Páginas de Claquete

domingo, 2 de março de 2014

Oscar Watch 2014 - crítica dos indicado à 86ª edição do Oscar




Boa notícia. Trata-se da melhor safra do Oscar desde que a Academia expandiu o quadro da categoria de concorrentes a melhor filme, em 2010. É, também, a melhor safra de indicados a melhor filme desde 2008, quando concorriam Onde os fracos não têm vez, Sangue negro, Conduta de risco, Juno e Desejo e reparação.
Os recordistas de indicação do ano, Gravidade, Trapaça e 12 anos de escravidão rivalizam em equidade raríssima. Se Gravidade conta com o peso de ser um blockbuster de bilheteria superior a R$ 600 milhões e o consenso de que se trata, afinal, de um bom filme, 12 anos de escravidão tem o lobby de “de filme importante” e Trapaça conta com o apoio incondicional dos atores. Esses dois últimos filmes, no entanto, alimentam resistência e é aí que Gravidade pode tirar vantagem. 12 anos de escravidão é acusado de ser oportunista e demasiadamente violento enquanto que Trapaça é tido por uma quantidade nada desprezível de pessoas como uma cópia do cinema de Martin Scorsese.
Por falar em Martin Scorsese, é dele o melhor filme do ano. O lobo de Wall Street merecia ganhar tudo e mais um pouco no Oscar 2014, mas não deve ganhar nada – ressalva feita às parcas chances de DiCaprio ser finalmente agraciado com o Oscar (é o melhor entre os atores também). O lobo de Wall Street é o único filme que adentrará o rol dos clássicos e será lembrado no futuro por seu significado e relevância (estética, narrativa e temporal), mas a Academia, como colegiado, não consegue perceber isto.

Leonardo DiCaprio endiabradamente bom em O lobo de Wall Street, o filme mais reflexivo, devastador e provocador da temporada...

...e Spike Jonze orienta Joaquin Phoenix nos bastidores de Ela: por razões diversas, mas que se complementam, Ela e O lobo de Wall Street são os melhores filmes da temporada e é no mínimo frustrante a possibilidade de que saiam do Oscar sem prêmio algum


A categoria principal, de qualquer maneira, ostenta qualidade acima de qualquer suspeita e nenhum filme nela relacionado é indigno de ali figurar. Nebraska, Ela, Philomena e Clube de Compras Dallas, filmes menores e que dificilmente chegariam ao Oscar quando este tinha apenas cinco indicados, são produções que oxigenam o fazer cinematográfico e irrigam o Oscar enquanto instituição. Mas não é possível premiar todos esses filmes. O que não implica dizer que não estamos diante de um ano em que os prêmios serão pulverizados. Gravidade deve liderar à disputa, mas não deve superar cinco Oscars.
Se a contenda por melhor filme parece confinada à Gravidade, Trapaça e 12 anos de escravidão, a disputa por direção deixou escanteada o diretor de Trapaça, Russell parece reunir mais chances na disputa por roteiro original, em que Spike Jonze é favorito por Ela, do que aqui. Fazer história parecer ser o lema do ano na categoria. Resta saber quem virá primeiro: os latino-americanos (o mexicano Alfonso Cuarón) ou os negros (o inglês Steve McQueen)?

Arte: Cinemanews

Atuações
Todos os atores mereciam o Oscar, mas ele fica entre McConaughey por Clube de Compras Dallas e Leonardo DiCaprio. O primeiro vive fase prolífera e renovadora, enquanto o segundo alcança o melhor desempenho de uma carreira maravilhosa e negligenciada pela academia. São dois casos muito acintosos que justificam a polarização, ainda que eles apresentem os melhores desempenhos do ano.
A briga pelo Oscar de ator coadjuvante parece mais definida. Jared Leto, por Clube de Compras Dallas, está ótimo. No entanto, é o mais fraco da categoria. Deve vencer pelo hype e pelo fato de contar com o personagem mais simpático entre os nomeados.
Cate Blanchett, por Blue Jasmine, apresenta a melhor atuação da década até aqui. É muito difícil que perca o Oscar, mas se isso acontecer, só será justificável, e mesmo possível, se a vencedora for Amy Adams por Trapaça, outro colosso de mulher e atriz.
Jennifer Lawrence, possuída de talento e graça, é a melhor atriz coadjuvante do ano e lança um abacaxi para a Academia ainda às voltas com máximas conservadoras: é válido dar a uma atriz de 23 anos seu segundo Oscar e em anos consecutivos? A resposta pode ser Lupita Nyng´o, eficiente em 12 anos de escravidão, mas longe de fazer limonada com laranja como faz Lawrence.
A grande Beleza e A caça são os front runners para filme estrangeiro, com leve vantagem para o primeiro.
Nas categorias técnicas, se a lei da física não for desafiada, Gravidade dominará com 12 anos de escravidão, Capitão Phillips e Trapaça beliscando aqui e lá.
Resta-nos torcer para que, mais do que nos surpreender, o Oscar não renuncie à coerência como tem feito de quando em quando, como em 2013, ao eleger como melhor filme do ano uma fita que não tinha um dos cinco melhores diretores da temporada.  

Claquete selecionou infográficos bacanas que celebram o momento supremo da cinefilia


Números e curiosidades do Oscar ao longo dos anos (em inglês)
 Arte: ABCNews


Os vestidos das atrizes vencedoras do Oscar nos 85 anos do prêmio
 Arte: Cosmopoiltan (sugestão da leitora Aline Viana)


Woody Allen, o Midas as indicações por atuações
Arte: cinema é tudo isso

Nenhum comentário:

Postar um comentário