Tirando o peso da polêmica
O maior sucesso dos cinemas argentinos em 2012 é finalmente
descoberto, em 2013, pelo público brasileiro. E a experiência é muito boa. Não
seria de todo estranho supor que em alguns anos, o cinema nacional apresente
uma refilmagem do filme. A exemplo do que fez com as bem sucedidas produções
Entre lençóis e Sexo com amor?, refilmagens de produções chilenas. Em comum, o
fato de que todos os filmes abordam o sexo e suas reminiscências em uma
roupagem leve e com potencial cômico. Dois mais dois (Dos más dos, ARG 2012),
no entanto, distingue-se dos demais – chilenos ou contrapartes brasileiras –
tanto pela qualidade do texto, como pela disposição em ir além da fachada no
tema do qual se alimenta.
O filme de Diego Kaplan começa com os sócios de uma renomada
clínica de cardiologia, Diego (Adrian Suar, sensacional) e Richard (Juan
Minujin) comemorando junto a suas respectivas mulheres, Emilia (Julieta Diaz) e
Betina (Carla Peterson) um prêmio concedido a eles. Conversa vai, conversa vem
e Diego e Emilia, casados a mais tempo, acabam descobrindo
que o casal de amigos pratica o swing. Aos olhos de Emilia, a química entre eles
nunca esteve melhor e o desejo mais aceso. Segundo Betina, essa sintonia se
deve à liberdade com que abordam o sexo dentro da relação. A partir daí, o
filme diverte a audiência com a tentativa de Emilia em convencer Diego , o
notório conservador, a descobrir os prazeres do swing, sob pena de travar de
vez o casamento deles.
O que difere Dois mais dois de um filme como o francês Para
poucos, já resenhado em Claquete, não é apenas o pudor com as cenas de nudez ou
a opção por um registro menos dramático - sim porque há drama enxertado na
trama - mas a disposição de investigar o que leva as pessoas a procurarem essas
variações liberais em uma união já estabelecida. Betina, por exemplo, se
descobre uma mulher submissa e insegura, quando cria ser o avesso disso. E revê
todas as decisões que tomou ao lado de Richard sob diferente perspectiva.
Richard, por outro lado, é o macho alfa que acredita que não pode ser domado e
uma relação extraconjugal ou o sexo consentido com outras mulheres sob o olhar
de sua mulher são paralelismos que não ostentam grande distinção em sua lógica.
Emilia busca sedução, aventura, revigor sexual e encontra a paixão onde não
procurava. Diego tem medo de que os outros acreditem que ele não é quem diz
ser. O amor pela mulher, então, se apresenta como subterfúgio para sua saga de
negação e aceitação. Não à toa, é quem mais se empolga com o novo status de sua
relação após iniciar-se no swing.
Isso tudo são postulações que se inserem muito naturalmente
nessa ótima comédia argentina. Não há moralismo ou psicologização nos
personagens ou na realização. Tudo é conduzido com muito esmero no intuito de
tirar o peso da polêmica, mas não os conflitos que ela enseja. Nesse sentido, é
um filme muito feliz e que dá ao sexo seu devido valor. Isto é, elemento
fundamental para a construção de uma vida a dois mais satisfatória.
É uma ótima comédia mesmo, gostei da forma como você define cada personagem. Uma ótima surpresa desse ano.
ResponderExcluirbjs
Amanda: Thanks!
ResponderExcluirKs