quarta-feira, 22 de maio de 2013

Crítica - Em transe


Filme em transe

Há filmes engenhosos e filmes que simulam serem engenhosos. Em transe (Trance, ING 2013) se ajusta à segunda leva. O diretor Danny Boyle não é exatamente um novato em manipular a audiência além do desejável. Ele ganhou um Oscar fazendo isso com Quem quer ser um milionário?, filme que rasga a cartilha do bom gosto. Em transe não chega a esse ponto; na verdade, nem merece a comparação, mas não deixa de ser a representação de um vício que Boyle precisa abandonar para que a História lhe seja mais afável.
Em transe tem um roteiro frágil, com reviravoltas mal articuladas e um problema capital: o excesso de truques a simular coerência em reviravoltas que não são coerentes. Além do mais, “a reviravolta definitiva”, aquela que revela o segredo mor do filme, é perceptível com pouco mais de meia hora de filme. Boyle e o roteirista John Hodge tentam submergir esse segredo ou revelação, em uma classificação mais categórica, em um balaio de lembranças, memórias forjadas e falsas revelações.
Em transe, para quem está perdido, mostra o pós jogo de um roubo a uma galeria de arte. Simon (James McAvoy), funcionário da galeria que faz parte da quadrilha, se esqueceu do local em que guardou a obra roubada e, depois de breve sessão de tortura, Franck (Vincent Cassel), o mais próximo de líder do grupo, sugere hipnose para se descobrir onde Simon, afinal, escondeu a obra roubada. É aí que entra em cena a personagem de Rosario Dawson, Elizabeth.

Vincent Cassel é uma presença sólida em um filme frágil...

Nada é o que parece ser em Em transe, exceto pelo fato de que tudo é exatamente como parece ser; o que caracteriza uma falha grosseira de argumento. A sofisticação visual do filme, que abusa de uma direção de fotografia arrojada e inventiva – os transes são achados visuais sempre surpreendentes, não esconde a trucagem narrativa. Em transe é um filme que quer parecer mais do que é. É diferente, portanto, de Quem quer ser um milionário? que quer parecer algo que não é – no caso, um filme humanista.
Em transe, além da boa trama, reclama para si uma engenhosidade narrativa que na verdade não existe. A hipnose de Boyle, dessa vez, não funcionou.

2 comentários:

  1. Nem me fale Pati. Estava ansioso por esse filme e foi uma decepção constatar que Boyle segue um cineasta bem irregular...
    Bjs

    ResponderExcluir