sábado, 8 de outubro de 2011

Crítica - Trabalhar cansa

Cinema e tutano!

Há de se comemorar o lançamento de Trabalhar cansa (Brasil 2011). O filme que marca a estréia em longa metragens dos curta metragistas Marco Dutra e Juliana Rojas. A fita, cuja classificação predominante infere uma mescla dos gêneros fantástico e dramático, vem oxigenar uma produção paralisada em termos de ideias e estruturas narrativas. Trabalhar cansa conta a história de uma família de classe média paulistana. É quando Helena (Helena Albergaria) decide abrir um negócio (um mercadinho) que seu marido Otávio (Marat Descartes) é demitido. A busca por uma nova colocação não será mais frutífera do que o dia a dia de Helena na condução do novo negócio da família. No entanto, o esquete de drama familiar não limita as aspirações de Dutra e Rojas. Eles arejam a trama com uma respeitável, e bem urdida, crônica suburbana que pesca um outro momento de humor. O cinismo contido em cenas e situações reconhecíveis pontua, mais do que respiros, percepções da realização sobre as demandas e frustrações as quais a classe média está sujeita.
Outro elemento bem arquitetado é a atmosfera de horror que cresce à medida que a trama avança. Sem uma conexão óbvia e bem delineada com a principal linha narrativa, o horror, que em certos momentos polariza as atenções da platéia, é utilizado mais como uma metáfora do que como algo a ser compreendido na superfície. O surrealismo proposto por Rojas e Dutra dialoga com o realismo bruto da mise-èn-scene dos ambientes exteriores ao mercado – local em que a trama cede ao mistério.

Helena e o mistério do mercadinho: um mcguffin no melhor estilo Hitchcock ou uma homenagem ao surrealismo de Buñuel?



Nesse sentido, um comentário acerca das atuações precisa ser feito. A princípio elas provocam estranheza. Parece faltar aos atores convicção cênica. Até mesmo passa pela cabeça do espectador tratar-se de má direção de atores. Com o tempo, essa impressão se reformula completamente. O estado quase catatônico com que os atores surgem, ajuda a manter uma distância providencial e permite ao espectador atentar para os contornos da trama; além de ser um traço autoral em um filme que busca pensar uma linguagem cinematográfica totalmente inovadora em parâmetros narrativos.
Inovação é mesmo a palavra de ordem aqui. O registro, que ostenta um prolixo fluxo de gêneros, encontra no suspense um decalque poderoso do opressivo mercado de trabalho. Mesmo em situações que não favorecem nenhum tipo de suspense, os diretores conseguem induzir sua audiência à indagação. Um recurso válido para conduzir o público para o final anticlimático e narrativamente robusto em que a última frase “é de quem gritar mais alto”, salta em significado e todo o surrealismo apresentado até então converge em uma esmagadora verdade: Trabalhar cansa é um filme para quem gosta de pensar no cinema, mas antes disso, para quem gosta de pensar cinema.

6 comentários:

  1. Esse tá na minha lista de "a serem vistos", hehe.

    bjs

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  2. Parece um filme interessante mesmo, quero conferir. Sempre dou chance a produções nacionais, ainda mais com qualidade.

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  3. Ótima crítica, Reinaldo! :) Também está na minha lista do "a serem vistos'. :)

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  4. Amanda: Acho que vc vai gostar!
    bjs

    Celo: Esse é o espírito!
    Abs

    Kamila: Valeu Ka.
    Bjs

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