Uma declaração de Steven Spielberg na última quarta-feira
(12) durante um painel do qual participou em uma universidade californiana,
assombrou o mundo do entretenimento e colocou indústria e imprensa cultural em
alerta. Spielberg, no que foi acompanhado por seu amigo e também palestrante
naquele dia, George Lucas, disse que o cinema como conhecemos hoje está à beira
de uma implosão.
Mas o que quis dizer Spielberg? O maior Midas de Hollywood e
o grande responsável, ao lado de Lucas, pelo surgimento do conceito de filme
blockbuster, ou arrasa-quarteirão em nossa tradução mais eficiente, engrossa as
fileiras daqueles que enxergam nas novas plataformas de lançamento (em especial
na internet) uma ameaça real à forma como consumimos cinema na atualidade. Mas
Spielberg não credita à profusão de alternativas (TV a cabo, streaming e
lançamentos on demand) o ocaso do cinema, mas sim à prática cada vez mais turva
dos grandes estúdios de se ensimesmarem nos grandes lançamentos com
orçamentos de U$ 200 milhões e marketing que beiram outros U$ 200 milhões. Para
Spielberg, trata-se de uma lógica insana que irá conduzir a uma indesviável
saturação. O diretor acredita que estamos nos aproximando do fim dessa era das
megaproduções. Essa percepção vir de Spielberg e Lucas é demasiado simbólica.
Lucas e Spielberg percebem a excelente fase pela qual
atravessa a TV americana como um sintoma preliminar dessa implosão. Para eles,
tudo de mais criativo e original não será lançado no cinema e sim nessas
plataformas alternativas. Seja na internet, na TV à cabo ou mesmo por conteúdo
on demand. Os cinemas, nessa conjuntura, se aproximariam da Broadway em matéria
de cardápio. Se sofisticariam, ficariam mais restritos (tanto em termos de
acesso como de quantidade) e exibiriam durante meses poucos filmes altamente
antecipados.
Se essa visão de Spielberg, compartilhada por Lucas, abre
uma janela de muitas e potencialmente positivas possibilidades, encerra uma
visão romântica do cinema como principal polo da sétima arte. Não estaríamos
ferindo de morte um conceito de arte? Banalizando um ritual centenário e
revigorante como o ato de ir ao cinema? São inquietações que devem se avolumar
nos próximos anos.
Como prova desse status, Spielberg pontuou que seu mais
recente filme, o oscarizado e festejado em círculos da crítica Lincoln, por
pouco não foi lançado na HBO. A fala revela outra questão oculta nesse
presságio. O Oscar se transformaria a tal ponto que incorreria no risco de
tornar-se obsoleto.
No fundo, Spielberg e Lucas atentam para a mesura do
sucesso. Estúdios de cinema se perderam de algumas das diretrizes que norteiam
essa medição, enquanto que canais de tv e distribuidoras de conteúdo como a
Netflix, que rapidamente se consolida, também, como produtora de conteúdo, não.
Como tudo na vida, há os aspectos positivos e negativos. Mas
uma transformação dessa magnitude, principalmente para os mais românticos,
preponderaria na angústia de ver partir um tempo de mágica e fascinação que não
mais voltaria.
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