Fazendo o mesmo, mas de forma diferente
A comédia brasileira está desgastada? A resposta pode ser
desalentadora quando você percebe exatamente para onde um filme vai após seus
cinco primeiros minutos. O que difere O concurso (Brasil 2013) da média das
comédias nacionais que voltaram a brilhar nas bilheterias do país em 2013, é
que o filme de Pedro Vasconcellos assume essa “imperfeição” de cara e brinca
justamente com a noção de que o que importa é a viagem e não o destino, tanto
em sua estrutura narrativa, como em suas soluções dramáticas.
Se beber, não case! (2009) é uma referência, ainda que
inconsciente, a aumentar o brilho do filme que consegue brincar com
estereótipos sem deixar de preservar a humanidade dos personagens, algo nem
sempre tangenciado no filme americano. O grande mérito de O concurso, nesse
aspecto, é pegar estereótipos de larga fama no país, como o gaúcho homossexual,
o carioca malando, o nerd virgem do interior, entre outros e inseri-los com
naturalidade em outro estereótipo, menos notório, mas muito mais fechado que é
o do concurseiro, aquela pessoa obstinada em passar em um concurso público que
reorganiza toda a sua vida para esse propósito e, por vezes, continua
concurseira mesmo depois de uma eventual aprovação.
"Me come ou eu te mato": o dilema nonsense de Bernardinho (Rodrigo Pandolfo) imposto pela voluptuosa participação de Sabrina Sato
Ou seja, brincar com sonhos e estereótipos não é uma
primazia deste filme, mas ele é muito feliz ao fazê-lo de forma irreverente e
privilegiando o trabalho dos atores em detrimento de maior veracidade do
roteiro.
Fábio Porchat, na pele do gaúcho envolto em dúvidas acerca
de sua sexualidade, Anderson Di Rizzi, como o nordestino mandingueiro que faz
votos a todos os santos, Rodrigo Pandolfo, como paulista do interior virgem e
filhinho de mamãe, e Danton Mello, como o advogado malandro carioca, esbanjam
química como os quatro finalistas do concurso para juiz federal que perdem as
estribeiras no fim de semana que antecede à realização do derradeiro exame para
o cargo. O filme torna toda a situação mais dramática ao delimitar que apenas
um dos quatro será aprovado. Mesmo com o clima de rivalidade à espreita, eles
desenvolvem uma amizade que irá desfilar pelas obrigatórias paisagens das
comédias brasileiras (favela, funk, e biblioteca nacional?).
Por fim, trata-se de um filme que não faz feio ao filão do
bromance e que incute na comédia brasileira a noção de que ela pode se reciclar
sem abrir mão de suas características mais marcantes. O que precisa se delimitar é se é esse o caminho a ser seguido.
Nossa, a sua foi a primeira crítica positiva que vi desse filme! Sempre estava vendo uns comentários dizendo que as piadas eram sem graça e o filme previsível. Para não falar do quanto avacalharam a pobre da Sabrina por aí. Bem, você dizendo, eu confio, rsrsrs
ResponderExcluirAline: Não é exatamente positiva, mas o filme passa longe de ser essa draga que muitos críticos estão pintando por aí. A comédia brasileira apresenta problemas crônicas que são reprisados aqui, mas o filme traz também um trabalho de referências muito legal. Já a Sabrina não tem defesa. rs
ResponderExcluirBjs
Ontem assisti o concurso e gostei! O problema é que tem um monte de babaca metido a crítico e não percebe que nem todo filme é para ser tão analisado... Ri bastante e olhe que não costumo dar risada a toa... Achei muito bom para o que oferece, que uma comédia, apenas uma comédia... Nota 10! E gostei da sua crítica Reinaldo. Isso que é crítica e não como esses caras que colocam defeito em tudo! Uns babacas mal amados!! Pôxa, estamos falando de qual filme? Cinema paradiso? Cidadão Kane? Poderoso chefão? Touro indomável?? Ou será o ótimo suspense o "O orfanato"? Tenham piedade! O Concurso é muito legal! Todos deram muita risada no cinema!
ResponderExcluirObrigado pela deferência. Pois é, acho que a crítica cinematográfica precisa se prestar a analisar o filme por sua proposta e contexto. Sempre procuro fazer isso em minhas críticas.
ResponderExcluirAbs