Filme em transe
Há filmes engenhosos e filmes que simulam serem engenhosos.
Em transe (Trance, ING 2013) se ajusta à segunda leva. O diretor Danny Boyle
não é exatamente um novato em manipular a audiência além do desejável. Ele
ganhou um Oscar fazendo isso com Quem quer ser um milionário?, filme que rasga
a cartilha do bom gosto. Em transe não chega a esse ponto; na verdade, nem
merece a comparação, mas não deixa de ser a representação de um vício que Boyle
precisa abandonar para que a História lhe seja mais afável.
Em transe tem um roteiro frágil, com reviravoltas mal
articuladas e um problema capital: o excesso de truques a simular coerência em
reviravoltas que não são coerentes. Além do mais, “a reviravolta definitiva”,
aquela que revela o segredo mor do filme, é perceptível com pouco mais de meia
hora de filme. Boyle e o roteirista John Hodge tentam submergir esse segredo ou
revelação, em uma classificação mais categórica, em um balaio de lembranças,
memórias forjadas e falsas revelações.
Em transe, para quem está perdido, mostra o pós jogo de um
roubo a uma galeria de arte. Simon (James McAvoy), funcionário da galeria que
faz parte da quadrilha, se esqueceu do local em que guardou a obra roubada e,
depois de breve sessão de tortura, Franck (Vincent Cassel), o mais próximo de
líder do grupo, sugere hipnose para se descobrir onde Simon, afinal, escondeu a
obra roubada. É aí que entra em cena a personagem de Rosario Dawson, Elizabeth.
Vincent Cassel é uma presença sólida em um filme frágil...
Nada é o que parece ser em Em transe, exceto pelo fato de
que tudo é exatamente como parece ser; o que caracteriza uma falha grosseira de
argumento. A sofisticação visual do filme, que abusa de uma direção de
fotografia arrojada e inventiva – os transes são achados visuais sempre
surpreendentes, não esconde a trucagem narrativa. Em transe é um filme que quer
parecer mais do que é. É diferente, portanto, de Quem quer ser um
milionário? que quer parecer algo que não é – no caso, um filme humanista.
Em transe, além da boa trama, reclama para si uma
engenhosidade narrativa que na verdade não existe. A hipnose de Boyle, dessa
vez, não funcionou.
Que dó!
ResponderExcluirNem me fale Pati. Estava ansioso por esse filme e foi uma decepção constatar que Boyle segue um cineasta bem irregular...
ResponderExcluirBjs