Brian De Palma é um cineasta que dispensa apresentações. Mesmo
assim é sempre válido apontá-lo como um dos mais fiéis e talentosos seguidores
de Alfred Hitchcock. Seguidor porque diferentemente daqueles que são
influenciados pela obra de Hitch, De Palma o emula minuciosamente em filmes
imaginativos e que em nada ficam a dever ao grande mestre. Blow out – um tiro
na noite (Blow out, EUA 1981) é um desses picos de criatividade do cineasta que
fariam Hitchcock orgulhoso.
Jack Terry (John Travolta) é um sonoplasta que enquanto
grava sons para utilizar como efeito sonoro nos filmes nos quais trabalha acaba
gravando um acidente de carro. Nessa gravação, no entanto, ele captura um som
que o faz crer que o acidente, na verdade, fora provocado por um tiro. O fato de
a vítima ser um governador cotado para concorrer à presidência eleva suas
suspeitas.
Um tiro na noite começa com um dilema: Terry e Sam, o
diretor de um filme de terror passado em uma universidade, não conseguem achar
o grito ideal para uma cena de assassinato à facadas em um chuveiro. A
metalinguagem com o cinema de Hitchcock é sempre conduzida com extrema
sofisticação por De Palma, mas em Um tiro na noite, atinge o ápice de
criatividade e reverência.
Terry salva do afogamento certo uma garota que fazia
companhia ao governador. É ainda no hospital que ele percebe que aquele caso não
cheira bem. Primeiro, a polícia não parece interessada demais no acidente que
pode não ter sido um acidente, depois, a equipe do governador quer tirar a
garota “da cena” para evitar embaraços para a família dele. Terry decide fazer
uma investigação paralela e é aí que o gênio de De Palma brilha intensamente.
Desalinhando a trama com contundência e parcimônia, De Palma
vai revelando uma intrincada conspiração que se alimenta do clima de paranoia da
época da guerra fria. A ameaça comunista é um fantasma citado vez ou outra, mas
é a face assustadora de John Lithgow, como o capanga responsável por aparar as
arestas do plano conspiratório, que imprime o ar hitchcockiano definitivo a Um
tiro na noite.
Não há nada fora do lugar no filme. Desde a mise-em-scène
robusta, passando pelos conflitos dos personagens e culminando no final
desorientador em sua grandeza cinematográfica. De Palma realiza um filme cheio
de energia, com pulso de noir, verve de fita policial setentista e jeitão de
ode ao cinema. Obrigatório!
Brian de Palma é, sem dúvida, um dos grandes diretores de cinema de todos os tempos. Não assisti ainda a esse filme, mas, pelo seu texto, dá para perceber que se trata de uma obra excelente e indispensável para qualquer cinéfilo. Anotei a dica.
ResponderExcluirÉ isso aí Reinaldo! Mais um ótimo texto. Concordo com você que o De Palma foi o seguidor mais fiel de Hitchcock, principalmente nas imaginações e rubricas poéticas em alguns filmes que homenageiam Hitch. O meu predileto é "Vestida Para Matar" que é Psicose na veia. Amo 'Carrie', 'Dublê de Corpo' e achei 'Femme Fatale' subestimado, citando alguns. Precisaria rever "Blow Out" que tb deixa claro sua fixação pelo mestre do suspense. Outros cineastas tb o fazem, como Shyamalan, por exemplo, mas o De Palma foi o mais "gritante" neste sentido. Pena que hoje anda sem a mesma vibe. Ainda não vi o recente dele, "Passion".
ResponderExcluir*Adoro a Nancy Allen neste momento da carreira. Infelizmente, depois só lembro dela em "Robocop"!
Abs.
Kamila: I hope you like it!
ResponderExcluirBjs
Rodrigo Mendes: "Dublê de corpo" é mesmo genial. Adoro De Palma e revi esse filme recentemente no Telecine Cult. Não me recordava que era tão bom...
Abs