O favorito ao Oscar de filme estrangeiro é um primor de realização. Um filme que é uma tese sociológica, mas não deixa de ser cinema em todo o seu esplendor
O diretor alemão Michael Haneke sempre se dedicou a investigar a combustão da violência e seus entrincheiramentos na sociedade. Pois bem, em seu novo filme, o excepcional A fita branca( Das weisse band – eine deutsche kindergeschichte, Ale/FRA/Áustria 2009) ele redimensiona não só a própria obra como toda a noção que se tem das raízes da violência.
Haneke conta a história de um vilarejo alemão às vésperas da eclosão da primeira guerra mundial. A paz desse vilarejo é balançada com o surgimento de estranhos e misteriosos incidentes que vão desde o acidente sofrido pelo médico do vilarejo até a tortura de uma criança retardada.
O título original, Fita branca- uma história sobre crianças alemãs antecipa um pouco do que veremos na tela. Veremos crianças que agonizam entre o tédio e o autoritarismo e o que Haneke mostra, com rigor narrativo e precisão germânica, é o que essa perigosa combinação pode ocasionar.
Muitos têm dito que o filme é um estudo sobre o nascedouro do nazismo. A afirmação não está de todo errada, mas é imprecisa e simplista. O escopo de Haneke é muito maior. Ele faz um ensaio vigoroso sobre a gestação do mal. Sobre como o absolutismo proveniente de uma educação autoritária, de abusos pontuais e de uma mentalidade abrutalhada pode deformar valores e condutas. Isso não valia apenas para a Alemanha do inicio do século XX. Isso continua valendo tanto na esfera global, regional, quanto familiar.
Haneke realiza seu melhor trabalho. Com a bela e cortante fotografia em preto e branco de Cristian Berger, que desenvolveu um método de iluminação arrojado para o filme (em que sombreia belamente a face dos atores mirins), sem fazer uso de trilha sonora (uma característica que Haneke carrega de filme a filme) e com um excelente elenco (principalmente as crianças), o diretor faz um filme ritmado (alguns o acusam de ser arrastado) e que se contenta nas sugestões. Haneke não se obriga a fornecer respostas nem em apressar a resolução de seu filme para os impacientes. Na verdade o filme não se resolve. O que se contempla em A fita branca ainda prescinde de resolução e quanto a respostas, há muitas possíveis. O espectador ficará com a que menos lhe causa pavor ou a que lhe for mais contundente. Nenhuma, no entanto, lhe será satisfatória.
Acabei de assitir ao filme, e concordo inteiramente com seu texto. Está aí um filme que com certeza servirá para muita discussão, assim como os anteriores do sempre interessante M. Haneke.
ResponderExcluirObrigado Diego. Que bom te ver aqui novamente. Esses debates em torno de sua obra, são sem dúvida,grandes trunfos do cinema desse grande provocador. ABS
ResponderExcluirHaneke também é conhecido por explorar "a fundo" a parte psicológica de seus personagens. Não sei se isso é presente em "A Fita Branca", mas o que me interessa é sua premissa, passada na Primeira Guerra.
ResponderExcluirBeijos! ;)
Não Ma. A psicologia dos personagens não interessa Haneke aqui. Afora as crianças e mais um ou outro personagem, eles não são nem nomeados. São conhecidos como o professor, o médico, a parteira, o barão...
ResponderExcluirO que interessa Haneke é desenvolver sua narrativa. Explorar sua idéia. Nesse sentido, os personagens são muletas narrativas. Nada mais. E isso não é demérito nenhum. Não nesse caso. Bjs
A cada crítica que leio sobre "A Fita Branca", aumenta minha vontade de vê-lo. Parece ser um grande filme!
ResponderExcluirPela última frase, não fiquei muito desejoso de assistir não!! A que menos me causar pavor???
ResponderExcluirHahahahhah
Abraço Reinaldo...
Vou decidir se assito!!!
Ka: É um grande filme. Vale a pena sim. Bjs
ResponderExcluirEri: Pois é Eri, o filme defende um ponto de vista que não é muito cristão, vamos dizer assim. E como o final é um tanto amplo, o espectador pode se desviar da verdade de Haneke. ABS
Oi Reinaldo, tudo bem? Não assisti ainda, estou pra ver hoje entre ele e o Lobisomen (não sei ainda qual escolherei). Gostei bastante do fragmento "gestão do mal". Soa interessantíssimo! Sobre autoritarismo e tédio, é fascinante pensar como estas duas palavras combinam tanto uma com a outra e se retroalimentam. Receber o autoritarismo em si, em qualquer ambiente social, entedia a vida de qualquer indivíduo e dá espaço a criar monstros caso a pessoa não consiga lidar com este tipo de abuso. Meu senso de liberdade me fará pensar muito em A fita branca. Excelente! gosto de desafios reflexivos. bjs!
ResponderExcluirEspero que vc tenha optado por A fita branca. O lobisomem foi uma decepção para mim. Vou postar minha critica do filme hj aqui. A fita branca é um excelente material para reflexão. Isso, posso lhe garantir. Bjs
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