quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Critica: O mensageiro

A guerra de cada um!
Ben Foster (de camiseta branca) e Woody Harrelson brilham como o alter ego do americano comum

Hollywood pode ser liberal. Os filmes de guerra e sobre a guerra podem ser, em sua maioria, anti-belicistas. Contudo, vez ou outra, um filme, mesmo que não inteiramente hollywoodiano, reveste-se de humanidade de tal maneira que põe toda essa discussão em uma zona periférica. O independente O mensageiro (The Messenger, EUA 2009), é bem verdade, traz alguns elementos tipicamente hollywoodianos (o maior deles talvez seja a presença do quase astro Woody Harrelson), mas tem um discurso muito mais profundo do que a média dos filmes sobre guerras feitos em Hollywood.
No filme, acompanhamos Will (Ben Foster) e Tony (Woody Harrelson) dois militares incumbidos de notificar as famílias de soldados mortos em ação no Iraque. Uma tarefa penosa, exaustiva emocionalmente e mais complexa do que se pode supor a principio, que eles têm de arcar com rigidez militar, literalmente.
A partir dessa inusitada premissa, o roteirista e diretor Oren Moverman (cujos créditos como roteirista incluí a hermética cinebiografia de Bob Dylan, Não estou lá) se dedica a investigar o sentido da guerra para algumas figuras (em especial os dois soldados que acompanhamos). O resultado como era de se imaginar não é muito diferente de traumas diversos, sequelas múltiplas, dor, tristeza e incompreensão. Mas o que abrilhanta O mensageiro é como Moverman chega a essas tão repercutidas conclusões. Ele não mostra o combate. A guerra é um fantasma para todos.
Nesse sentido, a pluralidade dos personagens, aos quais assistimos Will e Tony, em questão de minutos, despedaçarem suas vidas com as condolências oficiais é eloqüente. Desde a adolescente que escondeu do pai que se casou com um menino da vizinhança até o imigrante hispânico, cuja língua é uma barreira para a compreensão do que se diz. Moverman mostra que o sentido de uma guerra, e os efeitos dela, podem ser tudo isso que se imagina, mas também há um impacto devastador de natureza particular que não pode ser pressentido. O maior mérito de O mensageiro é lembrar isso. Relativizar o impacto cultural de um conflito como o que se tem no Iraque elevando as percepções pessoais que se tem dele.


Preparados para uma guerra emocional: Tony e Will se preparam para mais uma batalha

Supremo na pele do sargento marcado por traumas da guerra e que carrega algumas feridas também, Ben Foster emociona com a força de sua interpretação. Sutil e minimalista, ele reforça os efeitos que a guerra pode ter em um individuo e em sua relação com a sociedade. Will tateia o sentido de sua vida após voltar do Iraque e sua relação com seu novo parceiro, Tony, e com seu novo ofício são os termômetros dessa condição. Por sua vez, Tony tem seus próprios traumas. O quadro de ansiedade dele, e a razão de ter cedido ao alcoolismo, difere totalmente do que aflige Will. É na dinâmica da relação dos dois, entre si e para com a ingrata função que exercem, que O mensageiro se eterniza como um filme único sobre as reminiscências de toda e qualquer guerra.
E para mostrar que é preciso ter senso de humor até nas mais infelizes situações, o filme apresenta (em uma fala do personagem de Harrelson) a mais inusitada, e coerente, teoria do por que a guerra do Iraque está sendo um fracasso. Um filme para ser apreciado em todas as suas vertentes.

6 comentários:

  1. Ótima crítica, Reinaldo! A dor não deixa os fantasmas para trás, eles sempre reaparecem.

    bjs!

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  2. Obrigado madame. É verdade.Os Fantasmas assombram msm e isso não é afirmação de filme de terror.Bjs

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  3. Estou com ótimas impressões desse filme. Quero vê o desempenho de Harrelson e a trama que me agrada bastante.

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  4. O tema me interessa muito, tenho certeza que irei gostar, rsrs. A conferir.

    Beijos! ;)

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  5. Sei q vc vai gostar Ma. É um dos melhores filmes do ano passado. Nada justifica sua exclusão da lista dos indicados a melhor filme.
    Bjs

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