Rodrigo Santoro e Wagner Moura são duas faces da mesma
moeda? É inegável que são, sob perspectivas distintas, mas complementares, os
dois atores mais bem sucedidos artística e comercialmente do país. Ambos estão
imersos, em diferentes estágios deste processo, na confecção de suas assim
chamadas carreiras internacionais.
Rodrigo Santoro, a esta altura, já pode ser chamado de um
veterano do cinema internacional, tendo aparecido em produções argentinas,
espanholas, americanas e inglesas ao longo de dez anos. Wagner Moura está na
fase de decolagem, mas como sinalizado na seção Insight “O voo internacional deWagner Moura” vislumbra um horizonte ensolarado.
Santoro no topo do cartaz: o primeiro encontro com Moura |
Rodrigo Santoro era um galã emergente das novelas globais
quando despontou fervorosamente no cinema com Bicho de sete cabeças (2001).
Então com 26 anos, Santoro impressionou e colecionou prêmios na pele de um
adolescente viciado que é “abandonado” pela família ao sistema. Ainda em 2001,
ele foi o protagonista de um dos projetos mais ousados de Walter Salles, Abril
despedaçado, filme no qual fazia um membro de uma das famílias envoltas em uma
saga por vingança no sertão brasileiro. Aqui, neste longa, seu caminho se
cruzou pela primeira vez com Wagner Moura que faz um personagem menor na trama.
As escolhas ousadas de Santoro iam além do fato de optar por
construir uma carreira no cinema em detrimento da exposição como galã de novela
em um país em que a cultura vigente determina o contrário, ele fazia opções que
o desafiavam como intérprete.
Enquanto estava no ar na TV (e fazia sucesso) como o
cafajeste Diogo na novela "Mulheres apaixonadas", teve a coragem de viver um
travesti em Carandiru e viu-se no meio de um emaranhado de expectativas
desarmadas sobre seu trabalho e objetivos como ator. No filme de Hector Babenco
seu caminho se cruzou pela segunda vez com o de Wagner Moura, ainda
relativamente desconhecido, que dava dignidade e graça a um dos melhores
personagens do filme. Esses dois encontros em um momento específico e
relativamente prolífico do cinema brasileiro demonstra que ambos detinham faros
aguçados para bons projetos e, também, ainda que em proporções diferentes,
despertavam confiança nos prestigiados realizadores em questão.
Agressividade e paciência
2003 foi mesmo um ano difícil para Rodrigo Santoro. Além da
exposição na TV, do papel polêmico em Carandiru, ele estreou no cinema
americano – em uma época em que ninguém do Brasil havia feito isso depois do
advento da internet – e se viu no epicentro de expectativas desequilibradas. A
estreia foi na sequência de As panteras, um bom filme ruim de ação. Santoro
entrou mudo e saiu calado e a imprensa de celebridade brasileira não perdoou. A
marcação foi muito grande e negativa em cima do ator que refugiou-se nos EUA,
em busca tanto de equilíbrio quanto de mais trabalho. Faltava a observação de
que Santoro era um desconhecido, latino, tentando conquistar seu espaço no
cinema americano na base do talento. Não é fácil nem mesmo para americanos. A
figuração em um blockbuster, dentro dessa perspectiva, era um triunfo danado.
Ainda em 2003, ele estrelou Simplesmente amor, uma comédia romântica em que
dividia a cena com um numeroso e estrelado elenco com igual importância na trama.
Aos poucos, foram surgindo propostas melhores e Santoro
soube tirar o proveito ideal delas. Filmes como 300 – em que fez o vilão – e a
curta participação na série "Lost" foram providenciais para torná-lo um rosto
conhecido na indústria e reconhecível para o americano consumidor de cultura
pop. Com trânsito no cinema americano, ele buscou a diversificação de quem tem
prazer em atuar e não em ser um astro. Esteve em projetos como Leonera (2008),
filmado na argentina, Cinturão vermelho (2008), do papa David Mamet e O
golpista do ano (2009), todos independentes. Não se desligou do cinema nacional
– rodou ótimos filmes como Os desafinados (2008), Não por acaso (2007), Meu
país (2011) e Heleno (2012) – e deu sequência ao projeto de participar de
projetos de visibilidade internacional, como o recente O último desafio em que
atuou ao lado de Arnold Schwarzenegger, justamente no retorno do astro ao
cinema.
Em 2003, Santoro foi travesti em Carandiru (1) e "casou-se" na prisão com Gero Camilo, enquanto arrasava o coração de Camila Pitanga e telespectadoras em "Mulheres apaixonadas" (2). O ator também é parceirão de muitas celebridades internacionais e vira e mexe serve de guia delas no Rio de Janeiro como ocorreu quando Gerard Butler e Madonna vieram ao carnaval carioca em 2010 (3). No ano passado, foi apontado como affair de Jennifer Lopez em virtude da química que ostentava com ela em O que esperar quando você está esperando
Santoro soube aliar agressividade à paciência, ao escolher
projetos de inegável importância em diferentes nichos e aspectos e esperar
pelos resultados de seus trabalhos. A opção pela carreira internacional foi algo
que se consolidou quase que simultaneamente à escolha pelo cinema em detrimento
da tv.
Meios e fins
Já Wagner Moura não tinha essa ambição. Pelo menos não
assumidamente. O cinema seguiu em paralelo a projetos na TV. Se filmes como
Nina (2004), Deus é brasileiro (2003) e Cidade Baixa (2004) davam a Moura um
aspecto cult, o trabalho na TV lhe acenava com o pop em produções como
Sitcom.br e JK. Mas então veio o ano de 2007 que favoreceu uma explosão
midiática do ator combinando cinema, com o primeiro Tropa de elite, e a TV,
como o vilão da novela "Paraíso Tropical". A partir deste momento histórico, do
sucesso incontornável e das possibilidades que ele atrai, Moura passou a se
dedicar mais inteiramente ao cinema. E o ator mostrou-se cada vez melhor. Os protagonismos
enfileiraram-se e depois do segundo Tropa de elite, lançado em 2010, a carreira
internacional veio buscá-lo. O diretor Neil Bloomkamp se impressionou com o
desempenho do ator nos filmes de José Padilha e o chamou para integrar o elenco
principal de Elysium, filme que promete ser uma das sensações do ano. Mesmo sem
debutar efetivamente no cinema americano, Moura já assegurou mais dois
projetos. Um filme independente sobre Fellini, em que viverá o cineasta
italiano, e um drama de Stephen Daldry.
1 - Wagner Moura roubando a cena em Carandiru; 2- cantando Legião Urbana em show patrocinado pela MTV em homenagem à banda; 3- interpretando Hamlet no teatro; 4 - e conquistando o Brasil como o possessivo Olavo perdidamente apaixonado pela garota de programa vivida por Camila Pitanga em Paraíso tropical (isso mesmo, Pitanga é outro ponto de convergência dos últimos trabalhos de Moura e Santoro em novelas)
Moura ainda é uma aposta no cinema americano, mas uma aposta
de ser uma atração. Santoro já é uma realidade. Mas uma realidade que remonta a
um ator eficiente já estabelecido; sem ser em si uma atração, como um Tim Roth,
um Denis o´ Hare ou Danny Huston.
Esses diferentes status não se articularam por resíduos de
talento, mas sim por opções feitas pelos atores na condução de suas carreiras
e, também, por contingências de mercado.
Rodrigo Santoro escolheu “peregrinar” em busca de seu lugar
ao sol, enquanto que Wagner Moura foi “garimpado” pelo cinema americano. São
meios e fins que se confundem em face de jornadas vitoriosas em dimensões bem
particulares.
"Rodrigo Santoro escolheu “peregrinar” em busca de seu lugar ao sol, enquanto que Wagner Moura foi “garimpado” pelo cinema americano." - Exatamente, tudo se resume a isso. Acaba sendo bastante diferente a forma como você chega lá. Ambos são ótimos atores, pena que Santoro não parece que virará uma estrela por lá.
ResponderExcluirÓtimo resgate de trajetórias, Reinaldo.
bjs
Obrigado Amanda!
ResponderExcluirBeijão!