O Brasil vive um momento de efervescência e manifestação
popular inédito desde o fim da ditadura. Independentemente dos dividendos de
tais movimentações que vão se ordenando à medida que se avolumam, o desejo de
mudança é nítido. Com base nesse desejo de “mudar para melhor” que norteia essa
massa que ganha as ruas das principais cidades brasileiras, Claquete elaborou
um TOP 10 com filmes que exprimem esse desejo de mudança sob diferentes
perspectivas. A ideia é dimensionar as possibilidades e interjeições de
movimentos distintos, mas ligados por um mesmo vértice: o desejo de mudança.
10 – Matrix (The Matrix, EUA 1999), de Andy e Larry
Wachowski
Na revolução contra as máquinas estão deflagrados muitos dos
pensamentos que os filósofos gostam de classificar como “oposição ao sistema”.
O libertário (messias) Neo é, nesse sentido, a materialização de uma tomada de
consciência da sociedade de que está sendo “programada” pelo sistema para fazer
exatamente o que dela se espera. É um filme que a cada leitura se veste mais
revolucionário.
9- V de vingança (V for vendeta, EUA 2005), de James
McTeigue
Também idealizada pelos irmãos Wachowski, essa versão da
graphic novel de Alan Moore não é tão robusta e eloquente quanto Matrix em seus
propósitos, mas demonstra como grupos se organizam para combater o
totalitarismo. Em uma
Londres futurista e totalitária, V usa táticas terroristas
para demover o governo totalitário.
Neo entortando a colher: você pode!
8 – Lincoln (Lincoln, EUA 2012), de Steven Spielberg
O filme acompanha como a engrenagem política tradicional (e
tão criticada por todos nós) pode servir a propósitos nobres como a absolvição
da escravatura conduzida com habilidade pelo mais popular presidente da
história dos EUA. O sentimento de mudar o mundo permeia a obra de Spielberg.
7 – A onda (Die Welle, ALE 2008), de Dennis Gansel
Nesse impactante filme alemão, um professor colegial inicia
um experimento com sua turma para provar como é fácil manipular as massas e
sinalizar que é possível um novo regime totalitário dominar a Alemanha, mesmo depois das marcas deixadas pelo nazismo. A
experiência vai ganhando contornos violentos e acaba provando a validade da
teoria do professor.
6 – Diários de motocicleta (BRA, CHI, ARG, POR, ESP 2004),
de Walter Salles
A origem daquele que talvez seja o revolucionário mais
romântico, ou romantizado, da história. O filme de Walter Salles acompanha a
formação de Che Guevara; aqui ainda o Ernesto, estudante de medicina, durante
viagem pela América Latina. O filme é febril nas divagações que oferece entre
juventude e desejo de mudança.
5 – Trabalho interno (Inside job, EUA 2010), de Charles H.
Ferguson
Esse documentário sobre a “corrupção sistêmica nos EUA pela
indústria dos serviços financeiros e suas consequências” não é tão virulento e
parcial como os filmes do documentarista Michael Moore e aí reside sua grande força.
Com didatismo, mas sem renunciar à complexidade do objeto de análise, Trabalho
interno se cristaliza como um alerta de que nossa sociedade configurada como
está, está à deriva.
Cartaz do alemão A onda: nem toda mudança pode ser positiva, como atestam as sucessivas guerras civis no Oriente médio
4 – Os miseráveis (Les Misérables, EUA/ING 2012), de Tom
Hooper
O musical dirigido por Tom Hooper tem entre seus melhores
momentos a indagação: “Você ouve o povo cantando?”. É o espírito mudancista que
toma as ruas em plena revolução francesa nessa pulsante, e mais bem adornada,
adaptação do clássico de Victor Hugo. O levante contra as instituições
vampíricas se cristaliza nos motins que tomam Paris, tudo potencializado por
músicas que beiram o sublime.
3 - Uma verdade inconveniente (An inconvenient thruth, EUA
2006), de Davis Guggenheim
Maliciosamente conhecido como “a apresentação de PowerPoint
mais cara e bem sucedida da história”, Uma verdade inconveniente foi o gatilho
inicial de uma guinada de consciência ambiental. Escorado na figura do ex-vice
presidente americano Al Gore, o documentário quer chamar a atenção para a necessidade
de se cuidar do planeta no presente para garantir seu futuro.
2 – Gandhi (Gandhi, ING/IND 1982), de Richard Attenborough
O maior pacifista a pisar no planeta? Muito provavelmente. O
mais significativo? Mais certo ainda. A frente de um movimento pela
independência e liberdade da Índia no mesmo compasso de propagação de uma
política de não violência, Gandhi se tornou uma das personalidades mais
marcantes do século XX e ganhou um filme à altura.
1 - Coração Valente (Braveheart, EUA 1995), de Mel Gibson
A luta pela liberdade deve ser a mais importante de todas as
lutas e ela está no centro gravitacional deste que é um dos melhores épicos já
produzidos pelo cinema americano. Aproximando-se de seu aniversário de 20 anos,
este filme que acompanha tentativa de escoceses de se separarem da coroa
inglesa, mantém-se atual pelo fato de muitos povos ao redor do globo ainda
perseguirem suas liberdades sociais e individuais. Não há nada mais devastador
e emocionante do que William Wallace (Mel Gibson), torturado, buscando energias
para disparar: “freeeeedom”!
Interessante ver Uma verdade inconveniente nessa lista. Uma bela seleção, Reinaldo. Filmes de movimentos e busca por mudança é o que não falta no cinema, já que faz parte do desejo humano de justiça e liberdade. Vamos torcer para que nas ruas brasileiras, o final seja melhor que a maioria desses exemplos. :)
ResponderExcluirbjs
Adorei a seleção! Muito bem sacada essa pauta.
ResponderExcluirE "Trabalho interno" é um dos melhores filmes sobre a crise de 2008 - é acessível e contundente, características indispensáveis ao meu ver para abordar um assunto tão hermético. Agora, se fosse apenas no critério pipoca, acho que ainda iria de Matrix, rsrsrs
Também incluiria "IF..." (SE..., 1968) de Lindsay Anderson. Acho que é o mais alegórico filmes de protesto.
ResponderExcluirGostei da lista. Gandhi é sensacional, certamente o filme mais importante da vida do diretor Richard Attenborough. Já li que ele tinha esse projeto há bastante tempo. Ben Kingsley perfeitamente no papel.
Abs.
Amanda: Obrigado! Pois é, vamos ficar acompanhando!
ResponderExcluirBjs
Aline:Obrigado Aline. Pois é, não podia deixar passar esse momento, né? Então, tentei justamente cerca o tema da forma mais completa e diversifica possível. Por isso a lista compreende filmes tão distintos em forma, conteúdo e espírito.
bjs
Rodrigo: Francamente não me lembrei de "If..." quando fazia a lista Rodrigo, mas na verdade a proposta era de filmes contemporâneos. Já forcei um pouquinho a amizade incluindo "Coração Valente"... rsrs
E valeu, pela sempre ótima, referência.
Abração
Concordo que a inclusão de Coração Valente forçou a amizade, rsrs. Eu colocaria no lugar do Mel Gibson um filme que é o pai de todos os filmes de sublevação popular: o brilhante "A batalha de Argel", de Pontecorvo. Ficção tão realista que tem horas que a gente não sabe se é ficção ou documentário.
ResponderExcluirPoderia ainda acrescentar algum filme do engajado Ken Loach, como Terra e Liberdade.
abs.
Ótimas lembranças Joêzer. Fica aqui, registrado, o teu ótimo adendo.
ResponderExcluirAbs