Pondo as entranhas para dentro...
Corações perdidos (Welcome to the Rileys, EUA 2010), tradução nacional genérica para o sugestivo e sutil título original que propõe um convite voyeur logo de cara: conheça os Rileys. Doug (James Gandolfini) e Lois (Melissa Leo) sofrem um lento e traumático processo de luto. Ele busca ar em uma relação extra-conjugal que a mulher consente no silêncio de quem busca sufocamento. Após a morte da filha do casal, a fissura se estabeleceu de tal forma que o diálogo surge mecânico e ressentido. Após a súbita morte da amante, aproveitando uma viagem de negócios, Doug resolve tirar um tempo para realinhar suas perspectivas. A razão dessa súbita mudança de abordagem é Mallory (Kristen Stewart). Uma stripper de 16 anos que aguça o lado paternal de Doug. Essa busca por redenção irá alcançar Lois que vence sua agorafobia (medo de lugares abertos, embora a personagem tenha pavor mesmo é de sair de casa) para ir ao encontro do marido e mostrar-lhe que, junto com ele, está disposta a superar os percalços doloridos da vida.
O naturalista James Gandolfini e a expansiva Kristen Stewart em cena: pessoas feridas e ressentidas em rota de colisão
A fita de Jake Scott, filho do cineasta Ridley Scott, é uma produção competente em seu traçado: iluminar almas agoniadas que se debatem por carinho. A narrativa privilegia as atuações e encontra excelentes respostas. James Gandolfini ostenta seu habitual naturalismo e reveste seu Doug de doçura, inadequação e esperança. Melissa Leo surge contida como a receosa Lois, mas incrivelmente enérgica em cena. Fazendo com que os olhares se curvem a ela de maneira majestosa. Uma atriz em pleno domínio de sua arte. Kristen Stewart, compreensivelmente, é o elo mais fraco. Mas não há valor pejorativo na afirmação. A atriz dá fôlego a sua personagem subvertendo maneirismos presentes em outras de suas caracterizações. Uma performance pensada e digna de nota.
Corações perdidos navega sem grandes invencionices e se resolve como um drama edificante que evita soluções maniqueístas. A terapia coletiva a qual a trinca de protagonistas é submetida apresenta um saldo positivo, mas não objetifica as trajetórias dos personagens. O filme começa com todos eles com as entranhas expostas e termina com todos recolhendo-as. O processo de cura ainda será longo e Scott não se incumbe de precipitá-lo em nome de um final mais hollywoodiano.
O filme me surpreendeu. Não esperava por algo tão... bom. Melissa Leo em ótima atuação e uma Kristen tentando chegar lá... Mas acho que aqui, ela funcionou bem.
ResponderExcluirAbs.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirAchei um filme interessante, e acho tb q Kristen conseguiu transmitir bem a essencia de seu personagem, alem da entrega tb, em muitas cenas ela aparece suja ou machucada, a menina é comprometida, vide The Runaways tb. Vlw.
ResponderExcluirLembro que li em algum lugar sobre um Oscar buzz na época para Stewart, dizendo ser sua melhor atuação. Estou curiosa mais por ser filme drigido pelo filho do Ridley. Quero ver se puxou o pai... rsrsrs.
ResponderExcluirBeijos! ;)
Acredita que não estreou em Salvador? Tristeza...
ResponderExcluirbjs
Reinaldo, eu gostei do filme, acho que ele é eficiente em delinear os conflitos dos três personagens. E a maneira como cada um deles lidam com suas dificuldades torna a fita interessante. Obviamente, não é um filme excepcional, mas bem acima da média. E, pra mim, temos aqui a melhor atuação de Stewart, eu não acho que ela é o "elo mais fraco", seu desempenho é competente e forte. A atriz até tem uma caracterização mais diferenciada dos outros filmes. A direção também auxilia bem nisso.
ResponderExcluirPelo visto, gostei mais que você.
Abraço
Alan: Não acho que seja tããão bom, mas certamente é melhor do que supõe as expectativas...
ResponderExcluirabs
Pat: rsrs. eu sei, mas Namorados para sempre e Enterrado vivo são filmes melhores...
bjs
Celo: concordo contigo. E digo mais, Walter Salles irá desabrochar essa flor em The road.
Abs
Mayara: Mas aí já foi exagero Ma. Não há espaço para indicação ali. Os três estão ótimos, mas não se equiparam aos níveis dos concorrentes do ano passado e de outros que foram aventados.
bjs
Amanda: acredito. I feel for you...
bjs
Cristiano: Grande Cris. Saudade de ti aqui rapaz. Tb gostei do filme. É mais sutil do que outras produções da estirpe, algo que sublinhei em minha crítica.Tb concordo que temos aqui a melhor atuação de Kristen. O elo fraco não foi pejorativo. É que Gandolfini e Leo realmente estão mais impactantes e acho que Kristen ainda precisa se livrar de alguns cacoetes de interpretação (embora aqui ela os use de maneira inteligente).
Abs