Aconteceu o que se temia. Pelo quarto ano
seguido, a academia depõe contra a própria etimologia e desalinha um serviço
tão bem feito no rol dos indicados ao prêmio, estabelecendo vencedores menos
calcados no mérito, ou mesmo na percepção da organização enquanto colegiado, e
mais na base do marketing e do hype. 12 anos de escravidão, há algumas semanas
se anunciou, será incluso na grade curricular das escolas básicas americanas.
Houve expressa campanha a destacar o quão importante o filme dirigido por Steve
McQueen era e, ainda que a corrida pelo Oscar sinalizasse que ele não ostentava
tanta força ante outros indicados – visivelmente mais apreciados – o prêmio de
melhor filme era outorgado ao filme em premiações como Bafta, Globo de Ouro, Critic´s Choice e Producers Guild Awards (neste último teve um inédito empate entre os filmes vencedores, justamente com Gravidade) .
Ellen De Generes, host pouca inspirada dessa 86ªedição do
Oscar, foi feliz ao registrar o dilema. “Temos dois cenários: ou 12 anos de
escravidão ganha, ou vocês são todos racistas”. O filme de McQueen ganhou.
Venceu em três categorias, filme, roteiro adaptado e atriz coadjuvante e viu
Gravidade com um frisson maior do que esperado, converter em vitória sete de
suas dez indicações (direção, montagem, som, edição de som, trilha sonora,
efeitos especiais e fotografia).
O ímpeto dos prêmios a Gravidade, amplamente superior
tecnicamente a seus concorrentes, revela que era o filme de Cuarón o candidato
do coração da Academia, mas como a personagem de Meryl Streep em As pontes de
Madison, a Academia fez “a escolha que deveria fazer” e premiou como melhor
filme do ano, aquele que acabou por vencer em três categorias com muito pouca
convicção. O entusiasmo com Gravidade era tanto que ele venceu em categorias
que não foi vencedor nos prêmios dos sindicatos (montagem e edição de som), algo que não se replicou em
nenhuma outra categoria do Oscar.
O descenso da coerência na distribuição dos prêmios atinge
novo e preocupante patamar em 2014. Depois de premiar uma produção como melhor
em filme em 2013 e não dissipar a ideia de que somente o fez para reparar a
exclusão de seu diretor dos finalistas entre os diretores, a Academia conseguiu
a proeza de transformar o Oscar que se anunciava mais imprevisível em anos, no
mais previsível e, sim, entediante da década.
Não se discute os méritos de 12 anos de escravidão ou
Gravidade, mas sim o mérito das escolhas que sombreiam o virtuosismo da
História e nebulam o futuro da Academia. Mais repercussão sobre o Oscar,
em geral, e sobre essa agravada vicissitude em particular, nos próximos dias em
Claquete.
Não leve o Oscar tão a sério, Reinaldo, faz mal a saúde. Sério, conselho de amiga. É política, sempre foi, e, de certa maneira, 12 Anos representa bem esse meio termo que conduz os critérios da escolha da categoria de melhor filme que é diferente de todas as outras. Tudo previsível, mas, no geral, achei justo. De verdade, não houve daqueles absurdos que vimos em anos anteriores, ninguém ali saiu com uma estatueta que definitivamente não merecia.
ResponderExcluirSó discordo de você de Ellen De Generes, eu me diverti muito com ela.
bjs
Amanda: Obrigado pelo seu comentário. Não levo o Oscar tão a sério. Levo a sério minha proposta de analisar a fundo tudo que faz parte do universo do blog. Não desgostei do Oscar nem nada. Nem fiquei nervoso como seu cometário faz parecer. Apenas mantive o senso crítico que apresento em relação a tudo que me predisponho a analisar. Fiz aqui, apenas, a contextualização que julgava necessária para o leitor. Sem mais nem menos. E espero não ter passado a ideia de que a politização só ocorreu agora, isso sim seria um fracasso em comunicação... rsrs
ResponderExcluirQuanto a Ellen, eu me diverti como sempre me divirto no Oscar, mesmo com Anne Hathaway e James Franco, mas avaliando de maneira objetiva, ela deixou muito a desejar (na minha avaliação, claro).
Bjs