O australiano Baz Luhrmann é muito ligado ao mundo da moda.
Não só pela ênfase que dá ao corte e costura em seus filmes, tampouco por ser
casado com a figurinista Catherine Martin, responsável pelos figurinos de O
grande Gatsby, nem por ter rodado entre seus filmes, curtas-metragens focados
em questões do mundo da moda – como Schiaparelli & Prada: impossible
conversations, mas por refinar a linguagem do cinema com uma estética que se alimenta
vertiginosamente de conceitos mais reconhecíveis no mundo da moda. Não à toa,
sua versão para um dos maiores clássicos da literatura americana chamou tanta a
atenção das principais grifes – como Brooksfield, Armani e Gucci que lançaram
coleções inspiradas no filme.
Ainda que seja o filho pródigo da moda no cinema, Luhrmann
não é unanimidade na sétima arte. Depois de causar frisson com sua estreia, Vem
dançar comigo (1992), um filme de dança com todos os seus deliciosos clichês,
embalados por uma técnica assombrosa, o diretor aterrissou no cinema americano
cheio de ambição: uma versão de Romeu e Julieta para o público jovem. Romeu +
Julieta (1996) tinha um ainda relativamente desconhecido Leonardo DiCaprio como
Romeu e Claire Danes como Julieta. O diretor transferiu a encenação da
consagrada peça de Shakespeare para a modernidade, mas preservou o linguajar
medieval ocasionando um choque nefasto as suas intenções. A música continuava a
ser uma bússola para seu cinema, assim como a depuração visual. Romeu +
Julieta, no entanto, não trazia nada de novo além da ambição desenfreada do
cineasta ávido por causar na cena hollywoodiana. O filme foi um relativo
sucesso de público e dividiu a crítica. Parte louvava seu vigor estético e
parte enxergava-a como Kitsch, ou seja, uma emulação mal resolvida a um modelo
de arte. E Romeu + Julieta, nesse sentido, seria mais do
que sintomático. Mas aí veio Moulin Rouge – amor em vermelho (2001). Outro
passeio estilístico de Luhrmann ao passado, dessa vez ao século XIX e com outro
choque proposto. Ele realiza aqui um musical e coloca músicas pop de gente como
Madonna, U2, Elton John e David Bowie no contexto da França do século XIX para
narrar uma história de amor, ganância, luxo e perdição na França dos cabarés. O
kitsch continua a rondar a mise-en-scène de Luhrmann, mas aqui adquire novo
status. Status de arte em
si. Moulin Rouge revigorou o gosto popular, e do cinema,
pelos musicais. Um filme com personagens bem delineados, conflitos bem tracejados,
direção segura, técnica a mil...
Moulin Rouge é um triunfo contumaz. O ponto alto da carreira
de Luhrmann e que o levou a Austrália (2008). O projeto foi complicado e
Luhrmann estourou o orçamento repetidas vezes. Perdeu seu protagonista, ele
queria Russell Crowe e acabou ficando com Hugh Jackman e teve de mudar o
cronograma de filmagens para poder reeditar a parceria com Nicole Kidman. Ele
vendia o projeto como o “seu E o vento levou” e não escondia a intenção de
fazer um épico americano, mas passado na Austrália. A estranheza predominou e
Austrália se revelou um filme irregular e, também, um fracasso de bilheteria e
crítica retumbante. A Fox que trabalhava com Luhrmann desde o início de sua
carreira rompeu com o diretor. Austrália danificou severamente o estúdio e
justamente em um ano em que a mais severa crise surgia no mundo desde
1929.
A megalomania de Baz Luhrmann atinge novo relevo com O
grande Gatsby. Ele decidiu fazer o filme assim que terminou de ler o livro, em
2001, pouco depois de ter lançado Moulin Rouge – amor em vermelho. A Warner
abrigou o projeto. A opção pelo 3D foi do estúdio, mas Luhrmann a abraçou com
gosto. Seu cinema de cores e planos vibrantes tende a ser valorizado pelo
recurso.
O diretor não tem nenhum novo projeto anunciado, mas é certo que seu novo filme irá se aproximar, quiçá ultrapassar, Moulin Rouge em faturamento. Não se engane. O charme da adaptação reside todo ele em ser O grande Gatsby de Baz Luhrmann. Assunção esta que diz muito sobre o fato do diretor ser encarado como visionário e também como um expoente do Kitsch moderno. Há quem acredite que não tem como ser um sem ser o outro.
O diretor não tem nenhum novo projeto anunciado, mas é certo que seu novo filme irá se aproximar, quiçá ultrapassar, Moulin Rouge em faturamento. Não se engane. O charme da adaptação reside todo ele em ser O grande Gatsby de Baz Luhrmann. Assunção esta que diz muito sobre o fato do diretor ser encarado como visionário e também como um expoente do Kitsch moderno. Há quem acredite que não tem como ser um sem ser o outro.
Baz entre Nicole Kidman e Hugh Jackman no set de Austrália: depois de seu melhor momento na carreira com Moulin Rouge, veio o pior com Austrália
Não acho o Baz muita coisa e já gostei mais de "Moulin Rouge". Seu conceito de estética, moda, é até louvável. Acho que nem visionário e nem kitsch ele é, e que nesse caso , teria que ser um ótimo contador de estórias, alguém como, digamos, Almodóvar. Não simpatizo tanto pelos seus filmes. Verei O Grande Gastsby de qualquer forma a pedido de minha prima que é estilista. Oremos. rs
ResponderExcluirAbraço. Ótima matéria meu caro.
Rodrigo: Eu até gosto dele, mas o propósito da matéria era repercutir duas visões disseminadas sobre o diretor dentro da indústria cinematográfica e que reverbera no público. Pessoalmente, acho que ele até se ajusta ao kitsch.
ResponderExcluirAbs