Frenesi romântico
Era uma aposta alta e O grande Gatsby (The great Gatsby, EUA
2013) de Baz Luhrmann compensa. Não é o filme que a complexa e obstinada obra
de F. Scott Fitzgerald merece, mas é um filme oxigenado, esteticamente
impressionante e que busca redimensionar a percepção da extravagancia e
hedonismo característicos dos anos 20 com uma inspirada colagem da imortal
percepção do amor romântico, com a esperança fomentada pelo capitalismo no
pós-guerra como fluxo dramático a prover equilíbrio. A luz verde, tão importante
na concepção e dimensão da obra de Fitzgerald, é o guia supremo de Luhrmann na
confecção do que de mais assertivo seu O grande Gastby tem a oferecer. Nesse
sentido, o diretor – que teceu o roteiro do filme em parceria com Craig Pearce
– buscou alinhavar a crítica ao sonho americano do qual tão brilhantemente a
obra original trata.
Se esse componente está preservado em O grande Gatsby, não
deixa de estar, também, recodificado. O sonho americano, seu aspecto sombrio, o
preço cobrado por ele e suas circunstâncias não constituem o foco primário de
Luhrmann. Seu interesse reside, primeiramente, no fascínio por uma era de
excessos e, em um segundo momento, no desenlace de uma história de amor urdida
nos porões de almas aflitas e mentes inquietas.
A figura de Gatsby, nesse contexto, é imperiosa. Leonardo
DiCaprio dá ao personagem sua cota de fascinação e charme. O ator sabe penetrar
com desenvoltura nas camadas mais profundas de um homem que perde de vista a
fronteira entre esperança e obsessão. Se Luhrmann não se aprofunda nesse
minucioso recorte, DiCaprio, em sua habitual excelência, demonstra o que O
grande Gatsby poderia ter sido.
Ao optar por dar relevo às extravagancias de uma época
efervescente, Luhrmann acerta em
cheio. Seu filme é inebriante em certos momentos e faz com
que a audiência capture exatamente a sensação que tomava aqueles personagens em uma Nova Iorque de
excitação fugaz. Nesse recorte em particular, a música do filme é muito feliz.
Com produção executiva do rapper Jay Z, a fusão de hip hop e jazz propicia essa
ebulição que ocorre tanto nos três protagonistas como no período em que o filme
se desenvolve.
No entanto, essa construção que norteia a narrativa, esvazia
o ranço analítico objetivado por qualquer obra cinematográfica que se debruce sobre
aquele que é considerado o maior romance americano de todos os tempos.
Leonardo DiCaprio e Joel Edgerton são os responsáveis pelas melhores atuações de O grande Gatsby. Já Carey Mulligan falha no registro de Daisy, a grande idealização de Gatsby
Natural, além de compreensível, a grita de grande parte da
crítica americana com o filme. Mas é preciso julgar a execução ante sua
proposta e, como esclarecido anteriormente, a ideia de Luhrmann nunca foi
investigar profundamente essa conflituosa época do período americano. A relação
entre a América do passado e do presente pode até ser destacada por alguém mais
entusiasmado com o filme, mas ela não está lá. Luhrmann não quer fazer críticas
ou paralelismos. O que ele quer é dar viço ao frenesi romântico que marcou uma
época. Dar cor e vibração ao romantismo de uma América sombreada pelo cinismo
vigente. O otimismo de Gatsby , e o fim do personagem, levaram Nick Carraway
(Tobey Maguire) – o narrador da estória - ao hospício nessa versão
de Luhrmann. Uma mudança que pode parecer desarranjada, mas particularmente diz
muito sobre as expectativas. E está aí, na instabilidade das expectativas, a
grande força desse O grande Gatsby.
Mesmo que tenha as suas falhas, quero muito ver, claro!
ResponderExcluir"fascínio por uma era de excessos" e põe excessos nisso, hehe. Mas, é isso, ele fez, como sempre, a sua escolha estética, mas deixa pistas para o que tem por trás da obra, principalmente no terceiro ato.
ResponderExcluirbjs
Alan: Não acho que o filme tenha falhas Alan. A falha, se é que podemos apontar isso, reside na expectativa.
ResponderExcluirAbs
Amanda: É bem por aí...
bjs
Excelente crítica.
ResponderExcluirBj
Melhor crítica que lí até agora.
ResponderExcluirMadame: Obrigado madame! Um mês depois estou rspondendo seu comentário, né? Não tinha visto antes...
ResponderExcluirbjs
Marcos Farias: Muito obrigado Marcos. Por comentários e reconhecimentos como o seu qe dá gosto seguir adiante com este projeto que é Claquete.
abs