Vida longa ao cinema francês
Um filme Francês, é de lei, sempre é premiado em Cannes. Mas em 2013 o
júri presidido pelo americano Steven Spielberg não passara por constrangimentos
e pode até mesmo premiar todos os exemplares franceses em competição. Os quatro
filmes do país em competição, sem contar Jimmy P., primeiro filme em língua
inglesa de Arnaud Desplechin, são bastante premiáveis. Tanto Jeune et Jolie, de
François Ozon, La Vie
D'Adele , de Abdellatif Kechiche, Venus in Fur, de Roman
Polanski e Le Passé, de Asghar Farhadi agradaram a crítica internacional e,
especialmente, a exigente crítica francesa.
A queda
Only God forgives talvez fosse o filme mais antecipado do
festival de Cannes. Justamente por isso a decepção tenha sido tão monstruosa. Ainda que o
filme tenha agradado setores da crítica internacional mais suscetíveis a
exercícios de virtuosismo, o consenso geral é de que o filme do celebrado
Nicolas Winding Refn é das maiores decepções em anos no festival. As críticas
foram cruéis com o filme e, desde já, Refn é ameaçado pela aura de ser um novo
M. Night Shyamalan do cinema de autor.
A queda II
A credibilidade de Refn não foi a única atingida com a má
recepção a Only God forgives. Ryan Gosling, até há pouco tempo um dos atores
mais celebrados pela crítica, foi execrado com especial desdém. O ator não
compareceu ao festival por estar ocupado com as gravações de How to catch a
monster, sua estreia na direção. Some-se a isso uma atuação “em que uma
paisagem seria mais expressiva”, nas palavras da crítica do The New York Times,
e dá para ter uma ideia de como Gosling sai com a imagem fissurada da riviera
francesa. Muitos veículos internacionais chegaram a ironizar a atuação do ator
no filme, expediente que poucas vezes se viu na cobertura de um festival de
cinema.
Ousadia ou ego – o enigma Franco
As I lay dying, exibido na mostra Um certo olhar do
festival, marca a quarta participação consecutiva de James Franco em um
festival de cinema. Um feito que poucos artistas são capazes de ostentar. O
filme, adaptado da obra de William Faulkner, decepcionou grande parte
da crítica, e caiu nas graças de uma minoria, em virtude do que o Le Monde chamou
de “delírios estéticos” de James Franco. A jornalista e crítica Mariane
Morisawa na Veja.com escreveu que “o projeto é tão ruim que não pode nem ser
considerado um filme” e lançou o enigma: “James Franco é ator, artista visual,
escritor, professor e diretor. Como ele consegue fazer tudo isso, ninguém sabe.
Mas também não quer dizer que faça bem, como se viu em As I Lay Dying”.
Out!
Expectativas invertidas
Não havia nenhum blockbuster a ser exibido fora de
competição, ainda que o filme de abertura, O grande Gatsby, vestisse muito bem
essa indumentária. O filme foi uma decepção alarmante. Há muito tempo, um filme
de abertura não recebia críticas tão negativas. Em 2010, Robin Hood foi o que
chegou mais perto da defenestração experimentada pelo filme de Baz Lhurmann.
Mas os outros filmes exibidos fora de competição (All is lost, de J.C Chandor e
Blood ties, de Guillaume Canet) agradaram. Quem não agradou tanto foi Jerry
Lewis,estrela de Max Rose, filme exibido em sessão especial em Cannes. O gênio da
comédia chutou bola fora ao afirmar que não vê graça nas comediantes mulheres.
A direção do festival quebrou o protocolo e
realizou a coletiva com Lewis antes mesmo da exibição do filme, mas não
esperava por esse balde de água fria do ator. Não foi nenhum Lars Von Trier, mas não pegou bem!
Outros filmes que protagonizaram inversões de expectativas
foram The bling ring – a gangue de Hollywood, de Sofia Coppola, que agradou
mais do que se esperava, e Les salauds, de Claire Denis, que agradou menos do
que o habitual tratando-se dos filmes da diretora francesa.
We L.O.V.E USA!
A gente já sabia, mas Cannes de maneira geral reagiu mais do
que positivamente à safra americana que integrou a mostra competitiva. Três dos
seis que integram a mostra oficial ostentam chances reais de saírem com prêmios
do evento. São eles Nebraska, de Alexander Payne, Inside Llewyn Davis, dos
irmãos Coen e Behind the candelabra, de Steven Soderbergh.
Os astros sumiram
Desde que as atrações do 66º festival de Cannes foram
anunciadas, já se sabia que não seria um festival com muitas estrelas – talvez
por isso a direção do festival tenha feito um esforço a mais para garanti-las
no júri da mostra principal. Mas alguns dos nomes mais esperados simplesmente
não compareceram. Aumentando a frustração nesse departamento. Casos de Joaquin
Phoenix e Ryan Gosling.
MVPs
O encolhimento da oferta de astros não está necessariamente
relacionada a quantidade surpreendente de artistas que trouxeram a Cannes mais
de um projeto. Mas é uma maneira de olhar a questão. Marion
Cottilard, Mathieu Amalric, Carey Mulligan, Léa Seydoux, Roman Polanski, James
Gray e Oscar Isaac defenderam mais de um filme na croisette.
A violência...
Como sempre, filmes violentos fizeram parte do cardápio do
festival. A violência irrompeu crua e nua logo no primeiro filme em competição,
o mexicano Heli e apareceu em outros filmes menos festejados como Only God
forgives e Wara No Tate. A violência só foi razoavelmente bem justificada,
segundo reporta majoritariamente a cobertura da imprensa internacional, no
chinês A touch of sin.
... e o sexo
Se houve algo mais presente, e bem vindo, do que a violência
em Cannes foi o sexo. Dois filmes com franca voltagem homossexual (Behind the
candelabra e La vie d´Adele) estão entre os mais festejados dessa edição. Mas o
sexo, direta ou indiretamente, pautou as mais diversas produções que passaram pela
riviera francesa. Tanto em mostras paralelas, como As I lay dying na mostra Um
certo olhar, como na competição oficial com Venus in fur e Jeune et Jolie.
Sem obra-prima, mas...
Não houve na edição deste ano a percepção de ter surgido uma
obra-prima. Em compensação, há muitos anos Cannes não apresentava uma seleção
tão sólida e com elogiável qualidade. Apenas dois filmes, o já citado Only God
forgives e o japonês Wara No Tate, foram considerados abaixo da média. Não
deixa de ser uma boa notícia para o evento que viu pelos menos seis filmes se
credenciarem com propriedade à Palma de Ouro.
Ótima análise, Reinaldo, pois é, parece que não tem nenhuma obra prima, mas a competição ficou bem equilibrada. Só nos resta esperar chegar por aqui, e mesmo com tanta polêmica ainda espero O grande Gatsby também.
ResponderExcluirbjs
É isso mesmo Amanda. O que nos resta é esperar paar ver por nós mesmos!
ResponderExcluirBjs