quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Filme em destaque - Os suspeitos

A teoria na prática é outra...
Com estrelado e afiado elenco, Os suspeitos é um drama cheio de tensão e sem respostas fáceis que recupera o vigor do cinema adulto comercial hollywoodiano em 2013

E se fosse com você? Essa é uma pergunta que todo mundo já ouviu na vida. A resposta a ela, às vezes é sincera, às vezes é diversionista e, em alguns casos, jamais extrapola o campo da hipótese, em virtude da improbabilidade da pessoa questionada se encontrar nas circunstâncias que ensejam o exercício de imaginação. A ideia de Os suspeitos, lançamento nos cinemas brasileiros desta sexta-feira (18), não é exatamente nova. Em 1996, Ron Howard fez um filme muito bom em que Mel Gibson vivia um magnata e subvertia a lógica inerente ao sequestro ao disponibilizar uma vultosa recompensa por informações que levassem à captura dos criminosos. A discussão proposta por O preço de um resgate ainda é quente e perigosa. O que o filme dirigido por Denis Villeneuve propõe é menos espetaculoso, mas igualmente subversivo e o sequestro de uma criança, no caso duas, também é o elemento a mover seu raciocínio narrativo.
Hugh Jackman faz Keller Dover, pai de família suburbano, filho de um policial que se suicidou, pai de dois filhos e, para todos os efeitos, um cidadão exemplar. Quando sua filha e uma coleguinha são sequestradas na rua em que moram, ele decide, quando julga que a polícia não está fazendo o suficiente para resgatar sua filha, tomar medidas cabíveis em seu entendimento.
Não há pedidos de resgate aqui e Dover entende que seu único suspeito é seu único suspeito e que os fins justificam os meios. À medida que o tempo passa, mais Dover se vê entregue à obsessão de tirar a verdade de seu suspeito, mesmo quando surgem indícios bastante significativos de que Dover pode estar com a intuição descalibrada.
A partir desse momento, surge o outro trunfo do filme de Villeneuve, que o aparta ainda mais do drama dirigido por Ron Howard. A atenção à jornada obsessiva em que Dover, mas também o detetive destacado para o caso vivido por Jake Gyllenhaal mergulham. Gyllenhaal já havia feito um filme em que vive um tipo obsessivo por um caso policial. O filme em questão é Zodíaco (2007), de David Fincher. Na trama ele vivia o cartunista editorial do San Francisco Chronicle envolvido nas provocações do assassino do zodíaco, que assolou àquela região da Califórnia na fronteira dos anos 60 e 70.

Jackman, Gyllenhaal e Villeneuve batem aquele papo no set de Os suspeitos

Hugh Jackman já havia estrelado outro belo filme sobre obsessão. O grande truque (2006), de Christopher Nolan. Na fita, ele vivia um mágico que nutria grande rivalidade com o personagem de Christian Bale. A necessidade de prevalecer ante o outro, movia a trama. Com Os suspeitos, ambos oferecem um avanço nesse interessante recorte biográfico de suas carreiras. Na contrapartida, ao confeccionar esse pulsante suspense americano moderno, o canadense Denis Villeneuve dá sequência a uma questão nevrálgica em sua filmografia. Assim como no indicado ao Oscar de filme estrangeiro Incêndios, há a desestruturação familiar caótica a partir de um evento em particular.

Esses são elementos construtivos, mas não definidores, que tornam Os suspeitos, no contexto em que foi concebido, um filme muito mais significativo e eloquente do que aparenta ser.

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