sábado, 25 de maio de 2013

O saldo de Cannes 2013




Vida longa ao cinema francês
Um filme Francês, é de lei, sempre é premiado em Cannes. Mas em 2013 o júri presidido pelo americano Steven Spielberg não passara por constrangimentos e pode até mesmo premiar todos os exemplares franceses em competição. Os quatro filmes do país em competição, sem contar Jimmy P., primeiro filme em língua inglesa de Arnaud Desplechin, são bastante premiáveis. Tanto Jeune et Jolie, de François Ozon, La Vie D'Adele, de Abdellatif Kechiche, Venus in Fur, de Roman Polanski e Le Passé, de Asghar Farhadi agradaram a crítica internacional e, especialmente, a exigente crítica francesa.

A queda
Only God forgives talvez fosse o filme mais antecipado do festival de Cannes. Justamente por isso a decepção tenha sido tão monstruosa. Ainda que o filme tenha agradado setores da crítica internacional mais suscetíveis a exercícios de virtuosismo, o consenso geral é de que o filme do celebrado Nicolas Winding Refn é das maiores decepções em anos no festival. As críticas foram cruéis com o filme e, desde já, Refn é ameaçado pela aura de ser um novo M. Night Shyamalan do cinema de autor.

A queda II
A credibilidade de Refn não foi a única atingida com a má recepção a Only God forgives. Ryan Gosling, até há pouco tempo um dos atores mais celebrados pela crítica, foi execrado com especial desdém. O ator não compareceu ao festival por estar ocupado com as gravações de How to catch a monster, sua estreia na direção. Some-se a isso uma atuação “em que uma paisagem seria mais expressiva”, nas palavras da crítica do The New York Times, e dá para ter uma ideia de como Gosling sai com a imagem fissurada da riviera francesa. Muitos veículos internacionais chegaram a ironizar a atuação do ator no filme, expediente que poucas vezes se viu na cobertura de um festival de cinema.

Ousadia ou ego – o enigma Franco
As I lay dying, exibido na mostra Um certo olhar do festival, marca a quarta participação consecutiva de James Franco em um festival de cinema. Um feito que poucos artistas são capazes de ostentar. O filme, adaptado da obra de William Faulkner, decepcionou grande parte da crítica, e caiu nas graças de uma minoria, em virtude do que o Le Monde chamou de “delírios estéticos” de James Franco. A jornalista e crítica Mariane Morisawa na Veja.com escreveu que “o projeto é tão ruim que não pode nem ser considerado um filme” e lançou o enigma: “James Franco é ator, artista visual, escritor, professor e diretor. Como ele consegue fazer tudo isso, ninguém sabe. Mas também não quer dizer que faça bem, como se viu em As I Lay Dying”. Out!

 James Franco e parte do elenco de seu filme na premiere em Cannes: imagem arranhada

Expectativas invertidas
Não havia nenhum blockbuster a ser exibido fora de competição, ainda que o filme de abertura, O grande Gatsby, vestisse muito bem essa indumentária. O filme foi uma decepção alarmante. Há muito tempo, um filme de abertura não recebia críticas tão negativas. Em 2010, Robin Hood foi o que chegou mais perto da defenestração experimentada pelo filme de Baz Lhurmann. Mas os outros filmes exibidos fora de competição (All is lost, de J.C Chandor e Blood ties, de Guillaume Canet) agradaram. Quem não agradou tanto foi Jerry Lewis,estrela de Max Rose, filme exibido em sessão especial em Cannes. O gênio da comédia chutou bola fora ao afirmar que não vê graça nas comediantes mulheres. A direção do festival quebrou o protocolo e  realizou a coletiva com Lewis antes mesmo da exibição do filme, mas não esperava por esse balde de água fria do ator. Não foi nenhum Lars Von Trier, mas não pegou bem!
Outros filmes que protagonizaram inversões de expectativas foram The bling ring – a gangue de Hollywood, de Sofia Coppola, que agradou mais do que se esperava, e Les salauds, de Claire Denis, que agradou menos do que o habitual tratando-se dos filmes da diretora francesa.

We L.O.V.E USA!
A gente já sabia, mas Cannes de maneira geral reagiu mais do que positivamente à safra americana que integrou a mostra competitiva. Três dos seis que integram a mostra oficial ostentam chances reais de saírem com prêmios do evento. São eles Nebraska, de Alexander Payne, Inside Llewyn Davis, dos irmãos Coen e Behind the candelabra, de Steven Soderbergh.

Os astros sumiram
Desde que as atrações do 66º festival de Cannes foram anunciadas, já se sabia que não seria um festival com muitas estrelas – talvez por isso a direção do festival tenha feito um esforço a mais para garanti-las no júri da mostra principal. Mas alguns dos nomes mais esperados simplesmente não compareceram. Aumentando a frustração nesse departamento. Casos de Joaquin Phoenix e Ryan Gosling. 

MVPs
O encolhimento da oferta de astros não está necessariamente relacionada a quantidade surpreendente de artistas que trouxeram a Cannes mais de um projeto. Mas é uma maneira de olhar a questão. Marion Cottilard, Mathieu Amalric, Carey Mulligan, Léa Seydoux, Roman Polanski, James Gray e Oscar Isaac defenderam mais de um filme na croisette.

A violência...
Como sempre, filmes violentos fizeram parte do cardápio do festival. A violência irrompeu crua e nua logo no primeiro filme em competição, o mexicano Heli e apareceu em outros filmes menos festejados como Only God forgives e Wara No Tate. A violência só foi razoavelmente bem justificada, segundo reporta majoritariamente a cobertura da imprensa internacional, no chinês A touch of sin.

... e o sexo
Se houve algo mais presente, e bem vindo, do que a violência em Cannes foi o sexo. Dois filmes com franca voltagem homossexual (Behind the candelabra e La vie d´Adele) estão entre os mais festejados dessa edição. Mas o sexo, direta ou indiretamente, pautou as mais diversas produções que passaram pela riviera francesa. Tanto em mostras paralelas, como As I lay dying na mostra Um certo olhar, como na competição oficial com Venus in fur e Jeune et Jolie.

Sem obra-prima, mas...
Não houve na edição deste ano a percepção de ter surgido uma obra-prima. Em compensação, há muitos anos Cannes não apresentava uma seleção tão sólida e com elogiável qualidade. Apenas dois filmes, o já citado Only God forgives e o japonês Wara No Tate, foram considerados abaixo da média. Não deixa de ser uma boa notícia para o evento que viu pelos menos seis filmes se credenciarem com propriedade à Palma de Ouro.

2 comentários:

  1. Ótima análise, Reinaldo, pois é, parece que não tem nenhuma obra prima, mas a competição ficou bem equilibrada. Só nos resta esperar chegar por aqui, e mesmo com tanta polêmica ainda espero O grande Gatsby também.

    bjs

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  2. É isso mesmo Amanda. O que nos resta é esperar paar ver por nós mesmos!
    Bjs

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