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segunda-feira, 17 de junho de 2013

Crítica: Além da escuridão - Star Trek

O mal em nós

Além da escuridão-Star Trek (Star Trek into darkness, EUA 2013) é, sob muitas perspectivas, o melhor e mais sombrio filme da franquia cinematográfica baseada na criação de Gene Roddenberry. A ideia de discutir a relatividade de uma intervenção calcada em boas intenções surge já na primeira cena do filme, em que James Kirk (Chris Pine) e sua tripulação impedem o colapso de um planeta cuja evolução ainda não se verificou. Mais adiante, Kirk é repreendido por Pike (Bruce Greenwood), seu superior e grande entusiasta. ‘Não estamos aqui (na Federação) para brincarmos de Deus”, diz ele.
Kirk é removido de seu posto sob a pecha de ainda estar despreparado para liderar. A ameaça que se apresenta na figura do terrorista John Harrison (Benedict Cumberbatch), no entanto, o reconduzirá ao comando da Enterprise.
Além da escuridão – Star trek se estabelece, portanto, sob o signo da vingança e Kirk, a princípio, se deixa consumir por ela. É o sempre lógico Spock (Zachary Quinto) quem demoverá seu capitão da política do olho por olho. No encalço a John Harrison, que iniciou um levante contra a Federação, Kirk irá se deparar com questões que acinzentam os princípios pelos quais ele se move.

Por trás do vidro: Cumberbatch é uma força poderosa em Além da escuridão que dá viço às pretensões da realização 

Mais do que discutir as faces do terrorismo e da agenda bélica, Além da escuridão enseja um olhar mais enfático ao fato de como nossas boas intenções podem ser deturpadas ao ponto de se tornarem “mal” puro e simples. Essa moral perdulária está presente em todos os personagens principais instados a posicionarem-se de maneira contrária a sua convicções. Ou até mesmo revê-las. John Harrison, nesse sentido, é mais do que um detonador dessa investigação informal perpetrada por J.J Abrams. É um gatilho na comparação robusta que se assenta entre o filme e o 11 de setembro. Do patrocínio americano aos insurgentes afegãos contra a União Soviética nos anos 80 até o ataque de Osama Bin Laden às torres gêmeas em 2001. Todas as referências servem à Além da escuridão com um propósito magno de relativizar justamente as tais das boas intenções. Mas o filme de Abrams não quer fornecer respostas e denota isso nas últimas escolhas do racional e regrado Spock que cede à cartilha de Kirk e fragiliza de vez a percepção de que regras devem sempre, incondicionalmente, serem seguidas.

Além da escuridão, seja na força magnética da interpretação de Cumberbatch ou no comentário sombrio que propõe sobre o panorama geopolítico mundial, é um assombro de eloquência. Mas é, também, um filme divertidíssimo no mais puro e simples conceito de cinema pipoca. Fatores que, somados, fazem deste o melhor filme da temporada de blockbusters até o momento.

2 comentários:

  1. Realmente, é um filme sobre o poder das "boas" intenções, sejam as de Kirk, Comdte Marcus ou Harrison. Como cine pipoca, então, é sensacional e o Benedito arrasa (o finzinho deu indícios que o cara pode voltar, tomara!!!). Parabéns pelo texto, vc foi fundo na análise!

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  2. Obrigado Beth. Pois é. A ideia é que o personagem seja uma sombra no universo de Star Trek no cinema, assim como foi na série de TV.
    Bjs

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