Em meio às discussões a respeito das novas plataformas de
distribuição de cinema, uma nova modalidade de produção ganha corpo e reverbera
com propriedade no cinema americano. Trata-se do crowdfunding. Essa modalidade
de financiamento, que consiste em capitalizar doações majoritariamente
anônimas, não é efetivamente uma novidade. Até a contratação do jogador Wesley
pelo Palmeiras em meados de 2011 foi tentada dessa maneira, mas é uma novidade
no cinema independente americano. Um site americano, o Kickstarter, está
gozando de muito prestígio atualmente e está no centro gravitacional dessa onda do crowdfunding no cinema. Primeiro foi a viabilização do filme da extinta
série de TV "Veronica Mars". A Warner Brothers disse que produziria o filme se a
produção levantasse U$ 2 milhões no sistema de Crowdfunding. Se a princípio a
ideia parecia um balde de água fria para os produtores, transformou-se em uma
demonstração eloquente do desejo dos fãs em ver o filme ganhar vida. O case de
sucesso serviu para a elaboração de diversos parâmetros e propósitos para o
crowdfunding no cinema. Tem gente que já fala em uma revolução. Scott
Steinbeirg, autor de "The crowdfunding bible", é mais moderado em seu
diagnóstico. “Os grandes sucessos tendem a ser propriedades conhecidas ou terem
marcas famosas ligadas a eles”, disse à Variety, que recentemente veiculou
reportagem sobre o assunto. “Não é o campo dos sonhos. Se você construiu, eles
não virão. Você terá que fazê-los vir ou levar até eles”.
Zach Braff na genial capa da 1ª quinzena de junho da Variety: vá se financiar, sem trocadilho |
A reportagem da Variety, no entanto, demonstra que o
Kickstarter está de vento em
polpa. Nos últimos quatro anos, projetos cinematográficos
angariaram impressionantes U$ 119 milhões no site e 10% dos filmes que
debutaram em Sundance em 2013 são frutos dos financiamentos patronados pelo
Kickstarter.
Recentemente, o ator, roteirista e diretor Zach Braff
recorreu ao site para obter financiamento para seu novo filme Wish I
was here. “Nós procuramos a tradicional rota do cinema indie e ela se provou
restritiva”, disse a produtora associada a Braff, Stacey Sher. Duras críticas a
Braff, mesmo com ele depositando U$ 5 milhões de seu bolso no orçamento do
filme, foram erguidas por ser ele uma celebridade usando um recurso
desenhado para o cinema independente.
Esse atrito também pôde se verificar na falência do projeto
de David Fincher em
angariar U $ 400 mil para rodar a animação The Goon, em que o
diretor de A rede Social seria produtor executivo.
Mais recentemente, James Franco embarcou na onda do Crowdfunding.
Ele anunciou que pretende arrecadar U$ 500 mil em um site de crowdfunding para
rodar uma trilogia baseada em três contos de seu livro “Palo alto”, lançado em
2010. Franco já teria até conversado com os potenciais diretores para adaptação
desses contos inspirados em sua juventude. Ele também anunciou os mimos que
pretende conceder aos doadores mais entusiasmados. Quem doar U$ 450 recebe uma
mensagem de voz do ator. Quem doar U$ 7 mil receberá uma de suas pinturas e o
maior doador, um jantar com Franco.
James Franco faz sua melhor pose "give some love" e promete mimos para quem ajudá-lo a produzir sua trilogia
Nem mesmo o prestigiado David Fincher conseguiu verbas no crowdfunding...
É cedo para dizer até onde vai o crowdfunding como recurso
para financiamento e produção de cinema.
Certo é que, combinado com as múltiplas e inovadoras
plataformas de distribuição, favorece uma democratização jamais vista.
Favorece, também, uma involução do cinema. O amadorismo e oportunismo de certos
projetos pode comprometer a proposta. Como estratégia publicitária, já está
provado, o crowdfunding é uma faca de dois gumes. Pode cortar tanto para um
lado como para o outro. Como mecanismo de expansão e recolocação do cinema
independente pode ocupar uma posição importante. Sua relevância no contexto do
cinema dependerá da soma e equivalência desses fatores.
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