Foi uma semana agitada para quem respira cinema. Enquanto a batalha nas bilheterias é dos blockbusters Harry Potter e Capitão América, o cinema de arte e se alvoroça com os lançamentos do outono no hemisfério norte. A nata desses lançamentos está selecionada para os dois principais festivais de cinema do período: Veneza e Toronto. Essas são as plataformas primais para quem objetiva figurar na lista de oscarizáveis. Veneza, que chega a sua 68ª edição, divulgou nesta quinta-feira (28) os 21 filmes que irão disputar o leão de ouro a ser outorgado pelo júri presidido pelo cineasta Darren Aronofsky. O mais antigo festival de cinema do mundo ainda irá apresentar um 22º filme para a competição durante a realização do evento. A pegadinha se tornou praxe em Veneza nos últimos três anos.
Muitos dos filmes que estarão em Veneza também serão exibidos em Toronto, um festival cujo único prêmio é concedido pelo público, mas onde imperam verdadeiros balcões de negócios.
No grupo que joga nos dois times estão The ides of March, de George Clooney, W.E, de Madonna, Dark horse, de Todd Solondz e A dangerous Method, de David Cronenberg. O filme de Clooney merece menção especial. Será o filme de abertura em Veneza, no dia 31 de agosto, e terá uma das 11 premieres de gala programadas para Toronto. Cotadíssimo para o Oscar, será das estréias mais concorridas em ambos os festivais.
O bem sacado cartaz de The ides of march, estrategicamente divulgado nesta semana, antecipa a dubiedade que o drama político sugere capturar
Supremacia americana
Confirmando uma tendência que se instalou nos últimos anos, a seleção oficial em Veneza privilegia a cinematografia americana. São cinco fitas originárias do país presidido por Barack Obama. Se adotarmos a língua inglesa como critério de acepção, são 11 longas dos 21 selecionados falados no idioma; inclusive o aguardadíssimo Carnage do franco polonês Roman Polanski. A co-produção entre França, Espanha, Alemanha e Polônia é falada em inglês e estrelada por Jodie Foster, Christoph Waltz, Kate Winslet e John C. Reilly. O filme é uma aposta segura da Sony Classics para a temporada de premiações e pode começar a recolher louros no festival italiano.
Se alguns projetos aguardados como os novos de François Ozon, Wong Kar Wai e Walter Salles ficaram de fora da seleção por problemas com a finalização, os novos filmes de Philippe Garrel, David Cronenberg, Todd Solondz, Aleksander Sorukov, Abel Ferrara, William Friedkin e Tomas Alfredson foram escolhidos.
A seleção, que pode ser conferida mais adiante nessa matéria, constata o rigor e a qualidade com que são feitos os processos de escolha para compor o festival. Veneza ainda se beneficiou do fato de que três filmes cotados para Cannes, entre eles A dangerous method, não ficaram prontos a tempo de serem incluídos naquele festival.
O festival de Veneza será acompanhado de perto pelo blog com atualizações diárias. A 68ª edição do evento italiano acontecerá entre os dias 31 de agosto e 10 de setembro.
Matthew McConaughey e Emile Hirsch em cena de Killer Joe, novo trabalho de William Friedkin
Philippe Garrel volta a dirigir seu filho, Louis, em A burning hot summer, também estrelado pela italiana Monica Bellucci: o filme é uma releitura de Acossado, de Godard
Competição oficial:
The Ides of March, de George Clooney (EUA)
O espião que sabia demais, de Tomas Alfredson (ITA/FRA/ING)
Wuthering Heights, de Andrea Arnold (ING)
Texas Killing Fields, de Ami Canaan Mann (EUA)
A Dangerous Method, de David Cronenberg (ALE/CAN)
4:44 Last Day on Earth, de Abel Ferrara (EUA)
Killer Joe, de William Friedkin (EUA)
The Exchange, de Eran Kolirin (ISR/ALE)
Alps, de Yorgos Lamthimos (GRE)
Shame, de Steve McQueen (ING)
Carnage, de Roman Polanski (FRA/ALE/ESP/POL)
Chicken With Plums, de Marjane Satrapi e Vincent Paronnaud (FRA/BEL/ALE)
A Burning Hot Summer, de Philippe Garrel (FRA)
A Simple Life, de Ann Hui (CHI/Hong Kong)
Faust, de Aleksander Sokurov (RÚS)
Dark Horse, de Todd Solondz (EUA)
Himizu, de Sion Sono (JAP)
Seediq Bale, de Wei Desheng (Taiwan)
Quando la Notte, de Cristina Comencini (ITA)
Terraferma, de Emanuele Crialese (ITA)
L'Ultimo Terrestre, de Gipi (ITA)
Fora de competição:
W.E, de Madonna (ING)
Wilde Salome, de Al Pacino (EUA)
Contagion, de Steven Soderbergh (EUA)
Pit stop campeão
A tradição de plataforma para as grandes premiações que Toronto consolidou ao longo dos anos, pôde ser conferida novamente no ano passado. Dos dez longas indicados ao Oscar de melhor filme, sete foram lançados no evento sediado na cidade canadense e o vencedor do Oscar, O discurso do rei, foi eleito pelo público o melhor filme do festival.
Por isso, dá para entender porque os estúdios aceitam espremer lançamentos, disputam as estréias de gala a tapas e despacham montanhas de estrelas para os tapete vermelho que toma conta da cidade por duas semanas. É lógico, também, que gente do naipe de Pedro Almodóvar, George Clooney, Lars Von Trier, Nanni Moretti, Fernando Meirelles, Alexander Payne, Marc Foster, Cameron Crowe e Francis Ford Coppola se acotovele por um espaço no festival que permite que a crítica especializada fomente as primeiras especulações (que podem ser decisivas) para a Oscar season.
O cartaz da comédia dramática 50/50, em que Joseph Gordon-Levitt descobre-se vítima de câncer. O título é uma referência as suas chances de sobrevivência
O documentário de Cameron Crowe, Pearl Jam twenty, devassa a trajetória de uma das maiores bandas americanas de todos os tempos. Outro documentário sobre uma famosa banda, o U2, abrirá o evento no dia 8 de setembro
Toronto enseja no mercado americano alguns filmes de selo artístico com forte identificação européia. É o caso de We need to talk about Kevin, de Lynne Ramsay. O filme estrelado por Tilda Swinton esteve em Cannes, assim como estiveram Melancholia, A pele que eu habito, Habemus papam, Drive e The artist. Essa é outra vocação de Toronto. Recuperar e apresentar aos distribuidores americanos sucessos de crítica de outros festivais. Coriolanus, estréia na direção de Ralph Fiennes, por exemplo, estreou em fevereiro no Festival de Berlim e tentará distribuição nos EUA através do festival de Toronto.
O leitor pode conferir a lista completa dos filmes que irão compor o 36º festival de Toronto. Grafados em vermelho estão aqueles que já chegam em Toronto envoltos em Oscar buzz. Em azul, estão os que o blog acha que irão chegar com força à temporada do Oscar.
Nas próximas seções Em off, mais destaques dessa seleção de Toronto. Não perca!
Anonymus, de Roland Emmerich (Ingl/Ale)
50/50, de Jonathan Levine (EUA)
Habemus papam, de Nanni Moretti (ITA/FRA)
Drive, de Nicolas Winding Refn (EUA)
Coriolanus, de Ralph Fiennes (ING)
A pele que eu habito, de Pedro Almodóvar (ESP)
Melancholia, de Lars Von Trier (DIN/FRA/ALE)
We need to talk about Kevin, de Lynne Ramsay (ING)
360, de Fernando Meirelles (ING/FRA/BRA/Áustria)
Dark horse, de Todd Solondz (EUA)
The deep blue sea, de Terence Davies (EUA/ING)
The descendants, de Alexander Payne (EUA)
Friends with the kids, de Jennifer Westfeldt (EUA)
Jeff who lives at home, de Jay Duplass e Mark Duplass (EUA)
Machine Gun preacher, de Marc Foster (EUA)
Martha Marcy May Marlene, de Sean Durkin (EUA)
The oranges, de Julian Farino (EUA)
Pearl Jam twenty, de Cameron Crowe (EUA)
Rampart, de Oren Moverman (EUA)
Salmon fishing in the Yemen, de Lasse Hallström (ING)
Take shelter, de Jeff Nichols (EUA)
The eye of Storm, de Fred Schepisi, (Aus)
Twixt, de Francis Ford Coppola (EUA)
The artist, de Michel Hazanavicius (FRA)
11 flowers, de Wang XiaoShuai (Chi)
Estréias de Gala
The ides of March, de George Clooney (EUA)
Moneyball, de Bennett Miller (EUA)
A dangerous Method, de David Cronenberg (ING/Fra/Can/Ale)
The Lady, de Luc Besson (FRA/ING)
Peace, love & misunderstanding, de Bruce Beresford (EUA)
Take this Waltz, de Sarah Polley (CAN)
W.E, de Madonna (ING)
From the Sky down, de David Guggenhein (EUA)
Butter, de Jim Field Smith (EUA)
A happy event, de Rémi Bezançon (FRA)
Albert Nobbs, de Rodrigo Garcia (ING/IRL)