Um dos pontos altos do último Festival de Cinema de Paulínia, realizado no início de julho, foi a criação da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abracine). A organização que reunirá nomes ligados à atividade crítica de cinema em todo o país chega para preencher uma lacuna da classe. Na Europa e nos EUA, entidades alinhadas ao mesmo conceito que rege a Abracine já existem há algum tempo.
A associação deverá zelar e orientar a atividade da crítica de cinema no país, mas pode se revelar um órgão castrador.
A expressão do órgão vai depender da forma como se articulará. Emitir juízos politicamente corretos em casos de repercussão midiática – como no impasse jurídico que cerca a comercialização da fita A serbian film no Brasil – não viabilizará a Abracine como um órgão independente e de ressonância. Tão pouco a criação de um prêmio específico (algo que já deve estar em elaboração). Prova disso é a pouca ressonância do Grande Prêmio do Cinema Brasileiro que está aí para provar que cinema nacional, sem indústria, não pode pretender a figuração do cinema americano.
A crítica de cinema brasileira é pouco uniforme e, em última instância, mal preparada. Há poucos críticos que ostentam o chamado “conhecimento de causa”. Há muito achismo e gostos particulares preponderando em sites e veículos da grande imprensa. Nesse sentido, uma das frentes em que o órgão deveria atuar seria pela profissionalização e regularização da atividade. A coluna Questões cinematográficas editada no mês de junho, sob o título “A homogeneidade da crítica de cinema e esterilização da análise fílmica”, apontava para a agonia pela qual a crítica de cinema, em especial no Brasil, atravessa.
A notícia de que um órgão foi criado para representar a classe é bem vinda. Contudo, os termos dessa representação ainda precisam ser clareados. É preciso pensar que o crítico de cinema, majoritariamente de formação jornalística, já tem um conjunto de órgãos e sindicatos representativos. Portanto, a Abracine terá que se mostrar viável - e terá de ser hábil nesse aspecto- de maneira a não se anular ante um pool de representantes que pouco representam. Terá de evitar, também, uma certa estatização tão cara a entidades ligadas à cultura. A crítica está de olho.
Demorou mas fizeram isso! Demorou, na verdade. Legal você trazer esse tipo de informação para cá. É importante para cinéfilos verem o que está acontecendo de manifestações na "burocracia" (boa) do nosso cinema.
ResponderExcluirReinaldo, você, como sempre, ponderado e equilibrado em suas considerações. Perfeito o texto! E gosto da profissionalização, ou do princípio da profissionalização, dos críticos de cinema. A categoria precisava se organizar mesmo.
ResponderExcluirLuiz Santiago: Valeu Luiz. A ideia de Claquete é atingir essa pluralidade em matéria de cinema. Cobrindo, na medida do possível, todas as esferas da sétima arte.
ResponderExcluirabs
Kamila: Poxa, obrigado pelos elogios Ka. Bjao