segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Critica - Um homem sério

A desgraça do homem comum


Em seu novo filme, os Coen mais uma vez riem da tragédia. Só que agora, o motivo de riso é a nossa tragédia

O novo filme dos irmãos Coen, Um homem sério (A serious man EUA 2009), é uma comédia de humor negro bem ao gosto dos irmãos cineastas e de seu público cativo. Um filme hermético, com uma veia satírica em ebulição e uma visão pessimista da América.
No novo filme, os Coen adentram a comunidade judaica (de onde eles e também grande parte da comunidade hollywoodiana advém) para satirizar o homem comum em tempos que demandam cinismo e relativismo. No calidoscópio dos Coen, ser bom, integro, justo e agregador pode ser tão perigoso quanto ser passivo, apreensivo, ingênuo e conservador. É uma questão de percepção, pondera Larry Gopnik (Michael Stuhlbarg) certa vez, ao tentar entender o porque de em certo momento sua vida ter sido virada do avesso sem que ele tivesse feito nada que pudesse ser considerado errado. Ou que pudesse ter precipitado uma ação divina contra sua pessoa.
A provação a qual esse homem sério, tal qual Jó na bíblia, é submetido, o faz questionar os propósitos de se seguir códigos morais, religiosos e sociais. A busca incessante de Larry pela guia dos rabinos e as respostas evasivas que ele recebe destes remetem ao que os Coen dizem desde Fargo (1996). Em um mundo como esse, ser sério é não querer ser levado a sério.
O fato do filme se passar em uma época não bem especificada, embora a direção de arte e fotografia nos façam crer que aquele é um subúrbio dos EUA dos anos 60 ou 70, e da história se desenvolver no âmago de uma comunidade judaica só acrescentam ao comentário que o filme se comina. O mundo está perdido não é de hoje. A cena final do filme, anticlimática - como nos últimos filmes dos Coen, mostra isso de forma riquíssima e contundente. A paciência é uma virtude mais dos incautos do que dos corretos. E isso pode ser decisivo.

2 comentários:

  1. Oi Reinaldo,

    Esta última frase da paciência é magnificamente inteligente. Parabéns! Me faz lembrar novamente do Cristianismo, em duas frases famosas " Não andeis ansiosos por coisa alguma" (e isso serve para as respostas) e "Há tempo para tudo debaixo da terra" (e tempo requer paciência).

    Cheguei de um treinamento e nem tive tempo de vir aqui hoje, mas acabei de ler seu comentário no MaDame Lumière e estou boba. Ai,ai! Estou sem palavras de como temos uma lucidez em comum muito mais do que imaginamos e, desta vez, estou até atordoada rsrs! Não sei, Monsieur, mais uma pergunta sem resposta para nossa sintonia rsrs! E até de Jó lembramos, apesar que não é surpresa pra mim, me sinto muito Jó em boa parte das provações e vi muito de Jó em Larry. bjs! Larry, o homem da perguntas mas muito tranquilão, só faltou a esposa dele dizer: amaldiçoa o seu Hashem!

    bjs!

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  2. Obrigado madame.É verdade. Foi mais um feliz momento de telepatia, podemos intuir. rsrs
    Gostei muito desse filme.Embora, na minha concepção, haja uma queda de qualidade nos últimos três trabalhos dos Coen(Ondes os fracos não têm vez > Queima depois de ler > Um homem sério), o cinema deles continua sendo portentoso e superior a média atuante por aí.
    E foi como vc citou lá no seu posts, Quem gosta de se sentir castigado pela vida? Ninguém né?! Há um pouco de Jó em todos nós. O problema é quando há Tomé tb.
    Bjs

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