À primeira vista, Possuídos (Bug EUA 2006) poderia ser
confundido por um filme de David Cronenberg, em parte por versar sobre o estado
de paranoia, em parte pela fusão que propõe entre o gênero de terror e ficção
científica com o corpo como ponte. Trata-se, no entanto, de um filme de William
Friedkin baseado em peça do dramaturgo Tracy Letts.
O filme passado quase que exclusivamente no interior de uma
casa não esconde as raízes teatrais, mas se beneficia do domínio cênico de
Friedkin – diretor capaz de sempre valorizar tremendamente seus cenários.
Agnes White (Ashley Judd) é uma garçonete solitária que vive
da expectativa sombria do retorno do ex-marido (Harry Connick Jr.), um tipo
violento que cumpriu pena por motivos nunca de todo esclarecidos. Agnes, que
vive em um hotel de beira de estrada, é apresentava a Peter Evans (Michael
Shannon) por sua colega de trabalho R.C (Lynne Collins). A princípio, Peter
parece apenas recatado, mas com o tempo se mostra um sujeito paranoico. Antes
mesmo de descobrirmos que Peter é, na verdade, um veterano da guerra do golfo e
possivelmente cobaia de experimentos bancados pelo exército americano,
descobrimos que Agnes – que mantém sua cota de vícios em dia – é receptiva às
vibrações de Peter. Talvez em virtude de sua solidão, talvez por ser ela mesma
um pouco paranoica. Perdeu o filho em um supermercado, mora em um hotel de
beira de estrada, tem um ex-marido bandido... razões para a paranoia não lhe
faltam aponta o roteiro.
Possuídos, é preciso dizer antes de outra qualquer
elaboração, é um filme de terror diferente. Do tipo que aterroriza pela dúvida
que incute a respeito da paranoia dos protagonistas ser fruto da loucura em
estado bruto deles ou da sociedade que vivemos. Outra aproximação pertinente ao
cinema de Cronenberg, portanto. E que loucura seria essa? Peter, abstêmio de
sexo, cede ao interesse desesperado de Agnes por ele. Imediatamente depois de
consumarem a paixão desajeitada que os aproximava, Peter começa a ver pequenos
insetos na cama de Agnes. Ele demonstra uma irritação mais aguda do que se
poderia imaginar para a situação. Agnes, a princípio, não vê os tais insetos,
mas acompanha a inquietação de Peter – como seria natural.
A partir de um determinado momento ela começa a vê-los
também, mas apenas depois de Peter compartilhar com ela sua angústia. A de que
era uma cobaia do exército americano. Seria ele o hospedeiro de uma devastadora
arma biológica?
A grande sacada de Possuídos, valorizada pela forma como
Friedkin tece o registro, é a total impossibilidade de uma conclusão efetiva a
respeito. O filme, ele mesmo em tensão crescente, fustiga a teoria da
conspiração, mas não nega a verdade dos protagonistas – enamorados na loucura.
Seriam os insetos responsáveis por esse rompante de insanidade? O terror, para
a audiência, reside na possibilidade.
Interessante, Reinaldo, gostei das reflexões. Não vi ainda Possuídos, mas fiquei curiosa.
ResponderExcluirbjs
Amanda: Obrigado Amanda. O filme é bom. Acho que vc vai gostar!
ResponderExcluirBjs