Tragédia americana
Ryan Gosling e Bradley Cooper estrelam o novo e aclamado drama do diretor de Namorados para sempre, filme cheio de ambição e coração
Namorados para sempre (2010), o título nacional para Blue
Valentine ainda não desce em muita gente, é um dos filmes mais pungentes dos
últimos anos. Depois da sensação que causou no festival de Sundance daquele
ano, era natural que o projeto subsequente de Derek Cianfrance causasse certa ansiedade.
É sob este signo que se estabelece o lançamento de O lugar onde tudo termina,
muito mais feliz tradução para The place beyond the pines, novo filme de
Cianfrance que o reúne, pela segunda vez, com Ryan Gosling. O filme também
promove a primeira reunião profissional de Gosling e sua namorada de mais de
dois anos, a atriz Eva Mendes.
O lugar onde tudo termina é, sob todas as perspectivas, um
projeto muito mais ambicioso do que Namorados para sempre. Com ar de épico, mas
estética de filme independente, a produção discute ética, moral, corrupção,
criminalidade e família. Se O poderoso chefão surge como referência, é
importante saber que o filme de Cianfrance também tem três subtramas, distintas
entre si e com pontos de vistas alternados, mas que se correlacionam
intensamente.
Não foi fácil dimensionar esse tom épico, mas ele foi
perseguido. Cianfrance disse ao blog americano Grantland que reescreveu o
roteiro – desenvolvido em parceria com Ben Coccio e Darius Marde – mais de 30
vezes. “Em 2007, minha mulher estava grávida de meu segundo filho e eu estava
pensando sobre legado: esse fogo (preocupação) que senti toda a minha vida,
sabendo que meu pai sentiu e meu avô sentiu também. E eu não queria que esse
bebê tivesse esse fogo também. Então eu tive essa ideia da passagem da tocha de
geração para geração.”
Cianfrance é todo carinho para Ryan e Eva nos bastidores de O lugar onde tudo termina |
Em O lugar onde tudo termina Ryan Gosling faz um motoqueiro
nômade que se apresenta em um circo e que depois de descobrir que engravidou
uma garota resolve conquistá-la e constituir uma família. Para isso, passa a
roubar bancos. No outro núcleo do filme está o policial vivido por Bradley
Cooper que passa a ser considerado um herói depois de ferido em uma ação para
conter justamente um assalto a banco. Na ocasião de seu retorno à atividade
policial, ele é compelido a embarcar em uma teia de corrupção. O terceiro ato
do filme avança no tempo e flagra os filhos dos dois personagens.
Mas sobre o quê, afinal, é O lugar onde tudo termina? “É
sobre perdão”, diz Cianfrance ao Grantland. “Penso, também, sobre o legado da
América. O legado de um país construído sobre violência e brutalidade. Embora
vivamos vidas domesticadas, eu não acho que isso vá embora”, continua.
Para Cianfrance, a única maneira de lidar com esse histórico
é a capacidade de perdoar. “É isso que eu gostaria de levar ao mundo”.
Lançado em março nos EUA, em plena entressafra dos filmes de
Oscar e os lançamentos de verão, O lugar onde tudo termina conseguiu boa
bilheteria nos EUA e dobrou, em faturamento, seu orçamento de U$ 15 milhões. O
filme conseguiu boa recepção da crítica e os protagonistas, Cooper e Gosling,
elogios efusivos.
O filme pode até não tangenciar os objetivos de Cianfrance,
mas como escreveu o crítico Clint o` Connor, do The Plain Dealer, é “um
trabalho em progresso”.
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