A teoria na prática é outra...
Com estrelado e afiado elenco, Os suspeitos é um drama cheio de tensão e sem respostas fáceis que recupera o vigor do cinema adulto comercial hollywoodiano em 2013
E se fosse com você? Essa é uma pergunta que todo mundo já
ouviu na vida. A resposta a ela, às vezes é sincera, às vezes é diversionista
e, em alguns casos, jamais extrapola o campo da hipótese, em virtude da
improbabilidade da pessoa questionada se encontrar nas circunstâncias que
ensejam o exercício de imaginação. A ideia de Os suspeitos, lançamento nos
cinemas brasileiros desta sexta-feira (18), não é exatamente nova. Em 1996, Ron
Howard fez um filme muito bom em que Mel Gibson vivia um magnata e subvertia a lógica
inerente ao sequestro ao disponibilizar uma vultosa recompensa por informações
que levassem à captura dos criminosos. A discussão proposta por O preço de um
resgate ainda é quente e perigosa. O que o filme dirigido por Denis Villeneuve
propõe é menos espetaculoso, mas igualmente subversivo e o sequestro de uma
criança, no caso duas, também é o elemento a mover seu raciocínio narrativo.
Hugh Jackman faz Keller Dover, pai de família suburbano,
filho de um policial que se suicidou, pai de dois filhos e, para todos os
efeitos, um cidadão exemplar. Quando sua filha e uma coleguinha são
sequestradas na rua em que moram, ele decide, quando julga que a polícia não
está fazendo o suficiente para resgatar sua filha, tomar medidas cabíveis em
seu entendimento.
Não há pedidos de resgate aqui e Dover entende que seu único
suspeito é seu único suspeito e que os fins justificam os meios. À medida que o
tempo passa, mais Dover se vê entregue à obsessão de tirar a verdade de seu
suspeito, mesmo quando surgem indícios bastante significativos de que Dover
pode estar com a intuição descalibrada.
A partir desse momento, surge o outro trunfo do filme de
Villeneuve, que o aparta ainda mais do drama dirigido por Ron Howard. A atenção
à jornada obsessiva em que
Dover , mas também o detetive destacado para o caso vivido por
Jake Gyllenhaal mergulham. Gyllenhaal já havia feito um filme em que vive um
tipo obsessivo por um caso policial. O filme em questão é Zodíaco (2007), de
David Fincher. Na trama ele vivia o cartunista editorial do San Francisco
Chronicle envolvido nas provocações do assassino do zodíaco, que assolou àquela
região da Califórnia na fronteira dos anos 60 e 70.
Jackman, Gyllenhaal e Villeneuve batem aquele papo no set de Os suspeitos
Hugh Jackman já havia estrelado outro belo filme sobre
obsessão. O grande truque (2006), de Christopher Nolan. Na fita, ele vivia um
mágico que nutria grande rivalidade com o personagem de Christian Bale. A
necessidade de prevalecer ante o outro, movia a trama. Com Os suspeitos, ambos
oferecem um avanço nesse interessante recorte biográfico de suas carreiras. Na
contrapartida, ao confeccionar esse pulsante suspense americano moderno, o
canadense Denis Villeneuve dá sequência a uma questão nevrálgica em sua
filmografia. Assim como no indicado ao Oscar de filme estrangeiro Incêndios, há
a desestruturação familiar caótica a partir de um evento em particular.
Esses são elementos construtivos, mas não definidores, que
tornam Os suspeitos, no contexto em que foi concebido, um filme muito mais
significativo e eloquente do que aparenta ser.
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