa de ser uma teoria, mas um ator que sempre foi charlatão – e era adorado por causa disso – não deixa de ser prestigiado por alguns deslizes em sua trajetória pessoal. O mainstream não funciona assim. Kobe Brynt estuprou uma mulher e continua vendendo camisas.
Pesquisa recente aferiu que o público americano não deixaria de ver um filme estrelado pelo ator em virtude dos recentes, e dos não tão recentes, escândalos envolvendo seu nome. Mas o problema é arranjar trabalho. Há muitas portas fechadas para ele. Ficou célebre o desconvite para a ponta que faria no filme Se beber não case – parte II. Esse corporativismo do ressentimento é uma coisa bem peculiar. Um novo despertar, que foi rodado antes de todo esse estorvo com a ex-namorada russa, é uma produção independente que Gibson integra porque foi chamado pela amiga Jodie Foster.
Mel Gibson mexeu com as pessoas erradas e sofre do ostracismo que ajudou a erguer.
Fosse o tipo da conduta ilibada, não estaria vivendo esse revés profissional e pessoal, mas se fosse o tipo da conduta ilibada, não seria Mel Gibson.

5 comentários:

  1. É, Mel Gibson se tornou o ícone da polêmica, mas parece que procurou todas as pedras que lhe jogaram. Eu sempre acho uma pena quando atitudes pessoais interferem nos filmes. Afinal, é um bom ator e um bom diretor, talento não lhe falta. Mas, tem atitudes que são mesmo difíceis de aceitar.

    Quanto a Paixão de Cristo, sim, ele mexeu com os donos do dinheiro. Mas, independente da discussão anti-semita ou não, apesar de muito bem realizado, o filme é de mau gosto. Em minha opinião, resumir-se ao à paixão de Cristo acaba indo contra a Sua mensagem.

    bjs

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  2. Reinaldo, matou a pau aqui: "Mel Gibson mexeu com as pessoas erradas e sofre do ostracismo que ajudou a erguer".

    Mel Gibson é, atualmente, o mais expressivo de diversos exemplos que atestam como Hollywood é ingrata aos seus astros. Não defendo a covardia do ator e diretor, pois sua crise tem justificativa, o cara foi/é um imbecil! Mas também é dose receber um tratamento tão injusto como o da indústria cinematográfica, que parece cuspir Gibson. Em Cannes, achei que Foster foi muito brava em dizer q nao escalaria outro ator para protagonizar seu filme, mesmo após o escândalo. Pelo que sei, "Um Novo Despertar" tem uma excelente atuação do ator. Isso, ele está em débito faz tempinho. Estou no aguardo e desejo tempos melhores a ele.


    abs!

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  3. Nossa, Rei, gostei mesmo da sua análise! Pelo visto Mel vai ser tornar uma espécie de Wilson Simonal americano. É triste, mas parece inevitável, né?

    Beijos

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  4. Amanda: É... Mel Gibson é um ego difícil como tantos outros em uma indústria que se alimenta deles. O que ocorre é que ele se queimou com esse filme. Simples assim. Concordo que A paixão de Cristo seja forte. Não o acho de mau gosto. Acho que toda a polêmica que se deu sobre ele foi gratuita...
    bjs

    Elton: Mais uma excelente ponderação meu amigo.
    Abs

    Aline: Pois é. Acho difícil que ele recupere o sucesso... poderá haver lampejos, mas o real deal nunca mais...
    Bjs

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  5. Affs cala a boca seus idiotas kkkk

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