Boa notícia. Trata-se da melhor safra do Oscar desde que a
Academia expandiu o quadro da categoria de concorrentes a melhor filme, em
2010. É, também, a melhor safra de indicados a melhor filme desde 2008, quando
concorriam Onde os fracos não têm vez, Sangue negro, Conduta de risco, Juno e
Desejo e reparação.
Os recordistas de indicação do ano, Gravidade, Trapaça e 12
anos de escravidão rivalizam em equidade raríssima. Se Gravidade conta com o
peso de ser um blockbuster de bilheteria superior a R$ 600 milhões e o consenso
de que se trata, afinal, de um bom filme, 12 anos de escravidão tem o lobby de “de filme importante” e Trapaça conta com o apoio incondicional dos atores. Esses dois
últimos filmes, no entanto, alimentam resistência e é aí que Gravidade pode
tirar vantagem. 12 anos de escravidão é acusado de ser oportunista e
demasiadamente violento enquanto que Trapaça é tido por uma quantidade nada
desprezível de pessoas como uma cópia do cinema de Martin Scorsese.
Por falar em Martin Scorsese , é dele o melhor filme do ano. O
lobo de Wall Street merecia ganhar tudo e mais um pouco no Oscar 2014, mas
não deve ganhar nada – ressalva feita às parcas chances de DiCaprio ser
finalmente agraciado com o Oscar (é o melhor entre os atores também). O lobo de
Wall Street é o único filme que adentrará o rol dos clássicos e será lembrado
no futuro por seu significado e relevância (estética, narrativa e temporal),
mas a Academia, como colegiado, não consegue perceber isto.
Leonardo DiCaprio endiabradamente bom em O lobo de Wall Street, o filme mais reflexivo, devastador e provocador da temporada...
...e Spike Jonze orienta Joaquin Phoenix nos bastidores de Ela: por razões diversas, mas que se complementam, Ela e O lobo de Wall Street são os melhores filmes da temporada e é no mínimo frustrante a possibilidade de que saiam do Oscar sem prêmio algum
A categoria principal, de qualquer maneira, ostenta
qualidade acima de qualquer suspeita e nenhum filme nela relacionado é indigno
de ali figurar. Nebraska, Ela, Philomena e Clube de Compras Dallas, filmes
menores e que dificilmente chegariam ao Oscar quando este tinha apenas cinco
indicados, são produções que oxigenam o fazer cinematográfico e irrigam o Oscar
enquanto instituição. Mas não é possível premiar todos esses filmes. O que não
implica dizer que não estamos diante de um ano em que os prêmios serão
pulverizados. Gravidade deve liderar à disputa, mas não deve superar cinco
Oscars.
Se a contenda por melhor filme parece confinada à Gravidade,
Trapaça e 12 anos de escravidão, a disputa por direção deixou escanteada o
diretor de Trapaça, Russell parece reunir mais chances na disputa por roteiro
original, em que Spike Jonze
é favorito por Ela, do que aqui. Fazer história parecer ser o lema do ano na
categoria. Resta saber quem virá primeiro: os latino-americanos (o mexicano
Alfonso Cuarón) ou os negros (o inglês Steve McQueen)?
Arte: Cinemanews
Atuações
Todos os atores mereciam o Oscar, mas ele fica entre
McConaughey por Clube de Compras Dallas e Leonardo DiCaprio. O primeiro vive
fase prolífera e renovadora, enquanto o segundo alcança o melhor desempenho de
uma carreira maravilhosa e negligenciada pela academia. São dois casos muito
acintosos que justificam a polarização, ainda que eles apresentem os melhores
desempenhos do ano.
A briga pelo Oscar de ator coadjuvante parece mais definida.
Jared Leto, por Clube de Compras Dallas, está ótimo. No entanto, é o mais fraco
da categoria. Deve vencer pelo hype e pelo fato de contar com o personagem mais
simpático entre os nomeados.
Cate Blanchett, por Blue Jasmine, apresenta a melhor atuação
da década até aqui. É muito difícil que perca o Oscar, mas se isso acontecer, só será justificável, e mesmo possível, se a
vencedora for Amy Adams por Trapaça, outro colosso de mulher e atriz.
Jennifer Lawrence, possuída de talento e graça, é a melhor
atriz coadjuvante do ano e lança um abacaxi para a Academia ainda às voltas com
máximas conservadoras: é válido dar a uma atriz de 23 anos seu segundo Oscar e
em anos consecutivos? A resposta pode ser Lupita Nyng´o, eficiente em 12 anos
de escravidão, mas longe de fazer limonada com laranja como faz Lawrence.
A grande Beleza e A caça são os front runners para filme
estrangeiro, com leve vantagem para o primeiro.
Nas categorias técnicas, se a lei da física não for
desafiada, Gravidade dominará com 12 anos de escravidão, Capitão Phillips e Trapaça beliscando aqui e lá.
Resta-nos torcer para que, mais do que nos surpreender, o
Oscar não renuncie à coerência como tem feito de quando em quando, como em
2013, ao eleger como melhor filme do ano uma fita que não tinha um dos cinco
melhores diretores da temporada.
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