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quinta-feira, 6 de junho de 2013

Especial O Grande Gatsby - Baz Luhrmann: kitsch ou visionário?


O australiano Baz Luhrmann é muito ligado ao mundo da moda. Não só pela ênfase que dá ao corte e costura em seus filmes, tampouco por ser casado com a figurinista Catherine Martin, responsável pelos figurinos de O grande Gatsby, nem por ter rodado entre seus filmes, curtas-metragens focados em questões do mundo da moda – como Schiaparelli & Prada: impossible conversations, mas por refinar a linguagem do cinema com uma estética que se alimenta vertiginosamente de conceitos mais reconhecíveis no mundo da moda. Não à toa, sua versão para um dos maiores clássicos da literatura americana chamou tanta a atenção das principais grifes – como Brooksfield, Armani e Gucci que lançaram coleções inspiradas no filme.
Ainda que seja o filho pródigo da moda no cinema, Luhrmann não é unanimidade na sétima arte. Depois de causar frisson com sua estreia, Vem dançar comigo (1992), um filme de dança com todos os seus deliciosos clichês, embalados por uma técnica assombrosa, o diretor aterrissou no cinema americano cheio de ambição: uma versão de Romeu e Julieta para o público jovem. Romeu + Julieta (1996) tinha um ainda relativamente desconhecido Leonardo DiCaprio como Romeu e Claire Danes como Julieta. O diretor transferiu a encenação da consagrada peça de Shakespeare para a modernidade, mas preservou o linguajar medieval ocasionando um choque nefasto as suas intenções. A música continuava a ser uma bússola para seu cinema, assim como a depuração visual. Romeu + Julieta, no entanto, não trazia nada de novo além da ambição desenfreada do cineasta ávido por causar na cena hollywoodiana. O filme foi um relativo sucesso de público e dividiu a crítica. Parte louvava seu vigor estético e parte enxergava-a como Kitsch, ou seja, uma emulação mal resolvida a um modelo de arte. E Romeu + Julieta, nesse sentido, seria mais do que sintomático. Mas aí veio Moulin Rouge – amor em vermelho (2001). Outro passeio estilístico de Luhrmann ao passado, dessa vez ao século XIX e com outro choque proposto. Ele realiza aqui um musical e coloca músicas pop de gente como Madonna, U2, Elton John e David Bowie no contexto da França do século XIX para narrar uma história de amor, ganância, luxo e perdição na França dos cabarés. O kitsch continua a rondar a mise-en-scène de Luhrmann, mas aqui adquire novo status. Status de arte em si. Moulin Rouge revigorou o gosto popular, e do cinema, pelos musicais. Um filme com personagens bem delineados, conflitos bem tracejados, direção segura, técnica a mil...
Moulin Rouge é um triunfo contumaz. O ponto alto da carreira de Luhrmann e que o levou a Austrália (2008). O projeto foi complicado e Luhrmann estourou o orçamento repetidas vezes. Perdeu seu protagonista, ele queria Russell Crowe e acabou ficando com Hugh Jackman e teve de mudar o cronograma de filmagens para poder reeditar a parceria com Nicole Kidman. Ele vendia o projeto como o “seu E o vento levou” e não escondia a intenção de fazer um épico americano, mas passado na Austrália. A estranheza predominou e Austrália se revelou um filme irregular e, também, um fracasso de bilheteria e crítica retumbante. A Fox que trabalhava com Luhrmann desde o início de sua carreira rompeu com o diretor. Austrália danificou severamente o estúdio e justamente em um ano em que a mais severa crise surgia no mundo desde 1929.  
A megalomania de Baz Luhrmann atinge novo relevo com O grande Gatsby. Ele decidiu fazer o filme assim que terminou de ler o livro, em 2001, pouco depois de ter lançado Moulin Rouge – amor em vermelho. A Warner abrigou o projeto. A opção pelo 3D foi do estúdio, mas Luhrmann a abraçou com gosto. Seu cinema de cores e planos vibrantes tende a ser valorizado pelo recurso.
O diretor não tem nenhum novo projeto anunciado, mas é certo que seu novo filme irá se aproximar, quiçá ultrapassar, Moulin Rouge em faturamento. Não se engane. O charme da adaptação reside todo ele em ser O grande Gatsby de Baz Luhrmann. Assunção esta que diz muito sobre o fato do diretor ser encarado como visionário e também como um expoente do Kitsch moderno. Há quem acredite que não tem como ser um sem ser o outro.
 
Baz entre Nicole Kidman e Hugh Jackman no set de Austrália: depois de seu melhor momento na carreira com Moulin Rouge, veio o pior com Austrália

2 comentários:

  1. Não acho o Baz muita coisa e já gostei mais de "Moulin Rouge". Seu conceito de estética, moda, é até louvável. Acho que nem visionário e nem kitsch ele é, e que nesse caso , teria que ser um ótimo contador de estórias, alguém como, digamos, Almodóvar. Não simpatizo tanto pelos seus filmes. Verei O Grande Gastsby de qualquer forma a pedido de minha prima que é estilista. Oremos. rs

    Abraço. Ótima matéria meu caro.

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  2. Rodrigo: Eu até gosto dele, mas o propósito da matéria era repercutir duas visões disseminadas sobre o diretor dentro da indústria cinematográfica e que reverbera no público. Pessoalmente, acho que ele até se ajusta ao kitsch.
    Abs

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