Páginas de Claquete

domingo, 31 de julho de 2011

Tira-teima: Cinema argentino X Cinema brasileiro

No futebol, a rivalidade é transpirante e explosiva; na política, o tom colaboracionista imperava até os dois países se verem comandados por mulheres dispostas a não "passar recibo" aos países vizinhos. No cinema, Argentina e Brasil têm incrementado o prestígio e o apelo de suas respectivas produções. Os hermanos estão melhores em alguns aspectos e nós à frente em outros. Claquete, que como o leitor cultua cinema independentemente da procedência, preparou um Tira-Teima entre o cinema argentino e o cinema brasileiro.







Principais Prêmios

Brasil: Palma de ouro em Cannes (1959 – Orfeu Negro e 1962 – O pagador de promessas)

Urso de ouro em Berlim (2008 – Tropa de elite e 1998 – Central do Brasil)

Argentina: Dois Oscars de filme estrangeiro (1986 – A história oficial e 2010 – O segredo do seus olhos)

 
Desde que foi instituído o prêmio para o cinema latino americano no Festival de Gramado (o mais tradicional festival de cinema brasileiro), em 1993, o cinema argentino prevaleceu 50% das vezes na disputa.



O prestígio junto a crítica rival

No Brasil, há uma profunda admiração ao cinema portenho. O reconhecimento de que o cinema praticado na Argentina é maduro e envolvente já permeia a crítica nacional há algum tempo. Na Argentina, o cinema brasileiro não goza do mesmo prestígio com a crítica. Cineastas de trânsito internacional como Walter Salles e Fernando Meirelles obtém respaldo local, mas suas obras são percebidas como internacionais e não como brasileiras. O cinema brasileiro tem menos ressonância do que o de países vizinhos que usufruem da mesma língua como Chile e Uruguai.




Penetração internacional


Não há como desconsiderar o momento econômico que vive o Brasil nesse quesito. Festivais são organizados nos EUA e na Europa com o único intuito de promover o cinema tupiniquim. Não há nenhum evento com elaboração e audiência compatíveis que destaque o cinema argentino. No entanto, os filmes argentinos trafegam melhor no eixo central da Europa (por países como Espanha, Itália, Alemanha, etc). Os argentinos também são escolhidos com mais frequência para compor a programação de festivais naquele continente.
Mas em termos de mão de obra, o cinema brasileiro é mais ostensivo. De Carmen Miranda a Rodrigo Santoro, os atores brasileiros sempre tiveram mais presença em Hollywood do que os argentinos. O mesmo ocorre com os diretores. Se Juan José Campanella já trabalhou em elogiadas produções da TV americana, Fernando Meirelles é um diretor disputado a tapas para produções elaboradas para a Oscar season. Walter Salles e José Padilha também desfrutam de prestígio junto a produtores internacionais.
Heitor Dhalia, Bruno Barreto e Vicente Amorim são outros que já dirigiram produções internacionais.


Coisa nossa


Tanto argentinos quanto brasileiros passaram a prestigiar mais seus respectivos cinemas nos últimos cinco anos. Em 2010, no Brasil, testemunhou-se um crescimento de 30% do cinema nacional nas bilheterias. A produção, em 2010, foi 60% superior a do ano 2000, por exemplo.
Na argentina, o vencedor do Oscar O segredo dos seus olhos já havia se sagrado a maior bilheteria do cinema argentino na década antes mesmo do prêmio.


O coringa
Hector Babenco é argentino de nascença, mas - segundo o próprio - brasileiro de coração. São dele os premiados O beijo da mulher aranhaIronweedPixote - a lei do mais fraco e Carandiru

Os principais filmes nos últimos cinco anos


Brasil

Tropa de elite (2007)
À deriva (2009)
Os inquilinos (2010)
Tropa de elite 2: o inimigo agora é outro (2010)


Argentina

Ninho vazio (2008)
Leonera (2008)
O segredo dos seus olhos (2009)
Abutres (2010)

Insight

A criação da Abracine

Um dos pontos altos do último Festival de Cinema de Paulínia, realizado no início de julho, foi a criação da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abracine). A organização que reunirá nomes ligados à atividade crítica de cinema em todo o país chega para preencher uma lacuna da classe. Na Europa e nos EUA, entidades alinhadas ao mesmo conceito que rege a Abracine já existem há algum tempo.
A associação deverá zelar e orientar a atividade da crítica de cinema no país, mas pode se revelar um órgão castrador.
A expressão do órgão vai depender da forma como se articulará. Emitir juízos politicamente corretos em casos de repercussão midiática – como no impasse jurídico que cerca a comercialização da fita A serbian film no Brasil – não viabilizará a Abracine como um órgão independente e de ressonância. Tão pouco a criação de um prêmio específico (algo que já deve estar em elaboração). Prova disso é a pouca ressonância do Grande Prêmio do Cinema Brasileiro que está aí para provar que cinema nacional, sem indústria, não pode pretender a figuração do cinema americano.
A crítica de cinema brasileira é pouco uniforme e, em última instância, mal preparada. Há poucos críticos que ostentam o chamado “conhecimento de causa”. Há muito achismo e gostos particulares preponderando em sites e veículos da grande imprensa. Nesse sentido, uma das frentes em que o órgão deveria atuar seria pela profissionalização e regularização da atividade. A coluna Questões cinematográficas editada no mês de junho, sob o título “A homogeneidade da crítica de cinema e esterilização da análise fílmica”, apontava para a agonia pela qual a crítica de cinema, em especial no Brasil, atravessa.
A notícia de que um órgão foi criado para representar a classe é bem vinda. Contudo, os termos dessa representação ainda precisam ser clareados. É preciso pensar que o crítico de cinema, majoritariamente de formação jornalística, já tem um conjunto de órgãos e sindicatos representativos. Portanto, a Abracine terá que se mostrar viável - e terá de ser hábil nesse aspecto- de maneira a não se anular ante um pool de representantes que pouco representam. Terá de evitar, também, uma certa estatização tão cara a entidades ligadas à cultura. A crítica está de olho.

sábado, 30 de julho de 2011

Cantinho do DVD

Em 2000, Entrando numa fria se consolidou como um dos maiores sucessos daquela temporada. Robert De Niro se divertia rindo de si mesmo como um sogro daqueles e Ben Stiller fazia o que sempre soube fazer de melhor como o (futuro) genro em busca de aprovação. Quatro anos depois, a sequência fez ainda mais dinheiro com as adições de Dustin Hoffman e Barbra Streisand como os pais hippies do personagem de Stiller. O segundo filme já não era tão bom. O terceiro filme, lançado em 2010, desce um pouco mais nessa linha evolutiva. Ainda assim, rende uma boa sessão de DVD em família.






Crítica

O terceiro filme da franquia Entrando numa fria é um campeão de bilheteria. Dirigido dessa vez por Paul Weitz, com Jay Roach que dirigiu os dois primeiros assumindo a produção executiva, Entrando numa fria maior ainda com a família (Little fockers, EUA 2010) recupera as esquetes de desconforto familiar.
Assim como ocorreu com a segunda fita, a boa premissa do original é temperada com doses de mau gosto que se não chegam a incomodar, aguçam o constrangimento hora ou outra.
Na terceira fita, encontramos Greg (Ben Stiller) e Pam (Teri Polo) às voltas com a dura rotina de pais de crianças tão ativas e enérgicas como manda a normalidade. Greg ainda precisa lidar com a insegurança de Jack (Robert De Niro), o sogro aposentado da CIA que adora marcar com a cara do genro, que acaba de descobrir que seu outro genro traiu a filha dele. Jack, então, se volta para Greg para se certificar que ele seja capaz de liderar o clã quando ele já não estiver mais por perto.
Com essa storyline, o filme perpassa uma bem humorada homenagem a O poderoso chefão, aproveita a bela Jessica Alba para testar a fidelidade de Greg e recupera Owen Wilson, que fizera um riquinho apaixonado por Pam no primeiro filme, para entreter a platéia com o inferno familiar dos Fockers.
Não há muito que se ver em Entrando numa fria maior ainda com a família. A originalidade da proposta se esgotou no primeiro filme. A bem sacada ideia de reunir Dustin Hoffman e Barbra Streisand como os pais hippies de Greg como contraponto a sisudez do Jack de Robert De Niro proporcionou alguns bons momentos no segundo filme; mas o terceiro não apresenta nada de novo. Os filhos de Greg e Pam não são suficientemente aproveitados pelo roteiro que prefere investir na dinâmica entre De Niro e Stiller. E como provam os milhões nas bilheterias, ela ainda rende um bocado.

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Filme em destaque- Capitão América: o primeiro vingador

Herói forjado em época menos cínica, o Capitão América chega ao século XXI em filme portentoso com reconstituição cuidadosa dos anos 40 e a missão de ser o fiador do sucesso de um filme prometido para abrir o verão do ano que vem


Desde que o "projeto Marvel" foi anunciado, pairava uma incerteza se o Capitão América seria aproveitado no universo que a editora/estúdio erigia no cinema. Isso porque, embora seja mais conhecido do que, por exemplo, Homem de ferro (que marcou a gênese da Marvel como estúdio de cinema) e do que Thor (que consolidou de vez a empresa como estúdio de ponta), o Capitão era o personagem menos cobiçado do selo da editora por estúdios de cinema; era um símbolo americano arriscado para uma produção hollywoodiana que vislumbra lucros, principalmente, em terras estrangeiras. A possibilidade de rejeição a um personagem que veste as cores da bandeira americana eram grandes. Pensando nisso, o produtor Avi Arad, um dos responsáveis pelo bom momento dos super-heróis no cinema, resolveu manter o personagem criado por Joe Simmon e Jack Kirby em sua época. Dessa forma surgia o conceito base de Capitão América: o primeiro vingador. Um filme com gosto de matinê em que o inimigo seria o alvorecer do horrendo nazismo. A fita ainda precisaria aparar as arestas para o mega lançamento da Marvel nos cinemas: Os vingadores.


Montando o ataque
Depois da confirmação de Joe Johnston na direção, se instalou a busca pelo protagonista. E ela foi árdua. Muitos nomes foram considerados, como os de Jeremy Renner, John Krasinski (The Office), Chace Crawford (Gossip Girl) Garret Hedlund (Tron: o legado), mas o escolhido acabou sendo um veterano do universo Marvel. Chris Evans, que já havia vivido o Tocha humana nos dois filmes do Quarteto Fantástico, aceitou o convite para encarnar Steve Rogers e seu alter-ego, o banderoso – como o colega Homem aranha o chama nos quadrinhos. O sim não veio antes de alguma hesitação. “Não queria me comprometer com um contrato que prevê seis filmes. E seu não quiser ser mais ator daqui a dez anos?”, ponderou Evans em entrevista a britânica Empire. O ator disse que sentiu o peso de viver o herói que emula o patriotismo americano tão reconhecível por quem quer que cruze com um cidadão daquele país. “É diferente dos outros filmes que participei. Aqui, muita da responsabilidade do filme ser um sucesso ou um fracasso vai em mim”, disse em entrevista ao portal brasileiro UOL.
Com Evans a bordo, a produção avançou para montar seu time de coadjuvantes. Após perder Natalie Portman para o “concorrente” Thor, Joe Johnston recebeu negativa de Emily Blunt. A inglesa Hayley Atwell ( de filmes como A duquesa e O sonho de Cassandra) fechou para viver a mocinha e depois dela, o elenco inflou de nomes vistosos. Tommy Lee Jones e Hugo Weaving foram adições comemoradas e entremeadas por Dominic Cooper e Stanley Tucci.

Pronto para a ação: Chris Evans hesitou antes de vestir as cores da bandeira americana para viver seu segundo personagem do universo Marvel


Filme de época
“A ideia é brindar o espectador com um filme com aquele clima de matinê”, descreveu o produtor Kevin Feige. Ambientar a fita na década de 40 seria perfeito nesse sentido. Mas e como preencher as lacunas suscitadas em Homem de ferro 2? “Vocês vão conhecer o pai de Tony Stark neste filme”, explicou Feige em entrevista concedida antes da liberação do primeiro trailer do filme. “Tivemos o cuidado de colocar todos os pingos nos is”, finalizou.
Capitão América: o primeiro vingador apresenta seu herói pouco tempo antes de uma iminente viagem temporal. É um destaque, no mínimo, interessante.

quinta-feira, 28 de julho de 2011

As tropas de Toronto e Veneza

Foi uma semana agitada para quem respira cinema. Enquanto a batalha nas bilheterias é dos blockbusters Harry Potter e Capitão América, o cinema de arte e se alvoroça com os lançamentos do outono no hemisfério norte. A nata desses lançamentos está selecionada para os dois principais festivais de cinema do período: Veneza e Toronto. Essas são as plataformas primais para quem objetiva figurar na lista de oscarizáveis. Veneza, que chega a sua 68ª edição, divulgou nesta quinta-feira (28) os 21 filmes que irão disputar o leão de ouro a ser outorgado pelo júri presidido pelo cineasta Darren Aronofsky. O mais antigo festival de cinema do mundo ainda irá apresentar um 22º filme para a competição durante a realização do evento. A pegadinha se tornou praxe em Veneza nos últimos três anos.
Muitos dos filmes que estarão em Veneza também serão exibidos em Toronto, um festival cujo único prêmio é concedido pelo público, mas onde imperam verdadeiros balcões de negócios.
No grupo que joga nos dois times estão The ides of March, de George Clooney, W.E, de Madonna, Dark horse, de Todd Solondz e A dangerous Method, de David Cronenberg. O filme de Clooney merece menção especial. Será o filme de abertura em Veneza, no dia 31 de agosto, e terá uma das 11 premieres de gala programadas para Toronto. Cotadíssimo para o Oscar, será das estréias mais concorridas em ambos os festivais.

O bem sacado cartaz de The ides of march, estrategicamente divulgado nesta semana, antecipa a dubiedade que o drama político sugere capturar



Supremacia americana

Confirmando uma tendência que se instalou nos últimos anos, a seleção oficial em Veneza privilegia a cinematografia americana. São cinco fitas originárias do país presidido por Barack Obama. Se adotarmos a língua inglesa como critério de acepção, são 11 longas dos 21 selecionados falados no idioma; inclusive o aguardadíssimo Carnage do franco polonês Roman Polanski. A co-produção entre França, Espanha, Alemanha e Polônia é falada em inglês e estrelada por Jodie Foster, Christoph Waltz, Kate Winslet e John C. Reilly. O filme é uma aposta segura da Sony Classics para a temporada de premiações e pode começar a recolher louros no festival italiano.
Se alguns projetos aguardados como os novos de François Ozon, Wong Kar Wai e Walter Salles ficaram de fora da seleção por problemas com a finalização, os novos filmes de Philippe Garrel, David Cronenberg, Todd Solondz, Aleksander Sorukov, Abel Ferrara, William Friedkin e Tomas Alfredson foram escolhidos.
A seleção, que pode ser conferida mais adiante nessa matéria, constata o rigor e a qualidade com que são feitos os processos de escolha para compor o festival. Veneza ainda se beneficiou do fato de que três filmes cotados para Cannes, entre eles A dangerous method, não ficaram prontos a tempo de serem incluídos naquele festival.
O festival de Veneza será acompanhado de perto pelo blog com atualizações diárias. A 68ª edição do evento italiano acontecerá entre os dias 31 de agosto e 10 de setembro.

Matthew McConaughey e Emile Hirsch em cena de Killer Joe, novo trabalho de William Friedkin 


Philippe Garrel volta a dirigir seu filho, Louis, em A burning hot summer, também estrelado pela italiana Monica Bellucci: o filme é uma releitura de Acossado, de Godard


Competição oficial:


The Ides of March, de George Clooney (EUA)
O espião que sabia demais, de Tomas Alfredson (ITA/FRA/ING)
Wuthering Heights, de Andrea Arnold (ING)
Texas Killing Fields, de Ami Canaan Mann (EUA)
A Dangerous Method, de David Cronenberg (ALE/CAN)
4:44 Last Day on Earth, de Abel Ferrara (EUA)
Killer Joe, de William Friedkin (EUA)
The Exchange, de Eran Kolirin (ISR/ALE)
Alps, de Yorgos Lamthimos (GRE)
Shame, de Steve McQueen (ING)
Carnage, de Roman Polanski (FRA/ALE/ESP/POL)
Chicken With Plums, de Marjane Satrapi e Vincent Paronnaud (FRA/BEL/ALE)
A Burning Hot Summer, de Philippe Garrel (FRA)
A Simple Life, de Ann Hui (CHI/Hong Kong)
Faust, de Aleksander Sokurov (RÚS)
Dark Horse, de Todd Solondz (EUA)
Himizu, de Sion Sono (JAP)
Seediq Bale, de Wei Desheng (Taiwan)
Quando la Notte, de Cristina Comencini (ITA)
Terraferma, de Emanuele Crialese (ITA)
L'Ultimo Terrestre, de Gipi (ITA)


Fora de competição:

W.E, de Madonna (ING)
Wilde Salome, de Al Pacino (EUA)
Contagion, de Steven Soderbergh (EUA)


Pit stop campeão

A tradição de plataforma para as grandes premiações que Toronto consolidou ao longo dos anos, pôde ser conferida novamente no ano passado. Dos dez longas indicados ao Oscar de melhor filme, sete foram lançados no evento sediado na cidade canadense e o vencedor do Oscar, O discurso do rei, foi eleito pelo público o melhor filme do festival.
Por isso, dá para entender porque os estúdios aceitam espremer lançamentos, disputam as estréias de gala a tapas e despacham montanhas de estrelas para os tapete vermelho que toma conta da cidade por duas semanas. É lógico, também, que gente do naipe de Pedro Almodóvar, George Clooney, Lars Von Trier, Nanni Moretti, Fernando Meirelles, Alexander Payne, Marc Foster, Cameron Crowe e Francis Ford Coppola se acotovele por um espaço no festival que permite que a crítica especializada fomente as primeiras especulações (que podem ser decisivas) para a Oscar season.


O cartaz da comédia dramática 50/50, em que Joseph Gordon-Levitt descobre-se vítima de câncer. O título é uma referência as suas chances de sobrevivência 


O documentário de Cameron Crowe, Pearl Jam twenty, devassa a trajetória de uma das maiores bandas americanas de todos os tempos. Outro documentário sobre uma famosa banda, o U2, abrirá o evento no dia 8 de setembro


Toronto enseja no mercado americano alguns filmes de selo artístico com forte identificação européia. É o caso de We need to talk about Kevin, de Lynne Ramsay. O filme estrelado por Tilda Swinton esteve em Cannes, assim como estiveram Melancholia, A pele que eu habito, Habemus papam, Drive e The artist. Essa é outra vocação de Toronto. Recuperar e apresentar aos distribuidores americanos sucessos de crítica de outros festivais. Coriolanus, estréia na direção de Ralph Fiennes, por exemplo, estreou em fevereiro no Festival de Berlim e tentará distribuição nos EUA através do festival de Toronto.
O leitor pode conferir a lista completa dos filmes que irão compor o 36º festival de Toronto. Grafados em vermelho estão aqueles que já chegam em Toronto envoltos em Oscar buzz. Em azul, estão os que o blog acha que irão chegar com força à temporada do Oscar.
Nas próximas seções Em off, mais destaques dessa seleção de Toronto. Não perca!


Anonymus, de Roland Emmerich (Ingl/Ale)
50/50, de Jonathan Levine (EUA)
Habemus papam, de Nanni Moretti (ITA/FRA)
Drive, de Nicolas Winding Refn (EUA)
Coriolanus, de Ralph Fiennes (ING)
A pele que eu habito, de Pedro Almodóvar (ESP)
Melancholia, de Lars Von Trier (DIN/FRA/ALE)
We need to talk about Kevin, de Lynne Ramsay (ING)
360, de Fernando Meirelles (ING/FRA/BRA/Áustria)
Dark horse, de Todd Solondz (EUA)
The deep blue sea, de Terence Davies (EUA/ING)
The descendants, de Alexander Payne (EUA)
Friends with the kids, de Jennifer Westfeldt (EUA)
Jeff who lives at home, de Jay Duplass e Mark Duplass (EUA)
Machine Gun preacher, de Marc Foster (EUA)
Martha Marcy May Marlene, de Sean Durkin (EUA)
The oranges, de Julian Farino (EUA)
Pearl Jam twenty, de Cameron Crowe (EUA)
Rampart, de Oren Moverman (EUA)
Salmon fishing in the Yemen, de Lasse Hallström (ING)
Take shelter, de Jeff Nichols (EUA)
The eye of Storm, de Fred Schepisi, (Aus)
Twixt, de Francis Ford Coppola (EUA)
The artist, de Michel Hazanavicius (FRA)
11 flowers, de Wang XiaoShuai (Chi)


Estréias de Gala
The ides of March, de George Clooney (EUA)
Moneyball, de Bennett Miller (EUA)
A dangerous Method, de David Cronenberg (ING/Fra/Can/Ale)
The Lady, de Luc Besson (FRA/ING)
Peace, love & misunderstanding, de Bruce Beresford (EUA)
Take this Waltz, de Sarah Polley (CAN)
W.E, de Madonna (ING)
From the Sky down, de David Guggenhein (EUA)
Butter, de Jim Field Smith (EUA)
A happy event, de Rémi Bezançon (FRA)
Albert Nobbs, de Rodrigo Garcia (ING/IRL)

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Questões Cinematográficas - A exuberância da saga Harry Potter

A saga Harry Potter, cujo último episódio movimenta as bilheterias mundiais, conciliou brilhantemente duas árduas tarefas ao longo da década em que arrastou pais e filhos aos cinemas do mundo todo. A primeira delas foi adaptar, de maneira criteriosa e fiel, uma obra tão plural, vasta e específica quanto a de J.K.Rowling. E fazer isto preservando intacto o espírito da obra. A segunda diz respeito ao equilíbrio narrativo. Não é fácil administrar uma máquina como Harry Potter que move paixões, bilhões de dólares e interesses difusos como os do estúdio, os da autora, os dos fãs e os da equipe criativa. O produtor David Heyman, quem controlou os rumos da série por mais de uma década, tem todas as razões para se sentir aliviado após o lançamento do oitavo filme.
A primeira tarefa foi cumprida, mesmo que com uma chiadeira aqui e outro aculá, com extrema eficiência. A segunda, até os dois últimos filmes, primava por uma excelência inapelável. Mas, mesmo com os desvios das duas partes de As relíquias da morte, a série ainda se sustenta com incrível altivez narrativa.


David Yates orienta seus atores em cena de O enigma do príncipe: primor narrativo conquistado com unidade criativa


Um primeiro aparte é necessário sobre a divisão do último livro em dois filmes. Heyman foi alvo de sondagens de executivos da Warner sobre a possibilidade de dividir o último livro em dois filmes. Tanto ele quanto J.K.Rowling (a autora, além de produtora tem poder de veto) se mostraram suscetíveis a ideia. A chance de postergar o final de Harry Potter nos cinemas e brindar os fãs com uma adaptação mais literal do último livro era algo que podia render bons dividendos. A solução foi copiada por outra franquia de grande porte, Crepúsculo.
A opção, no entanto, depôs contra um dos grandes trunfos da série cinematografia. A capacidade de produzir filmes narrativamente ágeis, fiéis ao espírito da obra e inteligentes, no sentido de não alienar nenhuma parte do público amealhado ao longo dos anos.
Ao evitar um trabalho de edição tão refinado como os habituais até o sexto capítulo, a produção permitiu que a saga se encerrasse brilhantemente como fenômeno pop que é, mas menor do que poderia ser em matéria de cinema.


Crescendo com o público
Desconsiderando esse pormenor instituído por razões financeiras, é preciso louvar uma das características mais marcantes de Harry Potter que a distingue de célebres franquias cinematográficas como Star Wars, Indiana Jones e O senhor dos anéis. A série foi crescendo com seu público em um movimento muito mais envolvente e perceptível do que se deu na literatura. O aspecto visual introduzido por Alfonso Cuáron redefiniu o pathos de Harry Potter no cinema, lhe conferindo urgência, sombras e relevo dramático. A direção de arte e a trilha sonora acompanharam o ímpeto da fotografia, que com uma quase imperceptível variação de paletas, fixou-se em tons acinzentados. Passaram pela série os diretores de fotografia Bruno Delbonnel (O enigma do príncipe), Roger Pratt (O cálice de fogo e A câmara Secreta), Michael Seresin (O prisioneiro de Askaban), John Seale (A pedra Filosofal), Slawomir Idziak (A ordem da Fênix) e Eduardo Serra (As relíquias da morte partes 1 e 2).

Chris Columbus e um ainda criança Daniel Radcliffe no set de A câmara secreta: montando o esqueleto da franquia mais rentável do cinema


A crescente de tensão e a provação moral do protagonista insurgiram em um nível que pressupõe que o público já não seja mais infantil. Apesar de Harry Potter ser notadamente um entretenimento infanto-juvenil com forte valor pedagógico, a ideia de maturar os filmes em termos narrativos à medida que o público alvo cresce com os personagens é tão vistosa quanto de difícil aplicação. Mas Heyman soube manusear muito bem essa demanda, escolhendo diretores sob medida para dar polimento ao roteiro de Steve Kloves . Kloves, aliás, foi outro acerto. O roteirista só não assinou o quinto episódio, que ficou a cargo de Michael Goldenberg. Essa unidade criativa sob a supervisão de Rowling e Heyman foi fundamental para que Harry Potter fosse irrepreensível na proposta de se firmar como um marco no cinema. Do ponto de vista financeiro, obviamente, mas sem perder de vista o excepcional potencial narrativo que Heyman soube dosar com maestria.


Perspectivas que se alinham
Quando percebeu que havia atingido, por assim dizer, o ponto G da série. Heyman optou por manter David Yates na direção. O britânico, egresso da tv, dirigiu os quatro últimos filmes e o fez com propriedade. Sem grandes variações estilísticas, preservou os acertos dos diretores anteriores e pôde dar mais atenção ao elenco – negligenciado pelas constantes mudanças na direção. Com Yates, Radcliffe aprimorou sua caracterização de Harry Potter e seus colegas souberam ser mais convincentes. Esses ganhos, é bem verdade, foram diminuídos nos dois últimos filmes, mas ainda assim os desempenhos se mostraram superiores ao período pré- Yates na série.
Há quem diga que Harry Potter é uma fábula moral conservadora. Outros enxergam na trama um forte testemunho de amizade e vocação, mas todos concordam que a fantasia foi brilhantemente resgatada pela série. Outras adaptações de obras do gênero pipocaram nos cinemas sempre com indisfarçáveis deficiências narrativas e dificuldades de dimensionar o drama central em tramas esquálidas e obtusas.

Harry em uma das cenas capitais de As relíquias da morte:parte II: a série se encerra e deixa algumas lições para a indústria do cinema


A exuberância narrativa de Harry Potter mostra que é possível sim fazer um produto de grande qualidade, extrema ressonância midiática e enormes interesses financeiros com rigor e evolução narrativa. A epopéia de David Heyman teve oscilações que só reforçam os pontos altos, pois são maioria. Foram os acertos - sempre calculados com a devida antecedência - que garantiram a longevidade da série que se encerra em 2011, propiciando grande aprendizado para a indústria do cinema.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Crítica - Harry Potter e as relíquias da morte: parte II

Épico e satisfatório!


Pode parecer uma incongruência a união de dois adjetivos tão distintos no enunciado dessa crítica, mas eles externam, de maneira enfática, o que é Harry Potter e as relíquias da morte: parte 2 (Harry Potter and the deathly hallows: part II EUA/ING 2011). O filme que fecha a franquia mais lucrativa da história do cinema se resolve com atenção especial aos fãs, mas com graves disfunções narrativas enquanto cinema. É bem verdade que a segunda parte de As relíquias da morte é bem mais envolvente do que o capítulo anterior. Com ação ininterrupta, o filme evolui para o embate final entre Voldemort e Harry com o tom solene que se imaginava e que era demandado. Contudo, alguns gargalos são perceptíveis. Muita coisa podia ser facilmente editada, sublimada para tornar o filme mais enxuto, dinâmico e eficiente. O bom exercício de decupagem verificado na grande maioria dos filmes da saga foi seriamente comprometido com a opção de dividir o último livro em dois filmes. Esse revés foi algo que o oitavo filme conseguiu suavizar, mas não reverter inteiramente.
O tom épico, facilmente absorvido pela portentosa trilha sonora assinada por Alexandre Desplat, pela ainda mais sombria fotografia de Eduardo Serra e pelos eventos definitivos que se sucedem é entremeado com essa pálida sensação de que a corda foi esticada além do desejável. Quando Harry finalmente subjuga Voldemort, o espectador já passou do ponto. É lógico que para o fã mais ardoroso o tempo passa de maneira diferente. E nesse eixo, As relíquias da morte-parte II se resolve como o auge criativo de uma adaptação que foi se aprofundando nos livros e se fidelizando a medida que o fim se aproximava.
Foi uma opção da produção pregar para convertidos. Harry Potter e as relíquias da morte-parte 2 encerra a saga do bruxo com menos qualidade narrativa do que iniciou lá no longínquo 2001; ainda que sobeje nos quesitos técnicos.
O fecho da saga se inicia exatamente onde o capítulo anterior havia terminado. Voldemort de posse da varinha mais poderosa do mundo se prepara para iniciar uma ofensiva a Hogwarts para impedir que Harry conquiste seu intento: eliminar todas as horcruxes e viabilizar o flagelo do senhor das trevas.

Até tu Voldemort? O melhor momento do oitavo filme é a risadinha incontida de Voldemort quando este julgava a vitória iminente...


Algumas cenas delineadas para mesmerizar os fãs surtem efeito com profunda ressonância dramática, porém, ironicamente, só reforçam essa indisposição narrativa que caracterizou os dois últimos filmes da saga. As 2h15min do longa poderiam ser 50 min da parte de um outro filme. Ademais, a cena da invasão de Hogwarts pelas forças de Voldemort (que poderia ser mais detalhada e ilustrada) se mostrou insuficiente. Para quem testemunhou o gigantismo apresentado na cena do abismo de Helm em O senhor dos anéis: as duas torres, as opções de David Yates aqui ratificam o infortúnio de dividir o último livro em dois filmes.
Os protagonistas novamente decepcionam. Radcliffe é quem aparece melhor. Mais exigido dramaticamente do que nos filmes anteriores, ele se beneficia do pouco espaço e material que Emma e Grint dispõem. Alan Rickman, com pouco tempo em cena, mostra mais uma vez sua soberania e se inscreve definitivamente como um dos maiores acertos de toda a saga. Possível crer que o ator ajudou a moldar o destino de seu Severus Snape na dramaturgia de J.K. Rowling.
Recuperar a participação de David Yates na série se faz necessário. O diretor mostrou-se assertivo e perspicaz em A ordem da fênix e O enigma do príncipe, inclusive melhorando as atuações dos protagonistas, mas sucumbiu ao equívoco de prolongar o desfecho da série. A narrativa seriamente comprometida vai na sua conta. Um infortúnio que os bilhões nas bilheterias do planeta irão transfigurar em acerto.
Harry Potter e as relíquias da morte-parte II, no entanto, não será lembrado por seus desacertos. E é correto que isso aconteça. A recordação será de apoteose. A nostalgia, que invade o público de vez na derradeira cena do capítulo final, se encarregará do resto.

domingo, 24 de julho de 2011

Insight

O filme proibido, ecos de censura e banalidades cinematográficas



Chamou à atenção da crônica cultural essa semana um filme de terror obscuro sérvio. Primeiro por sua exibição programada para o Riofan, festival de cinema fantástico realizado no Rio de Janeiro com patrocínio da Caixa Econômica Federal. Depois pelo veto ao filme instituído pela própria patrocinadora do evento. A serbian film – terror sem limites, de Srdjan Spasojevic já foi proibido em muitos outros países europeus como Inglaterra, Alemanha, França (onde os distribuidores foram até processados), Itália e Portugal. No entanto, o filme já foi exibido em alguns festivais realizados na Espanha, Portugal e no próprio Brasil, em um festival internacional de cinema em São Luís (MA) .
O motivo de tanta polêmica é por que a produção mostra, entre outras coisas, cenas de estupro de um recém-nascido, cenas de pedofilia e necrofilia, e situações em que um pênis é uma arma.
Spasojevic reage à truculência de seus censores dizendo que o filme é uma alegoria política da Sérvia em que cresceu. Vale lembrar que a Sérvia, parte da antiga Iugoslávia, ainda é marcada por conflitos étnicos, militares e civis.
Os críticos que já assistiram ao filme, de importantes veículos como The guardian, New York Times e Empire não endossam o argumento do diretor sérvio. Para eles, a trama de extremo mau gosto, virulenta e fetichista não permite nenhuma associação de cunho político, Spasojevic estaria tentando justificar seu filme por esse viés, agregando o referido valor político.
A serbian film não é o primeiro a provocar um debate tão inflamado sobre os limites de um cinema provocativo. A estética de produções como Os idiotas, de Lars Von Trier, em que atores interpretavam doentes mentais em uma leitura debochada, foi muito questionada no festival de Cannes de 1998. O mesmo ocorreu com outro filme a debutar naquele festival. O francês Irreversível (2002) chegou a causar desmaios durante uma demorada cena de estupro.

Cena de A serbian film, produção que já figura como das mais censuradas da história do cinema


Projetos como A serbian film são calculados para a polêmica. Existe toda uma alquimia para exceder limites do bom senso e provocar reações destemperadas dos interlocutores. No entanto, nada justifica uma censura prévia ao filme como fez, por exemplo, a Caixa Econômica Federal ao vetar sua exibição no evento que patrocina. Gestos como esse acabam por reforçar o interesse em uma fita que, em si, não se sustenta. Por isso a necessidade de chocar se impõe tão veementemente.
A proibição à A Serbian film denuncia que a sociedade ainda não superou determinados estigmas. O mau gosto da fita, e precisar se ela faz ou não apologia a crimes como pedofilia flerta com subjetividades, vai ao encontro de outra questão que já foi discutida aqui no blog: o conceito de arte e seus limites.
Spasojevic busca legitimidade como artista. Justifica seu filme como um manifesto e, até o momento, só o exibiu em festivais. Colheu reações adversas por onde passou, como acolheram cineastas polêmicos como Von Trier, Gaspar Noé e John Cameron Mitchell.

Cena de Os idiotas, de Lars Von Trier: estética discutida por ferir os parametros do bom senso


Seu filme fala majoritariamente de perversidades sexuais e bem sabemos que elas existem. Estão a confrontar-nos diariamente no noticiário. As mais perversas, do tipo que Spasojevic ilumina, escondem-se nos subterrâneos das cidades. Mas bem sabe o leitor que elas estão lá. À espreita. Trazê-las à luz de maneira indiscriminada mais do que chocar, assusta. Essa é uma constatação que, embora negligenciada pelos alvoroços em torno da censura à obra, merece atenção e desenvolvimento.
O cinema, mesmo o de mau gosto, tem se mostrado um instrumento valioso em pautar a sociedade. O cinema iraniano sempre foi muito ativo politicamente, ainda que de maneira mais elegante do que Spasojevic pretende se mostrar.
Portanto, ater-se à questão da censura, além da repetição, limita um debate muito mais rico à sua superfície.

sábado, 23 de julho de 2011

Cantinho do DVD

Passou despercebido nas salas de cinema brasileiras no inicio de 2011, esse que, até o momento, é o melhor filme de terror do ano. Doce vingança, é bem verdade, foi lançado na cova dos leões: em plena temporada do Oscar. Mas o bad timing da distribuidora não é desculpa para não alugar esse ótimo filme de horror que desenvolvido de maneira simples e eficiente garante boa hora e meia de diversão. A crítica a seguir.





Crítica
Eis que o cinema de terror conseguiu um bom respiro com Doce vingança (I spit in your grave, EUA 2010). A fita, repleta de desconhecidos e dirigido por Steven R. Monroe (que debuta na direção de cinema), é daqueles filmes que alimentam uma premissa com cara de lenda urbana com bastante sangue, mas sem descuidar da tensão.
A história é tão simples quanto banal nos círculos do terror. Escritora se retira em cabana deserta em cidadezinha mais deserta ainda para escrever; e vira vítima de uma quadrilha de sádicos que a estupra com requintes de crueldade. Após conseguir fugir, ela resolve voltar e vingar-se, com mais crueldade ainda, de cada um de seus algozes.
A trama se divide claramente em dois atos. O primeiro, e bastante pesado, engloba o momento em que Jennifer (Sarah Butler) é violentada. O desgaste emocional é algo que Monroe opta por frisar para valorizar seu segundo ato. O diretor não economiza no clima de iminência que se sobrepõe e convida o público a indignar-se com a hediondez dos caipiras, entre eles um homem da lei, que demonstram total falta de humanidade.
Na sequência, Monroe, sempre dentro de uma considerável e pertinente lógica interna, apresenta uma transformada Jennifer em busca dessa vingança que o título brasileiro chama de doce, mas que faz mais sentido com o ótimo e bem sacado título original (eu cuspo na sua cova). Jennifer cerca um a um, os responsáveis por sua tragédia e os submete a um destino cruel e definitivo. As cenas, embora mais curtas e menos tensas do que aquelas do longo primeiro ato, são suficientemente fortes para incomodar. Decepações, mutilação de órgão genitais e outras formas mais primais de tortura marcam uma catarse que de tão pretendida chega comemorada, embora Jennifer permaneça impassível frente aos olhos da platéia antes da subida dos créditos finais.
Doce vingança é extremamente previsível, mas ainda mais eficaz. Sem invencionices, Monroe faz valer a censura 18 anos com uma ininterrupta crescente de tensão e um genuíno apreço pelos filmes seminais de horror. Em um mundo habitado por Jigsaw e remakes conservadores, Doce vingança não se ressente de ser cruel durante os 108 minutos de sua metragem. Nem poupa sua platéia daquilo que pagou para ver.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Filmografia comentada - Clint Eastwood


Apresentação


Clint Eastwood dispensa introduções. É em seus adornos de homem feito e evoluído a tradução mais fiel de lenda viva. Homem de muitas mulheres e de uma mulher só, amante da boa música (queria ser pianista), toca vários instrumentos e compõe maravilhosamente bem. Esteve na guerra da Coréia e teve a coragem de mudar conceitos, rodou um filme para tornar isso público (Gran Torino). É republicano (já não tão) fervoroso e símbolo de uma América alfa que se enamora das armas, mas rodou filmes liberais como Menina de ouro.
Ator que não teve medo de aprender. Começou na profissão por ser bonito, mas teve que ir para fora do país, pois na América não encontrou espaço. De muso dos spaghetti italianos virou o maior autor do cinema americano. Seus filmes mobilizam críticos. A imprensa se surpreende com sua vitalidade. Em 2006 e 2008 lançou dois filmes de maneira simultânea. Clint mantém um escritório na sede da Warner, estúdio com quem mantém contrato, em Los Angeles. É admirado como homem, artista, intelectual e profissional. É um entusiasta da vida e de suas experiências. Figura apropriada para a inauguração deste novo espaço em Claquete.






Primeiro filme
Perversa paixão (Play misty for me, EUA 1971)

Clint Eastwood realiza, com invejável propriedade, esse drama em que um locutor de rádio mulherengo (o próprio Eastwood) engata um romance com uma fã no mesmo momento que a ex-namorada retorna a cidade decidida a reconquistá-lo. Um romance que vai ganhando corpo como thriller e que revela um diretor ágil, dinâmico e econômico.


Repisando as tradições
O estranho sem nome (high plans drifter, EUA 1973)

Após uma elogiada estréia como diretor, Eastwood se sentiu a vontade para conceber o próprio western emulando Leone nesse filme em que um forasteiro se incumbe da paz em um vilarejo. Um filme que honra as tradições do gênero e não denuncia um diretor iniciante.



A glória repentina
Os imperdoáveis (The unforgiven, EUA 1992)

Vinte anos separaram Eastwood do retorno ao western como diretor. Aqui ele revê o mito que ajudou a construir e demole alguns paradigmas do gênero com simplicidade narrativa, propriedade visual e uma história crepuscular que se agiganta a cada revisão.
Não à toa, o filme conquistou quatro Oscars e saudou o até então questionado Eastwood como um diretor reconhecido.



O próprio chefe
Um mundo perfeito (A perfect world, EUA 1993)

No mesmo ano, Eastwood estrelou Na linha de fogo, o último filme em que trabalhou para outro diretor. Um mundo perfeito marca uma nova fase em sua carreira em que só atuaria sob as próprias ordens. No filme, ele desvela uma trama de angústias e frustrações escondida em um filme de sequestro. Kevin Costner protagoniza, mas Clint surge como um homem da lei com alguma bagagem. Pensativo, Um mundo perfeito é dos primeiros Clints pessimistas a surgir no cinema.



Os brutos também amam
As pontes de Madison (The bridges of Madison county, EUA 1995)

Muitos até hoje se surpreendem ao constatar que Clint Eastwood é o diretor deste melodrama romântico e profundamente sereno sobre o amor. Hoje a surpresa incide menos, mas à época de seu lançamento, As pontes de Madison causou espantos na crítica e desorientação nos fãs mais conservadores de Eastwood. Ele contracena com Meryl Streep e dirige um doloroso epílogo amoroso com sensibilidade e coração. Um filme doído, verdadeiro e que figura como um dos pontos altos do cineasta.



Fase policial
Poder abolsuto (Absolute power, EUA 1997)

Com a segurança como diretor mais do que estabelecida e o trânsito pelos gêneros consolidado, Eastwood deu início a uma bem humorada fase policial. Esse filme em que Gene Hackman faz um presidente americano envolvido em uma trama de assassinato, Clint faz um ladrão de obras de arte que se transforma em peça chave do caso. Aqui Clint enseja um dos temas mais caros a sua filmografia, a orfandade e a questão da paternidade. Seu ladrão tem sérios problemas de relacionamento com a filha, vivida por Laura Linney.
A fase policial continuaria com Meia noite no jardim do bem e do mal (1997), Crime verdadeiro (1999), Dívida de sangue (2002) e culminaria no neo-clássico Sobre meninos e lobos (2003).


Clint com os dois oscars conquistados em 2005 por Menina de ouro: prestígio crescente em Hollywood



Canto do cisne
Cowboys do espaço (Space cowboys, EUA 2000)


Esse é o filme que mais se aproxima de uma comédia dentro da filmografia de Clint. Ele reuniu uma turma de veteranos (Tommy Lee Jones, James Garner e Donald Sutherland) para estrelar essa fita de ação sobre um time de veteranos astronautas que precisa resgatar um satélite no espaço. Era como se Clint antecipasse a fase áurea de sua carreira como diretor e se despedisse de sua encarnação anterior como artista.



A nova vida
Sobre meninos e lobos (Mistic River, EUA 2003)

A tragédia como elemento desagregador é a ideia que move esta crônica policial de tintas escuras narrada com maestria por Eastwood. O filme que rendeu críticas elogiosas levou Clint a Cannes e ao Oscar – de onde estava afastado desde Os imperdoáveis – e revelava um diretor sem medo de assumir sua veia autoral.

 Sean Penn e Kevin Bacon em uma das últimas cenas de um dos filmes mais dolorosos do cinema recente



Consagração suprema
Menina de ouro (Million Dollar babay, EUA 2004)

Um ano após a erupção provocada pelo sublime Sobre meninos e lobos, Eastwood volta a causar impacto com outra história dolorosa sobre perdas. Triste, Menina de ouro, no entanto, acena com a redenção que faltara ao Eastwood anterior. De underdog, virou o grande filme de 2004 e faturou os Oscars de filme e direção. Clint entrava para o seleto grupo de diretores a ostentar mais de um prêmio da academia.
A história da boxeadora e seu treinador que desenvolvem uma relação de afeto e carinho desemboca em uma dolorosa história sobre recomeço, perdão e eutanásia. Mas o filme é tão magnânimo e humano que escapou à polêmica.



A outra face da guerra
A conquista da honra/Cartas de Iwo Jima (EUA/Japão 2006)

 Cada vez mais confortável na posição de autor, Eastwood realiza esse projeto audacioso sobre uma das batalhas mais icônicas da segunda guerra mundial. Com produção de Steven Spielberg, Eastwood rodou um filme sobre a indústria da guerra e como a propaganda é vital para sua sustentação. Foi durante a produção de A conquista da honra que Eastwood teve a ideia de rodar um filme a partir da perspectiva japonesa do conflito. O incomum ponto de vista do lado perdedor da guerra rendeu nova indicação ao Oscar ao cineasta. Cartas de Iwo Jima sacramenta a visão autoral de Eastwood ao privilegiar um diálogo com os sentimentos e buscar um olhar inédito sobre o conflito.



A despedida do ator
Gran Torino (EUA 2008)

O gosto pela direção já estava mais do que provado e Eastwood jamais colhera tantos louros no ofício quanto na década de 00. A decisão de assumir inteiramente a direção, abandonando o ofício como ator, deu mais importância a esse drama revisionista e profundamente humano que lançou em 2008. Gran Torino é um testamento do ator Eastwood e mais uma prova do cineasta articulado, democrático e robusto que é Eastwood. O filme sobre o veterano da guerra da Coréia que vai sobrepujando seus inúmeros preconceitos a medida que o filme avança é uma lição de vida sem ser moralista. É dos grandes filmes, ainda que rigorosamente simples, da história do cinema.

Clint Eastwood com uma grávida Angelina Jolie no festival de Cannes de 2008, onde exibiram em competição A troca


Inquietação temática
Além da vida (Hereafter, EUA 2010)

Da altivez de seus 80 anos, Clint Eastwood tem se permitido experimentar. Realizou outro filme sobre o perdão disfarçado de biografia (Invictus) e enveredou por um drama de conotação espírita que celebra a vida (Além da vida). O filme protagonizado por Matt Damon é dos mais estilizados de Clint, mas mantém a propriedade narrativa, o esmero acadêmico e o classicismo que caracterizam seu cinema.
O diretor manipula efeitos especiais com destreza e investe na sutileza para amparar uma história de comunhão muito maior do que a restrita sinopse da fita sugere.


Cenas dos próximos capítulos: Clint Eastwood e Leonardo DiCaprio no set de J.Edgar. Ninguém ainda viu o filme, mas ele encabeça a lista de favoritos ao Oscar 2012 de quase todo mundo. Para o ano que vem, Clint irá dirigir o remake de Nasce uma estrela que será protagonizado pela cantora e atriz Beyonce

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Em off

Nesta edição de Em off, as impressões (e algumas divagações) sobre os primeiros trailers de dois dos filmes mais aguardados de 2012; a comédia que promete marcar 2011; o lembrete de uma nova seção que chega a Claquete; o reinado de Harry Potter ainda ofuscando o horizonte e considerações sobre três produções que não tem nada a ver entre si, mas tudo a ver com você cinéfilo.



As primeiras impressões sobre o novo Batman
Junto com o último Harry Potter foi revelado o primeiro teaser do último Batman de Christopher Nolan. O filme, que ainda está sendo gravado, é fortemente aguardado por cinéfilos e crítica. Nolan, como se sabe, tem aumentado as expectativas em torno de sua obra. O novo Batman beira o colapso nesse sentido. Talvez por isso, esse primeiro teaser liberado um ano antes do lançamento nos cinemas (a exemplo do que ocorrera com A origem), revele tão pouco. A ideia é rememorar a trajetória do vigilante e lembrar a audiência, nas palavras do comissário Gordon (Gary Oldman) da angústia experimentada pelo homem-morcego. O teaser aguça ao trabalhar com conceitos já estabelecidos no final de O cavaleiro das trevas. O que permite supor que a engenharia do marketing da Warner deve privilegiar uma campanha, guardadas as devidas proporções, similar à realizada para promover A origem. Deu muito certo a ideia de revelar pouco da trama e bombardear o público com imagens conceituais de alto impacto. Contudo, Batman é algo que não pode ficar totalmente no escuro. Vai ser interessante ver como essa história se desenrola...



As primeiras impressões sobre o novo aranha
A Sony liberou o primeiro trailer de O incrível Homem Aranha. O filme, que medirá forças com Batman no verão de 2012, é um precoce reboot da série iniciada em 2002 com Tobey Maguire como Aranha e Sam Raimi na direção. Quem lê Claquete há muito tempo acompanhou a série de postagens que pormenorizou os bastidores da decisão da Sony de demitir a equipe criativa do quarto filme e reiniciar a série.
Com Andrew Garfield como o cabeça de teia e Marc Webb atrás das câmeras, a produção - mais barata – objetiva reestruturar a trajetória do Aranha no cinema. A linha Ultimate, que fez o mesmo nos quadrinhos com vários personagens da Marvel, é uma escudeira aqui. No entanto, o trailer repisa onde o primeiro filme de Sam Raimi andou tão bem. O vídeo promocional não sugere conflitos distintos dos vislumbrados na fita de 2002. A estrutura narrativa parece a mesma e, pelo menos nesse momento, tudo indica que as comparações serão desfavoráveis à empreitada.
Nas próximas edições de Em off, mais notícias sobre O incrível homem aranha.





Amanhã tem estréia...
Aqui em Claquete. Com 60% dos votos, o cineasta Clint Eastwood foi escolhido para estrelar a primeira seção Filmografia comentada do blog. A nova seção vem substituir Panorama e irá destacar, com uma rica combinação de análise e informação, as filmografias de importantes figuras do cinema.



Os números de Harry Potter

Foi uma estréia demolidora. Harry Potter e as relíquias da morte-parte II destroçou antigos recordes e segue reinando absoluto nas bilheterias. O filme desbancou Lua nova como o de maior faturamento em um único dia com U$ 92 milhões. Foram 18 milhões a mais do que a marca anterior. O oitavo Harry Potter também destronou Batman – o cavaleiro das trevas e sua vistosa marca de melhor bilheteria de fim de semana de estréia (a jóia na coroa de qualquer blockbuster). O recorde anterior era de U$ 158, Harry Potter e as relíquias da morte-parte II cravou U$ 169,2 milhões. Mundialmente, o filme do bruxo amealhou U$ 485 milhões e foi o mais rápido a atingir U$ 200 milhões nos EUA em toda a história.
Com toda a frenesi Harry Potter acontecendo aí fora, Claquete quis saber do leitor qual era o melhor diretor da saga. O vitorioso foi David Yates, aquele que teve mais filmes para dirigir. O primeiro a assumir o posto , Chris Columbus ficou com a segunda posição. Cuáron e Newell também foram lembrados.
O último filme, fresquinho na memória, foi considerado por 33% dos (e)leitores o melhor da saga. Seguido de perto por As relíquias da morte-parte I e O prisioneiro de Askaban. O único a não ser lembrado foi O enigma do príncipe.


A comédia do ano?
Kevin Spacey como um tipo truculento e preconceituoso, um Colin Farrel careca e barrigudo igualmente preconceituoso e uma Jennifer Aniston ninfomaníaca como chefes de Jason Bateman, Jason Sudeikis e Charlie Day respectivamente. Os três subordinados infelizes resolvem matar seus chefes. Para tanto, resolvem contratar o serviço de consultoria prestado por um histriônico Jamie Foxx. O filme, que já está em cartaz nos EUA, estréia no Brasil em 12 de agosto. Quero matar meu chefe registrou a melhor estréia para uma fita proibida para menores de 18 anos depois dos dois exemplares de Se beber não case. Confira as cenas que Claquete disponibiliza (em inglês) e especule se isso é o bom ou ruim.








Um filme que tem tudo para dar certo
Anunciado há poucas semanas, o filme Rush promete ser uma das atrações da temporada de prêmios de 2013. A produção mostrará a rivalidade entre os pilotos de Fórmula 1 Niki Lauda e James Hunt na década de 70. “A rivalidade é o que move a trama”, assegurou o roteirista Peter Morgan de filmes como A rainha e Frost/Nixon. Ron Howard reeditará a parceria estabelecida com Morgan neste último. E os dois atores principais já foram contratados. O australiano Chris Hemsworth – em alta com o sucesso de Thor – será Hunt e o hispano alemão Daniel Bruhl viverá Lauda.



Um filme que deve dar certo
O diretor do sueco Deixe ela entrar, um thriller de espionagem baseado em John Le Carré que imagina as circunstâncias da criação do icônico personagem James Bond e um elenco capitaneado pelo oscarizado Colin Firth com Gary Oldman, Tom Hardy, John Hurt, Ciarán Hands e Mark Strong.
As rusgas entre as agências de inteligência britânica e soviética são a matéria prima da fita que será lançada no festival de Toronto em setembro. No Brasil, a estréia de O espião que sabia demais está agendada para janeiro de 2012.

Colin Firth, que não quer perder de vista seu assento no Kodak Theatre, protagoniza O espião que sabia demais 

Gary Oldman faz um agente britânico em busca de respostas 


Mark Strong vive mais um vilão em sua carreira, mas no final da história ele bem pode ser um dos moçinhos...


Um filme que deve dar errado
Ficou meio na moita o primeiro trailer de Sherlock Holmes: jogo das sombras. Lançado na semana passada, o primeiro vídeo do filme que estréia no natal desse ano sugere que a sequência dirigida novamente por Guy Ritchie investirá em tudo que deu certo no primeiro filme: Robert Downey Jr., Robert Downey Jr. e Robert Downey Jr. Também devem marcar presença a nivelada química com Jude Law, o humor rasteiro e as piadas inteligentes. Contudo, Jogo das sombras nesse primeiro trailer deixa escapar um desgaste que pode prejudicar seriamente a performance do filme junto à crítica. A conferir.