Sujou Playboy!
Alemão (Brasil 2014), vendido como filme de guerrilha, é, na
verdade, um filme que voluntariamente se faz refém do que de pior caracteriza o
cinema nacional. É difícil eleger um dos muitos defeitos ou vícios do filme
para abrir esta crítica que invariavelmente será pouco amistosa ao filme de
José Eduardo Belmonte, diretor que até este projeto em particular mantinha uma
carreira sem nenhum baixo no cinema.
A ideia que move a trama é muito boa. Às vésperas da
ocupação do complexo do Alemão pela Polícia Militar do Rio de Janeiro e pelo
exército brasileiro, cinco policiais infiltrados, desmascarados pelo chefão do
tráfico de drogas – um caricato Cauã Reymond – precisam se esconder em
território hostil na expectativa de sobreviver.
Acontece que o roteiro, assinado por Gabriel Martins a
partir da ideia de Rodrigo Teixeira, que produz o filme, desenvolve muito mal
esse argumento. Os diálogos são batidos, a evolução da trama é dolorosamente
previsível e os conflitos dos personagens são introduzidos de maneira amadora.
O clímax, e a maneira como ele se constrói, são
facilmente antecipáveis e tudo é agravado por uma direção afetada de Belmonte
que reproduz noções envelhecidas de como fazer um filme policial à brasileira.
Ele ainda aproveita muito mal o confinamento em que boa parte do filme se dá.
Fosse buscar abrigo no sempre referenciável Roman Polanski (que faz isso muito
bem em A faca na água, O bebê de Rosemary, Repulsa ao sexo e O inquilino) e
talvez se desse melhor.
Cauã Reymond como Playboy: too clean to play dirty...
Alemão peca, ainda, por ter bons atores muito mal aproveitados.
De Antonio Fagundes, que só acha o tom de seu personagem à beira de um ataque
de nervos próximo do final da fita, a Gabriel Braga Nunes, francamente
deslocado com um personagem mal justificado e nenhuma fala digna de seu
talento.
Entre mortos e feridos no elenco, salva-se o ator Marcelo
Melo Jr., que recebe o melhor personagem do filme e não faz por menos. O adensa
com uma composição tridimensional, a despeito dos diálogos tacanhos que precisa
dar viço vez ou outra.
Alemão, como se não bastasse, demonstra incômoda insegurança
quanto a suas escolhas. Ora parece confortável como filme de entretenimento e
ora insiste em nos querer fazer crer ser um filme denúncia, vertente tão cara à
filmografia de ranço sociológico de parte do cinema brasileiro. Acaba em um
pouco lisonjeiro meio termo.
Uma leitura positiva pertinente à narrativa é a forma bem
azeitada e mais subliminar do que desejável com que a realização apresenta a
nítida infantilização desses “meninos armados”. O total desprezo pela vida
humana e seu significado e a ostentação passivo agressiva provida pelo poder das armas garantem
os melhores momentos não exibicionistas do filme.
De qualquer modo, Alemão se justifica por ter sido produzido
fora do contexto engessado da política de fomento ao cinema no país e por
conseguir grande visibilidade para si. Em parte pelo estrelado elenco e em
parte pelo tema, infelizmente sempre atual. Ainda assim, é muito pouco para
ambição tão inocultável.
Nossa, essa doeu. Ficamos aqui pensando se o filme seria tão ruim quanto parecia e bem... parece que foi mesmo. Vou tentar ir no cinema e ver se consigo assistir até o fim. Pensei que talvez fosse legal colocar os traficantes como protagonistas, em vez da polícia, como aconteceu em Tropa, mas se a visão da favela e do crime é tão estereotipada fica difícil fazer valer a pena esse esforço.
ResponderExcluirA sua crítica foi a pior que eu li sobre "Alemão". Para ser bem sincera, apesar de eu ser uma entusiasta do cinema nacional, minha curiosidade em relação a esse filme foi mínima.
ResponderExcluirGisele Motta: rsrs. Não é apenas os estereótipos que incomodam (e os policiais continuam protagonistas), mas as escolhas preguiçosas da realização. Um filme muito abaixo do que poderia render, enfim.
ResponderExcluirBjs
Kamila: Se vc já não tinha curiosidade...
bjs
Reinaldo, agora fiquei cabisbaixo. Assisti um making of do filme ontem no telecine e me pareceu interessante. Vou esperar o lançamento em dvd/tv por assinatura, para assistir num dia de chuva.
ResponderExcluirAbrç.