O mal em nós
Além da escuridão-Star Trek (Star Trek into darkness, EUA
2013) é, sob muitas perspectivas, o melhor e mais sombrio filme da franquia
cinematográfica baseada na criação de Gene Roddenberry. A ideia de discutir a
relatividade de uma intervenção calcada em boas intenções surge já na primeira
cena do filme, em que
James Kirk (Chris Pine) e sua tripulação impedem o colapso de
um planeta cuja evolução ainda não se verificou. Mais adiante, Kirk é
repreendido por Pike (Bruce Greenwood), seu superior e grande entusiasta. ‘Não
estamos aqui (na Federação) para brincarmos de Deus”, diz ele.
Kirk é removido de seu posto sob a pecha de ainda estar
despreparado para liderar. A ameaça que se apresenta na figura do terrorista
John Harrison (Benedict Cumberbatch), no entanto, o reconduzirá ao comando da
Enterprise.
Além da escuridão – Star trek se estabelece, portanto, sob o
signo da vingança e Kirk, a princípio, se deixa consumir por ela. É o sempre
lógico Spock (Zachary Quinto) quem demoverá seu capitão da política do olho por olho. No encalço
a John Harrison, que iniciou um levante contra a Federação, Kirk irá se deparar
com questões que acinzentam os princípios pelos quais ele se move.
Por trás do vidro: Cumberbatch é uma força poderosa em Além da escuridão que dá viço às pretensões da realização
Mais do que discutir as faces do terrorismo e da agenda
bélica, Além da escuridão enseja um olhar mais enfático ao fato de como nossas
boas intenções podem ser deturpadas ao ponto de se tornarem “mal” puro e
simples. Essa moral perdulária está presente em todos os personagens principais
instados a posicionarem-se de maneira contrária a sua convicções. Ou até mesmo
revê-las. John Harrison, nesse sentido, é mais do que um detonador dessa
investigação informal perpetrada por J.J Abrams. É um gatilho na comparação
robusta que se assenta entre o filme e o 11 de setembro. Do patrocínio
americano aos insurgentes afegãos contra a União Soviética nos anos 80 até o ataque
de Osama Bin Laden às torres gêmeas em 2001. Todas as referências servem à Além
da escuridão com um propósito magno de relativizar justamente as tais das boas
intenções. Mas o filme de Abrams não quer fornecer respostas e denota isso nas
últimas escolhas do racional e regrado Spock que cede à cartilha de Kirk e
fragiliza de vez a percepção de que regras devem sempre, incondicionalmente,
serem seguidas.
Além da escuridão, seja na força magnética da interpretação
de Cumberbatch ou no comentário sombrio que propõe sobre o panorama geopolítico
mundial, é um assombro de eloquência. Mas é, também, um filme divertidíssimo no
mais puro e simples conceito de cinema pipoca. Fatores que, somados, fazem deste o melhor
filme da temporada de blockbusters até o momento.
Realmente, é um filme sobre o poder das "boas" intenções, sejam as de Kirk, Comdte Marcus ou Harrison. Como cine pipoca, então, é sensacional e o Benedito arrasa (o finzinho deu indícios que o cara pode voltar, tomara!!!). Parabéns pelo texto, vc foi fundo na análise!
ResponderExcluirObrigado Beth. Pois é. A ideia é que o personagem seja uma sombra no universo de Star Trek no cinema, assim como foi na série de TV.
ResponderExcluirBjs