Por quem dobram os sinos...
O segundo filme como diretor de Scott Cooper, Tudo por
justiça (Out of the furnace, EUA 2013) é uma representação ensimesmada do
universo masculino e seus códigos nem sempre civilizados, muito menos
civilizantes. A tradução literal do nome original do filme seria algo como “fora
da fornalha”; e quando Russell Baze (Christian Bale) está fora da usina, uma
verdadeira fornalha em que produz aço, ele é o tipo de homem que dá murro em
faca. Único da família empregado em um cenário em que a única coisa que parece
prosperar é a crise econômica, Baze habita um mundo em que o pai está à morte
por ter trabalhado toda a vida no lugar em que Baze trabalha, em que seu irmão,
traumatizado por ter servido no Afeganistão, apresenta claros sinais
destrutivos e que sua esposa quer ter um filho mesmo com todas as condições
contrárias.
Baze não tem muita sorte e é esse rastro de mau olhado que
acompanha o protagonista. Ele tenta fazer o certo e, de alguma maneira, as
coisas dão errado.
Não se trata de fazer a própria sorte ou de assumir as rédeas
da própria vida. Baze assume a responsabilidade por seus atos com imensa
coragem, o que não quer dizer que abandone a introspecção característica de um
tipo de homem que o cinema americano tangenciou muito bem ao longo dos anos em
filmes estrelados por John Wayne ou Clint Eastwood.
Mas antes de seguir adiante é preciso voltar ao princípio. Tudo
por justiça tem um início devastador e talvez não seja mera coincidência que
ele se passe em um drive in, esse elo perdido do cinema, em que vemos um homem (Woody
Harrelson em sua escala mais insana) ascender à violência mais primitiva por um
motivo banal. Essa presença instável, desestabilizadora e eminentemente
masculina paira sobre toda a projeção de Tudo por justiça estabelecendo uma
dolorida, hermética e ruidosa consonância com a cena final, também desestabilizadora
em sua justificação bidimensional.
Os códigos masculinos são valorizados, ainda, no paralelo
entre a caça e a luta e na rixa entre o homem abandonado pela mulher e aquele
pelo qual a mulher o abandonou.
Há muitas intermitências narrativas em Tudo por justiça que
o tornam muito mais interessante do que os filmes ao qual remete. A mais incisiva de
todas, no entanto, é de que não importa o quão ingrata seja nossa sorte, no
limiar somos os reflexos de nossas escolhas. Nesse sentido, Baze, seu irmão
(Casey Affleck) e Harlan DeGroat (Woody Harrelson) guardam mais semelhanças do
que pode parecer. É essa bruta, viril e, na concepção do filme, imperdoável
verdade que sela o destino dos personagens e torna Tudo por justiça um filme tão
melancólico na radiografia que faz do macho.