A desgraça que afunda e a esperança que levanta!
O cinema americano tem grande interesse por personagens que vivem as margens da sociedade. Ou que gravitam em torno do conceito de sociedade como projetos em suspensão. Preciosa – uma história de esperança (Precious –based on novel “Push” by Sapphire EUA 2009) ajusta-se a esse cinema muito praticado na cena independente americana.
O filme de Lee Daniels mostra a dura vida de Clareece Precious Jones (Gabourey Sidibe), uma adolescente negra, obesa, semi-analfabeta, abusada sexualmente pelo pai, abusada moralmente e fisicamente pela mãe e sonhadora. Precious não renuncia a seus sonhos. Nem mesmo diante das mais cruas adversidades. Preciosa se ocupa de enfileirar os dramas dessa personagem que mora no Harlem dos anos 80, de maneira a elaborar uma moral muito clara. A de que por mais dura e insolúvel que a vida possa parecer, ela ainda vale a pena ser vivida. Não é uma mensagem fácil de vender. Especialmente quando se leva uma vida como a da protagonista. O diretor Lee Daniels, no entanto, mostra-se um narrador habilidoso. Sempre que Precious é acometida pelas desgraças que a vitimizam rotineiramente, ele põe na tela as fantasias da adolescente sonhadora. Esse recurso não só demonstra a honestidade do relato (e Preciosa é um filme muito honesto), como desarma uma platéia que pré-julga seu filme. Ele não quer mostrar as atrocidades de que Precious é vítima. Daniels sabe que não lhe interessa, muito menos a sua platéia (majoritariamente de um mundo diferente do de Precious), ceder ao voyeurismo da desgraça alheia. A desgraça é tão proeminente que pode ser sentida. Flagrada nos gestos. Nos olhares. Nas inflexões dos personagens. E é aí que o elenco brilha.
Mariah Carey, que dá vida a uma assistente social, ao lado da poderosa Gabourey Sidibe: Um filme com agenda social sim, mas também com ótimos predicados cinematográficos
O maior trunfo do filme são suas duas atrizes principais. A estreante Gabourey Sidibe, no papel da protagonista, brilha intensamente. Dona de uma presença poderosa, ela irradia força de vontade e cativa com uma atuação tão minimalista quanto robusta. Já Mo´Nique, na pela da odiosa mãe de Precious, está um colosso. A atriz mantém sua figura entre a perversidade e a estupidez. Humaniza uma mulher desequilibrada, fruto de uma conjuntura social deturpada, mas que não tem a coragem de sua filha para seguir adiante.
Com seis indicações ao Oscar (filme, direção, roteiro adaptado, atriz, atriz coadjuvante e montagem), Preciosa é a prova definitiva de que há luz no fim do túnel. Mas é a prova definitiva também, de como a vida é injusta. Das duas constatações emerge a certeza de que a perseverança é a chave. A esperança, no final das contas, é o bem mais precioso que se tem em tempos de adversidade. A vida de Precious não iria mudar radicalmente, como a de muitas outras garotas na mesma situação não vai. Mas a combinação de esperança e perseverança pode deflagrar algo de muito positivo. Essa verdade cristalina é tudo que Daniels, através do impacto da história contada, quer ressaltar com seu filme.
Deve ser um filme “soco no estômago” mesmo. Estou muito curiosa para assistir, mas sou sensível a este tipo de premissa.
ResponderExcluirBeijos! ;)
Pois é Ma. Contudo, o filme não é manipulador. Pelo menos não mais do que o tolerável. Isso sim me surpreendeu. O filme é muito honesto, diferente do maniqueísmo de Quem quer ser um milionário? por exemplo. Para ficar em dois filmes que bebem da mesma fonte.
ResponderExcluirQuanto ao soco no estômago, a história é forte sim. Mas não há cenas incomodas. Daniels, como eu disse na critica, utiliza artificios muito inteligentes para evitar essa "pornografia".
Bjs
Gostei do filme, mas tenho ressalvas quanto à sua condução. Explicitarei mais isso na minha crítica que irei fazer no blog também. Fora isso, o que eu mais gostei de "Preciosa" é que é um filme com os pés no chão. Sem aquele sentimentalismo ou história de superação. Merece pontos por nao cair nessas armadilhas típicas de filmes edificantes. Aqui, isso não funciona, ainda bem. E, embora seja um soco no estômago, o filme é curiosamente otimista. "Always look to the bride side of your life" ;)
ResponderExcluirSidibe e Mo'Nique estão irretocáveis!
abs!
melhor do que eu esperava!
ResponderExcluir"a prova definitiva de que a vida é injusta"... Bela frase hein! Fiquei espantado com a poesia contida no trecho! Reinaldo poeta dos blogs de cinema!!
ResponderExcluirrsrsrrsrsrsrs
Louco para ver, ainda que seja mais pelas atuações!!
Abraço
Elton: Pois é Elton, o filme tem alguns problemas sim.Optei por isolá-los na minha critica, por considerar que eles são menores do que as virtudes do filme. Que são majoritariamente o discurso e as atuações. A honestidade do filme tb chama a atenção. Como vc disse, não há reviravoltas mégicas. É um filme que como eu disse na critica se apega a realidade. Esperança e perseverança. Nada mais, nada menos. E Sidibe e Mo´Nique são as melhores do ano msm. ABS
ResponderExcluirMatheus: Melhor do que eu esperava tb. Embora ainda assim, longe de ser um filmaço.ABS
Eri:Obrigado Eri. Gentileza sua. Valeu mesmo pelo elogio. Veja sim, Mo´Nique e, principalmente, a estreante Gabourey Sidibe estão arrasadoras. ABS
Concordo com tudo que você disse. Esse filme serve como um grito de alerta, é só saber escutar.
ResponderExcluirObrigado pela visita Hannah. Espero que tenha gostado da critica e do meu blog. Volte sempre!bjs
ResponderExcluirBela resenha, Reinaldo! Sensível e "pé no chão". Gostei da parte que ressalta que a vida ainda vale a pena ser vivida e esta idéia é difícil de vender. É difícil de ser vendida até para nós mesmos nas dificuldades diárias. Ter perseverança exige demais de cada indivíduo e quando mais a vida está afundada em um bueiro social como o de Precious, mais forte é o desafio de superação. Preciosa é uma história universal ainda que nem todo mundo viva a vida de preciosa, sempre haverá o pesadelo real e o sonho de uma vida mais justa.
ResponderExcluirBjs!
É isso que mais gostei no "Preciosa", um filme verdadeiro sobre a vida. Sem os finais hollywoodianos que acalentam o coração do espectador.
ResponderExcluirAdorei o filme por mostrar os problemas da Precious sem máscaras, por mostrar que é possível encontrar uma saída quando nós queremos mudar.
Quando saí do cinema, ouvi um rapaz comentar que "o filme parecia um documentário". Parece mesmo, pois mostra a realidade nua e crua. Precious não foi encontrada por um olheiro, não ganhou um concurso de beleza por ter um bom coração... é isso que mais impacta, pois não é o final a que estamos acostumados.
Mudando um pouco o foco... sabe que eu gostei da atuação da Mariah Carey e do Lenny Kravitz? Eles atuaram bem e foram "discretos", me surpreendi.
Parabéns pelo blog, Reinaldo! Excelente crítica! ;D
Madame:Obrigado madame. É isso mesmo. A universalidade de Preciosa é irrevogável. Bjs
ResponderExcluirTati: Que bom que vc aceitou o meu convite e veio conhecer o meu blog. Fico feliz que tenha gostado e que tenha gostado de minha critica tb.
Pois é, quanto ao filme, ele é muito honesto mesmo. Não procurar enquadrar-se em estereótipos, por mais que tenha um ou outro personagem estereotipado. Um belo registro que tem sim esse lado documental, aventado por esse rapaz.
Tb gostei das atuações discretas e eficientes de Lenny e Mariah. Mas credito isso a uma boa direção. Daniels os instruiu muito bem sobre o que tinha em mente. Bjs e volte sempre!